Fanfic: Diário de um Lobo | Tema: Lobisomen, Romance, Suspense

Me joguei dentro da água fria esfregando o meu corpo com força, tudo o que eu queria era me livrar daquilo e me lembrar o que havia acontecido, as lágrimas aos poucos se formaram e foi impossível não desejar estar em casa escondida dentro do meu quarto com um bom livro nas mãos porém, tudo o que eu conseguia fazer no momento era esfregar meu corpo e tentar tirar todo aquele sangue e sujeira que estava impregnado em mim. E ao mesmo tempo em que esfregava a minha pele, tudo parecia mais amplo, o barulho do vento nunca foi tão alto assim como o canto dos pássaros e tudo ao meu redor, levei minhas mãos aos ouvidos na esperança de conter o barulho mas foi em vão, submergi no lago e por um tempo permaneci desse jeito até que meu fôlego me impediu de continuar, voltei a superfície e ainda havia sangue no meu corpo.

- Ella, o que você está fazendo? - o grito de Stefan não me impediu de continuar a me esfregar - Ella para, você está se machucando! - o mesmo segurou em meus braços e eu pisquei diversas vezes, até compreender que o sangue que fluía por minha pele era meu.

- Stefan o que está acontecendo? E porque você está gritando?

- Ella eu não estou gritando, você precisa se acalmar - aos poucos soltou meus braços e se virou de costas para mim, retirou a camisa e me entregou, eu coloquei a camisa molhada com pressa e avisei que o mesmo poderia se virar - Vamos voltar para a mansão e lá conversamos, onde poderemos vestir roupas secas.

- Eu não vou Stefan! Olha pra mim, eu não sei como isso aconteceu, mas você viu quantos animais mortos estavam ao meu redor, o que aconteceu com eles? O que aconteceu comigo? Minhas roupas sumiram, meu corpo estava ensanguentado - as lágrimas voltaram a rolar e Stefan se aproximou aos poucos e segurou em minha mão tentando transmitir segurança, eu podia sentir toda a sua pena pela minha situação.

- Ella me escuta, aqui não é seguro, você está nua! Vamos voltar pra mansão... agora! - Stefan nunca demonstrou tanta raiva e preocupação, eu queria voltar pra casa mas eu precisava me vestir antes de qualquer coisa, aos poucos ele se distanciou para a margem do lago e eu o segui - Droga! Eu deveria ter deixado mais roupas por aqui! - parei ao seu lado e aos poucos seguimos o caminho através da clareira, eu não disse uma palavra e me mantive afastada de Stefan, tudo o que vinha em minha mente era a lembrança da nossa conversa anterior e um certo recuo se abateu sobre mim, ao longe as imensas colunas da mansão já eram visíveis, assim como a discussão que se sucedia.

- Nossa eles falam tão alto que é possível ouvir dessa distância!

- Hum... você é muito teimosa Ella, se acreditasse em mim, as coisas seriam mais fáceis - as palavras dele não faziam o menor sentido para mim, continuamos andando até chegar na mansão, e quando ele abriu a porta o silêncio percorreu pelo local e todos nos olhavam num misto de ódio, raiva e dor.

- Eu avisei pra você tomar conta dela! Duas crianças foram assassinadas ontem a noite! - um homem alto que possuía traços parecidos com o do Martinez se aproximou de nós, mas antes que pudesse chegar Sofia e seu irmão se colocaram na nossa frente - Saiam agora! Ou eu mando matá-los também! - me assustei com aquelas palavras, Stefan passou na frente deles e ambos ficaram de guarda.

- Você não vai encostar em ninguém da minha matilha! A Decker não fez nada! Eu a encontrei hoje cedo no lago e a única coisa que matou foram animais, se não acreditam examinem os restos e verão que aquilo é um trabalho típico de um ser que não possui alma, apenas vive para matar - as palavras de Stefan me deixaram confusas.

- Um vagante!

- Muito sábio meu pai... - havia ironia em sua voz, um lado do Martinez ao qual desconheço- Sofia, leve a garota para o quarto eu vou conversar com ela assim que puder.

- O cheiro dela de fato é diferente do encontrado nos restos, mas ainda assim, saiba que estão proibidos de saírem daqui até que tudo seja esclarecido. Vou evitar uma guerra entre lobisomens... por enquanto - tenho certeza que vi um brilho dourado nos olhos daquele homem que expressava fúria, apesar de Stefan ser meu vizinho eu nunca vi seu pai, ele sempre estava ocupado e diferente do que imaginei ele aparentava ser um homem cruel. Sofia puxou minha mão e me pediu para ir na frente, subimos as escadas com cautela sob o olhar de todos.

- Até que o ogro do pai de Stefan se convença da sua inocência, todos que desconheço são inimigos - olhei para trás e suas lâminas empunhadas enquanto a mesma se mantinha em posição de ataque.

- E pra onde você esta me levando? De volta para o quarto daquele psicopata? - respirei fundo pois toda vez que eu pensava naquele lugar as imagens do que Miguel fez comigo vinham a minha mente, uma sensação de alívio percorreu por todo o meu corpo quando passamos direto pela porta do quarto, olhei novamente para a loira que sorriu antes de virar a esquerda, passar na minha frente e abrir a ultima porta do corredor.

- Chegamos!

- Sofia onde estamos? - indaguei devido a escuridão do local, em nenhum momento eu vi um corredor apenas segui o caminho que a mesma mandou.

- No quarto do Stefan, nós já moramos aqui, na época não havia lugar mais protegido do que esse cômodo, tanto que mesmo depois de anos sem vir até aqui o mesmo continuou intacto, nem mesmo Miguel conseguiu descobrir a entrada.

- Mas viramos uma esquerda após dar vinte passos de distância do quarto daquele monstro.

- Isso foi o que você viu, digamos que os Calisto sabem construir, nada como uma ilusão para confundir até mesmo um alfa sanguinário. Se eu não fosse filha deles nunca saberia entrar nesse quarto - ela abriu a porta e por quinze segundos a única coisa que ouvi foram barulhos das trancas se movimentando, diferente da confusão que podia ser ouvida no outro corredor. Meus pés tocaram o lugar escuro e frio a luz foi acesa e percebi que diferente dos outros quartos, esse possuía uma estrutura sólida  parecida com uma rocha, como se estivéssemos embaixo de algo e não mais dentro da mansão, a decoração em tom escuro e totalmente sofisticado me fez olhá-lo de outra forma, nunca pensei que Stefan fosse assim, sempre o vi como uma peste, um prego no meu sapato, meu verdadeiro inferno.

- Eu estou confusa, tudo aqui é surreal, alfas, matilha, família? Afinal o que vocês são? - a loira abriu uma porta enorme a sua esquerda e acendeu as luzes, indicou que eu poderia relaxar naquele lugar e a passos curtos eu entendi que aquele era o banheiro.

- Tome um banho, tem roupas minhas na segunda porta do closet a sua direita e quando estiver apresentável conversamos - concordei e fechei as portas, liguei a torneira, de imediato o vapor começou a embaçar o local e enquanto a água caía delicadamente na cerâmica branca, forcei minha mente tentando recordar de algo que me levasse a noite anterior mas nada aconteceu, respirei fundo e adentrei a água quente deixando meu corpo amolecer e pela primeira vez observei meus braços, não havia se quer um traço das escoriações que fiz, o que me deixou perplexa, preferi sai do banho e tirar todas as minhas dúvidas com Sofia e depois de me vestir voltei para o quarto e dei de cara com o Martinez sentado na cama.

- Agora podemos conversar - seus olhos se fixaram nos meus e seu semblante sério me encheu de pensamentos hediondos sobre o que havia acontecido no dia anterior.

- Stefan... seu pai falou sobre crianças mortas, é verdade?

- Sim, são mais velhos do que nós devem possuir no máximo 20 anos, mas para o meu pai todos são crianças. Não se preocupe a culpa não foi sua, logo-logo meu pai vai perceber isso e ai iremos voltar para Aurora Skies - o meu semblante assustado deve ter deixado-o preocupado, pois o mesmo se levantou e veio em minha direção.

- Stefan eu não sou uma assassina... - foi então que me dei conta de que não lembrava de nada sobre a noite anterior, lágrimas saltaram por minha face com a possibilidade de ter me tornado uma assassina - Eu não lembro de nada sobre ontem... ai meu deus, fui eu que fiz isso Stefan? Fui quem os matei?

- Não Ella, você estava descontrolada, mas está longe de ser um assassina.

- Então que eu sou... no que você me transformou? - deixei meu corpo escorrer até o chão e coloquei minha cabeça entre minhas mãos.

- Ella... você foi a escolha mas difícil que eu tive que fazer, eu te transformei numa lobisomem – olhei em seus olhos e vi que o mesmo falava a verdade, mas como eu poderia crer nisso?

- Stefan, você vai insistir nessa história, até quando ?

- Droga Ella! Eu estou falando a verdade, ontem foi a lua de sangue o período mais aguardado pela nossa espécie e infelizmente pra você foi a primeira transformação, por isso você não lembra de nada, correu como uma louca, se alimentou feito um animal faminto que era e destruiu tudo aquilo que lhe causou receio, despertou o seu medo e sua fúria.

- Stefan eu quero a verdade! - esbravejei enquanto olhava em seus olhos.

- Ok, você quer a verdade, que assim seja! - seus olhos mudaram de cor diante de mim e sua presença prevaleceu me causando um profundo medo, me levantei e escorei meu corpo na parede – E agora acredita em mim? Ou você quer que eu me transforme também?

- Como isso é possível... eu virei um monstro?!

- Sim, você virou um monstro, mas saiba que tudo tem um controle.

- Controle? - vociferei e fui em sua direção – Você desgraçou a minha vida! Olha bem no que você me transformou! – bati com meus punhos em seu peito e o mesmo não se mexeu.

- Você acha que foi fácil pra mim Decker? Você sabe o que eu tive que fazer para salvar sua vida? Não tem a menor ideia do que tive que abrir mão!

- Eu não te pedi nada! Eu não pedi pra você salvar a minha vida! - observei a fúria em seus olhos, o mesmo socou a parede.

- Você continua sendo a mesma garota egoísta e pretenciosa que conheci, nem tudo gira ao seu redor, se você queria morrer eu deveria ter deixado Miguel desgraçar a sua vida em vez de ter deixado de lado todos os meus princípios por você – Stefan saiu do quarto me deixando sozinha e tudo o que eu fiz foi chorar e esbravejar sem entender como tudo aconteceu, a loira adentrou o ambiente e quando viu meu corpo largado no chão, se abaixou e me abraçou, por mais que nós não tenhamos nenhuma afinidade, nesses dias que se passaram ela foi como uma amiga para mim.

- Ella... não julgue o Stefan, em toda a minha vida essa é a primeira vez que ele fez isso e quase se perdeu, tudo para poder te salvar, meu amigo realmente tem um apreço por você, pois ao te transformar ele criou uma ligação profunda entre ambos..

- O que você quer dizer com isso? Eu virei algum tipo de beta por acaso? Não são só lobos que tem isso? - eu estava confusa e cheia de perguntas enquanto Sofia gargalhava.

- Não, isso é coisa de lobo, as coisas entre os lobisomens são um pouco mais intensas. Acho que você deveria conversar com ele, só dê um tempo para o mesmo se acalmar –  fiquei confusa com suas palavras, e vendo por esse lado, talvez.. eu tenha sido injusta.

Visão do Stefan:

Eu saí do quarto revoltado com as palavras dela, eu quase me perdi, deixei de lado meus princípios tudo para salvá-la. Entrei no quarto do desgraçado do meu irmão e tomei um banho frio para sessar minha raiva, ouvi batidas na porta, enrolei minha toalha no quadril e fui até a porta dando de cara com Rom:

- Cara o seu pai está te esperando… - dei espaço para o meu amigo e ele se jogou na cama.

- Eu não estou com cabeça pra isso agora… - fui até o closet e catei uma calça jeans e uma camiseta azul escura – Você tem um cigarro aí? - meu amigo me olhou espantado – Não me olhe assim, eu preciso esquecer toda a confusão com a Decker antes de fazer uma besteira.

- Seu pai precisa de você lá embaixo agora, o conselho está te esperando.

- Droga Rom! Porque você não falou logo?! - bati a porta do quarto e desci as escadas apressado, toda vez que o conselho se envolvia os problemas eram resolvidos com sangue, e as vezes existências eram apagadas, tudo para proteger a maldita matilha e seus segredos.