Fanfic: Sóis Gêmeos | Tema: Star Wars, Ficção, Amor, Irmãos, Família, Luke, Leia, Skywalker, Sonhos, Prosa poética, Sonhos
Quando saiu de sua casa subterrânea, ainda alcançou o pôr-do-sol duplo, um pouco antes das estrelas calorosas se enterrarem por detrás das dunas acastanhadas de Tatooine. Ver a luz pintar seu mundo arenoso de cores cálidas era como tonalizar sua vida tão árida quanto aquele planeta.
O crepúsculo lhe enchia de esperança, sempre... pois anunciava um novo dia, um dia que trazia a promessa de possível mudança, muito embora tal anseio se dissipasse gradativamente logo quando a rotina o engolia em meio às fazendas de umidade. No alvorecer, seu coração batia com confiança. Será hoje... hoje... que o meu amanhã começa, pensava. Porém, os sonhos se tornavam improváveis durante o decorrer da manhã. Ao meio dia, sob o calor insuportável, esgaçavam-se, frágeis, furos no tecido de um céu escuro e espacial com um caça a cruzar a galáxia. De tarde, quimeras insanas de um jovem fazendeiro perdido em um planeta igualmente à deriva na Orla Exterior.
Porém, quando os sóis gêmeos se despediam das dunas com um beijo de luz amarela alaranjado, em vez de enterrar aqueles desejos, reacendiam-nos com a promessa que um dia a mais se passara, um dia a menos naquela vida que não lhe pertencia.
E o amanhã era a promessa.
- Esse menino sonha demais.
- Ele cumpre todas as obrigações que você dá a ele, meu querido.
- Sim, sim! Ele faz, não posso reclamar. Mas faz com a cabeça no mundo longe daqui.
- Não pode controlar os sonhos dele, Owen.
- Se não posso tirar esses descalabros dele, então não lhe darei tempo para sonhar. Trabalho... mais trabalho para encher o cérebro do menino de realidade... daqui. Enquanto puder, não o deixarei ir. Não me olhe assim, Beru. Sabe que faço para o bem dele.
- Luke não se destina a ficar. Um dia, ele partirá... como o pai.
Mas Luke não perdia a confiança, a fé que sua vida mudaria, mesmo com os discursos de seu tio a ultrapassarem as paredes do quarto do casal.
Os dois sóis, Tato I e Tato II. Gêmeos... mas não idênticos. O primeiro, amarelo; o segundo, vermelho. Irmãos... nascendo e se pondo lado a lado. Juntos, apesar de tão distintos. Jamais separados, mesmo a incontáveis anos-luz de distância. Nunca sozinhos.
O último raio dos dois sóis riscou as montanhas arenosas.
Sabia que não permaneceria para sempre em Tatooine. Era-lhe uma certeza incontestável enterrada em seu peito, muito embora seus poucos amigos e conhecidos duvidassem dessa façanha.
Biggs riu dele quando um dia, distraído, revelou-lhe seu futuro tão certo.
- Luke... você saindo daqui? Amigo, sinto te informar. Mais fácil o Império se dar conta que Tatooine existe do que você ir para a Academia. Mas... queria muito que fosse comigo esta noite para longe desse sairmos desse lugar esquecido. Voarmos pelo espaço. Você tem talento demais para ficar pilotando apenas um T-16.
- Meu tio precisa de mim. Não há mais ninguém para trabalhar na fazenda. Quero ir embora, mas... não posso deixar tio Owen e tia Beru sozinhos. Conseguimos juntar algum dinheiro para comprar droides com os Jawas. Se eles trouxerem o que meu tio ache que possa fazer o trabalho... terei como propor minha ida à Academia.
- Os Jawas só tem sucata para vender em toda leva que trazem. Se depender disso, realmente não sairá daqui.
- Eu vou, Biggs. Amanhã pode ser o dia.
- Sempre diz isso. E dia vem, dia vai... E não poderei mais esperar por você, Luke.
Mais um pôr-do-sol duplo... assistido só por ele. E o crepúsculo levara Biggs em seus tons róseos-alaranjados.
A impaciência lhe enchia o coração. Chegaria a vez dele, sabia. Mais um pouco... mais um pouco. Talvez fosse daquela vez que encontrariam os dróides para suprirem seu trabalho.
Ele olhava para as estrelas surgindo na escuridão. Elas cintilavam... à sua espera. Tudo o aguardava.
Inclusive seus tios, aos gritos, chamando-o para o jantar.
Serei alguém, pensava, enquanto suas botinas afundavam na areia. Talvez até mais do que seu pai, um piloto de um pequeno cargueiro. Não que houvesse alguma vergonha em transportar comida ou droides. De jeito nenhum. Piloto de um cargueiro, piloto de um caça... estaria no meio das estrelas. Estaria perto daquelas estrelas, do seu calor.
Mas ele não podia negar o coração bate, dizendo-lhe, a cada contração, que todo o universo cintilava à sua espera. O universo... seu coração no universo... o universo em seu coração.
O universo tem que aguardar, disse para si mesmo. Sorriu, entre um gracejo melancólico para si. Ou ele tem que providenciar os droides.
Pôs as mãos acima dos olhos, a fim de amenizar a luz poente dos dois sóis, querendo encará-los. Dois sóis. Seus olhos azuis se inundaram em tons alaranjados. Uma leve brisa já mais fria tocou seu rosto ainda quente. Gêmeos. Nunca sozinhos. Seria bom ter um irmão... e passear com ele pelas estrelas. Poderia vir a conversar com ele. Seriam amigos. Partilhariam das mesmas dúvidas de suas origens. Talvez até... seguissem os passos de seu pai.
Seus olhos se desfocaram, a névoa granulosa a lhe pinicar as faces sem, no entanto, incomodá-lo.
Um irmão... gêmeo.
Levantou as sobrancelhas, surpreso por esse pensamento, essa sensação tão transloucada.
Um gêmeo?
Ele riu consigo mesmo. Um igual a ele...? Não, não. Ele tinha muitas deficiências, muitas dúvidas, muita ânsia para que existisse um igual a ele. Seu tio Owen arrancaria os próprios cabelos!
Desejaria um irmão que fosse diferente. Um irmão que tivesse a coragem de um leão. Um irmão destemido... um irmão que lhe trouxesse um brilho novo no olhar... olhos castanhos. Sim! Um irmão de olhos castanhos. Cabelos... castanhos. Gêmeo... mas diferente. Teriam a sintonia de dois seres que compartilharam o mesmo útero. Teriam o universo a torná-los distintos... e complementares ao mesmo tempo, como Tato I e Tato II.
Seria bom... se não fosse impossível, refletiu, meneando a cabeça. Que tolice. Um irmão...? Mas seria bom pelo menos imaginar. Ele não se sentiria tão só, como sempre se sentiu. Nenhum de seus poucos amigos conseguia compreendê-lo. Gostavam dele, claro, mas não o entendiam intimamente. Nem ele mesmo diante de si, muitas vezes... diante de algo dentro dele que vibrava, desconhecido, inusitado, clamufado.
Suspirou e entrou em casa.
Eu sonho demais.
Os sóis gêmeos se esconderam atrás dos montes acastanhados, silenciosos. Eles nada disseram, mas trariam consigo, da próxima vez que aparecessem, resplandecentes, o destino daquele garoto de cabelos claros como sós e olhos celestes.
As estrelas...
E uma irmã.
Autor(a): ninlil
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