Fanfic: ANKEUS - O Guardião dos Mares | Tema: Saint Seiya, Os Cavaleiros do Zodíaco
Os passos ecoavam conforme descia os degraus para a cabine pessoal. Novamente o encontrou vazio como todos os dias anteriores, com a cama desarrumada e cada pertence em seu lugar de antes. Nada havia mudado. Ainda assim, ela o chamou, em vão. Nenhuma resposta, nenhum sinal de que esteve ali.
Suiya respirou fundo olhando à sua volta e voltando para o convés. Procurava por todo ele esperando que ele surgisse com seu largo sorriso e tomando-a nos braços, mas há semanas não compartilhavam o calor um de outro.
— Nenhum sinal dele, não é mesmo, Suiya? — comentou Carel, o jovem ajudante no porto carregando uma caixa e deixando num canto qualquer. Olhava Suiya debruçada na borda do barco e com um olhar triste e perdido na água. — Eu andei perguntando pelas tavernas, centro comercial... Todos estão preocupados com Sr. Ankeus, perguntando o que aconteceu.
— Eu não sei mais onde procurá-lo, Carel. — ela se voltou pra ele, com a voz pesarosa. — Visito a praia a cada amanhecer e entardecer, esperando para ver se ele aparece... — e se coloca ereta, olhando para o convés. — Venho aqui esperando encontrá-lo dormindo... — e meneia negativamente. — E nada! Não há um único rastro dele. Ele simplesmente... desapareceu!
— Ele não partiria sem seu barco. — comentou o garoto olhando para a embarcação, com algumas ferramentas ainda espalhadas. — Ele sempre teve muito ciúme disso aqui. Nem mesmo outros navegadores o viram.
— Algo me diz que foi naquela praia... no Ninho. — comentou Suiya olhando em direção à praia dos ninhos rochosos. — Sinto que algo aconteceu ali... Nada me tira isso da cabeça.
O rapaz olha para trás como se procurasse por algo ou alguém, aproximando-se de Suiya e parecendo confidenciar algo, sussurrando:
— O Sr. Óclis ainda está bastante injuriado por quem quer que tenha feito aquilo com os ovos de dragão na praia. — comentou o rapaz, chamando atenção de Suiya. — Ele disse que vai matar com cometeu tamanha heresia.
A jovem riu daquilo.
Assim como todos os dias visitava o barco para saber do retorno de Ankeus, ela presenciava o lamento do senhor no porto quanto aos 'seus ovos de dragão que tanto ansiava ver chocarem ao amanhecer'.
Era comum sempre vê-lo na praia ansiando por aquele momento, mas naquele dia chegara um pouco mais tarde e encontrou um cenário de destruição. Coincidentemente, o estrangeiro havia desaparecido naquela manhã, logo após Suiya deixá-lo quando haviam passado aquela noite juntos.
— Bom, volto mais tarde. — disse Suiya fazendo menção de sair, mas voltando-se para o garoto. — Ah, Carel, caso ele...
— Retorne, será a primeira saber. Pode deixar! — comentou ele abrindo um sorriso, vendo-a agradecer por um pedido que fizera sempre nas últimas semanas. — Ele vai voltar, Suiya. Esteja certa disso.
— Assim espero, Carel... Assim espero! — sorriu, se retirando por fim.
Seguiu direto para casa, mais especificamente à oficina do irmão onde ainda estava a arrumar e guardar seus pertences. Desligar-se das lembranças era quase impossível. Ele e Ankeus eram grandes amigos. Ficavam horas trancado naquela oficina conversando e planejando as viagens que jamais aconteceram. Naquele instante, seus olhos pairaram sobre uma réplica do barco de Ankeus e a tomou em mãos, observando a serpente marinha em sua proa.
— Nenhuma notícia dele? — questionou seu pai trazendo alguns cestos.
— Não. — e colocou o barquinho de volta ao lugar. — Carel disse que até os comerciantes estão preocupados. Ninguém sabe dele. — e suspirou.
— Bom, talvez... — deixava o cesto num canto e se sentava, olhando para a oficina. — Tenha surgido algo extraordinário.
— Ele não partiria sem o seu barco. — comentou Suiya certa do que dizia. — Aquela destruição na praia é suspeita, e ele desapareceu naquele mesmo dia! Espero que, onde quer que ele esteja, que fique bem, mas volte...! — dizia Suiya quando se virou para seu pai e encontrando-o contemplativo. — Pai? Aconteceu alguma coisa?
O velho homem tinha um semblante preocupado, um olhar pesaroso para onde Suiya deixara o barco, mas o pensamento longe. Usava os trajes formais de grão-mestre, o Guardião das Relíquias de Lemúria. Quando perguntado, soltou um suspiro e voltando-se para a filha, apontando uma cadeira próxima para que ela se sentasse.
— Acabo de vir do palácio e o rei pediu para levar a orbe de Oricalco para o encerramento da Festa das Águas hoje. — comentou ele, num tom sério. — Entende o que digo?
— A Orbe... de Oricalco? — ela piscou aturdida, sentando-se diante do pai. — Mas ela nunca sai de sua câmara!
— Exatamente, e isso me preocupa. O pedido foi feito pelo rei e que a orbe esteja no campanário. — ele pausou suas palavras, fitando a filha. — Teremos também a presença de Marinas na cidade, no fechamento dos festejos.
— Marinas... a Orbe Sagrada fora de sua câmara...? — ela pontuava as chaves daquela conversa. — Pai, você me disse que a Orbe jamais deixou a câmara, senão...
— Para quando houve a guerra entre deuses e Gigas. — lembrou seu pai. — A Orbe é capaz de guardar uma poderosa energia, um presente do próprio Poseidon, uma relíquia de Lemúria. Sabe o quanto ela significa para nosso povo.
— É uma herança de Mu. O senhor sempre nos contou isso. — respondeu ela com a mão no colo. — Ela foi entregue à linhagem de nossos monarcas como uma herança...
— A última vez que ela foi removida de sua câmara foi para envolver Lemúria numa barreira de proteção durante a Gigantomachia... — e voltou-se para a filha. — Mas também quando é para renovar alianças.
— Não estamos em guerra, estamos? — indagou a jovem mantendo os olhos sobre o pai.
— Preciso que acompanhe a princesa nos festejos de hoje. — comentou seu pai se levantando, não seguindo com aquela conversa. — Preciso me preparar. Não se demore!
Suiya acompanhou o pai se levantando e assentiu. Compreendeu bem o que ele quis dizer. Levou a mão ao colar que tinha e pensando no porquê da presença de Marinas em Lemúria.
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Ankeus contemplava as quedas d’água que transbordavam de alguns pontos estratégicos dos aquedutos do reino de Poseidon. Pensava nas palavras ditas por Syreni e pelo seu novo detestável meio-irmão, Tritão.
Por algum motivo, conseguia achá-lo mais insuportável do que ele havia se mostrado. Em sua mão, o pingente de um antigo colar passeava por seus dedos hábeis. Gostava de fazer aquilo enquanto pensava ou observava distraído para a paisagem.
Porém, em certo ponto, sua distração fora tanta que a peça escorregou e, se não estivesse presa por um cordão em seu pescoço, teria mergulhado para algum lugar de algum canteiro do pátio mais abaixo. Respirou aliviado por aquilo e olhou para a pequena medalha de cor tão brilhante quanto a prata mais pura que já havia posto as mãos. Um presente que Suiya havia lhe dado, tão logo havia começado a se envolver com ela, forjado por Shiloh.
— Aqui está! Tomei a liberdade de restaurá-la. Estava precisando mais que algumas cordas. — comentou um rapaz entregando uma lira.
Ankeus estava parado junto à porta, com os braços cruzados, assistindo Orfeu tomar sua lira embasbacado. Não acreditava na preciosidade que tinha em mãos, no brilho dos seus fios e nos detalhes talhados em cristal. Quando ensaiou uma nota, jamais esperou ouvir um som límpido como aquele e exclamou admiração.
— É sim...simplemente... MARAVILHOSO! — disse ele entoando algumas notas e o rapaz sorrir para o navegador na porta. — Não imaginei que pudesse restaurá-la.
— Troquei os fios por de oricalco. — Shiloh disse orgulhoso, o que fez Ankeus reagir ao ouvir aquilo, desmanchando o sorriso e ficando a ouvir. — São mais resistentes e permitirão um som ainda mais limpo. Restaurei toda a lira e trabalhei nos detalhes há muito perdido. Espero que não se importe.
— Como poderia me importar? Confesso que temi deixá-la aqui, mas... Esta lira foi um presente...! — sorriu, reverenciando o lemuriano. — Obrigado, Shiloh. Ankeus...
— Eu vou ficar e tratar de alguns negócios antes de sairmos em viagem, Orfeu. — adiantou-se o timoneiro coçando a nuca.
— Demore o quanto quiser. — respondeu um Orfeu entusiasmado. — A minha lira e eu temos muito que pôr em dia... — e ensaia novamente uma nova nota antes de se despedir e deixar os dois a sós.
Ankeus aguardou o companheiro argonauta sair, voltando-se para o rapaz à sua frente. Shiloh estava próximo dos 18 anos, um rapaz bonito com feições suaves e traços levemente andróginos não fosse o queixo quadrado. Tinha um olhar que parecia 'sorrir' quando o fechava, com profundos olhos verdes como esmeralda. O cabelo estava sempre preso por uma fita com miçangas metálicas, mas sempre com fios caindo sobre seu rosto igualmente de seu pai, sendo preciso usar uma bandana para que deixasse seu rosto 'limpo' para o trabalho. O corpo era esguio, mas com físico definido. Trajava sempre roupas claras, quebrando o tom com um manto verde que cobria seu tronco e com caimento nas costas.
Ele percebeu o olhar interrogativo de Ankeus sobre ele e riu daquilo enquanto arrumava a mesa onde passara a noite trabalhando na correção da lira. O timoneiro havia explicado que o dano no instrumento se deu quando Orfeu buscou sobrepujar o canto das sereias quando atravessaram, com a Argo, próximo à Ilha de Capri. O jovem lemuriano se prontificou consertá-la até àquela manhã, cumprido com sua palavra.
— Fios de oricalco? — indagou Ankeus olhando o rapaz. — Eu pensei que oricalco fosse uma matéria restrita, Shiloh.
— E é. — respondeu ele despreocupado. — Ninguém precisa saber. — piscou ao completar a resposta, e Ankeus estava pronto para censurá-lo, mas foi imediatamente cortado. — Além do mais, não iria precisar daquele fio já que era sobra de outro trabalho meu e acabaria por me desfazer dele. — e levantou a mão, segurando uma flanela, desculpando-se por aquilo e vendo o amigo cruzar os braços. — Portanto, apenas reaproveitei o material. Além do mais, será bem mais resistente quando cometer outra burrada como a que fez.
— Sei... — comentou Ankeus andando pela oficina, aproximando-se da mesa de trabalho. — Apenas quero evitar problemas pra você, principalmente com seu pai.
— Não se preocupe. — e guardava as ferramentas num cesto, rindo da preocupação do amigo. — Não me fará falta e não gosto de faltar com a minha palavra.
Ankeus virou a cabeça de um lado e para o outro, encontrando um pergaminho meio aberto sobre a mesa e apanhando o mesmo. Percebendo o silêncio do amigo, Shiloh virou as costas, chamando-o. Ao vê-lo, buscou tomar o pergaminho de sua mão, mas o timoneiro desvencilhou algumas vezes na tentativa de ter o que tinha em mãos tomado dele.
— O que é isso? — indagou, e ao perceber o desespero do amigo, ficou a provocá-lo.
— Ankeus, me entregue isso...! — implorava Shiloh, até que fez uso de sua telecinese e removendo das mão do amigo e enrolando.
— Pensei que não podia usar telecinese. Anda burlando muitas regras, Shiloh... — brincou Ankeus, rindo ao ver o amigo corado. — Sério, o que é isso? Parece uma...
— E-Eu estive desenhando uma... espécie de armadura... — e abriu novamente o pergaminho, olhando o projeto em mãos. — Não reconhece?
Ankeus se aproximou, olhando por cima do ombro do amigo, tomando-o de sua mão sem esforço e olhando com mais atenção. Lembrava uma criatura, apesar de suas partes estarem pouco mais afastadas. Notava-se ser uma indumentária com o projeto destacando o que seria cada item. Quando compreendeu o desenho, ficou sério, voltando-se para o rapaz.
— Exatamente! — Shiloh sorriu. — Eu desenhei depois que o vi naquele dia. N... Não saia da minha cabeça, então...
— Você não contou isso a ninguém, não é? — questionou Ankeus visivelmente preocupado. — Shiloh, você prometeu que...
— Não, eu não contei. Dei a minha palavra, esqueceu? — e tocou o ombro de Ankeus, sorrindo. — Levarei comigo para o túmulo! — e voltou olhar para o desenho. — O que achou?
— É... espantoso! — riu Ankeus, olhando novamente o desenho. — Parece um...
— 'Dragão Marinho'. — respondeu Shiloh bem próximo a ele. — É como o nomeei.
Ankeus ficou a observar aquilo por um longo tempo, admirado e encantado da maneira como Shiloh adaptou a ideia da transformação do timoneiro para uma indumentária. Sempre foi um rapaz inteligente e promissor, e certamente viria ser um membro da Ordem.
Aquela oficina guardava muito de suas memórias, seus diversos projetos estavam lá registrados e ele idealizou cada um deles.
Assistiu ele começar a trabalhar naquele projeto, até descobrir que estava doente quando o encontrou desmaiado ao voltar de uma de suas viagens. Estava a tossir sangue e estava a definhar a cada dia. A sua beleza pouco a pouco o abandonava, mas jamais suas forças. Estava a trabalhar com afinco naquele projeto, sem deixar de fazer-lhe um último presente: um colar em forma de uma serpente marinha como a que havia em seu barco. Foi Suiya quem lhe entregou, quando ambos estavam no leito de seu irmão, muito debilitado.
— Acho que teremos de adiar novamente aquela viagem... — comentou ele num fio de voz, olhar abatido e sem o brilho de outrora. — Não tenho estado tão disposto.
— Tudo bem. Na próxima eu te arrasto para o barco. — brincou Ankeus, embora soubesse que jamais faria isso. Suiya estava ao seu lado, segurando a mão do irmão e de Ankeus.
— Ankeus... prometa-me uma coisa. — e teve a atenção do amigo. — Cuide dela... — disse apontando para a irmão com movimento sutil com a cabeça. — ... e você... — olhando para a irmã. — ... cuide para que pare de beber. — e os dois riram. — Sem mim, não tem graça. — e riu, tossindo em seguida. — Ah, Suiya... aquela caixa...!
No momento que a irmã se afastou, Shiloh voltou-se para Ankeus, este voltando a seriedade, tocando o rosto magro do amigo. Não tinha lágrimas, mas seus olhos diziam tudo naquele momento.
— Está tudo bem... — murmurou, querendo levantar a mão e tocar o rosto do timoneiro. — Meu amigo... Meu ‘Dragão Marinho'...!!
Suiya se aproximou com uma pequena caixa e presenteando Ankeus com o colar, fazendo o ex-argonauta se desmanchar em lágrimas e sendo acalentado pela irmã do amigo que o abraçou. Ambos sabiam o que aquilo significava, mas negavam aceitar.
Shiloh morreu semanas depois ao lado da irmã e de seu pai. Ankeus havia partido na manhã seguinte visando meios de salvar o amigo, mas era tarde demais.
"Uma mente brilhante parte e torna-se uma estrela!", pensava Ankeus assistindo o cerimonial dos lemurianos: uma pira de fogo e mecha do cabelo do morto, trançado com uma fita, esta verde por ser a cor da família de Suiya, jogada nas chamas. Desde então, jamais removeu aquele colar.
Ankeus segurou forte o pingente e beijando-o, antes de apoiar a testa na mão fechada. Percebeu a aproximação de alguém e se levantou. Era Syreni, desculpando-se por assustá-lo.
— Distraído. — comentou ela, mas sem entrar nos detalhes. — Soube que se reuniu com sua futura tropa.
— Sim, eu conheci os tenentes que estarão sob minhas ordens. — comentou ele, guardando o colar dentro das vestes.
— Então está convencido em comandá-los, finalmente? — arqueou o semblante.
— Nas últimas semanas, desde aquela conversa com você e Tritão, eu tenho pensado no assunto. — comentou Ankeus caminhando pela sala, sendo servido de vinho. — Uma guerra! O meu pai... Poseidon... quer declarar guerra à Athena.
— Como já havia explicado, Athena tem despertado muito desconforto aos deuses, Ankeus. — comentou Syreni caminhando pela sala, olhando a paisagem da qual ele parecia admirar. — Ela nem mais atende aos chamados do Olimpo desde que desceu à Terra, ignorando até mesmo as tentativas do Imperador dos Mares para uma conversa buscando adiar essa situação.
— Não é apenas isso. — comentou Ankeus sorvendo do vinho. — Tritão também a odeia pelo o que ela fez à sua filha. — e Syreni se voltou para o timoneiro. — Sim, eu soube. Lymnades me contou.
— Sim. Tritão não aceita o que Athena fez à Pallas, mas calou-se a pedido de seu pai, mas existe um grande impasse. Athena tem colocado a soberania de Poseidon em dúvida. Logo ele, um dos Três Grandes sendo desafiado por uma garota e desmoralizado? — comentou Syreni se aproximando. — O que Poseidon quer é somente manter o status quo, e Athena está causando desequilíbrio na ordem divina.
Ankeus nada respondeu. Tomou um último gole e deixando a taça e se voltando para Syreni. Havia conversado sobre aquilo com todos os Generais, inclusive com Scylla a quem teve evitado desde o embate na praia. Lymnades sempre se mostrava presente, parecendo testá-lo a todo momento e chegando a pensar que Menkar, o Segundo dos Generais, fosse apenas mais um jogo da ninfa amaldiçoada.
— Isso também tem a ver com Menkar? — voltou-se Ankeus, olhando para Syreni. — Ele não é muito comunicativo, não é mesmo?
— Sei que os Aedos, contadores de história que vagam de região a região, contam muitas histórias, e certamente ouviu falar do que aconteceu ao rei de Etiópia. — comentou Syreni.
— Ouvi o canto. — comentou Ankeus. — Poseidon enviou uma criatura para tomar a filha do rei, mas que foi morto por Perseu sobre um cavalo alado, transformando a criatura em pedra. — sorriu com ceticismo. — Seria isso?
— Uma bela história, mas não foi exatamente assim. — sorriu Syreni. — A filha do rei foi ofertada a um dos filhos de Poseidon, Keto, para renovar sua aliança, mas o governante voltou atrás em sua palavra após conquistar aquilo que lhe foi agraciado por Poseidon. Evidentemente, o Imperador dos Mares fez sua cobrança, mas Athena interveio, levando à morte o príncipe dos mares quando duelou contra um protegido pela jovem deusa... que também era seu meio-irmão.
— Então, quem é esse Menkar? — indagou Ankeus confuso.
— Menkar é uma criação de Poseidon: o corpo de seu filho Keto com a criatura marinha das águas de Asgard... — respondeu Syreni didaticamente. — Ele não fala com qualquer um senão com Tritão ou o próprio Poseidon. Recomendo cuidado, Ankeus. — pontuou Syreni de maneira preocupante. — Keto já era alguém perigoso, Menkar não é diferente. — e sorriu maliciosa. — Diria que vocês dois são bem parecidos, se é que me entende.
Ankeus nada disse, senão desviar o olhar e voltar para a varanda, apoiando-se no parapeito, indo e vindo, pensativo.
— Não me parece muito convencido sobre isso, não é mesmo? — comentou ela.
— Ouvi sobre o conflito de Tritão e Athena, sobre o envolvimento da deusa em questões que não lhe era devido... Uma disputa onde não vejo onde poderia me encaixar. — disse se voltando para Syreni, mantendo-se recostado no parapeito.
— Como foi dito, você é o único ‘humano’ dentre os Generais, e o que Poseidon deseja é um representante de vocês em suas fileiras... — explicou Syreni.
— Então eu seria a voz da raça humana junto a Poseidon...? — comentou Ankeus, vendo Syren assentir.
— Há muito sendo dito, inverdades sendo espalhadas e deturpadas por ações indevidas de Athena. Acha realmente que o Imperador dos Mares gostaria de uma guerra? — Syreni era incisiva nas palavras, franzindo o cenho. — O envolvimento dela questionando a soberania de Poseidon na Etiópia é um desrespeito! Ela o vem desafiando há tempos.
— Uma guerra talvez não seja a melhor solução. — pontuou Ankeus.
— É o que cada um de nós tem tentado evitar, e é por isso que está aqui, Ankeus. Para somar força e garantir a soberania de Poseidon a quem tanto diz honrar... — e pausa, ficando a fitá-lo. — Ou temes por algo?
— O que está me escondendo, Syreni? — pressionou ele fitando-a incisivamente. — Por que sinto que quer me dizer algo e não o diz?
A mulher respirou fundo, baixando os olhos e desviando dele. Virou às costas, caminhando pela sala e juntando as mãos.
— Se as coisas continuarem a caminhar assim, algumas ilhas podem acabar por se tornar palco de violentas batalha como Capri… — e se voltou para Ankeus, com olhar apreensiva. — Como tantas outras. — e percebeu seu olhar preocupado. — Athena conseguiu convencer até mesmo um dos filhos de Poseidon a lutar ao seu lado, ajudando na morte de Keto para atingir seu objetivo e não duvido que consiga o quer, se assim permitirmos, Ankeus. Cabe você decidir, e recomendo que seja rápido!
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Tudo estava preparado para a festa de encerramento que se daria em algumas horas. Suiya ficara ainda um longo tempo na oficina que pertenceu ao seu irmão pensando no que o pai dissera, ainda preocupada com desaparecimento de Ankeus fazendo-a ir, mais uma vez à praia esperando encontrá-lo como naquela manhã. Ficou a olhar as ondas quebrando e lembrando dele e de seu irmão bêbados e nus, rindo daquela lembrança, mas também quando ela trocou o primeiro beijo com timoneiro ao saber da enfermidade do irmão, e quando se amaram pela primeira vez.
Embora sempre o visse junto de seu irmão, somente trocaram suas primeiras palavras durante os Festejos das Águas, há dois anos. Suiya sempre foi uma garota tímida e estava a cuidar da mãe que estava doente, o que a fazia ficar muitas vezes longe da oficina. Encantara-se por Ankeus logo quando o viu, mas hesitava se aproximar até que o próprio assim o fez, ganhando mais força com suas visitas mais frequentes na busca de ajudar salvar o irmão da morte inevitável.
Quando o irmão adoeceu, a sua admiração pelo estrangeiro apenas cresceu, por vê-lo sempre buscando uma maneira de salvá-lo. Assistiu o desespero de Ankeus quando tudo que fazia resultava em nada. Foi quando trocaram o primeiro beijo, naquela praia, meio aos ninhos rochosos. Shiloh havia sido o primeiro a perceber. "Está apaixonada...! Impossível... não se apaixonar por ele", disse o irmão quando a viu voltar naquela noite e dizendo o quanto seus olhos brilhavam.
— Suiya, não queria dizer, mas está apertando um pouco demais a trança! — comentou Nysa olhando-a pelo espelho, despertando a jovem do devaneio e rindo.
— D-Desculpe, Alteza. Acabei por me distrair. Perdão! — desculpou-se, prendendo o cabelo da jovem e disfarçando para limpar o rosto.
— Tudo bem, Suiya. — disse a garota olhando-a pelo espelho, mas virando-se para fitá-la. — Somos amigas, não tem porquê esconder de mim. Eu soube que ele... — e não completou, suspirando. — Nenhuma notícia?
— Não. — respondeu Suiya se recompondo. — Ele desapareceu e ninguém sabe pra onde foi, ninguém o viu... Não sei mais onde procurá-lo.
— E-Eu não sei o que dizer... — disse a garota se levantando e indo de encontro da amiga, puxando-a pela mão até um banco almofadado, expulsando algumas almofadas para o chão. — Não perca a esperança! Ele vai aparecer na festa de encerramento de hoje. — e levantou a cabeça da amiga, limpando suas lágrimas. — Tenha certeza!
— Obrigada, Nysa. — e abraçou a amiga, ficando assim por alguns momentos.
As duas sempre foram próximas. A mãe de Suiya foi, por anos, a dama de companhia da rainha e depois quem ajudou a cuidar da pequena Nysa até adoecer tempo depois — um mal que também acometeu Shiloh. Eram como duas irmãs, confidentes uma da outra e a quem Suiya relatou sua paixão pelo estrangeiro e o medo da aceitação por seu pai, um homem mais regado aos valores tradicionais, mas que respeitava Ankeus pelo o que fez ao seu primogênito.
Nysa sempre foi uma jovem confiante e otimista, sempre encontrando uma solução para que julgava ser impossível. Era algo que até mesmo seu irmão, Lyall, pontuava insistentemente aos pais para que coroarem a irmã e não ele quando o momento de assumir Lemúria chegasse. O seu irmão, o primogênito real, era mais um combatente, enfileirando-se aos Marinas e servindo no Forte Sunion, o que também era um desejo de Shiloh se não tivesse adoecido meses antes do alistamento.
Suiya lembrava-se do quão chateado seu irmão ficara na ocasião quando viu seus amigos partirem de Lemúria, levando-o a enfurnar-se em sua oficina e trabalhar dia e noite. "Se não posso lutar com eles, que eu possa criar algo que possa ajudá-los a não perecer no campo de batalha, não acha?", dizia ele sorrindo, ainda que seus olhos denotassem tristeza. Por muitas vezes era Ankeus que o tirava daquele lugar, até que a doença o debilitou a ponto de nem mais conseguir caminhar longas distância sem se esgotar.
E mais uma vez era pega pensando no Ankeus.
— D-Desculpe meu egoísmo. — comentou Suiya respirando fundo e se recompondo. — Imagino que também estejam preocupados. O meu pai me falou sobre a presença de Marinas.
— Sim, mas creio que seja nada de mais. — comentou uma Nysa vacilante, o que deixou Suiya surpresa. — Papai está preocupado por conta de Lyall. Há muito ele não retorna, e teme que algo pode ter acontecido algo em Sunion. — e forçou um sorriso. — Por mais que diga que está tudo bem, sei que estão preocupados.
— Você e seu irmão sempre tiveram um forte laço, não é mesmo? — comentou Suiya dorçando um sorriso. — Lembra Shiloh e eu. Era como se compartilhássemos os mesmos sentimentos...!
— Sim, e é exatamente por isso que sei que ele está bem, de alguma forma. — e Nysa se levantou, seguindo até uma mesa onde Suiya estava a arrumá-la. — Penso até que ele pode vir essa noite... — comentava com certa tensão na voz. Deixou um breve silêncio e depois se voltou para a sua acompanhante, forçando um sorriso. — Quem sabe Lyall não traz um amigo e...!? — brincou ela, conseguindo provocar risos na amiga e descontraí-la.
Quando a noite caiu sobre Lemúria, todos pararam para se concentrar no campanário, um espaço no centro da capital, a 500m do palácio real. Era uma grande área circular dando alusão de uma 'ilha' ligada a quatro pontes à sua volta além da central exclusiva do palácio.
No centro desta havia uma pira onde todos os dias mantinha-se em chamas, mas apagada nos dias em que acontecia os Festejo das Águas. Em seu lugar, um ornamento de cristal que lembrava ondas do mar. Frente a ela, na ligação entre duas pontes à esquerda, o desenho de um portal formada por colunas e criando arcos centrocurvados da qual chamavam de 'Portal dos Mundos'.
A chegada da família real foi acompanhada por lemurianos que assistiam das pontes, ruas e prédios próximos, com os guardas fazendo o cordão de isolamento auxiliado por suas lanças. Junto com a realeza estavam os Anciões da Ordem — os Taumaturgos, feiticeiros e curandeiros; os Sábios, detentores da história e conhecimento; e os Forjadores, os mestres e restauradores. Três destes ficavam em Lemúria em seus devidos templos, enquanto outros três, os mais antigos, isolados no Castelo, nas terras 'secas' de Jamir (ou Jamiel). Frente à família real havia o Guardião das Relíquias, responsável por guardar as riquezas de Lemúria e da Orbe sagrada, trazida por ele em sua redoma de cristal.
Chegando ao centro, os Anciões, com suas vestes sagradas branca e mantos coloridos de sua ordem — Forjadores, o dourado, Taumaturgos, o vermelho, Sábios, o azul — circundavam a pira enquanto o Guardião posicionava a orbe sobre o ornamento, iluminando-a até ganhar um brilho incandescente azulado, emanando um pequena energia. No chão, linhas surgiram e seguiram para o que seria uma espécie de portal de um antigo templo sagrado. Uma película viva surgiu como se fosse um espelho d'água, com a sobra de um tridente que provocou admiração dos presentes
— Eu sempre quis assistir esse portal ativo...! — comentou Nysa num sussurro para Suiya que também assistia maravilhada.
Quando a imagem do Tridente ganhou brilho, uma linha fez nascer uma porta dupla, sendo aberta por guardiões Marinas. Cerca de dez soldados, regidos por dois Tenentes, abriram caminho para dois oficiais com suas Escamas Sagradas que reluziam à luz da Orbe.
O primeiro foi uma figura que despertou uma leve sensação de temor, talvez por conta de seus olhos frios avermelhados e íris negra, lembrando de um predador. O seu rosto era longo apesar de uma meia-máscara cobrindo parte de seu rosto onde acentuava algumas protuberâncias. A sua Escama era toda fechada, com barbatanas que lembravam asas em suas costas. Porém, a maior atenção se deu às suas unhas escurecidas, lembrando garras muitíssimo afiadas.
Suiya percebeu Nysa estremecer, acalmando-a com a mão em seu ombro. Porém, quando virou-se para ver o segundo oficial a surgir, foi a vez dele de estremecer até ficar estática. Apenas seus olhos acompanhavam a figura que passava bem diante de seus olhos. Tudo à sua volta se silenciou, ouvindo apenas os sons metálicos de cada passo e movimento dos braços.
A Escama brilhante fechando com uma capa tríade — com uma grande descendo pelas costas e duas menores descendo dos ombros para as costas num azul com bordados dourados oferecia uma imagem majestosa.
Conhecia cada detalhe minuciosamente forjado por Shiloh. "A minha melhor obra...!!", ele dissera quando a terminou e ficando a contemplá-la, desmontando de sua forma mítica para de um homem a vestindo, e agora com seu guardião se apresentando diante de toda Lemúria.
Quem era o guardião, o General Marina, Suiya não fazia a menor ideia. O seu rosto estava sombreado pelo elmo, mas era perceptível a expressão forte daquele homem. A sua presença era igualmente intensa como do primeiro oficial, mas não soava ameaçador, pelo contrário, muito familiar. A jovem tentava dizer algo, mas faltava-lhe voz, até mesmo força para manter-se de pé.
Voltou seus olhos para seu pai. Não podia ver seu rosto devido o capuz que cobria seu rosto, o único do manto branco, mas ela sabia o quão emocionado ele também estava diante aquela figura somente por ver seus punhos fechados.
Nysa a chamava, buscando trazer Suiya de volta à realidade, despertando daquele transe. A princesa preocupava-se com o estado da amiga, do quanto estava pálida, as suas mãos frias. Perguntava se estava tudo bem, mas sua dama demorou a conseguir pronunciar qualquer palavra.
— A-Aquela Escama... aquela... Escama... — murmurava, olhando o general Ganhar frente da orbe. — Foi forjada... por meu... m-meu irmão...!
Foi a vez de Nysa arregalar os olhos e alternar da amiga para o General Marina misterioso. A princesa sabia que o irmão de Suiya trabalhara, até o fim de seus dias, numa indumentária sagrada e do quão orgulhoso estava de seu último trabalho. A presença daqueles dois oficiais Marinas, sendo compreendido a razão de todo aquele cerimonial.
— Eu, o rei Chems, de Lemúria, tenho a honra de recebê-los, Generais Marinas do Imperador dos Mares, Poseidon. — reverenciou o velho rei, acompanhado de sua rainha, seguida da princesa e sua acompanhante, os Anciões, o Guardião e toda Lemúria a curvar-se em respeito.
— Como General Marina, Menkar de Kraken, desejo saber o quão leal Lemúria está para com Poseidon. — questionou o primeiro General Marina com uma voz grave e profunda, nada que lembrasse um humano. Era intimidador, e seus olhos pareciam faiscar a cada palavra enquanto sobre o rei. Esticou o braço para próximo da orbe, destacando o fio de suas garras.
— Lemúria afirma sua servidão ao Imperador dos Mares, mostrando nossa eterna gratidão com as Festividade das Águas em sua graça. — respondeu o rei buscando não intimidar-se diante aquele General, enquanto o outro mantinha-se calado, parecendo aguardar por algo.
— Perfeito...! — disse em seguida, concentrando o Cosmo em sua mão sobre a Orbe e compartilhando da energia da mesma. O portal se fortalecera e o templo emanou poderosa energia. — Lemúria está sob nossa proteção contra a Cruzada Santa que se inicia. — e voltou-se para o General marina misterioso, em silêncio até então. — E deverão responder ao Sétimo Marina... aquele que os representará em nossas fileiras, o filho do Imperador Poseidon
O misterioso General ganhou alguns passos à frente, sendo reverenciado por todos em respeito. Ele, por sua vez, levou a mão frente ao peito, à joia que adornava frente ao coração, fazendo o elmo ser removido, soltando o cabelo cor de vinho e revelando-se surpreendentemente diante de todos. Apesar de perceber todos os olhares de amigos e conhecidos, manteve-se íntegro, sério, com a mesma postura imponente e olhar incisivo.
— Ankeus, o Dragão Marinho!!! — encerrou Menkar.
Suiya estava catatônica, sendo apoiada discretamente por um dos guardas que acompanhava Nysa, as lágrimas desceram por sua face. A angústia pela falta de notícias do homem que amava transformara-se em surpresa, misturada em comoção ao vê-lo trajando a indumentária forjada por seu irmão... e amigo do irmão do General Marina.
O próprio Ankeus avistou Suiya, sentindo o coração bater fortemente contra seu peito. Porém, haveria de aguardar apenas por mais alguns instantes até que pudesse, após longas semanas, esclarecer sobre todas aquelas informações.
A formalidades não se demoraram, mas sim os diálogos com o rei sobre o recrutamento para as fileiras Marinas e um conhecimento total das fortalezas que garantiriam a segurança de Lemúria, algo antes jamais sendo possível informá-lo por ser um estrangeiro — bem respeitado, mas ainda um estrangeiro.
Como um General, agora conhecia bem as fortificações de um povo pacífico, embora bom conhecedor de armas e vestimentas de batalha, mas que jamais precisou realmente lutar diretamente numa guerra. Ainda assim, o mais velho da família real já estava nas fileiras Marinas, mas sob o comando de Menkar, atuando como seu Tenente no Forte do Cabo Sunion.
Após a longa reunião absorvendo todo o conhecimento necessário, havia uma pessoa a quem precisava conversar, longe de toda aquela formalidade e diplomacia. Não tinha ciência do tempo que ficara ausente e se surpreendera que semanas haviam se passado desde que desaparecera, e Suiya certamente estava demasiadamente preocupada.
Aproveitou um breve momento para buscar por ela, sem qualquer sucesso. Nysa, que sinalizou para o então General Marina, indicou onde encontrá-la. Ankeus agradeceu imensamente a princesa por aquilo.
Suiya estava no jardim suspenso do palácio, uma área mais privada em que Nysa permitiu que a amiga se isolasse para sua recuperação emocional. Desde que vira Ankeus, ficara extremamente confusa por mais que tentasse disfarçar aquilo, mas era impossível. A sua mente foi inundada das mais diversas lembranças, somado às revelações ditas naquele campanário e ver Ankeus com o mais alto posto entre os Marinas, e não apenas isso.
"Filho de Poseidon...? Ankeus é um filho... do Imperador do Mares... filho de um deus...?!!", e aquilo a estava sufocando até que Nysa pediu uma saída alegando mal-estar e acalentando Suiya no jardim. No entanto, seria preciso mais que isso.
Embora tentasse digerir tudo aquilo, não tinha como ignorar a presença dele no jardim. Os passos metálicos e pesados o anunciaram, fazendo-a se levantar lentamente e se voltar para ele ainda com espanto. Os olhos estavam vermelhos pelas lágrimas e ficou a fitá-lo por longos instantes, meio a soluços. Ankeus engoliu a seco, hesitando, mas aproximando-se mais e mais da lemuriana esperando uma reação negativa por todos aqueles dias, semanas ausentes. Contudo, não foi o que recebeu.
Suiya também aproximou-se, esticando o braço, mas temendo tocar naquela indumentária tão bela e brilhante. Ela nem mesmo piscava, como hipnotizada pela veste sagrada. Ankeus nada fez, senão assistir a pretensão dela. Viu-a ameaçar tocá-lo por duas vezes, mas o fez na terceira tentativa, ouvindo o soluçar da jovem e a mesma fechar os olhos, deixando a lágrima ganharem sua face, e sorrir. Com o toque, foi como se Suiya fosse tomada por uma corrente elétrica devido o 'choque' ao contato com a Escama.
— E-Eu posso sentir...! — Ankeus controlava a respiração ouvindo-a falar num fio de voz, vendo-a levar a mão à boca. — E-Eu sinto... o calor dele... nessa Escama...
E ela sentiu as mão dele cobrirem a sua, sem removê-la sobre o traje.
— Eu também sinto, Suiya... — comentou Ankeus, puxando o rosto dela para olhá-la nos olhos. — Sinto como se ele estivesse aqui... compartilhando de cada lembrança dele enquanto a forjava... os seus sonhos e sua dor misturada ao desejo...
Ela sorriu, querendo dizer algo, mas somente fechou os olhos e acolhendo-se em seu peito, abraçada pelo General Marina que a envolveu com seus braços, permanecendo assim por longos instantes, limpando suas lágrimas quando até mesmo ele estava a chorar sem que nem mesmo percebesse.
— Suiya… Desculpe por te preocupar… — Ankeus falou, apertando-a.
— Tudo bem…! T-Tudo bem…! — forçou um sorriso, alternando dele para a Escama, as mãos trêmulas. Todo o corpo tremia. — E-Eu… Eu disse que o mataria quando o encontrasse, mas… — ri desconcertada. — Eu… Eu tive tanto medo… de que tivesse te acontecido alguma coisa depois… depois do que vi na praia… — e levou a mão aos lábios. — Tive tanto medo…!!
— Confesso que seria merecido. — Ele gracejou, tentando fazê-la sorrir mais. — Eu não queria te deixar preocupada. Coisas… aconteceram e… — dizia, quando se calou. Não contaria à ela que travara uma batalha contra dois Generais Marinas na praia. Aquilo só iria preocupá-la ainda mais. Então, respirou fundo e prosseguiu, com um sorriso tímido no rosto. — E eu tomei uma decisão… que gostaria de compartilhar com você.
Ela o olhou temerosa, desvencilhando cuidadosamente de seus braços e recuando alguns passos. "Ele agora é um General Marina, Suiya...", dizia pra si mesma, e aquilo a fez ficar desconfiada sobre o que ele havia para dizer, por mais que seu coração dissesse contrário.
A conversa com seu pai alertara sobre uma guerra velada que há muito acontecia, que a partida do príncipe Lyall anunciava batalhas em terras distantes. Agora era Ankeus quem estava de partida, e talvez para nunca mais voltar. "Deixe que ele fale...!", ecoou uma voz em sua mente olhando seu reflexo na Escama, assentindo para que ele falasse.
— Eu irei para uma guerra. Estarei partindo em breve. — ele começou a falar, escolhendo cuidadosamente as palavras daquele discurso que ensaiou tantas vezes, enquanto ainda em Atlântida. — E eu quero que saiba que… em nenhum momento, você saiu de meus pensamentos. — falou, acariciando a face da jovem lemuriana, com os olhos fixos nos dela. — Eu sei que sou um estrangeiro, e que seu pai é bem conservador, mas eu queria saber, Suiya, se você me esperaria?
Conforme ele falava, a sua respiração tornava-se mais e mais difícil, sentindo que sufocaria cada vez que ele estendia onde queria chegar. Estava abrir e fechar as mãos incessantemente. Piscava de modo a conter-se, para que pudesse dizer o que queria.
— Se aceitaria esperar pelo meu retorno após essa guerra… para que nós dois... possamos nos casar?
Um sorriso iluminou sua face, fazendo-a levar as duas mãos ao rosto, as lágrimas ganhando mais e mais a sua face e assentindo. Sem mais conter, correu para seu encontro respondendo 'SIM!', abraçando-o fortemente.
Ankeus sorriu, recebendo-a em seus braços e rodopiando com ela. Afastaram-se um pouco somente, ficaram a olhar um para o outro, testa com testa, com ela repetindo sua resposta enquanto ele sorria. Quando seus lábios se tocaram, tudo à volta foi esquecido.
Ao menos por aquele instante, o mundo era somente dos dois.
Autor(a): katrinnae Aesgarius
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