Fanfic: Sóis Gêmeos | Tema: Star Wars, Ficção, Amor, Irmãos, Família, Luke, Leia, Skywalker, Sonhos, Prosa poética, Sonhos
A galáxia em espiral enquadrava-se na grande janela. O fundo negro pontilhado por estrelas lindamente ordenadas em uma lógica física quântica, pintura de uma pequena parte do universo. Em cada ponto luminoso daquela obra, bilhões de vidas iluminadas por sóis. Vida... vida pulsante.
E uma vida em suspenso.
Uma nave de formato oval e achatado dançou entre os pontos brilhantes, mergulhando neles com ousadia, até se perder entre as luzes.
Luke trouxe ainda mais Leia para junto de si, seu braço contornando os ombros dela. Sua mão robótica, mascarada pela pele artificial, apertava o braço dela protetoramente, enquanto os dois ainda fixavam o olhar no rastro invisível que a Milleniunn Falcon deixara.
Um rastro de esperança.
Sentia a princesa rígida, a mente perdida, parte do coração dela tendo se ido com o velho cargueiro. Naquele momento, percebia que ela se despira de toda sua imponência régia, de sua constante postura combativa. Leia era uma mulher por baixo da princesa, sob o manto rebelde. Deu-se conta, finalmente, que ela amava Han. Ela amava seu amigo.
Há muito já desconfiava. Essa suspeita, somada à sua timidez natural, impediram-no de seguir adiante. Houvera uma única vez na qual ele tinha se insinuado a ela de forma desengonçada e vacilante, enquanto se recuperava do ataque do Wampa. Mal balbuciara cacos de seus sentimentos... e nem conseguira falar todo o encantamento que sentia por ela. Chegara a perguntar se eles tinham alguma chance em meio a frases incoerentes e incompletas. Leia arregalara os olhos e paralisara-se. Ele se aproximara dela devagar, acreditando que sua mudez era um consentimento para o beijo. Então, foram interrompidos por Han e Chewie. O momento passara e não existiu mais nenhum instante como aquele.
Houve, contudo, aquele beijo... não o que ele tentara. Fora logo depois, em virtude de uma discussão entre Han e Leia. Lembrava do gosto da boca dela. Nunca esquecera, na verdade. Porém essa recordação se tornara agridoce ao reconhecer que aquele gesto dela fora para provocar Han. Naquele momento, ficara feliz com o beijo, saboreando o instante, o perfume dela a entranhar-se nele naqueles segundos nos quais seus lábios permaneceram unidos. Todavia, depois que ela, Han e Chewie saíram do quarto e ele ficou sozinho com as sensações, deu-se conta que Leia não o beijara realmente. Ela não estava no beijo. Sua alegria se evaporara e ele se retraiu em relação a ela, permanecendo sempre de lado, a olhá-la discretamente.
Nunca falaram sobre o beijo.
Voltou o rosto para aquela face que ainda se fixava no espaço. Tão... linda. Inclinou levemente a cabeça para observá-la melhor, enquanto constatava, mais uma vez, que muito a amava. Encantara-se com ela desde que vira seu holograma, pedindo ajuda a Obi-Wan. Imaginara, naquela ocasião, encontrando-a e salvando-a. Ela lhe dando um beijo.
Ocorrera o que concebera em seus devaneios... mas não da maneira que desejara. Uma fissura traçada pela realidade separou seus sonhos dos fatos. A realidade impunha-se, claro. Quem era ele para subverter um coração? Ela amava Han, tinha certeza. Era incontestável no rosto dela. Leia não procurava mais ocultar seus sentimentos quanto a Solo. A angústia dela por encontrá-lo era uma constante em sua fisionomia.
Será que... que Han... Não sabia se seu amigo nutria por ela aquele sentimento tão grandioso, mas já presenciara atos nobres de Solo sob aquela capa de ironia. Ele não era tão inconsequente ou insensível quanto desejava parecer ser. Se ele não sentisse o mesmo por Leia... teria se afastado antes. Ele era um fanfarrão, um namorador e fazia questão de não esconder. Todavia, com ela... reparara como Han se sentia desconfortável com Leia,, mesmo quando implicava com a princesa. Se ela não significasse algo a mais, ele não ficaria constrangido.
Um ciúmes o arranhara durante um bom tempo, os três sempre juntos e ele a presenciar as farpas que Han e Leia trocavam. Acabou por se acostumar com essa emoção, até chegar ao ponto de ver que não havia sentido alimentá-la. Han e Leia eram parte de sua família agora... família que ele adotara e fora adotado com alegria. O ciúmes manchava a felicidade de terem formado aquela família. Com esforço, abafara a emoção de olhos verdes, até que ela se tornou insignificante diante do afeto que unia os três.
Suspirou. Independentemente de ela amar Han ou não, sentia que Leia não tinha olhos românticos para ele, um menino de fazenda de umidade de um planeta perdido na orla exterior. O tempo e a convivência com ela lhe revelaram o enorme, especial e... fraterno afeto da princesa por ele, Luke. Mesmo antes de ir para Dagobah, já havia constatado e procurava conformar-se, muito embora sempre houvesse uma esperança abandonada a se fazer presente uma vez por outra.
E agora... agora que via o amor de Leia por Han, suas fantasias murcharam... de uma vez por todas.
Ao afastar qualquer possibilidade de um relacionamento com ela, um espaço em seu sentimento se abriu e encarou o amor que sentia por ela de frente, sem desejos pessoais ou egóicos e foi pego de surpresa: esse amor possuía uma profundidade diferente da que ansiava em seus sonhos em Tatooine. Era algo... tão... tão maior, tão... contundente e, mesmo assim... tão suave. Queria a felicidade dela, acima de tudo. Desejava que aquela tristeza contida em seu semblante fosse dizimada. A paz dela acima da sua. Faria tudo por ela. Faria tudo para ela sorrir mais uma vez... inclusive, esquecer seus anseios românticos por ela.
Viu que ela baixara a cabeça, como a que organizar toda a sua própria emoção em relação a Han. Leia se virou para ele e pegou sua mão artificial.
- Está sentindo alguma dor? A prótese funciona sem problemas?
- Os medi-droides foram perfeitos. Estou bem. – encarou-a com todo o seu carinho e pegou a mão alva dela – Tudo ficará bem, Leia.
Ela entreabriu os lábios, surpresa. O que ela vira nele que a surpreendera tanto...?
- O que foi? Falei algo errado?
- Não, não... é que... – ela sorriu sem jeito – É como eu esperava... e é com você.
- Não entendo.
- Sempre desejei ter um irmão. Já lhe contei antes, sou adotada. Um dia imaginei... um irmão. Como ele seria, o que faria... fantasiei um pouco.
Um pequeno sorriso melancólico surgiu no rosto dele, junto com um balançar conformado, ratificando o que há pouco pensara.
- E sou como... esse irmão imaginário?
- Não havia me atinado antes mas... sim. Exatamente como imaginei.
Ela largou a mão dele, constrangida, e voltou-se mais uma vez para a grande janela, fitando o espaço.
Luke se aproximou da princesa, parando bem perto, ela de costas para ele. Percebeu que ela tinha estremecido. Pousou as duas mãos suavemente em seus ombros, cerrando os olhos.
- Se é o que precisa... eu serei esse irmão.
Ela respirou fundo, ainda mantendo-se de costas para Luke. Tocou a mão artificial dele. Luke sentiu o calor dela através dos sensores térmicos de sua derme biossintética.
- Obrigada. – murmurou, a voz rouca.
- Quero que saiba, Leia – virou-a com delicadeza, a fim de encará-la mansamente – que farei de tudo para trazer Han de volta. Eu prometo a você.
Sim, faria. Ele resgataria Han. Seu amigo... que havia sido aprisionado por Vader.
Vader.
Venha comigo, filho.
Ele sentiu seus músculos se tencionarem involuntariamente. Recolheu sua mão artificial, deixando-a ao longo do corpo. Seus dedos se fecharam e enterraram-se na palma.
Ela sorriu, as lágrimas contidas. Meneou a cabeça, franzindo a testa, como se houvesse enxergado algo nele. Pegou a mão robótica dele, cerrada em punho. Ao toque dela, os dedos relaxaram e permitiram-se serem enlaçados pelos dela.
- E me promete que um dia me contará o que te aflige? – apertou a mão dele significativamente.
Abandonou-se naqueles olhos castanhos. Ela foi fundo nele... naquela angústia que pesava em seu coração desde o encontro com Vader. Como gostaria de contar-lhe... Nela, podia confiar. Sabia que podia. Seria um alívio colocar em palavras a carga que levava em seu espírito, dividir o horror de seu pai ser uma criatura das trevas. Mas como, sem causar-lhe sofrimento? Ela se afligiria por ele. Como outorgar-lhe mais uma tristeza e preocupação...? Ela guardava sua dor por Han, o que já era em demasia.
- Um dia... mas não hoje.
- Não confia em mim?
- Doce Leia... eu confio mais do que imagina.
- Então... quer me poupar.
Ele não respondeu. Alisou-lhe o rosto.
- Não sei se me esconder o que te incomoda é um bom começo para dois irmãos. – brincou ela.
- Como pode saber? – também sorriu - Ganhou um irmão há um minuto e eu, uma irmã.
- Então teremos que descobrir como isso funciona. Somos inexperientes nesse assunto.
- Não acho que será difícil. Fomos amigos antes. Deve servir como um começo.
Ele a abraçou por completo. O rosto dela se afundou em seu peito e Luke encostou seu rosto nos cabelos dela. Uma irmã... suspirou. Não contara a ela que ele desejara um irmão, um companheiro de vida, enquanto via os dois sóis de Tatooine se esconderem atrás das dunas de areia.
Mas estava tudo bem. Nada em sua vida era exatamente como sonhou ou quis, porém não reclamava. Leia estava em seus braços e o amava, podia sentir... não como ele desejou antes, mas o que era possível.
E esse amor possível aqueceu seu coração mais do que esperava... mais do que os dois sóis de Tatooine.
Autor(a): ninlil
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