Fanfic: Sob O Sangue do Escorpião | Tema: Antares, Cavaleiros Do Zodiaco, Cdz, Draconnasti, Drama, Katrinnae, Mitologia, Saint Seiya, Shoujo,
A lua terminava de surgir atrás das montanhas quando toda a cerimônia findou. O manto de Nix, a Deusa da Noite, estava estendido pela abóbada celeste, pontilhado de estrelas brilhantes. Muitos permaneceram no Templo de Athena, para “discutir assuntos relevantes”, enquanto outros seguiram seus caminhos normalmente.
A garota descia as escadas de volta para o Templo onde passara boa parte de sua vida e que agora guardaria até o fim. Não tinha iluminação pelas escadarias que não fosse provida pelos astros celestes. Ao seu lado, o homem que lhe ensinou tudo o que sabia, com um semblante sério, mas com os olhos, tão rubros quanto os dela, carregados de orgulho.
Ela estava tão feliz que mal conseguia se conter. Queria pular e gritar, abraçar ao seu antecessor e dizer o quanto era grata a ele por tudo o que havia feito. Contudo, não podia faze-lo ali, tão abertamente. Precisava ser comedida e não mais demonstrar qualquer emoção. Seu tempo de excessos e irresponsabilidades findou naquela manhã.
Mal pusera os pés no pátio do local onde seria a responsável e o primeiro de seus deveres lhe era requisitado.
– Concede-nos a permissão para passar, Amazona de Escorpião? – A voz formal e grave de Pollux se fez ouvir, fazendo com que ela se virasse para ele.
O Cavaleiro estava parado aos pés dos últimos degraus, com o elmo recolhido, assim como os demais. Vestido com sua Armadura e de perto como estava, parecia ainda mais nobre e imponente, fazendo com que a jovem se sentisse um pouco insignificante. Um pouco mais atrás dele, seu irmão caçula olhava para qualquer outro ponto, não menos majestoso, embora parecesse pouco se importar com a autoridade dela.
– Ah... S-sim... os senhores podem passar. – A Amazona recém-sagrada falou, hesitante, olhando para os outros Cavaleiros que seguiam mais atrás. – Todos os senhores.
Com um aceno meramente educado, eles passaram, fazendo com que o geminiano mais velho soltasse um longo suspiro em reprovação. Por mais que discordassem da decisão de Athena, aqueles homens deveriam respeitar a escorpiana. Ou, pelo menos, fingir que o faziam em sua presença.
– Muito obrigado pela passagem. – Falou ele, buscando olhá-la diretamente no rosto, apesar da máscara que o cobria.
O geminiano estava para passar, quando se deteve há poucos passos dela, que o olhou com alguma estranheza. Parecia pensar em dizer algo, o que chamou a atenção do escorpiano ao lado da jovem. Seu olhar transpareceu uma discreta curiosidade.
– Parabéns pelo posto, Amazona. – O Cavaleiro de Gêmeos mais velho completou, em alto e bom tom, para que os demais também escutassem e seguiu.
Ela sorriu contente, ainda que ninguém pudesse perceber. Aquela repreensão velada atingiu bem aos alvos, que pararam seus passos para um cumprimento fraco e cheio de má vontade. E a jovem já esperava por aquilo.
– Muito obrigada, senhor Pollux de Gêmeos. – Ela respondeu, com sua agradável e polida voz abafada pela máscara.
Ele apenas esboçou um sorriso, olhando repreensivamente para o irmão que nada disse e continuou a caminhar. Scorpio, que observava atento para a situação, lamentou. Seria preciso de muito trabalho para que sua discípula se impusesse ali, mas acreditava em seu potencial. Ele, melhor que todos ali presentes, sabia perfeitamente do que a nova Guardiã do Templo de Escorpião era capaz de fazer.
– Vamos, criança. – Ele disse, passando uma mão por seus ombros jovens e a puxando sem dar qualquer tempo para pensar a respeito. – Ágape está esperando ansiosa para vê-la com essa Armadura. – Completou com um sorriso.
– Sim, mestre. – Ela respondeu, obediente, enquanto entravam no Templo.
A passagem era ampla e espaçosa, embora rodeada de colunas de grandes alturas. Não traziam marcas de batalhas mais profundas que as de eventuais treinos dos quais professor e aluna tivessem se submetido. Archotes faziam a iluminação sutil necessária para que o antigo Guardião pudesse fazer o seu trabalho da melhor forma possível.
– Eu não sou mais o seu mestre, criança. – O ex-Cavaleiro falou, rindo baixo. – Mas aceito que me chame de outras formas que achar melhor.
– Mesmo? – A escorpiana questionou, com um sorriso tímido por trás da máscara. – Então eu vou pensar em algo sobre isso.
E entraram por uma porta escondida em meio às colunas de pedra fria. Caminharam brevemente pelo corredor que descia suavemente, até chegar à morada propriamente dita dos Guardiões Zodiacais. Até mesmo removera o elmo, prendendo-o ao cinto, e deixou os cabelos mais livres.
Ágape estava recolhendo seus pertences dos longos anos naquele lugar. Olhava o quarto pensando de quando chegou ali: uma jovem temerosa de quinze anos, dos momentos no aposento do mestre, quando ele chegou de missão gravemente ferido. E depois ensinando-a a ler e escrever, dos cantos e momentos íntimos. Aquilo a fez corar e alisar a barriga que crescia. Sentiu uma lágrima ganhar sua face e a limpou. Quando imaginaria que sairia dali, não mais como uma serva, e com o homem que aprendeu amar enquanto todos o odiavam?
Quando ouviu as batidas na porta, virou-se acreditando ser o antigo mestre daquela morada.
– Estou acabando de arrumar tudo... – Dizia, quando se deparou com aquela jovem na Armadura Dourada, a mesma veste que tantas vezes vira com seu mestre. Levou as duas mãos ao rosto, não mais segurando a emoção. – Antares!!! Minha criança... cresceu...! E se tornou uma...! – E chorou, emocionada. – Está linda...!
A mais nova tirou a máscara e abraçou a mais velha com cuidado e com afeto. Ficaram ali por algum tempo, aos olhos do Caçador, que esperava calmamente. Sabia que a jovem precisava de seu momento com a mulher que serviu como sua mãe ao longo daqueles anos todos. Ela precisava fazer aquilo.
Aquela conquista era um mérito apenas delas. Da garota, por ter conseguido superar suas condições. Da mulher por tê-la ajudado de uma forma que ele sabia que jamais conseguiria.
– Prometa-me que vai ficar bem, minha criança... – Pediu Ágape, acariciando seu rosto, beijando-a na testa. – Se precisar, não hesite em nos procurar, de correr até nós, haja o que houver, está bem?
– Prometo sim, Ágape. – A Amazona disse, mostrando o sorriso comovido em seus lábios corados. – Muito obrigada. Muito obrigada por tudo! E principalmente por ser a pessoa a quem pude chamar de mãe!
– Obrigada por me permitir ser uma mãe para você, minha estrelinha...! – A mais velha a abraçou forte novamente. – Sempre será minha filha, Antares. Sempre...!
– Teremos dias tediosos sem você por perto, minha criança. – Disse Scorpio, pousando a mão pesada sobre a cabeça da garota. – Então, sempre que puder, apareça.
Ele bagunçou os cabelos escuros e sedosos da jovem, fazendo-a rir como uma infante.
– Não faça isso com cabelo dela, Theron...! – Ágape o repreendeu e logo tapou a boca. – Desculpa!
– Por que não? Ela gosta! – Ele replicou em defesa própria, ignorando ter sido chamado pelo nome real, algo do qual era proibido de ser feito fora das paredes de seus aposentos pessoais.
E tornou a bagunçar ainda mais as madeixas escuras da garota, e fazendo com que a escorpiana risse ao ponto de se curvar. Uma risada da qual, o casal sabia, não surgira com a facilidade e espontaneidade que ela mostrava naquele momento. O sorriso da escorpiana era o sinal de sua recuperação do passado.
– Ah, vocês dois! – Ágape repreendeu, rindo em seguida. Era o momento em que os dois se mostravam tão parecidos. – Está com fome, não é, minha menina? – Falou para Antares. – Vou preparar algo para comerem.
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Os Cavaleiros de Ouro chegaram ao Templo de Libra no mais completo silêncio, embora pudessem perceber no ar que as coisas estavam longe de ser tranquilas. A presença de uma mulher entre eles incomodava, por mais que buscassem ser neutros a respeito. Leão, Capricórnio e Peixes certamente ficaram no Templo de Athena para contestar a decisão da Deusa.
Virgem ter ficado para trás foi algo que surpreendeu a Pollux, embora não estivesse muito certo a respeito de suas intenções. Ele não pareceu ter dado a mínima para a nomeação da jovem para aquele posto, e até a parabenizou por aquilo, antes dela se retirar. Contudo, a postura indiferente dos demais no Templo de Escorpião foi algo que não podia ficar sem uma repreensão.
Nikandros de Libra fez um gesto para dizer aos demais que estavam livres para passar.
– Um momento. – Pediu o geminiano mais velho, chamando a atenção de todos. – O que fazem, cada um de vocês, aqui neste Santuário?
– Como assim, o que fazemos? – Câncer questionou, sem entender aquela pergunta, enquanto Castor revirou os olhos com a pergunta do irmão.
Ia começar uma longa discursão sobre o que aconteceu há pouco, não tinha dúvidas disso. O Príncipe-Herdeiro de Esparta (01) tinha uma forte tendência àqueles debates, principalmente quando todos já estavam cansados. Fazia-o para aproveitar eventos recentes dos quais queriam discutir. E tudo o que o caçula estava planejando era chegar em seu Templo Zodiacal e já partir para sua ronda nas ruas de Atenas.
– Mas que pergunta é essa, Pollux? – Indagou Crisómalo de Áries, curioso.
– É tão difícil responderem ou simplesmente não sabem? – O geminiano questionou junto a todos. – Mesmo após tanto tempo, até quando manterão essa postura orgulhosa estúpida com relação às mulheres em nosso exército?
– Não temos problema algum com mulheres em nosso exército, desde que elas fiquem em seu devido lugar, espartano. – Resmungou o libriano, já imaginando onde aquilo daria.
– Ah, e onde seria o lugar delas, Nikandros? – O gêmeo mais velho arqueou o semblante, encarando-o diretamente. – Onde estaria Câncer se não fosse a Amazona de Bronze de Hidra para ganhar tempo para ele, enquanto enfrentavam alguns Marinas? Ou aquela Amazona de Prata de Corvo, que ajudou o Cavaleiro de Leão? – Pontuou. – Preciso dizer o quão precisas foram na Guerra Santa contra Poseidon? No trabalho delas espionando o exército Marina, conseguindo descobrir a trilha pelo Caminho dos Corais que nos levou ao Santuário Submarino...? Até onde vai essa hipocrisia e orgulho de vocês?
O espartano observava a expressão de cada um dos companheiros com os olhos dourados semicerrados. Sua cabeça fervilhava diante da situação.
– Um momento aí, Pollux! – Intercedeu Áries, que mantinha o elmo cobrindo seu rosto. – Há um motivo para ter desconfiança. Ninguém sabe como ela chegou e como o Caçador a treinou, já que nunca foi vista nas áreas de treinamento. O que nos garante que seja realmente capacitada?
– E por que a censura? As mulheres precisaram criar um espaço de treino (02) por conta da hostilização da maioria de vocês. – Pollux riu de canto. – Ou estou errado?
– Se não são capazes de lidar com a pressão, não deveriam nem mesmo estar aqui, para começar. – Libra rebateu indiferente.
– Vocês as marginalizaram! – Pontuou o Cavaleiro de Gêmeos mais velho. – Mesmo quando vem aqui, a maioria abandona o anfiteatro se negando treinar com elas ou mesmo ridicularizando-as. Por favor! Vocês lutam por uma Deusa! Uma Deusa da Guerra...! Uma mulher... e se negam aceitar mulheres mortais em nossas tropas?! (03)
– Todos aqui sofrem pressão, Pollux! – Crisómalo disse, tentando acalmar os ânimos que cresciam.
– Nossa Deusa tem capacidade para se cuidar sozinha. A maioria daquelas Amazonas só atrapalha. A batalha delas não deveria ser contra outros guerreiros, mas dentro de suas casas, cuidando de seus maridos e dando a luz aos seus filhos! – Câncer se intrometeu, olhando para Asterion de Touro, como se buscasse algum apoio. – É por elas que lutamos, por que raios não aceitam seu papel, em vez de quererem tomar o nosso?
– Atrapalham...?! Elas fizeram grande diferença na guerra contra Poseidon e falam que atrapalham? Leão, Câncer, até mesmo você, Libra... cada um de vocês tiveram ajudas delas e agora cospem nisso? Elas abdicaram do que são para somar ao nosso exército. Athena é uma mulher tanto quanto cada uma delas lá fora e essa agora conquistou esse lugar por direito!
– Tá bom, meu irmão. – Castor se pronunciou a respeito, embora estivesse evitando fazê-lo a todo o custo. Sabia que Pollux podia ser alguém muito difícil de lidar as vezes. – Vamos ver o que essa... “Amazona” tem a oferecer. Mas depois não reclame se, por ventura, a desconfiança de todos se provar acertada. – Completou sem conter o asco.
– A única reclamação vazia aqui é de cada um de vocês. – O geminiano mais velho olhou para todos, mas se demorou no irmão mais novo, sabendo bem o motivo daquelas palavras. – Aquelas que já fizeram a diferença, vocês acabaram de desprezar seus feitos. Por que com esta seria diferente? – E avançou por eles, sem mais nada a dizer.
O silêncio se fez pesado, apenas observaram os Gêmeos se retirarem, embora soubessem que o mais jovem concordava plenamente com eles. Áries não conteve o suspiro pesaroso.
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Pollux desceu as escadas furioso, embora não demonstrasse. Jamais permitiria que os demais o vissem longe de sua compostura, por mais que tentassem com aqueles questionamentos absurdos e com a hipocrisia que faziam tanta questão de ostentar. Fora isso, ainda sentia o peito queimar, embora sua intensidade fosse bem menor. “Maldito veneno de Escorpião!”, praguejou mentalmente.
Mas Castor vinha logo atrás, e com ele a coisa era muito diferente. Seu irmão mais novo conseguia desarmá-lo ou mesmo fazer com que mostrasse o seu lado impaciente. E sabia muito bem que o geminiano mais jovem o faria assim que fosse possível.
– Acha mesmo que aquela ratinha assustada tem alguma chance? – Questionou o caçula, incrédulo, quando mal pisaram no pátio do Templo de Gêmeos, após um longo silêncio entre eles.
– Aquela ratinha assustada pintou o anfiteatro de sangue e conseguiu me atingir, caso tenha esquecido. E não vamos esquecer quem a treinou, Castor. – Respondeu o mais velho, removendo a Armadura com um simples comando de seu Cosmo, e seguiu para seus aposentos. – O seu orgulho o cegou o bastante para não ver os fatos?
– Grande coisa que aquela barata com rabo grande a tenha treinado! – Desdenhou o mais novo, acompanhando-o sem cerimônias. – Você se deixou acertar, não foi?
– Como é?! – Pollux travou os passos e se virou para o irmão incrédulo. – Não acredito que esteja falando isso...! – Resmungou, meneando a cabeça negativamente.
– Aquela rata nunca conseguiria te atingir, irmão. – Explicou o Cavaleiro de Gêmeos caçula, com um semblante cético. – Eu te conheço bem. Eu, que conheço todos os seus movimentos e aberturas, tenho dificuldades para te atingir porque sua guarda é boa. Não seria ela quem conseguiria te atingir.
– Então deixou que ela o acertasse no queixo quando era uma mera aprendiz...? – O mais velho olhou para o irmão de soslaio. – Pensei que tivesse sido o acaso.
– Eu estava distraído naquela ocasião. – Castor se defendeu.
– Ah, sim... – E Pollux seguiu para o quarto, sem mais nada dizer. O que mais queria naquele momento era apenas deitar, enquanto sentia aquela queimação em seu peito aumentar outra vez. – Faz o seguinte, meu irmão... Cala a boca!
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A mesa posta para o banquete não foi o bastante para dois, dos três presentes ali. Ainda assim, Ágape olhou com grande satisfação enquanto Scorpio e Antares destruíam sozinhos um leitão gordo e recheado que fora assado com cebolas, alho e cenouras. Não demorou para que restassem apenas ossos roídos e quebrados. Ele não escondia o orgulho pela mais nova, seu tesouro, fruto de seus esforços mais árduos.
Nem mesmo gostava de lembrar o estado em que ela havia chegado ao Templo de Escorpião, magra e desnutrida, cheia de ferimentos. Apenas agradeceu aos deuses, e a Kheiron de Sagitário, por nenhuma cicatriz ter arruinado seu corpo. Porém, sua mente precisou de mais tempo para se recobrar de tudo. E não havia chá ou remédio que pudesse ajudar quanto aquilo, exceto as infusões que a ajudavam a dormir em determinados dias, quando tinha pesadelos frequentes.
Apenas esperava que, com o posto e as responsabilidades que assumiria, não lhe restasse mais qualquer tempo ou disposição para olhar o profundo abismo de suas lembranças.
– Ágape, já sabe qual o nome que vai dar? – A voz da recém-sagrada Amazona de Ouro tirou a ex-serva de seus devaneios.
– Ah...! – Ela piscou, e olhou para a barriga, acariciando-a. – Não, não sei ainda. Nem mesmo sei se será um menino ou menina. – E olhou para o homem ao lado, apaixonada. – Falta muito ainda. Até lá... apenas podemos esperar.
– E quando nascer? Eu poderei ir visitar? – Questionou a mais nova, olhando para a mais velha.
– Mas é claro! Claro que pode, Antares. Deve! Quero que vá conhecer seu irmão... ou irmã. – Ágape riu e tomou a mão da jovem, colocando em seu ventre volumoso. – Já disse que não vou deixar de amá-la como minha filha porque você é...!
– E... vocês precisam mesmo ir? – A Amazona questionou, olhando da mulher para Scorpio. Seu semblante sorridente diminuindo gradualmente.
– Sim. Os Templos Zodiacais não são um bom lugar para uma mulher e uma criança muito nova, minha criança. – Ele respondeu com um pesado suspiro e riu em seguida. – Além disso, ouvi dizer que filhotes humanos choram muito alto. Vai ser muito problemático para você.
– E será você a mestre dessa casa, Antares. Não é mais aquela menininha, agora é uma Amazona de Ouro de Escorpião. – A ex-escrava suspirou, levando uma mão à marca queimada em seu braço. – Embora pra mim sempre será minha menina.
O ex-Cavaleiro de Escorpião sorriu ao ver aquilo. Um momento de família, algo do qual nunca imaginou que teria um dia, tampouco se arrependia. Desejava apenas um pouco mais de tempo ali, com aquelas duas, entretanto, a necessidade de mudança era maior. Não queria submeter a mulher que esperava sua criança a uma viagem com riscos à sua saúde.
Ele ergueu os olhos vermelhos discretamente, focando a entrada daquela sala. A sombra de Ganimedes de Aquário estava parada no umbral da passagem, apenas esperando.
– É lamentável que o tempo corra quando estamos tendo bons momentos com pessoas que amamos, mas é hora das duas se recolherem. – O escorpiano disse, e voltou-se para aquela que fora sua serva favorita. – Principalmente você. Deve estar descansada e plena para viajarmos amanhã.
– Sim, eu vou. – Ágape e se levantou, auxiliada por Antares que se ofereceu acompanhá-la. – Não se demore também.
– Boa noite, meu... digo... mestre. – A jovem falou, corrigindo-se.
– Espere! – O ex-Cavaleiro as interrompeu, com um tom surpreso. – De que você iria me chamar, criança?
– Ah... de... meu p-pai. – Ela respondeu tímida, com as faces corando.
O Caçador ficou a olhá-la com um ar brando, embora feliz. Não era sempre que ela o chamava daquele modo, o reservando apenas para quando precisava interpretar um papel, quando lhe era permitido acompanha-lo nas missões. Ainda que a semelhança entre os dois fosse gritante e apenas confirmasse suas palavras. Mas sempre que ela o fazia, aquecia seu coração de uma forma que nunca sentira antes.
– Sabe que poderá me chamar assim sempre que quiser, não sabe... minha filha? – Ele disse, um pouco de titubeante pela falta de costume.
A mulher mais velha não conteve o ar de surpresa e levou a mão aos lábios rosados. Enquanto a mais nova não escondeu o sorriso que surgiu em seu rosto. Despediram-se ali, com um abraço forte de pai e filha, e só então as duas se permitiram sair.
Viram o aquariano junto à porta, com o elmo preso ao cinto e os cabelos claros a cair sobre os ombros, e acenaram para ele. O Cavaleiro as olhou, dedicando-a elas um sorriso conformado, embora satisfeito. Contudo, Antares se desvencilhou de Ágape por um instante e abraçou ao visitante. Ele não hesitou em receber aquela demonstração de afeto, embora temesse aquela nomeação. Beijou a jovem no topo da cabeça e arrumou algumas madeixas dela, antes de se despedir. Não estava ali para aquilo.
Quando as viu desaparecer nas sombras do corredor do Templo, ele voltou-se para o cômodo, onde Scorpio o esperava pacientemente.
Notas Finais
02 – Pollux refere-se à Vila das Amazonas, mostrada na Série Clássica como sendo um espaço restrito para as aprendizes realizarem seus treinamentos
03 – Em Esparta, homens e mulheres são entregues aos quarteis ainda crianças para serem educados e realizarem atividades físicas. Ao atingirem a idade para se casar, as mulheres voltavam para suas casas e recebiam uma educação voltada para o ofício que prestariam – Uma vez que os homens ficavam nos quarteis até a velhice, sendo dispensados apenas para se casar ou quando requisitados por suas esposas. Então, embora houvessem limites, as mulheres espartanas possuíam bem mais liberdade que as mulheres atenienses.
Autor(a): draconnasti
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).