Fanfic: Scars: Caminhos do Coração. | Tema: Drama, Romance, Hot (+18)

Já era noite. Alfonso e Maite colocaram Serena para dormir como de costume e demorou muito até que a menina se rendesse ao cansaço, já que era pura alegria e só queria ficar com os irmãos. Maite saiu primeiro do quarto, pois ouviu o choro de um dos gêmeos e quando Alfonso chegou no mesmo, depois de mais algum tempo olhando para a filha, viu que ela estava em frente aos bercinhos dos filhos, que já dormiam. Ouvindo a porta se fechar e os passos de Alfonso na direção dela, a mesma sorriu de leve e virou-se para ele, abraçando o próprio corpo.

— Você sabe que eu serei eternamente grata a você por isso, não sabe? — Ele assentiu. — Eu sei que fez por eles, mas justamente por isso que sempre terá a minha gratidão e admiração. Você é um homem incrível, Alfonso.

“04 ─ O elogie pelo menos uma vez no mês em cada um deles que estiverem casados.”

Ele engoliu levemente a seco, parando na frente dela. Não era nem um pouco acostumado a receber elogios, sequer sabia o que dizer ao ouvir aquilo e ela... verdade seja dita, só queria elogiá-lo e elogiá-lo, porque estranhamente, ela já havia visto tudo que Alfonso era de verdade por baixo daquela máscara de monstro. E ela só conseguia se encantar por ele mais e mais.

— Mais incrível do que eu posso descrever em palavras e acredite quando eu te digo que a única diferença de você para o homem fantástico que Christian foi, são as mágoas que você leva no peito que te endureceram mais... — Ela afirmou, dando mais um passo na direção dele e tocando o peito do mesmo, que ficou tenso, porém deixou. — Você é incrível. — Afirmou mais uma vez, os olhos brilhando. Ele a olhava com atenção, sentindo uma paz imensa se instalar em seu ser ao ouvir aquilo com tanta sinceridade. — Eu espero que não esqueça disso nunca... inclusive quando eu gritar que te odeio e que você não presta e tal. — Ela riu de lado revirando os olhos e ele riu em resposta.

— Lembrarei. — Respondeu apenas, colocando o braço em volta da cintura dela e a puxando para ele com força e fogo. — Só não te fodo aqui em respeito ao primeiro dia deles aqui conosco. Imagina só já chegar ouvindo seus gemidos de puro êxtase... Tadinhos, iam crescer traumatizados. — Maite riu divertidamente.

— Eu aposto que você não aguenta por muito tempo, querido. — Ela ficou na ponta dos pés e deu um selinho nele, mordendo seu lábio inferior depois e ele apertou os olhos na direção dela que riu marota. — Mas boa sorte. — Piscou e se desvencilhou dos braços dele, indo em direção a cama. Ele riu e negou com a cabeça, passando as mãos nos lábios que ela mordeu e se virando para ela. — Eu tô tão ansiosa pra ir pro Brasil! — Contou animada, sentando de um lado da cama, encostada nos travesseiros e ele sentou na cama também, mirando-a.

— Como foi a sua vida, Maite? — Ele indagou, demonstrando toda a sua curiosidade e ela ficou séria e suspirou, no fim das contas queria abrir o coração para alguém e deixar aquela mágoa ir, mas era difícil. — Eu juro que não usarei nada contra você. — Afirmou e ela assentiu, sabia disso. Então suspirou e se aproximou dele, ficando de frente para o mesmo com as pernas cruzadas. Ele se virou para ela também, com um joelho dobrado na frente do corpo e a outra perna no chão.

— Eu nasci em uma família rica. Muito rica mesmo! — Contou e ele assentiu, dando total atenção a ela. — Não tão quanto vocês... — Ela riu de leve. — Mas eu sempre tive uma vida boa, meus pais eram os melhores do mundo, Alfonso, eu juro pra você! — Ela riu com os olhos cheios de lágrimas. — Inclusive eu sei falar outras línguas por isso, e sei patinar no gelo e tudo mais. — Ela deu de ombros. — Eu era uma típica menina rica mimada pelos pais que fazia mil coisas em um dia, tipo aula de francês, inglês, de dança, boas maneiras. — Ela revirou os olhos. — E eu fazia tudo para agradá-los, mas não era tudo que eu gostava e enfim, não vem ao caso. — Deu de ombros. — Então eu cresci e quando tinha quinze anos minha vida mudou completamente! Eu estava na escola e senti um aperto muito forte no meu coração e decidi que eu tinha que ir pra casa. Eu fugi da escola nesse dia... — Ela tentou rir, mas não conseguiu. — E corri para casa, chegando lá, já senti um clima totalmente estranho. Abri a porta gritando por meus pais e nenhum me respondeu. Larguei a porta aberta, joguei a mochila no chão e corri em direção a cozinha... — Ela parou de falar, as lágrimas caindo, Alfonso já conseguia imaginar o que viria depois, então segurou as mãos geladas dela que já tremiam. — Minha mãe, ela... ela estava...

— Eu entendi. — Ele falou, agoniado. — Eu entendi, Mai.

— Comecei a chorar, a gritar, chamei por meu pai, saí de lá correndo e fui para o escritório dele... estava do mesmo jeito que ela. E... E na parede... — Ela já chorava compulsivamente ali, guardava aquilo debaixo de sete chaves pela dor imensa que causava falar sobre, pensar sobre. — Ele a puxou para si, abraçando-a com força e beijando o topo da sua cabeça. Os dois ficaram assim por um bom tempo, ele nada disse, ela só soluçava e tremia em seus braços. Quando se acalmou mais, continuou contando, ainda agarrada a ele. — Na parede havia escrito “Máfia Gutierrez”. — Alfonso engoliu o seco no mesmo momento. Por isso aquele pavor a máfia... — Eu os odiei com todo o meu ser antes mesmo de conhecê-los. — Ela afirmou. — Depois disso tudo é muito confuso na minha mente, meus tios que sempre me odiaram se tornaram meus tutores, a herança dos meus pais foi deixada para eles. — Ela deu de ombros e ele franziu o cenho. — E eu não tava nem aí pra merda de herança, mas eles pareciam dar a vida por todos aqueles bens. — Ela fungou e se afastou dele, voltando a posição inicial, mas não soltou as mãos dele. — Eu não sei como, mas eles conseguiram acabar com tudo em questão de meses. Lembro de ter visto os móveis sumindo, em seguida recebíamos diariamente pessoas indo lá cobrar dívidas deles. E enfim... Rapidamente, não tínhamos mais nada.

— Como eles te tratavam?

— Eles fingiam que eu não existia. Me davam 100 reais por semana no começo e depois quando as coisas começaram a apertar, me davam 100 por mês, dinheiro esse que eu nunca gastava, só juntava e era isso. Me davam o necessário para sobreviver, mas sequer olhavam pra mim, não me davam atenção, e enfim, eles não sentiam nada por mim, mas amava o dinheiro dos meus pais. Porém acabaram com tudo e logo estávamos sem casa, sem rumo. Da minha escola eu já havia saído e eu não fazia nada da vida além de sofrer em silêncio. — Ela contou e ele assentiu, acariciando suas mãos. — E então eles decidiram que podiam me vender. — Ela riu amarga. — Alfonso, eles SABIAM que a máfia foi a responsável pelo assassinato dos meus pais e com meus dezesseis anos eles me venderam e eu nem sei por quanto. — Ela deu de ombros. — Então um dia eu era uma menina rica, mimada e amada pelos pais e no outro eu era uma prisioneira e escrava de uma máfia que acabou com tudo que eu tinha. — Ela contou, as lágrimas ainda caiam, mas o tom dela mudara de sofredor para enfurecido. — Do resto da história você sabe. — Afirmou e ele assentiu, suspirando em seguida e acariciando o rosto dela.

— Escute.  — Maite o olhou. — Qual era a relação dos seus pais com os seus tios antes deles morrerem? 

— Era normal. — Ela forçou a memória pra tentar lembrar exatamente de como tudo era no passado. — Eles prefiriam os meus tios longe, na verdade, mas era por minha causa... Inexplicavelmente, eles nunca demonstravam gostar de mim de verdade e acho que por isso meus pais os mantinham longe. Mas ainda assim, eles os  ajudavam sempre. Lhes davam dinheiro, e tudo mais. — Contou, resumindo e ele assentiu, parecendo tentar processar todas aquelas informações. Decidindo que não era hora para aquilo, negou com a cabeça e mirou-a bem no fundo dos olhos, levando uma de suas mãos ao rosto da mesma e fazendo carinho ali novamente. Ela gostava do toque dele.

— Você sabe que ninguém mais vai te machucar, né? — Indagou.

— Sim, eu sei...

— Além de você, claro.

— Além de mim claro.

Os dois falaram juntos e sorriram no mesmo momento. Ela assentiu, os olhos brilhando para ele, e que Deus a ajudasse, mas ela não queria perder aquela paz estranha que se instalara ali tão cedo... rezava para não perdê-la.

— É claro que sei disso, turrão.

Ele apertou os olhos para ela, mas terminou lhe sorrindo. Então se inclinou na direção da mesma e lhe deu um beijo na testa.  Estranhamente, Maite não poderia sentir uma segurança melhor que aquela. Tudo bem que a vida deles não era das mais normais e que tudo era até muito sujo e triste por trás daquela realidade que eles viviam naquele momento... Mas as coisas não precisavam ser tão ruins na prática, não é mesmo?! Estava tudo bem assim...