Fanfics Brasil - Capítulo 4 - O Sétimo dos Mares ANKEUS - O Guardião dos Mares

Fanfic: ANKEUS - O Guardião dos Mares | Tema: Saint Seiya, Os Cavaleiros do Zodíaco


Capítulo: Capítulo 4 - O Sétimo dos Mares

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O toque de suas mãos foram suaves sobre seu peito. Eram dedos delicados que passeavam por seu peito e desenhando seus músculos. Desciam cuidadoso por seu flanco, ganhando seu abdômen. Contraiu seus dedos, arranhando-o de leve. O seu rosto estava bem próximo ao dele, sentindo sua respiração falhar. Sorria.


Os lábios dela tocavam em sua face em beijos suaves, seguindo para sua boca e roçando a dele. Recuou alguns poucos centímetros quando o sentiu reagir ao seu toque com um gemido silencioso. Em seu ouvido ele apenas ouviu o sussurro de seu nome: Ankeus.


O corpo dele estava nu, coberto apenas por um fino lençol sobre a cama de tecido acetinado branco. Conforme ela descia com sua mão, mais ela acabava por expô-lo, enquanto que com a outra tocava seus cabelos cor de vinho e limpando-o de sua face. Ela apreciava seu perfume, o tocava de leve até não mais resistir e tocar seus lábios.


Primeiro com a língua antes de tomá-lo com avidez, sendo imediatamente correspondida. Sentiu uma mão dele tomar seus cabelos, puxando-a para mais junto dele. Ankeus era capaz de sentir a língua dela dançar no céu de sua boca, arfando. Ele, vagarosamente, abriu os olhos.


No segundo seguinte, o beijo foi abruptamente interrompido quando ele a puxou pelo cabelo, expulsando-a. A reação estava longe de ser um jogo, mas algo realmente agressivo da qual a assustou, fazendo-a reagir descrente do que ele fazia. Tentou balbuciar algo, mas foi ele quem ganhou voz:


 


— Quem é você? — indagou Ankeus olhando para a mulher sobre ele, seus olhos faiscando desejo.


— A-Ankeus... — falava ela, olhando-o com medo. — S-Sou eu... Suiya...! — Os lábios dela tremiam enquanto falava, os olhos brilhando, lacrimejando. — E-Eu... Eu estava... preocupada com você...


— E como chegou aqui? — questionava ele insensível ao que via.


— N-Na praia... Eu achei um caminho... e fui... t-trazida... aqui...  — dizia engolindo o medo. Não piscava, nem mesmo desviava seus olhos dele. — Por... f-favor...


— A quem quer enganar? — e puxou ainda mais seus cabelos, conseguindo um gemido de dor. — Vou te dar mais uma chance ou arrancarei essa sua cabeça. Quem é você?


— A-Ankeus... — ela o chamou num fio de voz, e um brilho reluziu em seus olhos.


O que aconteceu naquele segundo foi o corpo da mulher que estava sobre Ankeus, na cama, projetar-se para um canto do quarto. Os seus olhos ainda brilhavam, mas não de clemência e medo, mas de espanto. O seu semblante ganhara um ar sério, levemente nublado pelos cabelos emaranhados. Sentiu algo queimar em sua face e tocou-o, percebendo um arranhão na maçã do rosto.


— V-Você ... me feriu...? — dizia enquanto via os dedos sujos de sangue, voltando-se para ele. — Como pôde...?


Ankeus se levantava da cama, removendo o lençol que cobria seu corpo sem qualquer vergonha de sua nudez. A sua mão direita estava escamada, os dedos com aquelas membranas e exibindo garras afiadas que, pouco a pouco, voltavam ao normal.


Reagiu instantaneamente ao ver aquele brilho nos olhos dela, mas vendo-a desaparecer no instante seguinte. A expressão de outrora da mulher tinha dado lugar ao espanto e desdém, ainda que coma a aparência da lemuriana.


— Chega disso... Você não é Suiya! — interrompeu Ankeus levando a mão aos cabelos. — Quem acha que está enganando... Lymnades?


A reação dela foi um suspiro. Levou a mão suja de sangue à boca, lambendo-o, depois aos cabelos castanhos que, ao toque e a maneira como os arrumava jogando para trás, deu lugar a um platinado levemente azulado caindo em ondas desgrenhadas. A pele levemente bronzeada tornou-se pálida, quase branco, e seus olhos um azulado quase prateado. Os lábios tinham um mesmo tom e desenhava um sorriso malicioso.


— Uma pena... — dizia lambendo os lábios, sorrindo em seguida. — Seria divertido se aceitasse.


E caminhou pelo quarto, como se desfilasse, até uma mesa onde havia frutas, vinho e pães postados. Ela tomou um cacho de uvas em mãos. O timoneiro também lançou um olhar à mulher por cima dos ombros.


Lymnades tinha um corpo esguio e curvilíneo que a transparência de seu vestido permitia ver. O seu quiton era preso somente um dos ombros e o restante do tecido caindo por suas costas com as ondas de seu cabelo. Tinha seios médio, mas firmes, realmente tentador.


A Marina, por sua vez, também contemplava o físico dele, admirada pelos músculos definidos das costas, pernas. Mordiscou os lábios, vendo-o se vestir no reflexo fosco do espelho.


— Como sabia que não era ela? — disse saboreando uma uva, ainda de costas para ele.


— Você beija muito mal...! — respondeu ele sem cerimônia e voltando-se para ela, já vestido. — E conheço bem o toque de Suiya. O seu... é frio.


Ela riu daquilo, voltando-se para ele. Se a intenção de menosprezo dele fosse irritá-la, a sua reação foi minimamente inesperada — embora aquilo foi indiferente a ele. Ela ainda se mantinha próxima à mesa, vendo-o se aproximar e olhar os pratos, mas acabando por se servir de vinho e tomar num só gole a primeira taça. Encheu novamente e desta vez tomando goles mais moderados.


— O que quer aqui? — questionou ele passando a mão nos cabelos. — Acaso é costume de vocês virem sem ser convidado?


— Curioso que os ferimentos provocados pela Lança Dourada de Chrysaor não ficaram visíveis... — disse olhando em direção ao peito dele, parcialmente coberto pelo quiton. — Os cortes dele são sempre profundas, mas não vejo sequer uma linha... — e arqueou o semblante. — Nem mesmo ao toque...! — e ameaçou tocá-lo novamente, mas percebeu seu recuo e recuou sua mão. — Como é arisco...


— Ainda não me respondeu o que a trouxe aqui. — disse Ankeus fitando-a incisivamente. Tinha um semblante sério e carregado, seus olhos fulminando a Marina diante dele.


— Primeiro vim movida pela curiosidade sobre sua performance contra Chrysaor.... — respondeu enquanto se sentava na cama e cruzando as pernas, exibindo o quão torneadas e belas eram apesar da palidez da pele. — Aliás, os soldados estão comentando sobre isso, principalmente aqueles a serem guiados por você.


— Também era sua curiosidade molestar-me enquanto dormia se passando por outra pessoa? — indagou Ankeus arqueando o semblante com um sorriso de canto enquanto sorvia seu vinho.


— Admito que não foi minha intenção, mas não consegui evitar de 'ver'', então pensei... — e deu os ombros olhando um ponto qualquer do quarto e voltando-se para ele novamente. — Por que não? Pareceu gostar de início...


Ankeus ficou sério, desfazendo o sorriso de poucos instantes e bebendo o restante do vinho. Deixou a taça sobre a mesa e cruzando os braços fortes sobre o peito. Realmente, havia quase se animado com a ideia de realmente ser Suiya. Não sabia exatamente quanto tempo estava ali, pois o tempo parecia correr de maneira ímpar e deixando-o perdido sem noção dos dias que chegara ali.


— O que... você... quer... aqui... Lymnades? — questionou Ankeus já se enfurecendo com aquilo. — Diga logo ao que veio aqui.


Ele viu um sorriso de satisfação daquela mulher que balançava a perna sem desviar o seu olhar sobre ele. Ela havia conseguido seu intento, ou parte dele.


— Vim buscá-lo. — disse somente. — Vista-se adequadamente porque eu o levarei ao Templo Branco.


— E quem vou confrontar desta vez? — disse descruzando os braços. — Os passeios de vocês são um tanto tendenciosos.


— Vista-se! — ela riu suave, levantando-se da cama e buscando um himation e entregando-o. — Estou aqui para levá-lo a alguém que deseja vê-lo.


 .


.


.


A viagem até o Templo Branco seguiu um caminho diferente daquele seguido por Ankeus desde então. Em sua chegada cruzara ruas como se viesse do baixo ao alto distrito. Quando Chrysaor apresentou parte da cidade, nas proximidades do centro de Atlantis, não havia se dado conta dos caminhos circulares que percorreram por cortar ruas. Naquele momento, era diferente.


Novamente cruzaram o grande portão de onda e o grande tridente na entrada, mas havia algo diferente. Os muros eram mais altos e seguiram a uma extensa ponte em linha reta. Naquele ponto, tudo parecia ser feito de conchas, corais e madrepérola.


Abaixo da plataforma por onde passavam, imensos canais com grandes criaturas marinhas, algumas das quais mais pareceram com pessoas, se banhando, aos olhos do marinheiro. Alguns barcos e veleiros passeavam por ali, transportando grupos de pessoas para algum ponto do outro lado da margem.


Na medida em que se aproximavam do grande prédio, estátuas de cavalos e criaturas meio-homens e meio-peixes enfeitavam as muradas e pilastras. Algumas delas, cumprindo uma função adicional como fontes, derramavam fios de água em espaços reservados para aquilo.


— Estamos entrando na Acrópole de Poseidon. — disse Lymnades acompanhando Ankeus em sua biga. — Ou o Santuário de Poseidon  como muitos Atlantis assim o dizem por ser sua morada.


— Toda a cidade foi construída à sua volta...? — perguntou Ankeus surpreso com aquilo.


— Sim. Atlantis foi centrada em uma colina ao Templo de Poseidon, numa série de círculos concêntricos de canais à sua volta. — explicava ela de maneira didática. — À sua volta ficam os Sete Pilares...


— Representando os Sete Mares, cada um com seu General Marina. — lembrou Ankeus da explicação de Chrysaor, e Lymnades assentindo. — Mas, como isso é possível? Quero dizer...


— Está perguntando como Atlantis consegue cobrir todo o mundo? — ela arqueou o semblante. — Atlantis é o que é pela vontade de Poseidon. Os Pilares não são meras construções, mas projeções de suas cidades, centradas em suas devidas localizações. Não estamos tão distantes, mas não estamos tão próximas.


Aquilo confundiu Ankeus, fazendo-o franzir o cenho e voltar-se para frente. Poderia perguntar mais sobre aquilo, mas ficara imensamente impressionado com o conjunto de templos e palácios que viu surgir como revelado meio uma névoa. Eram todos num branco impecável apesar de sua mistura com rochas e adornados em ouro, com os detalhes e bustos em Oricalco como o colosso da deidade sobre o mais alto templo do monte: o Templo de Poseidon.


— Aquele... — apontou para o templo no ponto mais alto —  É o Grande Templo,  onde o Senhor Poseidon recebe seus Generais Marinas e reúne seu exército, onde o aguarda. — pontuou Lymnades e guiando-o até às escadarias. — Aquele templo menor é o Templo Branco, particular de Poseidon e de sua esposa Amphitrite.


Ankeus engolia a seco olhando para o templo mais acima. Não tinha palavras a dizer naquele momento. Subiu alguns degraus, mas estava sozinho. A Marina não o acompanharia a partir dali, desejando-o apenas 'sorte'.


 


Guiado pelo templo, foi deixando numa grande varanda circular, podendo contemplar uma vista panorâmica da acrópole e sua construção como bem havia dito Lymnades. Era realmente admirável, principalmente quando era possível ver outras 'pontes' ligando aos pontos mais distantes e conectando-se como uma grande teia. Mesmo distante era possível ver os grandes pilares dita pelos Marinas, sendo aqueles a representar os Sete Mares.


Quando vislumbrava cada uma delas, pairou sobre um grande pilar naquele ponto central, chamando sua atenção. Desceu as escadarias próxima ali em dois níveis e seguindo por um grande corredor de templos até outro grande pátio. Era um obelisco gigante e imponente.


— Chamam-no de 'O Grande Pilar'... — soou uma voz feminina, suave e atraente, como se fosse um canto.


O timoneiro sentiu o coração acelerar naquele momento e suas pupilas dilatarem como se encantado por algo. Virou-se lentamente para ver quem se aproximava. Era uma bela mulher de longos fios que mesclavam entre o louro e o negro que desciam pelas costas. Os olhos eram fundos, parecendo tristes, mas também centrados. Usava também uma escama que mais lembrava um vestido por conta de seu saiote até pouco acima do joelho — o que era um pesar já que mostrava ter um corpo esguio.


— Eu o chamo de o Pilar de todos os pilares, uma vez que seja ele a ser o grande suporte central, feito unicamente de oricalco. — ela sorriu, piscando sutilmente esperando que ele perdesse certo 'encanto', e pareceu surtir efeito. Ankeus piscou aturdido, olhando à sua volta. — Não foi minha intenção deixá-lo assim, embora muitas vezes seja algo quase impossível evitar.


— Você é...  — indagou um Ankeus ainda levemente desorientado.


— Sou Syreni, uma das Generais de Poseidon. — e ela o viu virar os olhos. — Acalme-se, Timoneiro da lendária Argo... Não estou aqui para confrontá-lo como qualquer um dos outros, apenas conhecê-lo já que a primeira vez não foi assim tão formal.


— Primeira vez? — ele franziu o cenho estranhando aquilo. — Já nos conhecemos antes?


— Como disse, não fomos apresentados formalmente. Ainda era um Argonauta, guiando bem próximo a Ilha de Capri quando o vi... e reconheci. — e deu de ombros, passando por ele e seguindo até uma fonte onde se sentou, cruzando as pernas. — Não o culpo por isso uma vez que o momento não foi propício a isso... — e ela fez um assovio, seus olhos brilhando naquele momento, entoando um canto que fez Ankeus paralisar.


"E-Eu conheço esse canto... Ilha de Capri...? Sim...! A ilha das sereias...!", lembrava Ankeus naquele momento. Ele havia substituído Tífis na ocasião, mas  por muito pouco ele e os outros argonautas não foram vítimas daquelas criaturas malditas. Orfeu foi quem as sobrepujou, mas por muito pouco não sucumbiram.


Na ocasião, Ankeus ficara realmente perturbado, mas foi um dos que conseguiu resistir e conseguindo manobrar a Argo para afastá-lo das margens da ilha e seguirem viagem, e como naquela ocasião, resistira aquele 'encanto', ainda que a General à sua frente mesmo tenha interrompido seu canto.


— Você é uma das sereias de Capri...? — indagou Ankeus a fitando cético.


— Não me compare àquelas parasitas... — respondeu com falsa ofensa por aquela comparação. — Elas possuem seus encantos por trás daquelas carapaças, mas nada se iguala às Syrens. — e riu daquilo. — Por um lado é maravilhoso que sejam elas a terem esse reconhecimento enquanto que minhas irmãs e eu conseguimos algumas vantagens.


Será mesmo as sereias as parasitas? — falou Ankeus interrogativo arqueando o semblante.


— As sereias são ótimas predadoras, mas péssimas estrategistas. Sendo assim, um acordo que ajudou ambas as partes, e todos saem ganhando! — sorriu para ele. — Mas aquele humano… ele realmente… conseguiu encantar a mim com sua canção… e achei que jamais… achei que isso seria impossível… e somente por isso sobreviveram.


— Então foi para isso que me chamou aqui? — questionou ele. — Para me dizer que sobrevivemos naquele dia porque você quis?


Syren levou um dedo ao rosto, parecendo pensativa. Olhou de um lado para o outro, balançando o corpo suavemente, antes de finalmente voltar a fitá-lo.


— Sim! — Ela respondeu com um sorriso cínico em seu rosto. — Embora eu o tenha acompanhado desde então e relatando suas façanhas a quem o convidou… e o ajudou para que não tivesse o mesmo destino do antigo timoneiro da Argo. — sorria maliciosa, balançando a perna.


Ankeus pensou dizer algo, abrindo e fechando a boca quando seus sentidos e lembranças o alertaram para aquele detalhe. Uma presença imponente se fez presente naquele momento. Syren levantou-se e curvou-se para frente, ajoelhando-se com a cabeça baixa.


“Essa presença… Então, quem me chamou aqui foi…”, e antes que pensassem em se virar, um homem de aparência jovem de não mais que 25 anos pairava ao seu lado. Era alto, em seus 1,90m, tinha longos cabelos lisos num castanho dourado jogados para trás. As suas feições eram sisudas, um rosto quadrado, olhos amendoados levemente caídos, mas muito expressivos. Ankeus já o tinha visto antes. Era Tritão, o filho legítimo de Poseidon.


Quando menos percebeu, também estava a se ajoelhar, certamente influenciado por aquela presença e poderosa Cosmo-energia que ele emanava. Levantou-se somente quando viu a General assim fazer, acompanhando-a, sem deixar de contemplar aquela figura ao seu lado.


— Então, aqui está o Sétimo… — disse ele num tom grave, diferente do que sua imagem parecia querer mostrar. — Aquele que se mostrou mais digno dentre todos os filhos humanos de meu pai? — e se voltou para Ankeus, olhando-o de cima abaixo, estudando-o. — O escolhido dentre os humanos a ocupar uma posição de poder entre os Marinas…?


— E-Escolhido…? — balbucionou Ankeus ainda encantado e perplexo.


— O Imperador dos Sete Mares, Poseidon, escolheu um de cada de seus leais seguidores para uma posição de prestígio para seu Império. — respondia Syreni após a permissão de responder aquilo. — E ficou decidido que o Sétimo este seria ocupado por uma criatura humana, e você foi o escolhido, Ankeus.


— E devo admitir… — dizia Tritão caminhando alguns passos e voltando-se para o Timoneiro. — Que estou quase me convencendo e concordando com a decisão de meu pai. O seu sangue divino parece responder mais às suas origens. É um conhecedor dos mares nato, resistiu à intimidação de Scylla na praia de Lemúria e ao golpe de Hippos que teria esmigalhado um corpo humano qualquer, mas foi capaz de absorver esse dano, mostrando uma resistência muito superior... — e riu daquilo, fitando-o nos olhos pela primeira vez. — E contra Lymnades? Foi capaz de ver além de seus olhos, não se deixou enganar pela ilusão de suas próprias lembranças, o que não o torna assim... tão vulnerável ou facilmente influenciado.


Em outros momentos Ankeus estaria regozijando por aquelas palavras, orgulhando-se pelo que soava um lisonjeio, mas não sentia nada senão desconfiança sobre onde Tritão queria chegar. Até aquele momento sentia estar sendo testado por cada um dos Marinas, a começar há muito pela própria Syreni quando ainda um Argonauta.


Desde então fora submetidos a inúmeros riscos como ficar à deriva sem uma terra à vista, aos mais diversos ataques de criaturas marinhas, principalmente após sua 'transformação' da qual nem mesmo Suiya tinha conhecimento. Apenas uma pessoa sabia disso.


— Porém... — continuou Tritão, despertando Ankeus de seu devaneio. — Nada disso foi suficiente para me convencer do porquê meu pai escolhê-lo para se tornar o Sétimo. Afinal, tudo isso são vantagens de seu sangue divino... — e suspirou, caminhando alguns passos, empurrando o himation e deixando os braços  fortes à mostra, o bracelete talhado do pulso até meio o braço ostentando uma riqueza peculiar. — Isso até ver, com meus próprios olhos, sua luta com Chrysaor. — e riu contidamente, olhando para Ankeus sobre os ombros. — Sim, isso foi realmente impressionante de sua parte, Ankeus. Aquilo sim foi digno de um Sétimo.


Os olhos de Ankeus estavam sob Tritão naquele momento. Ele teria sido o responsável por seu duelo contra Chrysaor por um mero capricho para se convencer de sua nomeação? A luta entre os dois estava longe de um mero teste, mas um forte duelo onde cada um estava a testar seus limites. Começara como um simples embate, mas saíra do controle de ambos.


"Por que não paramos de falar e vamos direto ao que nos interessa, Chrysaor?"


Foram as palavras de Ankeus para com o General Marina que o desafiara, gerando uma luta ainda mais intensa. Não era um ensaio, mas verdadeiramente uma luta onde um único erro poderia provocar graves ferimentos ou mesmo a morte de um deles.


Entretanto, era o chamado 'Sétimo' que estava em desvantagem naquela luta. A lança usada por Chrysaor era uma arma poderosa, enquanto do timoneiro tinha apenas uma lança comum servindo somente para ajudar nos bloqueios. Toda a ação dependia unicamente dele, aguardando o momento exato para sua investida.


Num milionésimo de segundos, fincou sua lança no chão e ganhou impulso para o alto e saltando frente ao meio-irmão. Chrysaor percebeu o plano do seu oponente e virou-se cortando o ar em meia-lua contra ele, mas caiu no vazio. Quando fez o movimento de volta, surpreendeu-se de ver a imagem de uma grande serpente marinha, com sua bocarra aberta e seus olhos reluzentes.


"Isso é... um dragão marinho...?!!", pensou Crysaor surpreso com o que via. O seu golpe havia sido anulado, restando Chrysaor saltar para trás de modo esquivar-se do golpe. Uma névoa surgiu à sua volta, e a lança fincada no chão ficara corroída até desintegrar-se.


— Uma nuvem corrosiva...! — comentou Chrysaor olhando à sua volta, girando rapidamente a lança e expulsando aquela névoa que encobriu Ankeus, percebendo-o se levantar do chão e caminhar lentamente em sua direção. — Espetacular...! Achou que poderia me distrair com essa nuvem tóxica...? — e calou-se com o que viu.


Ankeus surgia à sua frente, com todo seu corpo ainda escamado, seus olhos reluzentes, como se o Cosmo emanasse de suas órbitas. O braço estava pouco maior que o normal, as mãos exibiam uma membrana entre os dedos e garras afiadas. Parou meio à névoa enquanto seu corpo novamente voltando à sua forma de antes.


— Então é verdade...! — Chrysaor falava maravilhado, jogando sua lança para trás do corpo, mas mantendo a postura de combate. — Por isso resistiu ao golpe de Hippos, transformando-se na própria serpente dos mares. Nenhum humano suportaria um golpe com aquele com o corpo nu, mas agora... tudo faz sentido...!!


— Até onde quer chegar com isso, Chrysaor? Espera que destrua sua lança? — disse Ankeus arqueando o semblante, confiante.


— Quebrar a minha lança...?! — Chrysaor gargalhou alto, mas aquilo não pareceu intimidar em nada Ankeus. — Acha mesmo que seja capaz de quebrar essa lança sagrada, Ankeus? Não faz ideia do que ela seja feita ou jamais pensaria em tamanha bobagem...


Um movimento, e a lança estava diante do corpo do General Marina, com seu fio reluzindo para em direção do timoneiro parado à sua frente. Chrysaor empunhava sua lança orgulhoso, contemplando-a em sua beleza e em sua força e mito.


— A minha espada por si só era uma excelente arma, mas estava longe de sua perfeição... — e moveu a lança como se fosse aplicar um golpe, mas sendo uma mera manobra de exibição. — Porém, o meu pai a tomou, e junto com lasca do escudo de Athena obtida na guerra contra os Gigas e unida à lança de Ares. Forjada pelo próprio Hefesto, nasceu essa lança. — Chrysaor sorriu. — Você é o primeiro quem conseguiu anular o golpe, mas não fique tão confiante nisso.


Ankeus nada respondeu, senão colocar-se de maneira defensiva. Estava sem qualquer arma naquele momento, o que o tornaria mais vulnerável aos ataques e contra-atacar menos. O seu plano se tomar a área com gás tóxico não surtiu o efeito necessário. Ele fora rápido e ágil em fugir, mas agora via que não seria suficiente para incapacitar aquela arma forjada por um deus.


"Um golpe daquela arma e poderei morrer! Não acredito que ele possa chegar a tanto, mas não posso me garantir nisso. Preciso encontrar uma maneira de derrotá-lo ou ganhar uma única vantagem sobre ele", pensava ele esperando a nova investida do Marina.


Os dois ficaram a se encarar por longos minutos, até que Chrysaor moveu sua lança, segurando-a com as duas mãos apontando para em direção de Ankeus para seus inúmeros golpes. A cada lampejo na ponta da lança eram múltiplos ataques contra o timoneiro que restava somente esquivar-se, mas algo parecia estranho.


"Os golpes parecem mais rápidos e intensos... essa luz... ela está...", dizia, quando um forte lampejo o cegou fazendo-o retardar sua esquiva e sentir um corte queimá-lo na altura da costela e fazendo-o cair para o lado. Salvo apenas por conseguir calcular e apoiar-se no braço, saltando para mais longe. Era um corte cauterizante.


— Não há tempo para se lamentar! — disse Chrysaor movendo a lança numa meia lua, mas não uma única vez, mas três vezes, sendo duas na diagonal fazendo um X no ar e cortando todo o espaço de Ankeus que arregalava os olhos. — VEJAMOS O QUANTO PODE RESISTIR!


Os olhos de Ankeus reluziram naquele momento, e não somente seu corpo tornou-se a pele de um dragão como o próprio se tornou novamente uma serpente marinha. Desviava dos golpes com uma graciosidade que fez Chrysaor olhá-lo maravilhado, mas sorrir cruelmente para um último golpe, esse vertical contra o corpo do timoneiro que o cortaria ao meio.


O urro dado pelo mesmo ecoou por toda área, chamando a atenção dos Marinas nas proximidades que vigiavam a arena onde acontecia o confronto. Até mesmo outros Marinas sentiram aquele forte impacto no Cosmo. Porém, o maior espanto estava para com Chrysaor diante da cena.


A ponta menor de seu tridente fincara no braço de Ankeus, perfurando-o. Caso ele puxasse, rasgaria seu braço fatiando-o ao meio. Estava diante de Chrysaor com seu corpo banhado em sangue, com cortes mesmo sob sua pele escamada, algumas partes tomada de corais que ajudavam a conter o sangramento. Uma poça de sangue já se fazia debaixo dele. Não havia temor em seus olhos, apenas obstinação, ao contrário de Chrysaor que parecia perplexo com o que estava diante dele.


Quando pensou em remover o tridente, foi o aspirante à Marina que jogou o braço ferido para baixo trazendo junto o tridente, e antes que Chrysaor o puxasse, foi o Ankeus a fazê-lo segurando em seu cabo, trincando-o com a força empregada naquele ponto. A surpresa daquilo foi tão grande que nem mesmo o General Marina sentiu quando foi empurrado e depois arremessado para o alto impulsionado por sua arma. Conseguiu cair em pé, mas sem sua Lança Dourada. Esta havia sido fincada no chão, marcando o meio da arena que os dividia naquele lugar.


Ankeus arfava, estava no seu limite, mas pretendia mais um golpe. Porém, Chrysaor sorriu e o reverenciou, curvando-se para ele. O timoneiro não compreendeu o que aconteceu naquele momento, somente que sentiu grande peso em seu corpo e perder os sentidos.


— Eu apaguei por alguns dias... — comentou Ankeus lembrando do ocorrido, os olhos inquietos como se buscasse na memória alguma evidência daquele momento. — Antes, no entanto, vi que alguém se aproximava, mas perdi os sentidos antes que pudesse ver quem era. — e voltou-se para Tritão após um breve piscar de olhos. — Então...


— Chrysaor seguiu exatamente minha ordem. — comentou Tritão muito calmo, concluindo o raciocínio de Ankeus de maneira desdenhosa. — Sei que foi treinado por um Comandante Celestial e queria colocar isso a prova. A sua transformação foi uma grande surpresa. Syreni já havia me relatado sobre isso, mas queria ver com meus próprios olhos.


— Ah, é? Pensei que aquilo fosse segredo. — o timoneiro rebateu com acidez. Na ocasião em que fora levado para o Mundo Celeste, haviam feito sua mãe guardar segredo sobre aquilo, e reforçaram isso a ele, que na época ainda era uma criança. — Ou eles tem a língua solta ou vocês são muito bisbilhoteiros.


E, tinha certeza de que, se alguém abriu a boca a respeito daquilo, o seu mestre certamente costurou a língua do delator com os intestinos dele. O “Grifo”, como era chamado por alguns, não era lá muito tolerante com traições e desobediências.


— Quem acha que intercedeu para que fosse treinado no Mundo Celestial? — Tritão arqueou o semblante quando voltou-se para o jovem desenhando um gracioso sorriso cínico. — Ou acaso se esqueceu que foi graças a mim, quem os orientou qual caminho tomar em direção ao Mediterrâneo? — riu com aquilo. — Pode ser um grande navegador, Ankeus, mas ainda lhe falta perspicácia. Como um guerreiro mostrou seu valor, mas precisa ser melhor... lapidado.


— Ah… “lapidado”? — Ankeus comentou, assentindo com a cabeça. — Devo supor que você tem me “moldado” por esse tempo todo, desde o dia em que o Grifo chutou o meu traseiro.


— Parece que terá de aprender a ter bons modos também… — fez uma careta e virando os olhos. — Aprendeu o suficiente, mas mostrou-se ser bem independente ao longo desses anos, sendo um autodidata… Quanto ao seu mestre, não perdeu lá grandes coisas. — e voltou-se para Syreni. — Deixarei que ela cuide de sua boa educação, pois não fica bem um General com um linguajar tão baixo. Antes do sangue divino, possui uma linhagem nobre. Deveria portar-se como um. — e caminhava para deixá-los, mas voltando um passo. — Até mesmo aqueles gêmeos sabem ser mais educados. Deveria ter aprendido com eles. — e sorriu, deixando-o por fim.


— Desculpe se não dei sorte de ter nascido em um berço de ouro, como aqueles dois. — o timoneiro fingiu lamentar e virou-se para a General Marina. — E então? Espero que suas aulas não envolvam canto, assim como as do Grifo envolviam usar um de seus “adoráveis” discípulos como alvos.


Syreni apenas arqueou o semblante, convidando a acompanhá-la. Ela fez um único movimento e sua indumentária deixava seu corpo meio um grande brilho. Ankeus se surpreenderia ao perceber que se passaria como uma humana se não fosse um detalhe. Suas pernas, embora escuras e enrugadas, tinham uma beleza singular. As coxas estavam suavemente projetadas para a frente, tendo seus joelhos a tocarem o tecido. Nos pés, nenhuma sandália, somente os dedos longos, terminados em garras negras e luzentes, levemente curvadas como ganchos.


O seu vestido era um adorno no pescoço que prendia ao tecido sobre os seios, mas lembrando uma placa de escamas douradas que descia pelo abdômen traçado até um cinto de mesmo modelo preso numa concha. Um tecido leve com adornos descia à frente, deixando duas lascas em cada lado da perna. Nos braços longos, diversas amarras como do peito, do ombro ao pulso, deixando as mãos livres.


— Já ouvi falar das Sirens... — comentou Ankeus sem disfarçar em estudá-la. Diferente de Lymnades ou mesmo Scylla, ela não paeceia envergonhar-se de sua aparência. — Por que está aqui? Achei que fossem mais...


— Humanas? Éramos ninfas, guardiãs de Perséfone, filha de Deméter. — comentou ela olhando para Ankeus, continuando a caminhar. — Como líder delas, assumi a culpa e fomos punidas pela própria deusa por não sermos capazes de proteger sua filha de ser levada para o Submundo, sendo amaldiçoada por isso. Acabamos por nos isolar em Capri... esquecidas...! — narrava com certo rancor, olhando para frente. — Isso até que Poseidon nos aceitasse e jurarmos lealdade a ele. — e voltou-se para Ankeus. — Como sua 'rainha', fui escolhida como a Terceira General, atrás de Hippos e Kraken, criações do próprio Imperador dos Mares.


— Ainda não entendo o porquê de tudo isso. — comentou Ankeus caminhando junto à ela, mas logo se afastando e levando a mão aos cabelos. — O que Tritão quis dizer com sendo Sétimo?


— O Sétimo Guardião dos Mares, o último dos Generais Marina.  — respondeu ela pacientemente e mantendo seu olhar sobre ele, piscando insistentemente. Ankeus não havia percebido, mas seus olhos era como de uma ave de rapina. — O Senhor Poseidon está a preparar seu exército contra Athena, alguém com quem possui uma forte divergência.


— Contra... Athena...? — Ankeus se voltou para a mulher, querendo dizer algo, mas não sabia sobre o que exatamente dizer. — Mas... por quê? E-Eu já ouvi falar sobre ela ser a escolhida de Zeus e a governar a Terra, segundo os Aedos em suas histórias cantadas, do embate de Poseidon com a acrópole, mas...


— Athena confrontou Poseidon diversas vezes, e da Acrópole é apenas um dos diversos embates em que se envolveram, mas há muito mais que isso. — comentava Syreni olhando Ankeus. — Não o culpo que não saiba, mas por conviver bem mais próxima aos deuses, tenho um conhecimento mais amplo das divergências que o levaram a essa tensão entre eles, mas há muito ela o tem desagradado... desafiado e colocando sua soberania em questão com muitos povos.


— E está reunindo um exército para uma guerra. — concluiu Ankeus, vendo Syreni abrir as mãos e concordar com suas palavras. — Nunca tive nada contra ou a favor de Athena, mas porque lutaria contra ela que, segundo cantam, luta pelos humanos... sendo eu um deles? — e arqueia o semblante, sentando-se num banco próximo.


— Realmente... — Syreni inclinou a cabeça, olhando para um lado e piscando ao voltar-se para Ankeus. — É uma questão pertinente para alguém como você. É o único humano dentre nós, com sangue divino... — disse abrindo os braços, caminhando alguns passos enquanto parecia refletir sobre aquilo. — Poseidon tem perdido muitos de seus seguidores para com Athena, e seu recrutamento talvez busque uma maior aproximação àqueles que resistem, para que vejam que eles tem voz junto à sua divindade.


— Em outras palavras: eu ser uma ponte entre Poseidon e os humanos. — sorriu Ankeus com certo desdém. Bateu com a mão na coxa, levantando-se e meneando negativamente quanto aquilo. — Isso não é o bastante para mim.


— Você sempre me pareceu devoto a ele. — comentou ela, vendo-o passar por ela, mas parar às suas costas. — Não fico limitada aqui. Sou os olhos de Poseidon sobre a Terra e muitas vezes o vi cumprindo seus ritos nas praias onde desembarcava. Jamais deixou de estar presente nas Festas das Águas em Lemúria e até mesmo pediu por seu amigo, suplicando em prantos, que fosse salvo do terrível mal que o matou.


Ankeus fechou o punho ao ouvir aquilo, sobre ela falar de seu amigo, Shiloh, irmão de Suiya. Em suas viagens buscando a cura do amigo cruzando os mares atrás de bruxos, curandeiros e quem mais pudesse ajudá-lo, mas jamais encontrou a cura para a enfermidade do amigo.


— Ele sempre foi um grande devoto de Poseidon e... — ela hesitou continuar aquelas palavras, e Ankeus percebeu isso ao voltar-se para ela. Os seus olhos de rapina pareciam perscrutar à sua volta, girando seu corpo e aproximando-se do timoneiro como se fosse confidenciar-lhe um segredo. — Você não foi uma mera escolha, mas um pedido de alguém que acreditava num anônimo navegador digno de ser o ‘Príncipe das Águas'. — sussurrou ela, afastando-se. — Pense sobre isso. Ainda tem alguns dias até que possa se decidir, Ankeus.


Ele ficou ali, parado, estarrecido. Girou bruscamente para em direção de Syreni que se afastava com aquelas palavras ecoando em sua mente: "Eis que chega o Príncipe das Águas!!".


Shiloh era o único a chamá-lo daquele modo.



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Autor(a): katrinnae Aesgarius

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