Fanfics Brasil - Andarilha das Estrelas Andarilha das Estrelas

Fanfic: Andarilha das Estrelas | Tema: Star Wars, Rey, Luke, Skywalker, Jakku, Família, Esperança


Capítulo: Andarilha das Estrelas

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Ela caminhava pelas estrelas. Cintilavam sob seus pés infantis e descalços, uma a uma de cada vez,  um manto celeste com pontículos a se ascenderem e a se apagarem em cadeia. Tão... bonito! Tantas estrelas brilhantes e ela acima, sem machucá-las. Elas cediam aos seus passos e não se incomodavam na sua passagem.


Rey se abaixou e a sua pequenina mão arrastou bilhões de estrelas para si, contendo-as entre os dedos bem fechados e a palma bem plana. Não queria que nenhuma se perdesse de seu olhar. Elas continuavam a reluzir intermitentemente, harmoniosamente. A palma de sua mão era o universo que continha aqueles sois azuis e brancos. Um ou outro fulgia no vermelho, lampejava no laranja e esplandecia no amarelo.


Poderia passar sua vida inteira olhando para cada uma das estrelas na sua mão, apreciando uma por uma. Descobrir-lhes os segredos. Existiriam planetas rondando-as...? Existiria água nesses mundos? Existiria gente que beberia dessas águas, sem se preocupar se elas acabariam?


Existiria tanta água que seria capaz de... mergulhar nela? Oh... oh... não água regrada para beber em gotas. Não água do poço na vila, já insalubre, para umedecer panos para passar pelo seu corpo e tirar um pouco da areia que grudava em seu corpo. Não... água límpida, cristalina... doce. Fresca. Perder-se nela sem culpa. Já ouvira falar que existiam mundos com tanta água que engoliam quase tudo que existia neles.


Como isso era possível? Água... água que se estendia até não conseguir se enxergar seu fim. Água que tinha a mesma cor do céu. Água que caia do céu.


Sonhos. Sonhos que existiam de fato para muitos. Para ela, sonhos... apenas sonhos enquanto dormia de olhos abertos.


Mundos onde haveria tanta água que a terra não suportaria a areia infértil. Água que tingiria todas as dunas de verde suave. Aquele verde que era algo vivo... e não o encardido e doentio tom nas vestes dos viajantes que já encontrara.


Existiriam pessoas nesses mundos de verde e de água? Existiriam pessoas de olhos com a cor das águas?


Sim. Um homem. Um homem com olhos cor de água.


Em qual dessas estrelas esse mundo estaria, esse mundo com o homem com os olhos cor de água?


Ela se pôs de pé, a mão ao alto, jogando todas as estrelas acima de sua cabeça, confetes luminosos de uma galáxia em cascata. As estrelas voaram, mas não se prenderam no ar. Todas as estrelas caíram sobre ela, em seus cabelos, em seu rosto cheio de sardas, em seus ombros... e repousaram nela, sem deixá-la e sem revelar-lhe seus segredos.


Rey fechou os olhos, uma luz cegante a atingir-lhe o semblante. Uma luz que não só brilhava, mas aquecia levemente... e mais... mais... agora quente... quente... quente demais.


Seus pés ardiam e ela se pôs a pular, não aguentando o calor e correu para o destroier abandonado que era seu lar. A areia dentro da nave sucateada era fria, gelada e refrescou-lhe a sensação de queimadura na planta dos pés. O ar dentro de sua casa era frio e ela suspirou de alívio.


Correu para a parede no fundo do ambiente, que era sua sala-quarto, pegando um metal quebrado e riscou-a. O som irritante do metal descascado que ela aprendeu a suportar a cada manhã naquele planeta desértico. Torceu a boca, preocupada. Já não quase havia lugar para riscar. Deu alguns passos para trás e visualizou a parede enorme, toda trincada pelas marcas diárias. Eram muitos... mas ela tinha muito mais em dias de vida, isso ela sabia. Diziam que ela devia ter nove anos. Quantas manhãs seriam em nove anos?  Ela teria feito esses riscos no mundo verde? Lá seria também sua casa de metal?


A areia enchia seus cabelos, seu rosto sardento, seus ombros. Os pés envoltos de um efêmero sapato de grãos de areia.


Rodou em si mesma, mirando cada parede de metal de sua sala-quarto. Ainda lisas. Quantas teria que riscar a cada nascer do sol para que ele a buscasse?


O homem de olhos cor de água.


Seu rosto escondido dentro de um capuz, mas os olhos a brilharem com as águas de outro mundo.


Ela sentiu a água  em seus próprios olhos, mas era água salgada. Não. Não podia chorar. Não iria adiantar. Tinha que calçar suas botinas, já com as solas tão finas que o calor das dunas esquentavam seus pés. As botinas tão velhas que se esgaçavam e deixavam a areia entrar e ficar entre os dedos de seus pés, arranhando-os.


Tinha que calçar as botinas velhas, furadas e finas para pegar os óculos gigantes e aquele capacete branco e laranja surrado que provavelmente dançaria na sua cabeça de tão grande... Os óculos e o capacete que vira no fundo de uma nave perto e que não conseguira alcançar, pois já anoitecia e a luz de sua lanterna se apagara. Os óculos serviriam para se proteger do sol e da areia brilhante. O capacete... ah, capacete era um presente que ela queria se dar.


Um presente para ela. Para brincar. Brincar que voava por através do espaço para os mundos perdidos nas estrelas. Quem sabe se não era um capacete de um piloto de verdade? Um piloto que rasgara o céu escuro e passeava pelas estrelas?


Um piloto com olhos cor de água.


Sim, faria isso agora, mesmo com o estômago rugindo. O capacete para si. Peças encontradas para trocar por uma porção de ração. Talvez até um quarto de água limpa para beber...


As estrelas granulosas se apegavam a ela e a arranhavam seu cabelo, seu rosto e seus ombros descobertos. Não tinham mais o brilho azul, branco, vermelho, laranja e amarelo, mas continuavam a ser pequenas estrelas. Não iria tirá-las de si. Levaria as estrelas para aonde fosse, mesmo que para o interior de uma nave que não voava mais.


Não iria ficar triste. Não. Amanhã... amanhã, antes do nascer do sol de Jakku, mais uma vez Rey tiraria suas botinas, olharia para o chão cheio de estrelas e tentaria novamente descobrir os segredos delas.


Com o homem de olhos mansos. O homem de olhos cor de água.



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Autor(a): ninlil

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