Fanfics Brasil - Primeiras Folhas Lembranças de Outono

Fanfic: Lembranças de Outono | Tema: Romance


Capítulo: Primeiras Folhas

388 visualizações Denunciar



A tempestade que se anunciava ao longo da semana firmou-se naquela manhã, cobrindo a cidade com uma pesada nuvem. Nenhum sinal de sol, somente de ventos fortes ao longo da manhã, o que forçou estabelecimentos a removerem suas mesas com guarda-sol das calçadas livres, de modo a evitar acidentes. Alguns fecharam mais cedo e liberaram seus funcionários para que pudessem chegar em segurança aos seus lares. Era a recomendação de autoridades para evitar possíveis transtornos no trânsito.


 O vento estava muito frio, ainda que faltasse pouco mais de um mês para o inverno e tivesse amenizado sua força no início da tarde. No entanto, as nuvens cada vez mais cobriam e escureciam a cidade, fazendo transeuntes se apressarem pelas ruas temendo serem pegos de surpresa. Alguns raios já riscavam o céu e poucos trovões podiam ser ouvidos ao longe. Seria uma longa e complicada noite inglesa.


Os primeiros pingos de chuva chegaram ao fim da tarde, mas nas primeiras horas da noite se intensificaram, fazendo muitos buscarem refúgios nos poucos estabelecimentos ainda abertos, principalmente no `Beco Boêmio`, assim chamada a rua que concentrava grande número dos tradicionais pubs londrinos e levando seus clientes a mergulhar novamente nos áureos tempos, em seu charme e glamour.


Os prédios dessa área datavam da Era Vitoriana, com suas fachadas trazendo todo um simbolismo de um tempo dourado pela riqueza cultural com suas colunas e balaústres decorados, ruas de pedra e calçadas altas. Os antigos postes de ferro com braços acoplando duas luminárias e uma terceira ao topo ajudavam iluminar as ruas da cortina de água que caía sobre a cidade.


O antiquário Cezzanne era um dos poucos estabelecimentos fora desse círculo boêmio, sendo basicamente um ponto referencial, já que seu prédio era de esquina, oferecendo um espaço mais reservado e tranquilo que os pubs não eram capazes de conceder.


Ocupava dois andares de exposição de relíquias que iam de pratarias, louças e porcelanas à bibelôs. Livros, joias, brinquedos e outros objetos seculares estavam localizados no pavimento superior com vista para o primeiro piso com suas mobílias, quadros, tapeçarias, luminárias e obras de arte. Muitos desses conservados ou mesmo restaurados por funcionários altamente especializados e conhecedores da origem de cada uma das preciosidades expostas.


 Embora o antiquário já mantivesse uma fiel e estimada clientela firmada ao longo de seus 70 anos de atividade, a chuva ajudou a convidar outros mais, incluindo turistas, a adquirir novas relíquias para seu acervo.


Dentre eles, um velho casal hippie que muito animava uma nova geração naquele fim de tarde contando histórias de Woodstock quando diante de fotografias lendárias e objetos do evento à venda — alguns comprados por eles. Os chamados Geeks também se admiravam com inúmeros instrumentos steampunk para suas coleções e Roleplaying Games. Estava sendo uma tarde incomum, mas também promissora.


A decoração do lugar seguia todo um estilo de época com paredes revestidas em uma espécie de tecido vintage vermelho da metade da parede para o alto com rebaixamento em gesso em três níveis, enquanto a outra metade era em ripas de madeira diagonal escura. O piso era de tacos incrivelmente conservados. Plantas e quadros fechavam a decoração do lugar.


Somente com uma breve estiagem que algumas pessoas aproveitaram para seguir suas viagens e esvaziar o antiquário que somente fechou oficialmente suas portas pouco depois das 21 h, quando novamente a chuva começou a ganhar força.


Naquele momento, as luzes gerais eram apagadas, deixando somente das luminárias acesas para que não ficassem mergulhadas no escuro. Estavam espalhadas estrategicamente pelos ambientes de modo a permitir que o último funcionário a sair e fechar o estabelecimento não corresse o risco de tropeçar pelos móveis. Somente as luzes das salas superiores ainda se mantinham acesas denunciando alguma atividade.


Em outros dias estaria mergulhado num quase silêncio se não fosse o tic-tac de um cuco alemão, mas naquela noite ouvia-se passos pesados e outros um tanto apressados seguido de tropeços. Quando o cuco soou, um andarilho se moveu com seu cajado para junto de uma roda d`água, enquanto acima dele surgiam dançarinos saindo de uma pequena porta e desaparecendo em outra meio ao canto suave.


Eram as badaladas das 23 h, sobrepondo ao grito sufocado somado ao arrastar de móveis e burburinhos de uma discussão acalorada. Conforme o ponteiro dos segundos se movia, recusas eram ouvidas meio aos cantos do cuco.


Em seu último canto, o andarilho movia-se para seu refúgio definitivo e as portas se fecharam no mesmo momento que um forte baque foi ouvido, fazendo o relógio desprender-se da parede e chocar-se contra o chão. O cuco voara alguns metros no corredor parando junto uma bolsa caída.


Sem mais o canto, a discussão também parecia ter sido cessada, embora soluços pudessem ser ouvidos com recusas que pareciam ser abafadas. "Não há... quê... ter med...!", alguém disse rouco e suprimido pelo som da trovoada que ecoou estremecendo janelas. Estalos ecoavam juntamente com soluços incessantes de súplicas. O ambiente se iluminava a cada relâmpago, mas aquele último seria como de alguém atendendo ao seu socorro.


Aquele raio deveria ter caído próximo o bastante para ecoar com tamanha ferocidade após um clarão. A luz oscilou com incessantes quedas mergulhando a loja no escuro por alguns instantes. Quando novamente foi reestabelecida, um baque surdo ecoou no andar de cima enquanto cacos de porcelana estavam espalhados pelo chão da sala até próximo à porta para o corredor onde o relógio encontrava-se caído.


Quem quer que fosse, saiu apressado da sala, cambaleante, tomando a bolsa que estava no chão, escorregando ao pisotear os cacos, e o próprio cuco, e correu pelo corredor buscando alcançar a escada. Novo clarão, seguido de estrondo, mas esse mais distante.


Desceu rápido a escada de ferro em meio círculo até o pavimento térreo, desequilibrando-se nos últimos degraus e apoiando-se no corrimão. Arfava, tremia, sentia cada músculo seu tenso demais para obedecer seus movimentos. A todo momento olhava para cima temendo que ele a seguisse. "Preciso sair daqui!", pensou ela, limpando o rosto, olhando de um lado para outro buscando se orientar até se encontrar sobre onde estava e para onde seguir.


Tropeçou no carpete, forçando-se apoiar numa mesa e derrubar um conjunto de objetos que nem bem soube identificar o que era, muito menos estava interessada em arrumá-las de volta.


Quando ouviu os movimentos vindo de cima, estremeceu, ficando a observar sua aparição enquanto recuava, batendo de costas numa estante e derrubando livros e bibelôs, quebrando alguns em sua fuga. Ouvia-o praguejar, ainda que as trovoados impedissem de ouvir claramente o que dizia. Por outro lado, aquele clarão permitiu ver sua saída refletida no espelho.


A porta para o depósito nunca era trancada já que o trânsito ali era constante no horário comercial, e mesmo após a loja fechar jamais viu a necessidade nisso. Mesmo porquê era apenas para material de escritório e da própria loja com inúmeras caixas empilhadas e o armário de notas. Era uma sala escura e com apenas um basculante, com suas luzes acesas somente quando a porta era aberta. Era um esconderijo, mas ainda longe de ser o lugar ideal.


Os passos ecoavam, vacilantes ao que podia notar. Não tinha muito tempo. Seguiu até um armário onde tomou um molho de chaves buscando uma em específico. Embora jamais fosse trancada, a porta tinha sua chave, e pela primeira vez foi trancada no instante que alguém tentou abri-la para o espanto de quem a fechou, quebrando a chave no processo. Insistentes tentativas e murros dados na porta.


Recuou até outro espaço que era onde eram feitas as entregas, sendo um espaço amplo que era onde ficava a caminhonete da loja e motos. A larga porta de enrolar automático estava fechada, mas não seria necessário suspendê-la. Havia uma menor para a entrada dos funcionários e foi por essa que pôde sair para a torrente chuva. Trancara a mesma e deixara o molho de chave no trinco enquanto fugia para o estacionamento aberto do outro lado da rua.


A noite e a chuva dificultavam a visão, aumentando seu desespero. Mal conseguia ver os postes, a não ser pelas luzes acesas, como globos fantasmas flutuantes. Estava atordoada e confusa, a todo momento olhando para trás como se buscasse por algo ou alguém naquela rua vazia onde apenas ela se aventurava em seu desespero, soluçando. Finalmente chegou ao seu destino ansiado.


 O veículo, um mini clássico azul escuro, estava lá, a sua espera. Suas mãos nervosas espalmaram contra o vidro, até que elas foram ao bolso da saia para apanhar as chaves necessárias para entrar. A todo o instante, olhava para trás, tentando ver se aquela pessoa ainda estava em seu encalço. Sabia muito bem o que fizera, assim como tinha ideia do que estaria para acontecer se não conseguisse fugir a tempo.


 O chaveiro escorregou por entre seus dedos molhados e foram ao chão, fazendo um barulho assustador. Estrangulou um grito, mordendo o lábio e sentindo um gosto ferroso, enquanto se abaixava para tentar pegar as chaves. A chuva, o cabelo ensopado colando em seu rosto e os óculos molhados atrapalhavam muito naquele momento que parecia levar uma eternidade.


 Tateou o chão sujo até encontrá-las, e as pegou. Praguejou por sua própria falta de jeito, enquanto apanhava-as novamente e tentava, de um modo desesperado, acertar a fechadura. Finalmente conseguiu abrir, quase quebrando mais uma chave no processo. Jogou a bolsa no banco de carona, e entrou, trancando-se ali dentro.


 O coração martelava em seu peito e sua respiração mais parecia um rugido a cada sopro. Uma vez sozinha, desmanchou-se em lágrimas, vendo as mãos trêmulas enquanto segurava firme o volante e puxava sua blusa rasgada como se tentasse esconder algo. Encolhia os ombros, olhando o banco do carona e o espelho retrovisor como se temesse encontrá-lo ali. "Saia daqui... Precisa sair daqui...!", repetia a voz em sua mente enquanto tentava ligar o carro.


Agradeceu não haver tantos carros àquela hora ou teria acertado, ao menos, dois automóveis, tamanha sua falta de atenção e pressa em arrancar dali. Nem mesmo se preocupou em pagar o estacionamento, quebrando a cancela de madeira e deixando o vigia a olhar atordoado por aquilo.


Ganhou a rua sem deixar de olhar para trás temendo que alguém a seguisse, sem se importar com os semáforos que ainda estavam ligados. Os pneus gritavam a cada curva feita, até que conseguiu uma pista reta o bastante para colocar o cinto de segurança enquanto corria.


 Removeu os óculos jogando-o no carona sem qualquer preocupação. Limpava o rosto das lágrimas, sentindo as mãos ainda trêmulas e percebeu o corte nos dedos de quando quebrara o vaso, fazendo-a chorar mais e mais. Batia no volante, sentindo a dor em seu braço direito por usá-lo para se apoiar no corrimão para não cair. Mordiscou os lábios e se arrependeu, sentindo o corte e o sangue que insistia surgir.


Aquilo não podia estar acontecendo. Perguntava-se o porquê e do quão responsável era por aquilo enquanto continuava a puxar sua blusa rasgada, fazendo-a chorar desesperadamente. Quando ouviu o telefone tocar, estremeceu, buscando no painel do carro até perceber vir de sua bolsa. Tateou até encontrá-lo, reconhecendo o número.


 — "Onde você está? Está tarde, caindo o mundo...” — perguntou a voz do outro lado, parecendo preocupada.


 — E-Eu não sei... — respondeu ela automaticamente.


 Naquele instante, não conseguia pensar em nada. Tudo o que mais queria era ir para bem longe daquela pessoa, arrepiando-se a cada flash do último instante que vivenciou e sentindo náuseas a ponto de quase vomitar. No entanto, apenas engasgou, soluçando quando se deu conta que alguém a chamava no telefone.


 — "Como assim não sabe onde está?" — indagou a pessoa notoriamente aturdida do outro lado da linha, ouvindo os soluços. — "O que aconteceu? Você... está chorando?"


  As lágrimas se intensificaram acompanhado de uma careta. Cruzava ruas, entrava em outras. Estava sem direção, desnorteada, sem destino. Umedecia os lábios a todo instante, mas algo a fez expressar tamanho nojo que levara a mão para limpá-lo com força, quase como se quisesse arrancar a pele, borrando ainda mais o batom.


— E-Ele... Ele tentou... — dizia em prantos, os olhos trêmulo, embargados. — E-Ele me segurou... Oh, meu deus...! — era como se visse o acontecimento diante dela, fazendo-a segurar mais firme ao volante, rapidamente olhando para o espelho retrovisor. — E-Ele... me mordeu...! — e sentiu uma ânsia ao dizer aquilo, levando a mão à boca novamente. — E-Ele...!


Embora a cortina de água perdesse sua força, a chuva continuava intensa, mas já permitindo ver os faróis dos poucos carros que se aventuravam pelas ruas e avenidas em velocidade controlada. Porém, tamanho estava seu transtorno que ela nem mesmo percebia que estava a correr acima da média para dias como aquele. Enquanto falava, um forte farol recaiu sobre ela, forçando-a desviar para sua esquerda, seguidamente de volta para a direita até sua pista assustada com as buzinas que se ouviram.


— "Você está dirigindo... nessa chuva?" — questionou a pessoa do outro lado da linha, sendo perceptível a tensão na sua voz. — "Onde você está?" — nenhuma resposta. — "ONDE VOC..."


— EU NÃO SEI!!! — gritou ela de volta ainda com as costas da mão frente aos lábios, chorando compulsivamente, repetindo não saber onde estava. E realmente não sabia.


— "Pare esse carro, agora! Eu vou te buscar onde quer que esteja... mas pare esse carro!" — exclamava a pessoa do outro lado da linha, inquieto. — "Veja se há alguma placa... qualquer coisa! Eu preciso saber onde você está, pelo amor de Deus!"


— E-Eu não sei... Eu... E-Espera...! — ela dizia quando percebeu algo e voltou olhar para frente. — A... A-Antiga... Antiga estação... Estação Baixa...


— "Antiga estação... a Baixa Estação? Você... está do outro lado da cidade!" — desesperou-se quem estava do outro lado da linha. — "Pare o carro e me espere aí, está bem? Está me ouvin...?"


Uma nova buzinada que suprimiu quem falava, fazendo-a novamente virar a direção e fazê-la sentir uma forte dor em seu braço. Porém, ela conseguiu entender o que ele queria dizer e apenas assentiu concordando, mas percebendo que havia algo errado.


— E-Eu não posso...! — disse ela pisando no freio, não conseguindo ver resultado e sentindo-o leve demais. Sentiu a garganta apertar e o coração palpitar ainda mais. — Não consigo...!


— "Do que está falando?"


— Não consigo! — soluçou, olhando para o painel de velocidade e vendo alcançar quase 90 km/h. Pisava no freio insistentemente sem resultado. — O f-freio... não está... não está...


Foi preciso fazer outro desvio no momento que o freio respondeu suas investidas, derrapando pela pista, ziguezagueando. O telefone que segurava escapou de suas mãos enquanto ela buscava recuperar o controle do carro. Tamanho era seu desespero que forçou demasiadamente o braço e soltando um urro de dor com a fisgada, forçando a pressionar o volante e o ferimento da mão sangrar um pouco mais. Aquilo fez sua mão perder a firmeza que exercia no volante e deixando o carro bater na mureta de proteção.


— Ai meu deus...! — clamou ela voltando a pisar no freio, mas sem sucesso. O velocímetro parecia estabilizado nos 92 km/h, mas era como se sentisse o carro voar naquela pista. — E-Eu não... não consigo parar o carro... o freio não está funcionando... — desesperava-se, sentindo os músculos novamente rígido e não querendo obedecê-la. A cabeça latejava e a náusea voltava com força.


Um instante somente que baixara a cabeça por conta do refluxo, assustou-se com uma placa de obras que trincou seu para-brisa. Aquilo somente piorou seu campo visual com a chuva que caia e já molhando o interior do carro. Nem mesmo percebeu que seu carro adentrara na pista contrária, somente quando viu um carro que foi forçado a desviar e buzinas contra ela. Aquilo a desesperou ainda mais e sentia que enfartaria a qualquer instante.


Naquele instante, tudo a sua volta começou a se perder. O som se perdia aos poucos e mesmo a dor em seu braço parecia desaparecer. Sentia ainda as lágrimas em seu rosto. A voz do seu amigo não mais se ouvia, assim como sua própria voz. "E-Estou... desmaiando...?", pensou ela enquanto sua visão se tornava turva. A sua mão cedia da direção e seus olhos começaram a pesar.


Alguns metros adiante, apesar da chuva, um caminhoneiro percebia algo estranho acontecendo na pista. Os faróis do que seria um carro avançavam em sua direção. Ele engoliu a seco, praguejando quando enterrou os pés no freio. No entanto, com a pista molhada e sua carroceria pesada com toras de madeira, o caminhão ainda deslizaria bons metros pela pista até que parasse, mas o motorista do outro carro não parecia fazer o mesmo.


Apesar do cansaço e de tudo parecer nublar diante de seus olhos, a jovem percebeu dois grandes faróis contra ela. Não tinha voz para gritar. Balbuciou algo antes de soltar o volante e levar a mão ao rosto.


Sentiu um forte baque, os estilhaços do para-brisa cortarem sua pele, o seu corpo ser jogado para frente, mas por conta do cinto de segurança, foi contida e imediatamente jogada novamente para trás. O seu corpo sacudiu de um lado para o outro, com sua mochila a voar do banco ao teto e de volta ao banco antes de desaparecer juntamente com seu telefone.


Um pneu havia estourado, levando o carro a desviar de uma batida de frente ao caminhão, mas não impediu que sua lateral batesse de quina com o mesmo e capotando alguns metros dele. O celular ganhou o ar e desapareceu na noite chuvosa e foi levado pela água até a saída de escoamento, perdendo-se de vez. Carros que vinham pela pista frearam bruscamente, não conseguindo desviar de uma colisão enquanto o outro deslizava pela pista até finalmente parar próxima ao acostamento.


Trovões ecoaram no céu, iluminando uma pista de destruição e destroços que a interditaram. O caminhão mesmo, ao frear de maneira tão abrupta, fez com que sua carroceria tomasse uma das pistas, mas por um milagre nenhuma das toras de madeira haviam se soltado, o que provocaria uma tragédia ainda maior.


Havia cerca de meia dúzia carros parados na pista, dos quais quatro deles chegaram a colidir, ainda que sem maiores danos. No entanto, nenhum de seus motoristas parecia querer arriscar sair de seus veículos, ainda assimilando o que havia acontecido.


Um motociclista foi quem avançou, parando frente aos carros e descendo de sua moto para se aproximar do veículo capotado com as rodas para o alto. Acendeu a lanterna que tinha em seu capacete, percebendo não haver faísca e nem mesmo sinal de fogo. Isso garantiu a ele uma aproximação maior e percebeu que alguém estava presente no veículo. Levantou-se assustado, correndo até o carro mais próximo e batendo no vidro.


— Chame por socorro. Tem uma pessoa lá dentro! — disse o rapaz, vendo a expressão de medo e susto do outro motorista que tomava o celular e fazia a chamada de emergência.


O motoqueiro aproximou-se novamente do carro, agachando-se, vendo outras pessoas saírem do carro e se aproximando. Outro chegou com uma lanterna, iluminando o seu interior. O braço estava lavado em sangue, apoiando-se no teto. A respiração estava ofegante e ela tentava virar a cabeça para ver quem a chamava, mas parecia não conseguir.


— E-Ei! — ele chamava, levantando o visor do capacete, apoiando-se na porta para colocar o máximo da cabeça para dentro do carro. — Já chamaram ajuda... Está me ouvindo...? — o rapaz fazia sinal para que ficassem observando qualquer sinal sobre o carro. Temia que o mesmo pudesse, ainda, incendiar-se. — Preciso que fique comigo, ok? Não tem o porquê ter medo.


"Não tem o porquê ter medo". Aquelas palavras a fizeram estremecer e o rapaz percebeu seu olhar de medo, sua reação, das lágrimas em seu rosto apesar das escoriações e do cabelo colado por conta do sangue. Abria a boca, mas não conseguia falar.


— C-Calma! Tá tudo bem...! — o motoqueiro dizia mesmo sem entender o motivo daquilo. "A ambulância está chegando!", alguém havia dito ao rapaz que sorriu, voltando-se para a jovem no carro. — Vão tirá-la daí, moça...


As mãos feridas e trêmulas, desciam para até junto da medalha que caía sobre seu rosto, fazendo-a segurar. Balbuciava algo que o motoqueiro tentava ouvir, mas a chuva impedia disso.


Ela piscava, mas tudo parecia tingir-se de vermelho e tornando-se turvo. As pálpebras estavam doloridas e pareciam cobrir a pouca visão que tinha. A dor de cabeça parecia desaparecer, assim como o som à sua volta. Tudo escurecia e nada mais sentia de seu corpo.


 — Ei! EI! MOÇA! ACORDA! — o rapaz gritou, tentando fazer com que ela abrisse os olhos novamente, ou se movesse. — MOÇA, ACORDA! VAI FICAR TUDO BEM! A AMBULÂNCIA ESTÁ AQUI. MOÇA? MOÇA! — gritava, quando as primeiras sirenes se anunciaram.



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): katrinnae Aesgarius

Este autor(a) escreve mais 3 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

DISTRITO NORTE — Píer — Vamos acordar, Alexis? Uma mulher dizia, enquanto cruzava o quarto levando a mão aos longos cabelos loiros dourados que descia em camadas até meio das costas. Trajava uma camiseta simples branca que desenhava seu corpo malhado, busto e cinturas afiladas com pernas levemente musculosas. Caminhou até à ...



Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • luisarroni Postado em 11/07/2018 - 23:36:44

    Escrita muito boa. Continue postando!

  • katrinnae Aesgarius Postado em 10/07/2018 - 23:10:20

    Após um erro de capítulos, foi preciso reupar 5 capítulos simultâneos.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais