Fanfic: Ainda Há Tempo? | Tema: Portiñon

 Só quando ouviu de Ángel que isso era uma coisa  comum por alí e que seu maior desapontamento era não poder ajudar essas pessoas, pois não tinha condições para isso, foi que Anahi notou onde estava, as condições reais do lugar e só então percebeu que era alí onde sua secretária vivia. E embora Anahi não soubesse o porque, um grande desespero e desconforto a golpearam com força total. Anahi disse querer ajudar aquela pessoa, Ángel afirmou ser muito bom o gesto e que não esperava outra atitude dela, mas que precisavam estudar como fazê-lo, porque moradores de rua , em sua grande maioria se tornavam dependentes de alguma droga e portanto bastante agressivos, e na maior parte das vezes não costumavam receber bem uma abordagem.

Após isso, um longo silêncio tomou conta do lugar, seguido de olhares confusos e incomôdos, um clima bastante estranho e incomum pensou Anahi. Ángel estava prestes a quebrar o silêncio dizendo algo, quando bem distante, em um fio de voz rouca e irregular se ouviu o murmurio, um quase lamento chamando por: Anahi

Aquele chamado seguiu por diversas vezes e os olhares das duas mulheres voltaram-se para aquele corpo caído bem mais adiante.
O corpo de Anahi parecia ter entrado em transe, sua cabeça parecia estar vazia e seu coração de tão acelerado, parecia querer parar de bater. Aquela voz, aquele fio de voz, rouco e distante, ela reconheceria mesmo diante de milhões de vozes que falassem ao mesmo tempo. Era a voz que ela mais gostava de ouvir quando acordava, a voz que a fazia sonhar diariamente, a voz que lhe acalmava pelo simples fato de ouvi-la, era a voz que naquele momento lhe trazia um misto enorme de sensações, mas era justamente a voz que ela mais queria e precisava ouvir. Era a voz de Dulce Maria!

Aqueles poucos metros de distância pareciam enormes agora. A sensação era de medo, um medo terrivel. Seria ela mesma? Ou seria seu inconsciente ouvindo apenas aquilo que seu coração gostaria de ouvir? A dúvida desapareceu antes mesmo se alcança-la completamente, era os pés de Dulce, sujos, molhados, mas era ela, agora tinha certeza!

O coração disparou e doeu, doeu muito no mesmo instante em que a alcançou, era Dulce, sua Dulce. Jogada no chão, coberta de lixo, enxarcada pela chuva, com sangue no rosto e muito machucada. Era a ruiva que em pleno delirio chamava seu nome, e a impressão que tinha, é que nunca na vida ouvira a pronuncia de seu nome doer tanto.

Um mundo de coisas rodando pela cabeça, uma cena que jamais teria gostado de ver, uma sensação de desespero e vazio que não estava suportando sentir. Mas um alivio crescente que a invadia, fosse como fosse, ela estava viva e isso era mais do que suficiente para que pudesse agradecer a Deus, aos céus e em tudo que Anahi fazia questão de acreditar. Dulce estava viva e isso bastava, para que tivesse uma nova chance para seguir em frente.

Logo que tentou mexer em seu corpo, percebeu que não poderia tirá-la dalí assim, estava bem mais machucada do que seus olhos podiam ver. Dois minutos depois estava ao celular passando o endereço de onde a ambulância deveria encontra-la. A chuva caiu com vontade e o frio era insuportavelmente cortante, fazia doer a pele. Mas nada e nem ninguém a faria deixar a ruiva sozinha até que o socorro chegasse. Havia deixado ela na rua e sozinha por tempo demais e isso era a primeira e  última vez que Dulce havia passado por isso. Era uma promessa, não para Dulce, não para Deus, e sim para si mesma. Isso jamais voltaria a passar, não enquanto ela vivesse!

Eram quatro da manhã quando ansiosamente aguardava que os médicos fossem a sala de espera dar alguma noticia, faziam mais de duas horas que estavam com a ruiva e nenhuma noticia havia sido dada. Andava nervosamente de um lado para o outro sob o olhar de Ángel, que se recusou terminantemente a deixá-la sozinha diante toda essa agonia. Eram tantas coisas passando por sua cabeça, tantos medos que recusava deixar sair, já havia perdido gente demais em sua vida, não queria e nem podia perder mais ninguém a quem amava.

Haviam passado mais uma hora até que um médico, já senhor e de cabelos bem grisalhos, óculos, e uma cansada expressão se aproximara para dizer qualquer coisa. As palavras do médico atingiram Anahi como um raio, certeiro e mortal. Dulce havia passado muita fome, muito frio, estava com extrema exaustão devido a várias e várias horas sem dormir, debilitada, gripada, com uma forte e agressiva pneumonia, queimando em uma febre que não queria ceder e o mais grave, Dulce havia sido brutalmente espancada. Seu estado era muito grave e necessitava de um urgente e  intenso tratamento para conseguir sair dessa!!!

Demoraram muitos minutos para que Anahi conseguisse assimilar tudo que havia escutado e só assim pudesse finalmente dizer que queria o melhor tratamento que tivessem a oferecer e que pagaria o quanto custasse por isso. O médico deixou a sala de espera deixando a promessa do melhor cuidado para a ruiva e deixando uma Anahi completamente arrasada.

Quem a havia espancado? Porque? O que havia acontecido nas ruas para que uma pessoa  a fizesse tanto dano? Porque aquilo tudo estava acontecendo? Como chegaram até aquilo? Onde havia errado? Assim rodava a cabeça da loira, várias perguntas e nenhuma resposta. Queria Dulce bem, saúdavel, inteira, queria tirar sua dor, queria acordar daquele pesadelo.

Não demorou muito até que Anahi sentisse um toque muito suave em seu ombro esquerdo, e ao levantar a cabeça, se deparou com aquela imensidão azul: Os olhos de Ángel

Como podia em apenas um par de olhos caber tanta serenidade, compreensão e paz?

                                                                                                                                                                           Continua...

Gente desculpa pela demora, minha net está péssima esses dias. Postei aí dois capítulos, se a net permitir postarei mais alguns mais tarde! Beijos