Fanfics Brasil - Folha 6 - Andrew: Adeus & Recomeço Lembranças de Outono

Fanfic: Lembranças de Outono | Tema: Romance


Capítulo: Folha 6 - Andrew: Adeus & Recomeço

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Um longo gole de ouzo fez Andrew lembrar do patriarca dos Karras e sobre o quanto aquilo o ajudou a chegar aos seus 103 anos. Um homem eloquente para sua idade, animado e muito disposto para alguém secular. Comentou certa vez que fora seu 'remédio' nas dores e nas alegrias daquela longa estrada da vida e, em razão disso, fez o melhor para todos. Se havia algum elixir da vida, para aquele velho homem, era o ouzo.


Foi pensando nisso que o arquiteto tomou mais um copo, virando-o de uma só vez, mas não estava sendo o suficiente para amenizar a dor daquela perda.


A imagem daquela Lydia era frágil e sem o brilho de outrora. Nem mesmo lembrava a mulher que visitou na semana que antecedeu seu AVC, que a levou à internação e ao coma, onde seguiu por três semanas.


A Lydia que viu naquela tarde era distante da mulher por quem era apaixonado. Os cabelos castanhos que clareavam ao longo dos fios, sempre tão bem aparados com mechas caindo sobre seu rosto quadrado, e as quais ela vivia a soprar, o seu charme, ficaram grisalhos. Estavam longos na última vez que a viu, mas naquele momento não saberia dizer se estavam maiores ou menores, embora percebesse uma perda de fios.


Desde que a conheceu sempre optou pelo cabelo curto até altura do pescoço, nunca além disso. "Acho que combina mais com meu rosto quadradinho e deixando menos... bruto!", ela dizia, sempre mudando a cada estação, mas sempre mantendo o estilo curto.


E o sorriso com seus olhos pequenos, mas tão brilhantes e expressivos que, naquele momento, eram tão sem vida? Eram vagos, levemente tristes, e quando chorava pedindo perdão, Andrew pareceu ver o seu desespero e sua agonia enquanto naquela cama ou mesmo envergonhada por sua fragilidade naquele momento. Era realmente um breve momento de lucidez.


Quando a sentiu tatear buscando por sua mão, sentiu-se temeroso. Afinal, a pele alva parecia tão fina quanto papel. Tomou-a delicadamente, hesitante, pois temia um mero toque feri-la ou mesmo romper as veias de tão visíveis. No entanto, havia ainda o calor de outrora, podia senti-la segurar firme em sua mão apesar da sua fraqueza. Naquele momento, ele entendeu.


Quando atendeu o telefone e ouviu a voz chorosa de Themis do outro lado da linha, seu coração disparou acreditando que Lydia havia falecido, mas o choque foi ainda maior ao ouvi-la dizer que ela o chamava. "Como ela poderia lembrar-se de mim?", perguntou-se de imediato quando, há um mês antes, seu olhar era como o de ver um estranho e não alguém com quem um dia compartilhou tantos momentos ao ponto de conceberem Alice.


Serviu-se de mais ouzo, sorvendo de um só gole.


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SoHo é um dos mais valorizados bairros de Nova Iorque, com um estilo único do auge  do seu cenário industrial até os anos 60 quando as fábricas buscaram regiões mais baratas e afastadas de Manhattan. Por outro lado, manteve um estilo peculiar que viria se tornar símbolo da cidade e espaço para inúmeros cenários das mídias televisivas e hollywoodianas. Não admira-se que o bairro inspiraria Andrew em sua formação e influenciando em seu trabalho e estilo.


Quando ingressou no curso de verão promovido pela escola naquele ano, conheceria a jovem Lydia que, até então, era apenas uma das garotas recém transferida. O rapaz se inscreveu para Técnico em Edificações, buscando conhecimentos na área de construção civil, enquanto que ela voltada mais para Design.


Da proximidade casual seguiu para troca de conhecimentos acerca do curso e mesmo pretensões para as carreiras que desejavam seguir, descobrindo semelhanças e gostos comuns por desenhos. Tornou-se frequente os dois serem vistos juntos.


Um dia, ele criou coragem e a convidou para um passeio pelas ruas da SoHo que tanto amava. Marcaram em uma praça junto a um centro comercial e de lá iniciaram uma pequena excursão informal pelo bairro.


Andrew falava com o entusiasmo maior que o de um guia turístico, explicando para aquela jovem grega sobre a singular arquitetura dos prédios mais simbólicos. Evidentemente que também não perderia a oportunidade de apresentar os espaços hipsters que muito a atraíram e influenciou em seus projetos futuros inspirados nos grupos e movimentos locais.


No fim daquele mesmo ano, Andrew e Lydia assumiram oficialmente o relacionamento.


Seguiram juntos para a Universidade de Yale, com Andrew graduando-se em Arquitetura e Urbanismo movido pela paixão do estilo industrial tão presente em SoHo, além de tomar também o estilo da arquitetura clássica. O estilo de revestimento Boiserie, um modelo francês típico dos séculos XVII e XVIII onde emoldurava paredes com painéis de madeira, foi um adicional aos seus projetos.


No entanto, Andrew buscava elementos mais acessíveis de modo a manter o clássico inserindo nos conceitos modernos. E desse modo, renovaria o boiserie com uma diversidade de materiais como gesso, cimento, isopor, metal, vidro e poliuretano, sem perder o tom conservador, mas com toque de modernidade.


Os modelos urbanos criado e defendido por Andrew ao longo de sua graduação despertava interesses de seus professores, sobretudo por visar revitalização de edifícios antigos migrando-os para estruturas modernas mantendo suas fachadas originais, juntamente com a adaptação do cenário urbano seguindo ao estilo clássico das propriedades que compunham o cenário.


“Transformar o presente sem esquecer o passado, mas preparando-a para o futuro”, era o que dizia, intitulando seu projeto como ‘Phoenix’.


Em seminários na própria universidade defendia a revitalização com projetos de baixo custo sem interferir na qualidade ou mesmo na paisagem, mas usando-a de modo a favorecer o cenário urbano. Por indicação de seus professores, foi convidado a apresentar o projeto na Bienal de Arquitetura de Nova Iorque, acompanhado de sua então namorada Lydia, esta também com espaço para seus projetos.


Ela se graduou em Design de Produtos, e foi inspirada pelos projetos paralelos do namorado que desenvolvia apartamentos compactos. Criava móveis multifuncionais que visavam valorizar espaços e ou mesmo o ‘reaproveitamento’ de utilidade, ideal para apartamentos estúdios, quitinetes, lofts ou flats. Dentre os destaques em seus trabalhos estava a modalidade de divisórias dos apartamentos facilmente modificáveis, permitindo que uma pessoa pudesse mudar de ambiente em sua casa com a mesma facilidade de quem abria uma gaveta.


O evento era a chance de revelar jovens profissionais, e Andrew conseguiu seu intento quando chamou a atenção da Goldenn Architeture, uma empresa de arquitetura e urbanismo que crescia em Nova Iorque e era uma das convidadas a participar do processo de revitalização da paradisíaca ilha de Sunport.


Embora houvesse nomes de peso envolvidos no projeto, Andrew não se sentiu intimidado, mas desafiado. O seu projeto foi dentre os escolhidos para os planejamentos da linhas de apartamentos compactos, juntamente com o design de modalidades divisórias interativas de Lydia.


O anúncio de contratação de ambos era o que Andrew ansiava para fechar aquele momento.


— Um brinde! — comentou Andrew levantando a taça de vinho branco para a namorada, sendo correspondido.


— Eu... não estou acreditando em tudo isso. Parece um sonho! — comentou Lydia olhando a taça, a mesa de jantar posta pelo namorado.


Andrew providenciara o jantar no pequeno apartamento que alugaram próximo à universidade. Estavam a morar juntos há dois anos e estavam de malas prontas para seguirem para Nova Iorque após serem convidados para ser parte da Goldenn Architeture.


Buscou por flores de acanto, que a namorada tanto gostava, e colocou sobre os pratos num simples arranjo, junto com seis velas aromáticas brancas devidamente alinhadas ao centro da mesa e uma garrafa de vinho branco para acompanhar a mini moranga de frango e risoto para o jantar daquela noite. Tudo para comemorar o contrato, ainda que temporário, dos dois em uma nova cidade, num projeto que seria sua chance para entrar de cabeça no mercado.


— Pois acredite! Eu mesmo ainda estou surpreso, mas também entusiasmado. — sorriu o arquiteto, sorvendo do espumante. — Lydia, é também sua grande chance com seus outros projetos. A chance de nós dois!


— Eu sei! — ela sorriu, mordiscando os lábios. — Porém, não escondo também meu medo. Afinal, é Nova Iorque! Não que esteja insegura, mas... — e arrepiou-se, bebendo de sua taça. — Mas dá aquele frio na espinha.


— Eu sei, eu também sinto isso. Contudo, existe algo mais que me deixa bem mais inseguro que ir para Nova Iorque nesse momento. — comentou ele fitando-a, deixando o talher sobre o prato.


Aquelas palavras mais sérias surpreenderam a mulher, fazendo-a deixar a taça sobre a mesa e estranhar aquela mudança de expressão do namorado.


— Lydia, já tem algum tempo que tenho pensado nisso e acho que não haverá outra oportunidade. — dizia Andrew, pausando para respirar fundo. — Gostou do arranjo?


— Ah, claro! — estranhou ela por aquela pergunta, vendo o pequeno arranjo de flores ao lado de seu prato. — São minhas flores favoritas...


— Eu sei, por isso queria que fosse especial. — e aponta para a caixinha que era apoio do arranjo.


Lydia sentiu os músculos contraírem naquele momento, levando a mão à mecha que caía sobre seu rosto e a prendendo atrás da orelha enquanto com a outra mão tomava a caixa. Percebeu que as flores eram removíveis e aquilo a fez estremecer.


Andrew nada dizia senão ficar a observá-la, também ansioso. Perguntar o que seria, ela fazia apenas mentalmente. Removeu as flores bem delicadamente, encontrando um papel seda rosado onde foi preciso puxar um fio para que se surpreendesse.


Ela deixara a caixa sobre a mesa e levara a mão à boca, alternando do presente para Andrew que sorria para a namorada. Ela murmurou seu nome buscando dizer algo mais, mas a emoção a impedia disso. Ele, por sua vez, tomou a caixa e retirou um anel em ouro rosado trançado com uma solitária branca, posteriormente tomando sua mão esquerda.


— Vamos juntos para Nova Iorque, Lydia... — dizia ele, vendo-a chorar enquanto o fitava, sorrindo. — ... mas adoraria que fosse como minha esposa.


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As batidas insistentes na porta o despertaram de seu devaneio. Deixou o copo vazio que se servira de ouzo sobre uma das mesas do quarto e foi à porta. Era uma das empregadas da casa notificando da chegada dos carros que rumariam para a igreja para os ritos fúnebres. Ele agradeceu, pedindo que avisasse que tão logo desceria, fechando a porta e permanecendo junto à mesma por mais alguns instantes.


Ainda que já tivesse passado alguns dias, era difícil acreditar que a mulher com quem dividiu pouco mais de dez anos de sua vida, morreu em seus braços.


Ao se voltar novamente para o quarto e ver o paletó preto que deixara na poltrona, lembrou de quando arrumava as malas. Separar aquele terno, soou como um agouro. No entanto, precisava contar com o inevitável nem tão inevitável assim.


Seguiu para o toalete onde ficou a lavar o rosto e observar a água correr por entre seus dedos por alguns segundos antes de jogar em sua face abatida. A barba arranhava. Havia sido aparada para a apresentação do projeto. Intencionava deixá-la crescer um pouco mais, mas por conta daqueles últimos dias, ganhou um pouco mais de volume sem maiores cuidados.


Aqueles últimos dias foram somente para dar entrada em inúmeros documentos, e mesmo ajudar na preparação do sepultamento pareceu sugar muito de suas energias. Por um momento não resistiu e chorou sobre o corpo da ex-mulher, já entre flores de acanto que tanto amava. Precisou ser amparado por Themis, igualmente sentida com a perda da irmã que tanto admirava e amava.


Ao voltar para o quarto, tomou o paletó para vestir e observando o movimento da casa pela janela do quarto onde estava. O mais velho dos irmãos de Lydia acompanhava os seus pais.


A mãe era a mais calma e conformada, sendo ela quem acalmava a todos ao longo daqueles dias. Era uma mulher devota e serena, ajudando-o muito a lidar também com tudo aquilo uma vez que fora ele a falar com sua filha em seu último suspiro. O pai ficara calado, fechado para todos, isolado em sua cadeira ao fundo da casa com o olhar perdido no horizonte.


— Papai diz que é errado um pai enterrar um filho. — disse Themis há alguns dias. — E concordo com ele. Não me vejo enterrando minha filh... — e ela se calou, levando à mão à boca, desculpando-se em seguida por aquelas palavras, mas compreendida pelo ex-cunhado que forçou um sorriso.


— Nenhum filho também deseja enterrar seus pais porque alguém assim estabeleceu como 'Lei da Vida'... — comentou Andrew na ocasião. — Nenhum filho quer enterrar seu pai e os pais não querem enterrar seus filhos. A verdade é que não estamos preparados para lidar com a morte.


"Eu enterrei o meu pai... e minha filha. Agora enterro a minha ex-esposa", pensou ele naquele momento, engolindo a seco aquilo. Naquela noite, demorou a pegar no sono.


Andrew deu meia volta, tomando o paletó da cadeira e o vestiu. Fechou a abotoadura e arrumou a gravata, deixando o quarto em seguida. Acompanharia Themis e o marido no carro até a igreja onde seria prestado as últimas homenagens.


Ironicamente era a mesma igreja onde havia sido celebrado o casamento deles há sete anos.


Quando assumiu o púlpito para fazer sua declaração, permaneceu em silêncio por alguns instantes, o que deixou alguns intrigados. Andrew observava a urna funerária onde descansava o corpo de Lydia e suspirou.


— Lydia amava a vida. — iniciou ele seu discurso, cauteloso. — Tudo servia de inspiração para suas criações, sempre buscando facilitar, torná-las práticas para que qualquer um pudesse gozá-las em sua plenitude. Carpe diem, quam minimum credula postero. “Aproveite o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã”, ela dizia. Era seu mantra diário.


"Ela dizia que a vida era para ser vivida intensamente, e sinto-me feliz de ter sido escolhido por ela para compartilhar dessa sua história. E mesmo em sua despedida, pude ver... lá no fundo, um brilho dessa alegria. Ela sorria quando seus olhos se fecharam. Estava em paz. A tristeza que nublou seu sorriso, se dispersara. Estou certo que Lydia, nesse momento, tenha encontrado a paz... junto de nossa pequena Alice".


Outros discursos foram realizados, mas Andrew mantinha-se levemente disperso, com inúmeras lembranças dos primeiros anos de casamento, do desligamento da esposa da Goldenn Architeture para investir em seu verdadeiro projeto que era design de joias, conseguindo fazer seu nome em Nova Iorque desenhando para algumas marcas, até o anúncio da gravidez, seu outro grande desejo que se realizava.


Era impossível conter sua alegria com a gestação, e ao saber que seria uma menina, toda aquela empolgação foi triplicada. Era seu sonho ter uma menina, criando um quarto que lembrava uma floresta encantada e sempre com inúmeros vestidos que fariam da nossa pequena uma princesa. Lydia chegara a criar uma linha infantil exclusiva chamada 'Alice' inspirada no conto de Lewis Carrol.


No entanto, o sonho se tornou início do pesadelo.


Alice nasceu aparentemente bem e forte, ao contrário de Lydia que sofreu complicações no parto resultando numa hemorragia grave o bastante que acabou por impedi-la de gerar filhos futuros. Pouco menos de 48h foi Alice quem veio a falecer devido uma insuficiência cardíaca, provocando um forte baque ao casal.


As primeiras horas foram de total desespero de Lydia, acompanhada de uma depressão profunda que seguiu por semanas. Por inúmeras vezes Andrew a encontrou no quarto que haviam montado para a filha que jamais deixou o hospital.


Mesmo com ambos seguindo para  terapia para lidar com aquela tragédia, nada parecia suficiente para a aceitação da perda, desencadeando inúmeros problemas que deram início ao desgaste da relação dos dois. Como fuga, Lydia mergulhou excessivamente no trabalho, fazendo-a sucumbir ao cansaço e afastar-se gradativamente de Andrew.


Por outro lado, ele também se focou no trabalho, o que foi pouco a pouco distanciando os dois. A relação de ambos esfriou. Após quase dois anos entre idas e vindas na busca de recuperar o casamento, decidiram por uma separação amigável.


 Entretanto, Lydia se apresentava cada vez mais cansada. denotando falta de atenção nos projetos e esquecimentos que se tornaram rotineiros. Viciou-se em analgésicos a ponto de encontrar-se perdida após horas dirigindo, levada por uma viatura policial até um hospital sem lembrar de seu próprio nome, senão do nome da filha que esperava: Alice.


Esclerose Múltipla, foi como a diagnosticaram.


Embora tivesse começado o tratamento em sua fase inicial, ela parecia não respondê-los. Em suas crises, sempre perguntava da filha que perdeu. Além dos sedativos, outro recurso para mantê-la estável foi quando a entregaram uma boneca — daquelas que realmente parecem bebê — da qual Lydia ficava a cuidar e, assim, passou a responder ao tratamento juntamente com acompanhamento psicológico.


Por outro lado, Lydia estava cada vez mais em seu próprio mundo, esquecendo-se de todos, incluindo do próprio Andrew, a quem passou a ver como um completo estranho.


Com todos os problemas, o divórcio foi suspenso e o arquiteto somente acompanhou aos altos e baixos do tratamento da esposa. Themis veio da Grécia e passou a morar por alguns meses com o casal ansiando que, por conta da forte aproximação das duas irmãs, pudesse ajudar na sua recuperação de lucidez.


Contudo, após quatro meses, conversando com médicos e sua psicóloga, julgaram recomendável que ela voltasse para junto da família, em Cálcis. Desse modo, talvez, ajudasse mais em sua recuperação. Andrew concordou, ajudando financiar o tratamento e a visitando periodicamente, mesmo que a própria sequer soubesse quem ele era.


Aquilo o deprimia, fazendo-o refugiar-se no trabalho e até mesmo alterando seu emocional. Havia se tornado um fumante compulsivo e passando horas sem dormir debruçados em projetos, vendo-se trilhar o mesmo caminho de Lydia. Aquilo o desesperou, fazendo com que buscasse tratamento e atividades que pudessem ajudá-lo a lidar com todas aquelas atribulações.


Contudo, foi num seminário em Nova Iorque, quando foi representando EverGoldenn que sua vida pareceu voltar a entrar nos eixos.


Naquele último ano Lydia apresentava melhoras, parecendo aceitar a cada dia a perda da filha e recobrar muito de sua consciência, ao ponto de voltar para os desenhos que tanto amava.  Isso até que há pouco mais de três meses fosse acometida de uma nova crise, provocando uma séria recaída, e agravada com o AVC que a levou num coma, culminando na sua morte.


 


"Agora, espero que toda a dor que a consumia tenha desaparecido. Que você finalmente tenha encontrado a paz, Lydia. Agora está junto de nossa Alice", contemplava Andrew com os olhos sobre o ataúde já fechado, com a palma da mão aberta sobre ela. Era sua última despedida solene e silenciosa, sem perceber alguém que se aproximava naquele instante.


Ele o havia notado chegar, mas meio aos pêsames de familiares e conhecidos, se deixou distrair até aquele instante. Themis havia-lhe perguntado sobre comunicá-lo e não tinha razão para se opor a notificá-lo. Apenas acreditou que ele não comparecesse, mas ele estava ali. Aquilo aqueceu seu peito.


Viu-o quando se aproximou, falando com os presentes muito rapidamente, aproximando-se e cumprimentando-o com um leve aceno e Andrew abrindo espaço para que o próprio fizesse suas honras. O arquiteto apenas se manteve observador, levando as mãos ao bolso da calça, vendo-o deixar as flores sobre a urna e fazendo uma prece silenciosa.


— Andrew. — chamou ele, fazendo o arquiteto fitá-lo, vendo-o remover os óculos escuros, fazendo o mesmo, deixando o olhar abatido evidente.


— Que bom... que está aqui, Alexis. — respondeu o outro, falhando, forçando um pigarro.


— Eu... Eu sinto muito pela Lydia. — disse o advogado, ainda fitando o outro.


A voz de Alexis saiu levemente embargada, ainda que não fosse essa sua intenção. Viu o outro mover os lábios como se quisesse dizer algo, mas nada foi dito. Aquela muralha estava se quebrando, perceptível na respiração ofegante do outro e acompanhado por seus olhos inquietos.


Um passo, praticamente que simultâneo entre os dois que culminou num abraço entre eles, com um batendo de leve nas costas do outro.


"Sim, foi exatamente assim... como naquele dia... com a diferença que buscava me conter, enquanto que agora precisava apenas a quem se apoiar, Andrew?", pensou Alexis, fazendo-o abraçar mais forte.


— Eu estou aqui, meu irmão... — murmurou Alexis beijando-o na face, desvencilhando-se dele para fitá-lo nos olhos, sorrindo. — Estou aqui!


— Obrigado por estar aqui, Alexis. — murmurou Andrew, abraçando-o mais uma vez, deixando a lágrima há tanto sufocada naqueles dias, libertar-se. — Obrigado... meu irmão!



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Autor(a): katrinnae Aesgarius

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • luisarroni Postado em 11/07/2018 - 23:36:44

    Escrita muito boa. Continue postando!

  • katrinnae Aesgarius Postado em 10/07/2018 - 23:10:20

    Após um erro de capítulos, foi preciso reupar 5 capítulos simultâneos.


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