Fanfics Brasil - Uma pequena alma Uma pequena alma

Fanfic: Uma pequena alma | Tema: Renascimento, Vida, Beleza, Reencarnação


Capítulo: Uma pequena alma

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Quando ele se encontrava pronto para mais uma vez vir ao mundo, nada pediu. Confiava no Grande Princípio de Tudo, responsável por todo jogo cósmico. Muito embora soubesse de que nada se lembraria quando vestisse novamente o invólucro carnal, nada temia. Ele teria, dentro de si, as certezas necessárias para conduzir sua vida humana... de novo.


Os erros e os acertos de todas as suas existências desfilavam à sua frente, como uma comitiva festiva, não para acusá-lo ou enaltecê-lo, mas apenas para lembrá-lo, na antecâmara divina, o que já realizara. Em ordem de causa e consequência, entremeavam-se emoções, sensações e sentimentos que o compunham e que provocara nos outros, em um efeito dominó incomensurável. Como suas ações foram importantes...! Não necessariamente aos olhos humanos, tão estreitos para a grandiosidade da Eternidade, porém de uma significância extraordinária. Ele tocara o coração de muitos e muitas vezes. Mudara vidas. Ele mesmo, que se considerava como um grão de areia no oceano universal, possuía seu lugar e propósito. Sem ele, mesmo tão pequenino frente à imensidão dos tempos, a Vida não seria a mesma.


Por isso, quando se preparava para obliterar-se e condensar-se em um corpo material, com todas as limitações que dele provinham, ficou satisfeito ao ver que seu decurso terreno ocorreria de forma humilde e tranquila. Não havia necessidade, para aquela próxima encarnação, exercer o papel de um grande líder ou de relevância para as notícias prosaicas. Já passara por essas experiências de grandes vultos, alguns conhecidos por toda humanidade naquele período temporal vigente no planeta azul. Outros perderam-se na areia do esquecimento nos arquivos humanos. Em cada passagem sua, fizera o melhor diante do que era capaz. Os efeitos de suas ações eram como ondas circulares em um lago calmo, produzindo um tremor na serenidade, ativando outros movimentos que ultrapassavam os séculos e vivências.


Afetos. Desafetos. Amores. Ódios. Paz. Violência. Todas as matizes coloriam sua estrada eterna. E agora, em um mosaico colorido e vívido, construíam uma miscelânea harmônica do teatro do grande recital.


Foram-lhe concedidas algumas escolhas e ele alegremente as aceitou, comovido. Seu espírito clamava por liberdade em todos os sentidos, não de forma egoísta, mas a situação de uma existência de não-prisão de conceitos e ideias. Nasceria em dezembro, sob a égide das configurações constelares do signo de Sagitário. Terceiro decanato, com a influência da segurança prática que Capricórnio suavemente lhe tingiria, sem afetar a alma centauriana. Sim... perfeito.


O local... uma ilha. Pequenina e singela ilha em torno de uma grande ilha. Território imemorial, que lhe traria fugidos ventos amenos de vidas passadas em artefatos escavados de povos antigos. Tocaria aquelas peças com um sorriso nos lábios, as vibrações de cidades e ares romanos em seu auge. Seu cérebro, construído geneticamente ágil e metódico, transporia as informações de sua mente em caracteres poéticos de outras eras e de outros universos. Através da invisível teia tecnológica, alcançaria corações ávidos por sua sensibilidade e ternura.


Como uma ilha, abrigaria outras almas ao seu redor, contudo com a vastidão do mar, a tranquilidade do horizonte celeste ao encontro das mansas águas infinitas. Seria um consigo mesmo. Seria um com outros. Seria um com o universo, o universo consigo.


E toda essa magnificência se manifestaria nas mais comuns ações rotineiras do dia-a-dia. No acordar com seus filhos ao seu redor, duas almas a lhe sorrirem. No dedilhar do teclado nas tarefas laborais. Na leitura de livros, que lhe trariam novos mundos, novas vidas. No conversar com os amigos ao pôr-do-sol, a pequena mesa de madeira a acolher taças de bom vinho. Na dança das músicas lusitanas. Na euforia das roupas de festas típicas. Na criação de novas galáxias, lembranças de sua aventura espiritual. No erguer de um sabre anil, símbolo de todo o bem e justiça ficcionais, tão reais na prosaica vida.


Sua missão, porém, não seria levantar a espada para lutas corporais, mas a caneta a traçar no papel e no monitor a esperança, a confiança, a alegria de vivenciar a grande aventura de existir.


Sua alma brilhante precisava de mais essa estada terrena. Outras almas também clamavam a sua vinda. Pois, mesmo sendo uma ponta de luz, ele clarearia outras luzes que brilhavam intermitentes.


Não seria fácil. Viver na Terra e nesse período de tanta confusão e estarrecimento era um desafio. No entanto, ele não temia. Sabia ser necessário seu ir. Sabia que era necessário. Entre a nostalgia sem explicação e a inabalável fé no futuro, ele construiria um presente consistente, ardente e reluzente.


Então, em um dia, quando as festas natalinas em terras antigas já haviam se anunciado, ele veio. Que época propícia e auspiciosa! Em meio ao materialismo de compras e da euforia frenética, existia, sim, um sentimento de amor, de renascimento, de esperança. E assim ele desejou vir mais uma vez ao mundo, fazendo brilhar os olhos de seus pais, de sua atual família terrena.


 E a cada volta em torno do sol, ele também cintilaria. Fazia o melhor que podia a cada ano. E esperava ter tempo suficiente para cada vez fazer o melhor.



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Autor(a): ninlil

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