Fanfics Brasil - Folha 8 - Andrew: Uma Segunda Chance Lembranças de Outono

Fanfic: Lembranças de Outono | Tema: Romance


Capítulo: Folha 8 - Andrew: Uma Segunda Chance

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O telefone de Andrew vibrou anunciando a chegada de uma mensagem. Já estava desperto àquela hora. Ainda que estivesse em outro fuso-horário, seu corpo parecia ter se adaptado o bastante para levantar a determinado horário, independente de seu extremo cansaço físico e mental daqueles últimos dias. No entanto, a aproximação com o irmão mais novo pareceu remover um peso de seus ombros, ajudando-o a relaxar de uma forma que nem mesmo ele esperava.


Naquela mesma noite, na tarde do falecimento de Lydia, foi encaminhado ao quarto onde ficaria hospedado na casa de Themis. Afinal, não tinha qualquer condição emocional para ficar sozinho num quarto de hotel. Em razão disso, a ex-cunhada mostrou-se hesitante em indagar sobre avisar ou não seu irmão mais novo.


Por mais diferenças que tiveram há seis anos, Andrew estava ciente do quanto irmão buscou saber da recuperação de Lydia e até mesmo visitá-la na clínica quando ainda em Nova Iorque. Após voltar para a família, na Grécia, manteve contato por telefone diretamente com Themis. Como poderia, naquele momento, impedir que soubesse do falecimento daquela que ele tanto admirava? Não poderia ser egoísta e levar aquela divergência para um nível tão baixo.


Aliás, aquilo era algo que deveria ser resolvido e devia isso à Lydia como seu último pedido.


 


Duas leves batidas na porta e Themis adentrou no quarto após a concessão de um Andrew já desperto e vestido. Cumprimentou-a com um sorriso e percebendo um semblante mais sereno e menos abatido que de alguns dias atrás.


— Bom dia, Andrew. Lamento por não esperá-lo ontem. — disse ela parada ainda próximo à porta.


— Eu que peço desculpas por chegar tão tarde e deixar Adônis me esperando... — disse ele enquanto colocava o relógio. — Eu realmente perdi a noção da hora.


— Tudo bem. — ela sorriu, mexendo no cabelo. — Ele sempre dormiu tarde independente das circunstâncias, trabalhando ou vendo algo na TV... Eu que me retirei cansada após toda aquela reunião de família! — disse abrindo os braços.


— Ele ainda está trabalhando naquele projeto? — indagou Andrew sentando-se na cama para calçar os sapatos.


— Sim. Fazendo algumas revisões a pedido do editor. Deve ser publicado ainda no primeiro trimestre do próximo ano. — sorriu ela, suspirando. — Escrever para ele sempre foi uma fuga!


— Sempre buscamos por uma válvula de escape. — comentou Andrew olhando rapidamente para o telefone que deixou sobre a cama. — Eu mesmo tenho me refugiado no trabalho quando tudo isso da Lydia começou. Depois veio aquilo com Alexis e... — e Andrew fechou os olhos suspirando pesado.


Themis baixou o olhar, assentindo. Percebeu a hesitação do arquiteto e se aproximou, sentando-se numa poltrona que tinha ao lado da cama. Puxou o casaco fechando-o ao mesmo tempo que cruzava os braços.


— Como está entre vocês? — indagou ela de maneira cuidadosa.


— Caminhando. — Andrew a fitou ao levantar a cabeça. Demonstrava certo otimismo em suas palavras, mas também ainda uma hesitação. — Estamos indo... devagar. Eu o chamei para almoçarmos juntos hoje, se não se importar... Ele vai tomar o avião nesta noite.


— Claro que não, Andrew. Eu fico é feliz ouvir isso. — ela sorriu, tocando na perna dele sem qualquer malícia. — Ele me disse que precisaria viajar hoje ainda, desculpando-se por não ficar. — e piscou com certa incredulidade, recostando-se na poltrona. — Tenho apenas pena de como ele vai ficar com essas idas e vindas em tão curto tempo.


— Algo louco o bastante até mesmo para o Alexis. Disse isso a ele. — comentou o arquiteto. — Por mais porra-loca que ele seja, ele vai ficar acabado!


— Apenas torço para que isso não fique restrito aqui na Grécia, mas que seja um recomeço para vocês. — sorriu Themis se levantando juntamente com Andrew.


— Eu também espero, Themis. — confidenciou Andrew tomando um paletó em mãos. — Inicialmente faria isso em memória de Lydia, mas depois de ontem... — ele sorriu. — Faço porque é o que deveria ter feito há muito tempo.


.


.


.


O telefone vibrava insistentemente. Alexis tateou buscando pelo aparelho, atendendo sem nem mesmo conferir quem ligava. A sua voz saiu mais sonolenta que ele mesmo esperava. Demorou até mesmo reconhecer a voz que o chamou pelo nome ao menos três vezes.


— “Perdeu a hora?” — indagou Andrew no outro lado da linha quando finalmente ouviu a voz do irmão.


— An... Andrew...? — respondeu o advogado finalmente despertando com aquilo. Por um instante perdeu completa noção de onde estava, olhando perdido à sua volta e encontrando o relógio com hora na madrugada e com o sol já alto. — Ah... Que horas são...?


— “Bom... Passa um pouco das 10h...” — falava o irmão que falava pausadamente sabendo que o havia despertado. — “... pensei em darmos uma volta antes do almoço, mas acho que precisa de um desjejum, estou certo?”


“Merda! O almoço!”, praguejou o mais novo mentalmente levantando-se de vez da cama, tropeçando em alguma coisa que o fez xingar. Os dois haviam concordado de almoçarem na noite anterior, mas estava tão morgado de cansaço que mais pareceu apenas fechar os olhos.


— Sim... Claro. O almoço... Desjejum seria ótimo! — respondia enquanto caminhava até o banheiro. Ao olhar-se no espelho ficou perplexo ao perceber que ainda usava o roupão de banho. — E-Eu vou apenas me trocar e desço em 10... 15 minutos, está bem? — e ouvindo a confirmação do irmão, desligou.


 


Andrew riu contidamente por aquilo. Não o culpava pelo cansaço. O corpo já começava a cobrar o esgotamento. Cogitou de cancelar aquilo de modo que ele pudesse descansar o bastante para a viagem que seguiria ao fim daquele dia, mas não queria que ele interpretasse mal e isso acabasse por afastá-los novamente. Por fim, apenas o aguardaria e seguiu até ao lobby do hotel, pedindo somente água quando ouviu o seu telefone anunciar uma nova mensagem, da qual respondeu realizando uma chamada telefônica.


Ficara tão distraído naqueles minutos que nem mesmo percebeu o tempo passar. Deu-se conta apenas quando viu o irmão surgir já na entrada do hall e acenar para ele enquanto dobrava a manga do social jeans. O cabelo estava molhado e jogado para trás. Aproximou-se já se desculpando por aquilo.


— Ah, desculpe. Eu simplesmente perdi a hora. Esqueci de ativar o alarme... — dizia Alexis se explicando e tocando o rosto, percebendo que esquecera da barba, mas aquilo era um detalhe que não o deixava desleixado, e sim mais parecido com seu gêmeo. — Não fosse você ligando acho que ainda estaria dormindo.


— Ainda Spykbreak[1]? — indagou o arquiteto guardando seu celular no bolso interno do casaco que vestia.


— Sim, ainda é Spybreak... — o advogado riu daquilo e franzindo o cenho. — Ainda se lembra?


— Um tanto difícil de esquecer do quão enlouquecido ficou com Matrix na época e te aguentar com aquele DVD que não sei como furou de tanto que assistia. — respondeu o irmão se levantando e apontando para saírem.  — Lembro que comprou até aquele casacão para ficar mais parecido com Neo.


— E aposentei após o atentado[2] após associarem ao filme. — lamentou o caçula arrumando a gola da blusa. — Mas o meu alerta é eterno. Infelizmente precisei desistir do Imperial March[3] por razões profissionais, deixando apenas no vibra call. — e soltou um suspiro de lamento.


— O mesmo comigo. – respondia Andrew. — Afinal, ninguém entenderia o porquê do Final Countdown. — comentou tão espontaneamente que aquilo fez Alexis parar os passos alguns instantes e rir, antes de continuar acompanhando-o.


 


Uma vez que não tinha solicitado o desjejum por ser despertado, o mais velho propôs de fazerem isso num espaço reservado e ‘caseiro’ que conhecia nas proximidades. Com a baixa temporada, acreditava que o lugar não estivesse tão cheio permitindo-os de conversar.


O local intencionado por Andrew não era muito longe do centro, apenas a alguns quarteirões do hotel onde Alexis estava hospedado.  Era uma área mais reservada com praça e outros estabelecimentos gastronômicos, bem frente à baía da ilha.


O estabelecimento tinha uma fachada discreta, longe dos modelos tradicionais de restaurante com suas paredes panorâmicas de vidro exibindo o interior do estabelecimento. O local mais parecia uma propriedade comum com apenas uma porta circular de porta-dupla aberta e dois grandes vasos, um de cada lado, com uma planta florida. Acima, apenas a placa com inscrições gregas para "Taverna".


Em seu interior, uma decoração rústica com paredes de tijolos antigos adornados com plantas e quadros simples. Estes eram fotos da cidade e até mesmo dos pratos gregos na sua mais tradicional forma antiga. Havia mesas de madeira e tampos de vidro postas para assentar de quatro a seis pessoas, uma bancada ao fundo com cestos de frutas e doces, refrigeradores para serviços rápidos. No canto, uma escada em arco, com cada degrau com um vaso de planta da flora grega, levando a um nível acima com mais mesas. Andrew chamou o irmão exatamente para subirem, deixando Alexis surpreso.


O pavimento superior dava acesso a um pátio aberto, acomodando inúmeras mesas espalhadas, com as seções separadas por grandes vasos ovais de barro, pequenos coqueiros espalhados pela área e o telhado totalmente tomado por trepadeiras verdes e bem aparadas. Havia já alguns presentes conversando e se banqueteando. Aparentemente o local mostrava-se apertado, mas os corredores entre as mesas eram suficientes para o trânsito de pessoas e mesmo para os garçons sempre solícitos.


O arquiteto apontou para uma mesa mais ao fundo, próximo a uma pequena fonte de água limpa, ajudando com a harmonia do ambiente. E foi para lá que os dois se encaminharam.


— Uau! Como descobriu esse lugar? — indagou o advogado impressionando.


— Vim aqui com a Lydia no primeiro ano de casamento. — dizia Andrew deixando o celular sobre a mesa e se sentando. — Segundo ela me contou, esse lugar foi um mosteiro, mas na Segunda Guerra Mundial abrigou muitos refugiados até que foi vendido nos anos 50, mais ou menos. Inclusive, a família que comprou isso aqui foi um destes refugiados e transformaram isso aqui no que é hoje, se tornando um dos mais apreciados da cidade.


— Um bom lugar. Não parece ter toda aquela etiqueta dos grandes restaurantes, parece mais... informal. — comentou Alexis olhando o lugar ainda impressionando.


— Aqui é bem tranquilo quanto a isso. — Sorriu o mais velho. — Ela gostava muito daqui exatamente por essa informalidade. Típico lugar que muito me atrai também.


— Se bem me lembro do quanto é exigente, a comida daqui também parece ser daquelas bem caseiras... — e o mais novo olhou discretamente para algumas mesas à frente. — ... e não menos sofisticadas.


— Sim, a comida aqui é ótima! Prezam demais a culinária do país, mas são abertos às novidades do mundo. — pontuou o arquiteto. — Bom, creio que não fez o desjejum.


— Apenas uma água e umas torradas que não comi do jantar. — confidenciou o irmão mais novo vendo o outro sinalizar. — Ah, se não se importar... — e olhou para o cardápio. — O meu grego é péssimo e não sei o que exatamente pedir.


— Ah... bom. O desjejum grego não é como o que está acostumado. Eles não parecem se importar tanto com isso, no máximo um café e torradas com presunto e queijo, da qual recomendo. Por outro lado, pode complementar com um pão com queijo tradicional daqui acompanhado de azeite. — explicou o arquiteto sob a atenção do outro.


— Falando assim está me deixando com fome e acho que vou aceitar a recomendação. — sorriu o advogado enquanto o irmão fazendo exatamente aquele pedido, com adição de uma salada de frutas com iogurte e mel, além daquele para acompanhar nas torradas.


O garçom se retirou para entregar a comanda na cozinha, deixando os irmãos novamente sozinhos. O silêncio meio desconcertante permaneceu por algum momento entre os dois. Sem perceber, o caçula levou uma mão ao anel que trazia no dedo anelar direito, e começou a mexê-lo, girando-o e retirando-o parcialmente, apenas para encaixá-lo de volta.


Andrew olhou aquilo, mas nada disse senão debruçar-se na mesa, comendo uns biscoitinhos que era ofertado tão logo o garçom tinha se aproximado para tomar os pedidos.


— Então... — Andrew pigarreou para quebrar aquele silêncio. — Ainda mora no Ninho? — e percebeu olhar interrogativo do mais novo. — Ah, falo no flat do outro lado do píer.


— Ah, sim! — respondeu Alexis compreendendo, embora ainda estranhasse aquilo. — Por que diabos ‘ninho’?


— É o nome do projeto porque os blocos são como ninhos cercando um parque particular. — explicava o mais velho rindo da expressão do outro.


— Que ótimo! Agora sou um passarinho? — e ambos riram daquilo. — Bom, gosto do bairro. — o advogado disse, servindo-se de água. Não estava gelada, mas fresca e agradável o bastante.


— Por pouco eu mesmo quase adquiri um, mas gosto de mais espaço e de fazer minha própria comida. — comentou Andrew dando de ombros. — Gosto da minha privacidade.


— Também queria algo assim, mas o flat estava sendo pago pela empresa no início. O aluguel estava melhor que um apart-hotel. A proposta era de ficar seis meses para ajudar na formação de uma equipe de um escritório aqui. — explicava Alexis servindo-se também dos biscoitos. — Acabou que Milo e eu fomos promovidos a administrar aqui, e como gostei do flat, acabei comprando. Só então vi que tinha sua assinatura.


— Foi um projeto ousado. Temiam que o bairro, antes mercados abandonados, não fosse atrair compradores. — Relembrou Andrew, da ocasião quando apresentou a proposta. — Quando viram a projeção do novo bairro, apostaram na ideia.  Os compradores dos Ninhos são, em sua maioria, jovens executivos de Nova Iorque que, desculpe a modéstia, fizeram ótimo investimento.


— Eu que diga. — sorriu o advogado. — Chego a pensar num apartamento maior e mais próximo ao centro. O flat é ótimo, mas para alguém solteiro ou... — e coçou a nuca. — enrolado.


Andrew franziu o cenho, mas nada disse de imediato já que via o garçom que os atendeu aproximando-se com seus pedidos.


O café foi o primeiro a ser servido. Em seguida, o prato com as torradas e duas pequenas tigelas com o iogurte que pareceu bastante atrativo. A salada de frutas  estava com uma tampa, mas parecia igualmente atraente. Somente o café fez o advogado apreciar o perfume que exalava, assim como agradar o seu paladar. A maneira como segurou a xícara evidenciou o anel, fazendo o arquiteto piscar aturdido.


— De fato... — dizia o mais novo colocando a xícara sobre a mesa. — Para um viciado como eu, o café já me conquistou.


— Café moído na hora. Depois daqui, comprei um aparelho desses pra mim. — comentou Andrew adoçando o seu café. — E praticamente obriguei Charlie a comprar um para a firma.


— É uma boa! Ainda assim, não deixarei de consumir meu copo duplo da cafeteria no Píer. — e riram juntos.


— Hum... — expressou-se Andrew após sorver um gole do café. — Disse que pensa comprar outro apartamento. — e pegou uma torrada, essa bem quente ainda.


— Mais ou menos. — respondeu Alexis servindo-se também da torrada e se ajeitando na cadeira. — Até mesmo pra mim já que preciso de um escritório maior e manter o quarto mais privativo. Talvez mantivesse o flat para fugir nos fins de semana ou para outras... casualidades.


O mais velho pescou a malícia naquelas palavras. Ao contrário dele, que se amarrou a alguém ainda na adolescência, e casou-se com a namorada de escola, Alexis sempre reunia namoradas, o que o colocou em inúmeros problemas. Por muito pouco não foi impedido em seu intercâmbio por conta de uma criança que teria sido fruto de suas aventuras na universidade, mas os resultados negaram sua paternidade.


— E quem está ‘enrolando’ desta vez? — indagou o arquiteto sem rodeios, sorvendo mais do café, percebendo a expressão aturdida do irmão. — Quando falou do apartamento, disse que era para pessoas solteiras ou ‘enroladas’.


— Ah... O nome dela é Gwenn. — respondeu Alexis se voltando para o irmão. — Ela trabalha nas Marítimas Solo como Hostess[4]. — e bebericava mais do café e fitando Andrew.


— Soube que a Marítimas Solo adquiriu boa parte das marinas de Sunport e houve uma campanha publicitária massiva quando abriram o verão há dois anos com uma regata que se tornou um evento da ilha desde então. — comentou o outro, relembrando. — Contou alguns artistas e... — Andrew fechou os olhos, rindo daquilo. — Espera um momento. A Gwenn que está me dizendo... — e o mais novo assente antes mesmo dele concluir o raciocínio. — ... é a nadadora olímpica Gwenn Taylor?! Não acredito...


— Ela mesma! — o advogado riu da incredulidade do irmão. — Ela se tornou a garota-propaganda da empresa por alguns anos quando ainda era uma atleta olímpica, depois assumiu  a função de Hostess nos Cruzeiros, que foi quando a conheci.


— Interessante... — comentou Andrew interessado. — E desde quando rola isso?


— Um pouco mais de seis meses. — o mais novo terminou o café, servindo-se de torrada. — Eu a conheci num Cruzeiro da empresa quando fui promovido. Porém, na época foi um caso rápido até nos reencontrarmos no começo desse ano quando ela veio definitivamente para Sunport. Estava coordenando uma equipe de Hostess para o clube na marina e Cruzeiros da empresa. — e morde uma torrada. — Foi uma festa da primavera promovida no clube que reatamos o caso e tem sido assim, desde então... com idas e vindas.


— Hum... — Andrew tomava a salada de fruta, despejando o iogurte com mel e misturando suavemente. — Por que idas e vindas? Ela não aceita bem suas escapadas? — brincou Andrew.


— Não, não... — Alexis riu, relaxando na cadeira. — Nosso relacionamento é aberto. Como às vezes ela passa semanas ou mesmo um mês fora, achamos melhor assim. No entanto, ela cobra bastante. Não uma relação séria, mas o mínimo da qual tenho faltado como um fim de semana que combinamos passar juntos e... — e abriu os braços como se apresentasse o lugar.


 — E teve de viajar repentinamente. — completou Andrew fitando-o. — Ou seja, tiveram um desentendimento.


— Tá mais para uma discussão. Ela nem mesmo me deixou explicar o que aconteceu. — o advogado disse mais sério. — No entanto, não vou culpa-la por essa reação porque eu tenho adiado muitas coisas com ela com compromisso de última hora. Cheguei deixa-la um fim de semana inteiro sozinha no apartamento por conta de uma reunião não-conclusiva em Nova Iorque. Esse fim-de-semana seria uma compensação.


— Eu também tive de adiar alguns compromissos devido às circunstâncias e não poderei retomá-las quando voltar. — lamentou o arquiteto. — Ao menos não como gostaria.


— Isso envolveria uma segunda pessoa? — indagou o mais novo fitando-o com curiosidade.


— Ahn... Mais ou menos. É um pouco mais complicado... — respondeu o mais velho, forçando um sorriso, dedilhando na mesa. — Desde que Lydia teve a recaída ano passado tem me preocupado, fazendo com que mergulhasse no trabalho de modo a abstrair tudo isso. Não conseguia pensar em qualquer relacionamento na ocasião. Foi quando os pais dela me chamaram atenção quanto a isso.


— Chamaram sua atenção? Ah... — Alexis piscou aturdido, voltando-se de frente para o irmão. — Como assim?


— Os pais dela sabiam que não tinha assinado os papéis do divórcio. Achei que seria covarde de minha parte assinar os documentos quando saiu o diagnóstico de Lydia. — Andrew suspirou, largando o talher sem mais mexer na salada de fruta. — Por um tempo acreditei que ela se recuperaria e recuperaríamos o casamento.


— Até o momento que ela teve a crise. — pontuou o advogado e vendo o irmão assentir.


— Exatamente.  Até então estava focado no trabalho, adquiri hábito de fumar... Foi quando os pais dela me chamaram para uma conversa e disseram para retomar o curso da minha vida. — o arquiteto confirmou e fitou o irmão, olhando para a mão com anel. — Eles me disseram que não deveria viver em função da Lydia e que compreenderiam se eu seguisse em frente porque não acreditavam na sua recuperação. Ao menos não como ela era antes.


— Você ainda a amava, Andrew? — questionou o mais novo, fitando-o, surpreso.


— Sim. Amava a Lydia, não vou mentir. — afirmou o mais velho com um sorriso. — Diria que a amei até o momento que ela fechou os olhos. Não mais de um homem para com uma mulher, aquele amor carnal... Não, não isso. Não mais. — suspirou. — Era de uma amiga que estimava, alguém que admirava muito. A única culpa que carrego é de não perceber o quanto ela estava doente e ajudá-la melhor.


— O seu primeiro grande amor? — desafiou Alexis, vendo o irmão rir com aquilo, assentindo com um `Digamos que sim`. — Como bem dizem, o primeiro amor a gente nunca esquece.


— E você? Parece que ainda não a esqueceu. — e o arquiteto pousou novamente os olhos sobre a mão que o irmão sobre a mesa. O mais novo percebeu isso e ficou sério, recolhendo a mão. — Há quanto tempo isso, Alexis?


— Uns dez anos. — respondeu, após hesitar por alguns minutos, forçando-se a sorrir. — Acho que... — engoliu a seco, fechando o punho e olhando o anel. — Acho que compreendo o fato de Lydia jamais aceitar ao que aconteceu com Alice. Até hoje não consigo compreender o que aconteceu... como se sucedeu... — e respirou fundo, buscando sufocar a dor que forçava os olhos lacrimejar. — Ainda me pego pensando nela após tanto tempo.


— Lembro do estado que ficou. Lydia insistia comigo para te ligar, para chamá-lo para jantar conosco. Lembra-se? — viu o irmão assentir, forçando um riso de canto. — Essa Gwenn... Ela sabe sobre essa sua... namorada?


— Nunca falei dela para Gwenn. — respondeu o advogado fitando o irmão. — Ela já me perguntou do anel, mas desconversei falando que foi uma lembrança dos tempos da irmandade. — e riu daquilo.


— Eu nunca achei que fosse ficar assim por alguém.


— Eu estava voltando para pedir ela em casamento. — Alexis confessou e voltou a fitar o irmão. — A Lydia quem desenhou esse anel. Eu o deixei guardado até o primeiro ano de sua partida, quando coloquei de volta e nunca mais tirei. Pensei devolver, mas ela disse que era um presente dela e não podia aceitar de volta. — ele forçou a rir, respirando novamente fundo na tentativa de segurar as lágrimas. — Estava disposto a desistir de voltar para cá, mesmo após ser selecionado para uma das maiores empresas jurídicas de Nova Iorque.


Andrew ficou a observar o irmão, segurando em sua mão, apertando.


— Talvez seja o momento de se libertar disso, não acha, Alexis? — disse o mais velho buscando sua atenção enquanto tentava conter as emoções dele. — Certamente que ela gostaria de vê-lo feliz, e não melancólico, preso a uma memória triste. Acredito que ela adoraria que você celebrasse às lembranças de seus bons momentos juntos, em vez de amargar pelo pior dia de sua vida.


— Acho que já adiei isso por tempo demais. — admiti u o mais novo, engolindo a seco em seguida.


— Talvez esse momento não seja exclusivamente seu. — pensou o arquiteto recostado na cadeira. — Talvez devemos tomar esse dia como um recomeço para nós dois. Um recomeço verdadeiro!


— Não vamos falar sobre aquilo de novo, não é mesmo? — questionou o advogado fitando-o.


— Acho que se esperamos até hoje, podemos esperar por mais um pouco. — sorriu o outro. — Acredito que o mais difícil aconteceu. Estamos aqui tomando um café juntos numa taverna grega de frente à baía de Cálcis e pensando em recomeçarmos. Por hora, apenas quero te dizer... Obrigado!


Alexis fitou o irmão e piscou perplexo por aquele agradecimento. Aquilo realmente era uma surpresa, mas pareceu ser o bastante para relaxá-lo e sentir os músculos relaxarem.


— Um recomeço...? — indagou o advogado se reanimando.


— Por que não? — questionou Andrew de volta. — Acho que devemos seguir o fluxo de outono. Assim como as árvores perdem suas folhas para que possa sobreviver a próxima estação, talvez seja o momento também de deixar o passado... no passado. Deixe essas `folhas` irem e se deixe renovar lhe dando uma nova chance. Talvez seja um bom momento para recomeçarmos. — e olhou incisivamente o irmão. — Um recomeço para nós dois.


— E como podemos... — Alexis buscava a palavra para aquele momento. — ... comemorar isso?


— Com um bom e legítimo ouzo grego, é claro!


 


________________________________________________________________
[1]
Spybreak. Música eletrônica da dupla inglesa Propellerheads e trilha sonora do filme Matrix (1997) estrelada por Keanu Reeves.


[2] O atentado do qual Alexis se refere é o Massacre de Columbine que ocorreu em 20 de abril de 1999, na Columbine High School (EUA). Os autores do atentado foram três adolescentes americanos que costumavam se vestir como os personagens dos filmes "Matrix".


[3] Imperial March. Trilha sonora icônica de Darth Vader, personagem da série Star Wars, de George Lucas e de autoria de John Williams.


[4] Hostess são os anfitriões que melhor podem representar a empresa, sendo responsáveis desde o a recepção e entrenimento do cliente a ser mediado solucionando eventuais transtornos. Nos Cruzeiros, são aqueles que coordenam os principais eventos.



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Autor(a): katrinnae Aesgarius

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Comentários do Capítulo:

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  • luisarroni Postado em 11/07/2018 - 23:36:44

    Escrita muito boa. Continue postando!

  • katrinnae Aesgarius Postado em 10/07/2018 - 23:10:20

    Após um erro de capítulos, foi preciso reupar 5 capítulos simultâneos.


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