O casamento no cartório de Alfonso e Maite foi simples, rápido e em um clima absurdamente tenso. Ruth parecia ser a única feliz no ambiente. A propósito, ela, Christopher, Anahí, Jared, Candice e Paul eram os únicos que estavam ali para serem testemunhas da união. Maite sentia o ódio e nojo que vinha de Alfonso toda vez que ele a mirava, constatou aquilo com o beijo que ele foi obrigado a lhe dar quase grunhindo no ato de tanta raiva. Eles não estavam se falando desde o hospital. Ele a ignorava, sequer conseguia olhar para ela. A mesma não tinha forças para fazer, nem falar nada, apenas pensava nos gêmeos que ela descobriu que se chamavam Lucca e Noah. Ela conseguiu vê-los de longe naqueles dois dias; Paul permitiu. Naquele momento, todos os irmãos Herrera sabiam do que aconteceria dois dias depois do casamento: a audiência. E já estavam cientes que Maite e Alfonso supostamente adotariam Noah e Lucca para a família. Ruth era a única que ainda não sabia de nada.
─ Onde os pombinhos vão passar a lua de mel? ─ Ela indagou animada e era absurda a forma como ela era ingênua a ponto de não perceber que tudo ali estava completamente errado.
─ Sobre isso que iríamos falar com a senhora, mãe... ─ Alfonso começou. Ruth não percebeu as entreolhadas de todos ali, esperando ansiosamente o que viria a seguir. ─ Adiaremos a lua de mel, porque... ─ Ruth esperou.
─ A senhora lembra dos bebês que salvamos do incêndio, não lembra? ─ Maite indagou e a mais velha assentiu.
─ Sim... sempre me orgulharei daquela cena. Vocês foram perigosamente heróis, queridos.
─ Nós queremos adotar aqueles dois bebês. ─ Maite falou de uma vez e aquilo primeiro calou completamente Ruth. Em seguida ela arregalou os olhos.
─ Vo-vocês... o que? Mas eles não têm pais?
─ Oh sim. Pais irresponsáveis, nojentos, cruéis demais. ─ Alfonso falou com ódio. Maite sabia que não era só de Allan e Jaqueline que Alfonso falava naquele momento. ─ Aqueles bebês sofriam o pão que o diabo amassou naquela casa, mãe. Eles são traumatizados e cheios de cicatrizes... não só externas. ─ ele negou com a cabeça, sentindo-se absurdamente ligados aqueles meninos, principalmente pela história de vida parecida dos três. ─ E a “mãe” tentou se matar e mata-los com aquele incêndio... não foi por acaso. ─ Ruth agora parecia horrorizada.
─ Nós temos que adotá-los. Não... não estávamos passando por aquele lugar a toa, Ruth. Não nos sentimos ligados a eles à toa... precisamos fazer isso. E tem que ser segunda feira, pois é nesse dia a audiência em que os dois brigam pela guarda dos meninos. E nenhum dos dois pode ganhar.
Ruth assentiu, processando todas as informações, mas naquela altura do campeonato já estava totalmente de acordo com a adoção dos gêmeos.
─ Eu posso ir nessa audiência? ─ ela indagou e todos além de Maite e Alfonso que sabiam atuar muito bem, arregalaram os olhos.
─ É sigilosa. ─ Os dois responderam em uma fodida sincronia que só irritava Alfonso.
─ Infelizmente só nós dois podemos estar presentes nela. ─ Maite disse e a outra assentiu, acreditando.
─ Nesse caso... boa sorte, queridos. Salvem a vida dos pequenos.
E aquilo, ela não precisava pedir duas vezes...
X-x-X
─ SUJEIRA, PAPAI! SUJEIRA, MAI!
Era noite. Alfonso e Maite estavam sentados lado a lado no sofá de frente para Serena que estava sentada na mesa de centro e eles haviam acabado de revelar para a menina que haviam se casado naquela manhã, sem a presença dela...
─ Querida, entenda... não tinha necessidade de você estar lá. Não casamos na igreja ainda. Nem festa teve, você só perder a gente assinando papéis chatos, falando coisas chatas e um beijinho que você não iria querer ver. ─ Maite disse e a menina riu, fazendo uma caretinha.
─ Você jura que foi chato? ─ ela cruzou os bracinhos e ergueu uma sobrancelha.
─ Santo Deus, você fica a cara do seu pai quando faz isso. ─ Maite falou com uma caretinha. ─ E sim, nós juramos. Não é, Alfonso? ─ o mesmo assentiu sem sequer olhar para Maite, mirava apenas Serena.
─ Mas não é só isso que viemos te contar, Serena. ─ Alfonso falou, querendo terminar logo a conversa, para se afastar o mais rápido possível de Maite. ─ Iremos adotar dois bebês. Segunda feira. ─ a menina arregalou os dois olhos. ─ Eles serão seus irmãos. ─ Resumiu dando de ombros. Maite esperou a reação da menina. Por um minuto temendo que ela fosse odiar a ideia.
─ OH MEU DEUS, EU VOU TER DOIS IRMÃOS!
E aquele gritinho espalhafatoso e animado foi apenas o começo de toda a comemoração que a menina fez, enquanto tagarelava tudo o que ia fazer com dois irmãozinhos dentro da mesma casa... algo como cuidar deles sempre, ensinar a ler, escrever, desenhar... brincar com eles, apresentar toda a casa, todos os parentes da família e tudo mais. A mesma demorou de dormir naquele dia e continuou a perguntar para Alfonso porque ele e Maite não iam mais dar boa noite a ela juntos. Como sempre, ele inventou uma desculpa qualquer que Serena acreditou na inocência que tinha, mas a verdade era que ele realmente não estava aguentando viver sob o mesmo teto de Maite. Ficar do lado dela tornou-se algo insuportável.
─ Alfonso, já chega.
O mesmo parou abruptamente ao sair do quarto de Serena e revirou aos olhos ao dar de cara com Maite. Apenas a ignorou e foi em direção a escada, descendo-a com rapidez, porém não deixou de notar que a morena o seguia.
─ Pelo amor de Deus, moramos na mesma casa! Nos casamos, mesmo que por contrato, hoje! Daqui a dois dias iremos lutar em um tribunal pela vida de duas crianças e eu me pergunto como vamos vencer juntos se você me olha como se eu fosse a última pessoa no mundo que deveria ter a guarda deles dois.
Ela falava e, irritado, ele virou-se rapidamente para trás quase trombando com ela que o seguia. Então recuou um passo, possesso.
─ Você é! Inferno, eu poderia te matar agora do tanto de ódio que emana nas minhas veias, sua desgraçada! Você viu o que fez na vida daquelas crianças? Viu? Você acabou com eles, Maite! Cada cicatriz que eles vão levar para a vida foi VOCÊ quem fez! Espero que nunca esqueça disso.
─ Eu não vou esquecer, Alfonso. ─ falou em um tom extremamente triste, desesperado quase. Percebeu ali que não tinha mais lágrimas para chorar, não aguentava mais chorar. ─ Eu infelizmente nunca vou esquecer disso, mas...
─ MAS? ─ ele riu assustadoramente. ─ Você ainda quer vir me dizer algum “mas”? Vai pro inferno, Maite. Sinceramente. ─ ele deu as costas e voltou a andar em direção a cozinha. Roberta estava lá. ─ Saia daqui! ─ Rugiu com Maite logo atrás dele e logo a mesma passou correndo por Maite.
─ Você vai entender tudo no tribunal, eu só...
─ Eu juro por Deus que se você falar mais uma fodida palavra, eu... ─ Levantou o tom de voz.
─ Alfonso, me foda! ─ Ela levantou ainda mais e depois daquilo o silêncio absoluto reinou ali. A forma com que ela falara... erguendo as mãos em sinal de redenção e exasperação. Seu rosto estava vermelho. Ele via a agonia e a dor dela naquele momento. Via sua vontade de ser punida, via seu sofrimento e sua ansiedade. Deus sabe que ele queria dizer não, queria sentir na prática todo o nojo que dizia sentir por ela na teoria, mas... mas ele não conseguia dizer que não; ele se quer conseguia dizer algo, se quer conseguia sair dali. Ela esperou a cara de nojo dele, esperou a rejeição, esperou gritos, esperou uma risada maléfica, mas nada veio. ─ Pelo amor de Deus, eu estou te pedindo... me foda. Me foda com força, me foda fundo. Acabe comigo! Me faça sentir dor. Eu não aguento mais não sentir nada... ─ e as lágrimas que antes haviam sumido estavam ali novamente, intensas. ─ Por favor... ─ sussurrou essa última parte, cada uma de suas duas lágrimas escorreu por cada lado do seu rosto e Alfonso grunhiu feito um animal, andando cinco longos, fortes e irritados passos até ela e a puxando com tanta força que ela gemeu de dor quando os corpos se chocaram, a boca encontrando a dela com tanto fogo e raiva que chegava a machucar.