Fanfics Brasil - Shaggy Rogers — Parte 1 Scooby: Apocalypse

Fanfic: Scooby: Apocalypse | Tema: Scooby-doo, The Walking Dead


Capítulo: Shaggy Rogers — Parte 1

12 visualizações Denunciar



Norville Shaggy Rogers, mais conhecido como Salsicha, não teve uma infância muito comum. Em vez de jogar bola e soltar pipa com seus amigos, ele preferia nem ter amigos, e passar a tarde sendo um telespectador ocioso, seguindo o exemplo de seu pai.


     Aos dezessete anos, recusava convites de festas para assistir Vikings e programas de comédia.


     — Você precisa encontrar um desafio na sua vida para aprender a viver Norville! E não vai conseguir isso aqui dentro de casa. — Argumentava sua mãe, senhora Rogers, ao desligar a televisão todos os dias e o colocar para passear com sua lambreta pela cidade, para que o jovem pudesse ter alguma nova experiência.


     Mas o que um adolescente, em plena puberdade poderia querer mais? Uma namorada? Um carro? Nada disso, ele só queria aproveitar cada momento em frente à televisão, que depois passara a ser um monitor de computador.


     — Pobre Shaggy, prefere assistir Netflix do que levar uma garota para cama. — Dizia James Cooke, seu colega do ensino médio. E ele tinha razão. O jovem só havia tocado em duas camisinhas nessa vida, e fez dois balões. Enquanto seu opressor e capitão do time de futebol, James, já havia transado com metade das garotas do colégio.


     A professora de biologia dizia que Norville era um rapaz depressivo, sem objetivo de vida e bem próximo de cometer um suicídio. Ela estava enganada. Apesar da vida alquebrada e com o desânimo no rosto, ele era mais sábio e capaz que qualquer aluno do colegial, com a felicidade feita a partir de pequenas observações, que criavam espontaneidade.


     Ele observava cada pessoa de seu bairro.


     O senhor Dreamp, da avenida Leran, sempre molhava os pés quando usava o regador em seu pomar, e ria bastante de si próprio. A linda Chloe Albajaz ouvia Paramore tão alto que todos os moradores do bairro já haviam decorado pelo menos cinco músicas da banda, mesmo a maioria odiando alternativo. Sua vizinha Beatrice, que completava noventa anos naquela semana, cuidava de sua cadela grávida, como se fosse a filha que nunca teve, e ela ficava preocupada, queria ver aqueles filhotes antes de falecer. O pequeno Carl Stuart, aos cinco anos, já conseguia empinar a bicicleta, após tombos e arranhões. E era dessa forma que Shaggy encontrava felicidade. Nos pequenos acontecimentos, nas pequenas ações, que em si simbolizavam o sucesso.


     Na sua formatura, onde havia um belo baile, ele se retirou, pouco antes de colocarem a beca para pegar os diplomas. Seguiu a rua central com sua lambreta até a saída da cidade, a aglomerada Bristol, e se deitou no úmido gramado de boas-vindas. E lá permaneceu até o amanhecer.


     Shaggy acordou com um agudo grito vindo do vilarejo Ormen, próximo à cidade. Ele estava cansado e com a roupa molhada, não deu muita importância e se sentou na lambreta, tentando não pensar em como foi a reação de sua mãe quando falaram o nome do rapaz na formatura e ele não estava lá para ser ovacionado pelos ali presentes.


     De repente, junto com o nascer do Sol, um bando de pássaros cortando a luz branda atravessa o céu saindo da floresta, rumo ao leste de Bristol. E então um ruído, vibrado e enrustido, cortou o barulho do vento. Shaggy os viu, mas não queria acreditar.


     Eram adultos e jovens, com peles flácidas, sujos com o sangue de seus parentes e amigos, correndo atrás do calor de pobres criancinhas, que cansadas paravam em meio caminho e se entregavam de bandeja aos contaminados.


     O jovem Rogers não era nenhum pouco apegado aos noticiários, mas sabia que, os que ali apareceram, estavam infectados pela doença que tanto afligia a população naquele ano. E só restava uma escolha: dar o fora.


     Ele engatou a terceira marcha e seguiu em frente, entrando na cidade, que ali acordava esperando o jornal e os pães amanteigados. As mãos de Shaggy tremiam no manúbrio, enquanto ignorava os semáforos, atravessando olhar para os lados. Seu objetivo ali era não ser o café-da-manhã de alguém.


    Mais e mais contaminados surgiam, entrando em casas e estabelecimentos. Aqueles, apelidados zumbis, comiam pessoas e criavam mais deles. Shaggy parou a lambreta e começou a olhar para os lados. Pessoas gritavam, pessoas corriam, o fim era o mesmo para todos que decidissem se arriscar. Pelo visto, a cidade estava cercada.


     Os infectados não eram aqueles de filmes de terror, eram mais rápidos e inteligentes. Usavam os dentes e as mãos para matar e se alimentar, de uma maneira consciente e assustadora.


     Shaggy não sabia para onde ir, sua respiração estava descontrolada e ele só torcia para que tudo aquilo fosse só mais um pesadelo.


     — Corra seu idiota. — Gritou o padeiro Lionel, que saiu da pequena Starbucks da cidade, em direção contrária.


     Ele virou a lambreta e o seguiu. Mas uma das contaminadas pela terrível doença atacou o pobre padeiro, que tentava impedir com socos e chutes.


     Shaggy até tentou ajudar, mas estava se tornando um fácil alvo. Então correu para um pequeno supermercado ali perto.


     O comércio estava fechado, mas havia uma escada de cromo próximo a caixa d’água do local. Ele subiu e pulou no telhado do supermercado, onde se encolheu próximo ao gerador de teto, e permaneceu até que tudo acabasse. Tudo, para Rogers, eram os gritos de socorro e dor.


     Ali ficou encolhido ao canto, pensando em músicas e poesias vagas que nada acalmavam seu desespero.


    Era quatro horas da tarde até que não houvesse mais gritos. O jovem tentava segurar as lágrimas com a esperança, mas era o medo que vestia conta. Ele não sabia se estava ouvindo o que queria ouvir ou se os tiros da polícia haviam acabado com os contaminados.


     Shaggy se levantou, seus joelhos e as costas doíam. A cidade estava cingida por uma forte fumaça, provavelmente haviam usado a bomba cohens para tentar controlar os zumbis, o que não obrou sucesso.


     As ruas estavam vermelhas de sangue escorrendo pela grelha de sarjeta, com órgãos espalhados pelas calçadas e belos jardins de Bristol.


     Mais uma vez o rapaz fechou os olhos e abriu, querendo acreditar que tudo aquilo não adviesse de mais um marasmo.


     Com os dedos cruzados, Shaggy desceu pela escada de teto do supermercado, e com sua lambreta, arranhada e com peças em falta após a desordem, foi até seu bairro.


     — Meu bairro não, por favor. — Dizia a si mesmo, torcendo para que alguém lá estivesse bem. Para que ainda existisse alguma forma de felicidade para mais uma de suas observações.


     E ele mais uma vez observou. Agora decepcionado e com o coração desfechado. Pois não havia nada feliz ali.


     O senhor Dreamp havia sido morto no pomar, com seu regador na mão, seus pés não estavam molhados. Ainda podia se ouvir Paramore, mas a bela Chloe já não estava mais lá. Carl Stuart não iria mais empinar sua bicicleta, seu corpo estava na calçada da senhora Beatrice, que próxima a sua cadela, também foi levada por eles. E do outro lado da rua, na casa onde Shaggy cresceu vendo TV, era possível ver de forma plena e dolorosa, o cadáver de seu pai e de sua mãe, quase irreconhecíveis após tantas atassalhadas.


     Havia, ainda, um contaminado pela doença devorando o carteiro próximo à casa da velha Beatrice. Com ódio, o jovem Rogers entrou em sua casa com o punho fechado, caminhou até a gaveta do quarto de seus pais, onde sabia o que eles lá escondiam, e pegou uma pistola Taurus de calibre 22, já carregada.


     Shaggy peregrinou entristecido até o zumbi que estava em sua rua, apontou a arma em sua cabeça, e esperou que ele andasse até ele. Apertou o gatilho e pôs fim ao vício daquele ser impulsivo.


     O jovem Rogers continuou olhando tudo aquilo e, então, as lágrimas começaram a cair de seus olhos, marcando o asfalto quente naquela tarde.


     Permaneceu cinco minutos ali parado, os mais tristes de sua vida. E ele pensou, pensou e pensou. Com a arma em sua mão, ele a posicionou acima de sua orelha e preparou para apertar o gatilho. Mas uma lamúria o impediu.


     Não era o choro de um humano. Era um pequeno filhote, próximo ao corpo da senhora Beatrice, tentando atinar alimento, ainda com os olhos fechados. Era um dos filhotes da cadela. Havia dado à luz antes do acometimento.


     Os outros foram mortos, enquanto a cadela ainda amamentava, e aquele, o menorzinho, se perdeu e conseguiu resistir.


     Era um dogue alemão, e apesar da sua estatura, estava bem esperto para tão poucas horas de vida. Ele o pegou em seus braços e firmou as pupilas. O cãozinho tentava extrair qualquer quantidade de leite de seus dedos, e então o jovem entrou em sua casa acovardado e ainda assustado, aqueceu o leite desnatado no fogão e o alimentou de gota a gota usando as mãos.


     E aquele cão, era a nova prosperidade de Shaggy, pois ele conseguia ver esperança no acanhado animal, que cresceria ao seu lado, sem o abandonar, até o fim.


     — Para onde iremos? — Perguntou o rapaz brincando com o pequeno. E a resposta estava no calendário engordurado na parede: Londres. — Isso. Iremos para Londres. Encontraremos ajuda lá.


     E então Shaggy entendeu que aquele era seu repto, e que era muito novo para desperdiçar tanta vida pela frente. O que o impedia de ser feliz era ele mesmo, e não as pessoas que estavam lá fora.


     Ele seria alegre, não observando a felicidade, mas caminhando com ela.



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): bacalhardo

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).




Loading...

Autor(a) ainda não publicou o próximo capítulo



Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 0



Para comentar, você deve estar logado no site.


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais