Fanfics Brasil - O Ritual de Sagração Sob O Sangue do Escorpião

Fanfic: Sob O Sangue do Escorpião | Tema: Antares, Cavaleiros Do Zodiaco, Cdz, Draconnasti, Drama, Katrinnae, Mitologia, Saint Seiya, Shoujo,


Capítulo: O Ritual de Sagração

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A garota acordou cedo naquele dia e, ainda que sentisse as dores dos ferimentos, se levantou silenciosamente. Olhou para a cama ao lado e a viu vazia, se dando conta de que aquele seria seu último dia naquele quarto. Em seu peito sentia uma mistura de medo e ansiedade. Aquele ciclo havia chegado ao fim.


O quarto era espaçoso o bastante para as duas pessoas que outrora dormiam ali, mas já tinha alguns dias que ela dormia sozinha. Sua companhia, a serviçal mais antiga daquele Templo e responsável por administrar todos os outros, estava em outros aposentos, provavelmente ainda deitada.


As entradas de ar e de luz denunciavam que o sol ainda estava para se erguer, porém a rotina naquele lugar começava muito cedo. E isso não excluía a jovem, mesmo quando estava ferida. Devagar, caminhou, testando sua recuperação. As costas já não doíam mais a cada passo, embora sentisse os músculos travados quando tentava se alongar.


Sentou-se à mesa disposta perto dos leitos, pegando a jarra de barro, despejando a água em uma bacia de metal. Por um momento, queria que o tempo parasse ali e retrocedesse em um mês ou dois, antes de receber a notícia de que iria realizar o teste. E riu baixo ao perceber aquela hesitação infantil.


Passou anos almejando aquilo, treinou pesado desde que tomou a decisão, e ali, naquele instante, queria recuar. Justo naquele momento, em que teria de realizar uma série de rituais para concluir totalmente sua provação. Não iria demorar para que as sacerdotisas de Athena fossem busca-la, para começarem todas as etapas. E a garota tinha que estar pronta para recebe-las e acompanhá-las na procissão.


A jovem respirou fundo, sentindo o cheiro do pão sendo assado no forno e ficou surpresa. Os escravos ainda não deveriam estar cuidando do forno, mas apanhando água na fonte e colhendo frutas no pequeno pomar. Ao chegar à cozinha, se deparou com uma mulher a despejar uma leva de pães sobre um cesto.


Ela tinha cabelos verde-escuros e ondulados, que desciam cuidadosamente penteados por suas costas. Estavam presos em um penteado simples, por um pente de marfim, entalhado ricamente. Tinha olhos azuis cristalinos que transbordavam uma energia contagiante e que podia domar uma pessoa de gênio difícil. Vestia uma túnica simples que suavizava suas formas, ajudando a esconder o ventre destacado. Nos pés, sandálias de couro cru estavam amarradas, enquanto um de seus braços havia sido marcado com ferro o símbolo daquele Templo, em seus primeiros dias ali.


– Bom dia, filha! – A mais velha a saudou, com um imenso sorriso. – Venha, levantei mais cedo para fazer seu desjejum. Vai precisar de bastante energia para o dia de hoje.


– Á– Ágape... deveria estar deitada. – A mais nova murmurou, indo em sua direção. – Pode deixar que eu me cuido aqui.


– Nada disso, querida. Faço questão. – Falou a mulher, colocando queijos e frutas sobre a mesa. – Será a última vez que cuido de você como minha preciosa menininha, a minha estrelinha radiante. Quero ter certeza de que estará tudo em ordem. – E tocou sua face, bronzeada pelos anos de treinamento debaixo do sol.


– M-mas... – A aspirante tentou relutar, entretanto foi contida pela escrava.


– Sente-se! – A outra mandou e foi obedecida rapidamente. Com um gesto suave, Ágape tomou suas mãos e as apertou delicadamente. – Lembra-se de quando chegou aqui, minha estrelinha? – Questionou, olhando-a em seus olhos escarlates.


Ali, sem a máscara, era possível contemplar bem o rosto daquela garota, que possuía uma beleza exótica distribuída em seu rosto em formato de coração. Olhos amendoados, de pupilas fendidas como um gato. Lábios corados sopravam eventualmente uma mecha de seus cabelos azuis e fartos, embora curtos, acima dos ombros. Tinha um nariz delicado e levemente empinado, com o qual não conseguia deixar de farejar o cheiro da comida que estava para ser servida.


– Sim, eu lembro...


– Lembra quando o mestre a entregou aos meus cuidados? – Interrogou a mais velha, vendo a mais nova assentir, e sorriu. – Você não é mais aquela menininha assustada, você cresceu e se tornou uma guerreira! Uma grande guerreira! – Afirmou, afagando os cabelos cheios da jovem e depositando neles um beijo maternal.


– A senhora acha que...?


– Eu não acho, filha. – Disse a mulher, tocando o queixo da garota. – Eu tenho certeza. O mestre a treinou bem, ele me falou como foi o seu desempenho no teste. Mas é claro que você será bem-sucedida!


– Será uma melhor Amazona que eu, como Cavaleiro, minha criança. – Uma voz masculina ressoou gentil, chamando a atenção das duas presentes.


– Mestre?! – Murmurou a escrava, se colocando novamente de pé. – Desculpe, os servos ainda estão recolhendo algumas provisões, só tenho pães frescos, e resto ainda é o que sobrou de ontem...


– Não. Hoje não será a mim a quem todos deverão agradar, mas a ela. – Falou o homem, saindo das sombras. Os longos cabelos azul-escuros dele estavam molhados, indicando que estivera na fonte.


O Cavaleiro de Escorpião estava lá, despido de sua veste sagrada e trajando uma simples túnica carmesim. Olhava para a mais nova com grande orgulho em seus olhos rubros e fendidos, tais como os dela. Não era algo que ele permitia que outros notassem. Era cheio de si, contudo mal se cabia naquele momento. Nunca duvidou da capacidade da jovem a quem treinou e assistiu bem de perto sua evolução. De uma ratinha assustada e indefesa para uma guerreira tão cheia de virtudes que o próprio mestre se achou menos capaz.


– Mestre... – A mais nova sussurrou, também se levantando. – O senhor irá hoje?


– Não antes de vê-la vestida com a Armadura Sagrada que conquistou, Scorpi (01). – Ele respondeu com orgulho na voz, chamando-a daquele modo, tão carinhoso. – Agora, apresse-se. Depois que o sol se erguer, não poderá comer mais nada até que permitam.


– S-sim, senhor. – A garota falou, tornando a sentar.


O homem fez o mesmo, assumindo um lugar naquela mesa pequena. Não era comum que o Guardião do Templo fizesse suas refeições ali, na cozinha, porém nenhuma das duas contestaria. A escrava se apressou em apanhar uma peça de carne, sobra da janta, e a dispôs para ele.


– Peço perdão por esse improviso, mestre. – A mulher disse com um tom baixo. – Não esperava sua companhia nesse exato momento, então estava esperando que os demais servos trouxessem mais provisões...


– Junte-se a nós e estará perdoada. – Ele falou, puxando uma cadeira ao seu lado. – O dia de hoje é especial, então merece uma quebra de rotina.


A mais nova quis rir daquelas palavras, mas não conseguiu, tamanha a sua ansiedade. Embora seu tutor tivesse dito aquilo, sabia que ele se referia apenas àquela escrava, e somente para ela.


✶~~✶✶✶~~✶


Athena estava vestida com uma túnica de linho amarelo amarrada de forma simples em seu corpo ainda úmido. Olhava para o Santuário abaixo de sua janela, tendo a vista dos templos e pensando sobre o ocorrido naqueles dias.


Embora em menor escala, a insatisfação era grande. Talvez ainda maior que o ocorrido nos eventos da Guerra Santa contra o Imperador Poseidon, quando as primeiras mulheres foram aceitas em sua frente de batalha. E mesmo depois de quinze anos de seu final, ainda havia quem achasse as Amazonas como sendo algo impensável e um desrespeito às tradições.


Esqueciam, ou ignorava, apenas que a divindade que os regia também era uma mulher. E isso sempre fazia a Deusa rir internamente. Prezava pelo pensamento lógico e pelas escolhas que trouxessem os melhores resultados, ou aqueles que trariam as menores perdas. Isso não era sequer privilégio de mortais, então não deveriam ser eles a achar quem poderia, ou não, ingressas as fileiras da Deusa da Sabedoria.


Era a guardiã de várias Poleis (02) e seu maior Santuário estava situado em uma Polis (03) que levava o seu nome. Vencera incontáveis batalhas, algumas delas antes mesmo de começarem. E seus seguidores ainda achavam que apenas uma condição de nascimento os fazia ser mais dignos de vestir suas Armaduras Sagradas.


Contudo, deitou sobre sua nova Falange uma regra da qual elas mesmas poderiam tirar grande proveito, se percebessem a oportunidade. Deveriam esconder seus rostos por trás de máscaras que, no máximo, exibiriam seus traços gerais. Nenhum homem deveria conhecer suas faces, sob a pena de serem mortos por elas, o que as tornava perfeitas espiãs e assassinas, principalmente em missões solo.


Não era um trabalho bonito ou cheio de glórias, mas alguém precisava fazê-lo. A Vitória sorria apenas para os mais dispostos ou para quem estivesse melhor preparado. Honra era apenas um artifício para enfeitar os feitos dos guerreiros que queriam, de alguma forma, se fazer admirar por uma suposta integridade moral.


Algo do qual muitos acreditavam que uma mulher não possuía. Tudo por conta do castigo enviado a Epimeteu, irmão de Prometeu, como castigo por terem roubado as chamas divinas e compartilhado seu segredo com os mortais. (04)


E caso elas quisessem “depor as armas” e constituírem família, deveriam abandonar suas máscaras e as destruir. Desse modo, simbolizaria sua morte como Amazona e retornariam a ser mulheres livres. Não iria culpá-las por desejarem retomar à vida tranquila que rejeitaram outrora.


Infelizmente, a maioria delas morria muito jovem, assim como os Cavaleiros.


Combater Deuses e seus guerreiros não era uma atividade trivial e o derramamento de sangue era quase sempre inevitável. Morriam em batalha ou em detrimento dos ferimentos adquiridos. Apenas duas ou três abdicaram de seus postos para terem filhos e puderam ser enterradas por eles, ao final de suas vidas.


Esperava que a nova Amazona não sofresse com nenhuma das duas ocorrências. Seria um imenso desperdício. Era promissora demais para seus interesses.


– Senhora Athena. – A voz de um homem soou às suas costas, tirando-a de seus devaneios.


A divindade virou-se, deparando-se com um Cavaleiro de Armadura de um azul-claro, que lhe revestia todo o corpo. Tinha os cabelos castanhos bem escuros e os olhos de um tom levemente avermelhado. Alto e corpulento, com músculos definidos pelos anos de exercícios e lutas, tendo algumas cicatrizes a ressaltar em sua pele bronzeada. A mansidão que trazia naquele momento quase a fez esquecer de todo o trabalho que teve para “domá-lo”.


– Sim, Pegasus? – Ela perguntou, encarando-o.


– Perdão por vir incomodá-la tão cedo. – Ele disse, e ajoelhou-se. – As sacerdotisas avisaram que estão prontas para dar início ao ritual de purificação e sagração da nova Amazona.


A Deusa não fez qualquer menção de esconder o sorriso que lhe surgiu aos lábios rosados. Assentiu com a cabeça e gesticulou para que o Cavaleiro se retirasse. Iria fazer algumas pequenas tarefas pessoais antes de seguir com a normalidade daquele dia, imaginando de quantas formas aquela garota poderia demonstrar sua eficiência.


✶~~✶✶✶~~✶


Quando foram buscá-la para começar os preparativos do cerimonial, oito virgens sacerdotais foram ao Oitavo Templo. A jovem aprendiz fora posta no meio do grupo, em uma formação similar à que já havia presenciado em alguns animais: Os mais velhos e experientes nas extremidades e os mais frágeis ao centro. Rezou para que não fosse vista dessa forma, apesar dos hematomas dos treinamentos e do teste ainda estarem bem visíveis em seus braços.


A garota desceu as escadarias dos Templos Zodiacais sem encontrar seus Guardiões de vigília. Seu mestre havia feito questão de levá-la consigo para se recuperar dos ferimentos do teste a deixá-la na Fonte de Athena. Ele não duvidava da capacidade das acólitas em cuidar dos ferimentos de sua aprendiz, mas preferia fazer os cuidados pessoalmente. Ninguém contestou.


Ninguém seria louco de fazê-lo.


A jovem estava envolta em um manto branco, usando um véu que cobria sua face, assim como aquelas que a conduziam para o templo onde ficaria por todo o dia, jejuando e orando. Seria purificada e ganharia uma nova máscara. Só então seria considerada uma Amazona de fato, vestida com a indumentária sagrada de seu posto, e apresentada ao Santuário.


Uma sucessão de rituais que tomariam o dia inteiro e só findariam no dia seguinte, ao amanhecer.


Naquele momento apenas alguns poucos Cavaleiros estavam nos campos, fazendo alongamentos para um rápido treino, antes de assumirem seus aprendizes. Apenas eles puderam testemunhar aquele séquito no momento em que cruzou os portões da Casa do Nascimento, o templo no qual eram realizados os rituais de purificação dos Cavaleiros.


Tinha esse nome por simbolizar o local onde a Deusa Athena veio ao mundo. As lendas diziam que ela viera da cabeça partida de Zeus, vestindo sua Armadura e bradando um grito de guerra. O altar principal retratava esse momento, tendo a estátua da deidade a receber a jovem e às sacerdotisas, com seu báculo e seu escudo em mãos.


A garota olhou para aquela escultura de mármore branco, com roupas de linho e uma proteção metálica, não deixando de ficar impressionada.


– Você é a aprendiz de Scorpio, não é? – Ela ouviu alguém chamar e virou-se. – Venha comigo.


Uma das clérigas gesticulava com a mão, chamando-a, e foi prontamente atendida. Parecia ser a mais velha, a julgar por sua voz e seus gestos. A aspirante percebeu que seus passos eram firmes embora graciosos, denunciando que havia recebido algum treinamento marcial. “Será que ela foi uma Amazona antes?”, se questionou, embora não chegou a verbalizar.


Fora guiada para uma sala adjacente, pequena, onde havia uma bancada e um pedaço de linho rústico dobrado. Nenhum sinal de qualquer outra coisa. Sem entender, a mais nova voltou-se para a mais velha.


– Troque-se. Durante toda a manhã, estaremos entregues às orações pela sabedoria da Deusa Athena. – A sacerdotisa falou, removendo o véu do rosto. – Quando estiver pronta, avise. Estarei junto ao altar.


Como imaginou, era uma mulher bem mais velha que ela. Sinais da idade marcavam seu rosto e uma cicatriz grande em seu lado direito indicava que passou por uma situação bem extrema. Talvez exatamente a ocasião que a fez se voltar à calma monástica dos Templos.


– Sim, senhora. – A garota respondeu com um sussurro e de cabeça baixa.


A mais velha se retirou para dar alguma privacidade à mais nova que aproveitou um pouco daquilo. Removeu o véu de sua cabeça e o colocou de lado, agradecendo à bondade de todos os Deuses do Olimpo. Estava se sentindo um pouco sufocada por aquela peça e o suor que brotava em sua testa incomodava o ferimento na sobrancelha.


Devagar, desatou os nós de sua roupa e vestiu aquela outra. Prendeu a faixa de linho ao redor do corpo, dando nós nos ombros e deixando os excessos caírem sobre os braços. Diante daquilo, respirou fundo e caminhou em direção à grande sala adjacente, por onde viera. Sem questionar ou dizer uma palavra sequer, tomou um lugar para si, diante do altar marmóreo da Deusa da Sabedoria e se colocou a rezar.


Em silêncio, em suas preces pessoais, pediu para que a divindade a guiasse por aquele novo caminho que tomaria. Até aquele momento, estivera sempre guiada por seu mestre Scorpio, mesmo quando o acompanhava em missões, geralmente tomando o papel de observadora ou de vigia. Poucas foram as vezes em que chegou a entrar em combate real, mas aprendera o bastante para saber que havia muito o que ser feito, como uma seguidora dos ideais da Deusa Athena.


– Filha de Zeus, portadora da égide divina, propícia a tuas preces votivas. Te inclinas da fronte do grande pai supremamente brilhante e saltaste para a luz como um fogo ressoante. – A sacerdotisa mais velha falou, fazendo sua voz ecoar pelo salão. – Deusa que porta o escudo, ouça, a quem desfrutar de uma mente valorosa e com poder de o forte domar! Ó, surgida de um poder sem par, com alegre mente, aceita este hino; gentil e benevolente! (05)


O dia passou rápido, apesar da ansiedade que acometia à garota que se mantivera a orar e cantar junto com as clérigas. Durante a tarde, foi conduzida até uma outra sala, onde apenas uma piscina rasa cheia de águas mornas a esperava. Estremeceu ao perceber o que aconteceria, mas obrigou-se à calma.


Scorpio havia explicado tudo o que sabia sobre os ritos de sagração, com o intuito de que ela não fosse pega de surpresa por qualquer procedimento do qual julgasse desagradável. Tivera, inclusive, que trabalhar aquilo, com a ajuda das escravas que serviam ao Templo de Escorpião. Demorou um pouco, contudo seria o bastante para passar pelas cerimônias de purificação.


A aprendiz segurou a respiração enquanto sentia as mãos daquelas mulheres a despirem. Não podia fraquejar naquele momento.


Foi conduzida pelas mãos até as águas, que tocaram o seu corpo suave e desprovido de cicatrizes. Ali, as sacerdotisas a banharam cuidadosamente, derramando ânforas de uma mistura perfumada. Ao final, novamente tomada pelas mãos e guiadas pelas acólitas, foi despida e enxuta com uma faixa de algodão que nunca havia sido usada antes.


Mesmo o cuidado e o respeito delas para com a aspirante, ela não conseguiu não se lembrar da mão que bateu constantemente em seu corpo magro, e que tantas vezes tentou afogá-la durante o banho. Mãos que deveriam protege-la.


Despertou daquele torturante transe ao sentir um perfume familiar. Uma capa branca com forro interno vermelho como seus olhos foram postos sob seus ombros, fazendo-a piscar diversas vezes, incrédula. Só então se deu conta de que, enquanto estava distraída fora vestida com uma roupa branca. Escovaram seus cabelos azul-escuros e colocaram uma coroa de ramos de oliveira colhidas e confeccionadas ainda naquela manhã. Naquele momento, não conseguiu conter uma lágrima furtiva rolar por sua bochecha.


– Algum problema, senhorita? – Uma das sacerdotisas que cuidava de suas vestes questionou, notando seu estado. – Esse manto é um presente de seu mestre.


– Não... E-eu estou bem. – Mentiu a aspirante, levando as mãos àquele tecido, apertando-o contra seu corpo, cheirando-o. – Só... estou me dando conta de que... dentro de instantes... não serei mais uma aprendiz. – E tentou sorrir.


– Se for de sua vontade, podemos servir uma bebida para ajudar a se acalmar. – Disse a clériga, amarrando cuidadosamente uma faixa em sua cintura.


– N-não há necessidade. – Falou a jovem de olhos escarlates. – Me acalmarei depois, quando acabarem as formalidades.


– Como desejar. – A acólita assentiu, respeitando sua vontade.


Logo terminaram de vestir a garota ansiosa, tentando acalmá-la com palavras suaves. Não podiam culpá-la por aquilo. Era um grande evento, uma solenidade rara, para não dizer única! Mesmo elas não podiam dizer que estavam completamente tranquilas com aquilo. Amarrada as sandálias novas, conduziram-na até uma estátua de Athena, onde ela ajoelhou-se e esperou, sentindo o calor do sol aquecer sua pele fria.


Quando o momento chegou, uma das mulheres do templo lhe trouxe uma máscara metálica levemente rosada que trazia os contornos gerais de sua face. Ela recebeu aquele item em suas mãos e ergueu a cabeça para a estátua da Deusa. Em um gesto de oferta, ergueu aquela peça e falou:


– Senhora Athena, aqui, diante de sua imagem, eu oferto aquilo que possuo de melhor. Ofereço o meu corpo e a minha alma para cumprir sua vontade, abrindo mão de minha condição de nascimento. – A garota disse de forma espontânea, surpreendendo às mulheres presentes. – Faça de mim a sua ferramenta. – E curvou-se, colocando a máscara no rosto.


Ali ficou por algum tempo, imóvel, ouvindo a respiração suave das presentes e notando os cheiros do lugar se tornarem cada vez mais suaves. Foi um toque sutil em seu ombro que fez com que se colocasse de pé e seguissem a diante. O Cortejo saiu do templo com as oito sacerdotisas em duas filas, lado a lado, carregando oferendas à Deusa da Guerra e da Sabedoria. No meio delas, a jovem seguia, com uma ânfora cheia de azeite virgem, com a cabeça erguida, rumo ao Templo de Athena, no topo da montanha.


Os cânticos entoados chamaram a atenção daqueles ao redor, que correram para ver o séquito, mas apenas as poucas Amazonas e suas aspirantes permaneceram ali, olhando. Ao ver a jovem, muitas apenas se perguntaram se aquela seria uma Saintia ou uma nova Amazona. Aos homens não interessavam que uma mulher estivesse recebendo um manto sagrado.


Subiram solenemente pelas Doze Casas do Zodíaco. Ela descobriu que elas se encontravam vazios e ficou ainda ansiosa. “Será que estão todos em ronda? Ou estarão todos lá em cima?!”, se questionou apreensiva.


Nem mesmo o seu mestre estava em seu posto. Não ia negar que queria vê-lo uma última vez, antes de chegar ao topo. Isso fez com que sentisse o estômago gelar e uma leve náusea a acometer.


Quando o último degrau da última Casa foi vencido, o sol já se deitava no horizonte. A sua frente, o Templo do Grande Mestre fora rapidamente transposto e o Templo de Athena se mostrou. A imensa estátua a saudou e com ela, seus Cavaleiros mais fortes.


A jovem prendeu o ar ao avistá-los, altivos e majestosos em suas Armaduras Douradas, parados em duas fileiras e que formavam um corredor. Adornos cerimoniais em vermelho e dourado cruzavam e se desprendiam das proteções sagradas. Viu e reconheceu aos Cavaleiros de Áries, os gêmeos com suas Armaduras de Gêmeos, o assustador Leão, o centauro de Sagitário, e Aquário, de um lado. Os dois últimos, traziam um olhar discreto de felicitação para ela. Do outro lado estavam Touro, Câncer, o Oráculo de Virgem, o próprio Scorpio, Capricórnio e o belíssimo sacerdote de Peixes.


Mais à frente, encontravam-se a Deusa Athena, acompanhada de seu inseparável guardião, Pegasus. Ao lado deles, a urna dourada para a qual fora destinada.


O séquito calou o seu canto e conduziu a aprendiz diante deles, depositando as oferendas aos pés da deidade. A garota curvou-se diante da Deusa, e as sacerdotisas removeram o manto de seus ombros, exibindo para todos as roupas brancas, as quais apenas os Doze Cavaleiros de Ouro podiam vestir.


O olhar de indiferença da maioria dos homens presentes foi substituído por uma certa curiosidade. Haviam sido avisados que um deles havia renunciado, mas parecia que, até aquele instante, ninguém sabia quem era. Castor de Gêmeos fora o primeiro a deixar transparecer o seu entendimento daquela situação, entretanto nada falou.


Como um último gesto, a aprendiz se aproximou devagar e tirou a coroa de oliveiras de sua cabeça, ofertando-a à divindade e a colocando aos seus pés.


Com um aceno de aceitação da Deusa Athena, Escorpião saiu de sua formação, removendo o manto vermelho que vestia e o pousando sobre os ombros da mais nova ali presente. O gesto causou surpresa diante dos demais. Alguns fizeram menção de protestar, contudo se contiveram. Não cometeriam aquele ato de insubordinação ali, diante de sua matrona divina.


A garota pode sentir o aperto das mãos fortes e quentes do escorpiano, encorajando-a. Ele concentrou seu Cosmo, fazendo-o ressoar com o da Armadura que vestia.


A veste se incendiou em chamas áureas e passou de um para o outro, tomando as formas do corpo de seu novo usuário. Quando as labaredas se apagaram, uma nova Armadura de Escorpião se mostrava, moldada à jovem.


Foi a primeira vez que ela sentiu tanta energia ser canalizada ao seu redor. O sorriso da Deusa não podia ser maior em sua face, diante daquela nova Amazona que nascia. A primeira Amazona de Ouro, cuja máscara escondia toda a felicidade que a inundava naquele instante.


– Senhora Athena, aqui, diante de sua presença, eu oferto aquilo que possuo de melhor. Ofereço o meu corpo e a minha alma para cumprir sua vontade, abrindo mão de minha condição de nascimento. – A jovem disse de forma espontânea, reafirmando o juramento feito mais cedo. – Faça de mim a sua ferramenta. – Completou, vendo um sorriso se formar no rosto tranquilo da deidade.


 


Notas Finais


01 – Scorpi é genitivo de Scorpio. O caso genitivo representa uma especificação do termo antecedente, revelando noção de posse ou de explicação de pertença. Nesse caso, Scorpio chama a jovem de Scorpi no sentido dela ser sua herdeira. 

02 – Poleis: Cidades-Estados. Cidades com autonomia própria (inclusive possuíam suas próprias leis), algo que era bem frequente no período da Antiguidade Clássica. 

03 – Polis: Singular de Polei.


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Autor(a): draconnasti

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A lua terminava de surgir atrás das montanhas quando toda a cerimônia findou. O manto de Nix, a Deusa da Noite, estava estendido pela abóbada celeste, pontilhado de estrelas brilhantes. Muitos permaneceram no Templo de Athena, para “discutir assuntos relevantes”, enquanto outros seguiram seus caminhos normalmente. A garota descia as escadas ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • katrinnae Aesgarius Postado em 11/04/2018 - 22:03:52

    Acompanhando essa história da escorpiana. <3

    • draconnasti Postado em 13/04/2018 - 12:07:53

      <3


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