Fanfic: Ainda Há Tempo? | Tema: Portiñon

     Dulce já dormia,mas Anahi não conseguia pregar os olhos. Sentia uma angústia irritante e sua cabeça não parava de pensar. Queria dormir, esquecer, mas não podia.

     Anahi levantou-se e parou diante da grande janela do quarto, olhava o tempo do lado de fora, o friozinho que fazia,como a noite estava parada e sombria. Onde estaria Pedro? Em uma casa? Com uma familia que o amava e o cuidava? Feliz? Não sabia,mas pedia calorosamente a Deus que assim fosse, ainda que jamais o encontrasse, desejava do fundo do coração que estivesse vivo e estivesse bem. Pensar que poderia estar sozinho no mundo, ou com alguém,mas exposto a todos os tipos de perigos e maltratos a matava por dentro.

     A vida era mesmo estranha, era tanto seu amor pelo filho, que preferia que estivesse com uma boa familia que o cuidasse e amasse, ainda que ela jamais o encontrasse novamente, do que pensar que estivesse sofrendo todo esse tempo e esse fosse o preço para encontra-lo.

     Sempre soube que o preço do amor muitas vezes era o sofrimento, mas nunca imaginou que um ser humano pudesse amar tanto assim alguém e muito menos que a dor poderia chegar a ser infinitamente maior que esse amor. Amar um filho era isso,um amor imensurável,mas que podia chegar a trazer uma dor dilacerante...

     Eram quase sete da manhã quando Anahi levava Dulce até um laboratório para fazer um exame de sangue, algo exigido pelo colégio onde a ruiva estudaria, no caminho conversavam tranquilamente. Dulce havia notado que Anahi não estava nada bem, havia percebido desde o momento em que se encontraram na mesa do café da manhã. Anahi já estava sentada a mesa e apenas a esperava para que fizessem aquela refeição juntas.

     A loira havia sido educada e amável, mas Dulce havia notado nitidamente sua tristeza, sua agonia. Desejava perguntar o que passava, mas não considerou apropriado, ela ainda deveria estar chateada pela noite anterior e não queria dar mais motivos para brigas.

     Queria que as coisas ficassem bem,mas não sabia se isso seria possivel... Dulce já havia feito seu exame e Anahi já a levava para o apartamento quando Dulce perguntou:

Dulce: O casamento de Liz e seu irmão já não deveria ter acontecido?

Anahi: Sim,mas adiaram.

Dulce: Por que?

Anahi: Primeiro um problema com a papelada do batismo de Liz, não encontraram, ela teve que se batizar de novo. Nisso perderam a data na igreja que ela quer se casar, então tiveram que arrumar outra data disponivel.

Dulce: Ah (exclamou sem muita vontade) E quando será agora? Você não vai contar a ele sobre o que viu? A traição?

Anahi: Na verdade não sei, ainda não tomei uma decisão sobre isso. E não sei quando será o casamento também (disse a olhando diferente) Me diriam assim que marcassem, mas Christian mudou muito, virou outra pessoa. Não me disse quando será.

Dulce: Mas será que já marcaram? (perguntou ela aborrecida, aquilo era tudo culpa sua).

Anahi: Certamente.

Dulce: Eu sinto muito Any, mesmo (disse aflita).

Anahi: Não se preocupe com isso, não podemos mudar as pessoas e nem saber o que passa na cabeça delas. Está tudo bem, não estou triste e nem nada, acho estranho levando em conta a relação que ele e eu sempre tivemos, mas não estou mal com isso.

Dulce: Você me parece mal desde que a vi pela primeira vez hoje (falou sincera).

Anahi: Não é por Christian.

Dulce: Por ontem então: Olha me desculpe de no...

Anahi: Não Dulce, também não é por isso, já nos entendemos não? (disse com tanta tristeza que Dulce sentiu vontade de chorar)

Dulce: Sim! (se calou, mas sua expressão era de dor e ansiedade).

Anahi: Ei, não fica assim (disse pegando gentilmente em sua mão) Não é relacionado a você. è comigo mesma, eu tenho esses momentos, na verdade eles estão aqui o tempo todo, mas nem todo dia sou capaz de conseguir disfarça-los. È só isso,está tudo bem.

Dulce: Eu daria o que fosse para que não sentisse isso (disse sincera e Anahi lhe presenteou com um pequeno, mas lindo sorriso).

Anahi: Eu sei!

        As oito e meia Anahi chegava a sua empresa e logo de cara se deparou com Maite, parada em sua frente, com uma expressão agitada e notaveis marcas no rosto.

       Anahi lhe desejou bom dia, mesmo sabendo não ser. Adentrou sua sala e sentou-se sentindo sua cabeça latejar fortemente, fechou os olhos tentando controlar o forte enjoo que sentia, mas não pareceu resolver muita coisa. Abriu os olhos rápidamente ao ouvir a porta ser aberta e viu Christian entrar e sentar em sua frente indo direto ao assunto, sem um bom dia, um olá ou qualquer outra coisa.

Christian: O advogado mandou avisar que já estão prontos os papéis para a venda da minha parte da empresa para você. Apenas precisamos ler e assinar, na verdade eu já os li e assinei, ele te espera na sala de reuniões para que leia e os assine. Tudo já está resolvido no banco também para a liberação do saldo que você irá usar. Da sua conta pessoal digo, Ele também mandou avisar isso. O presidente do banco vem pessoalmente tratar disso, chega em meia hora. Já seria bom que já tivesse lido e assinado os papéis (Anahi o olhava decepcionada e triste,ele notou, mas não deu importância) Então vamos?

        Anahi não respondeu. Apenas levantou-se e seguiu para a sala de reuniões sendo seguida por ele. Quase quarenta minutos depois ela segurava a caneta e olhando seriamente para Christian perguntou:

Anahi: Você está certo disso? Está mesmo seguro do que faz?

Christian: Totalmente (mas nenhum deles acreditava nisso).

Anahi: Quero que pense uns minutos e me dê sua última palavra sobre isso, porque quero que esteja consciente de que uma vez realizada a transação não terá como voltar atrás. Não as venderei de volta a você. Porque um dia, muito em breve, você irá se arrepender amargamente de tudo isso, verá as coisas como elas são e vai odiar a si mesmo por tê-lo feito. Vai se dar conta de que foi cruel, injusto,traidor e burro,e eu irei te perdoar por tudo isso, mas nem assim as devolverei. Vai desejar voltar a empresa, mas se o fizer, será como um funcionário a mais, como todos os outros, o fato de ser meu irmão não me fará mudar de opinião (Christian engoliu em seco, mas não perdeu a arrogância) E então Christian, como vai ser?

Christian: Quero sair da empresa, quero que acabemos com isso o mais rápido possivel (disse em tom seco).

Anahi: Então que assim seja (seu coração doía,foram mais do que irmãos a vida toda, foram amigos e companheiros de todas as horas e hoje não restava nada. Doía, doía muito, mas não diria isso a ninguém, ninguém precisava saber. Assim sendo finalizou as assinaturas do contrato e os devolveu ao advogado) Está feito.

        Assim que Anahi o disse, Maite abriu a porta avisando que o gerente do banco já se encontrava alí. Uma vez reunidos e em pleno acordo sobre toda aquela questão. A transação foi realizada e agora apenas faltavam comparecer a um cartório para oficializar o trâmite, assim regularizando toda a documentação correspondente.

       Duas horas mais tarde, deixavam o cartório já com tudo resolvido, a partir daquele momento Christian já não possuía ações e já não fazia parte das empresas Portilla.

       Sem despedir-se Christian se foi, deixando alí uma Anahi destroçada. Respirando fundo e agradecendo a presença de todos,despediu-se dos demais presentes e deixou o local em direção a seu carro. Uma vez lá dentro chorou, chorou muito. Tratava de ser sempre o melhor para todos, o mais justa possivel,estava alí para os seus e muitas vezes mesmo para os que não poderiam ser considerados seus, sempre que precisavam. Fazia tudo por todos e sempre era recompensada com traição,ingratidão e descaso. Não precisava dos agradecimentos das pessoas, queria unicamente a lealdade delas, mas as coisas não aconteciam assim.

       Vários minutos depois partia em direção ao apartamento de Dulce, tinha muito o que fazer na empresa, mas precisava de um abraço, e só ela poderia oferece-lo naquele momento.

      Quarenta minutos mais tarde Anahi deixava a portaria do prédio onde a ruiva morava. Dulce não se encontrava em casa, havia lhe dito que não tinha o que fazer naquele dia,então ficaria em casa, dormiria um pouco e estudaria algumas matérias.

       O porteiro havia dito que Dulce havia deixado o prédio dez minuto após Anahi tê-la deixado alí. Anahi agradeceu e se retirou do local, já dentro do carro Anahi pensava onde a ruiva poderia estar, ligou várias vezes e em todas elas suas chamadas haviam caído na caixa postal..

      Respirando fundo, Anahi fechou os olhos, lembrando que quase toda sua vida havia tido que se acalmar e seguir em frente por si só. Havia passado por coisas muito piores,já havia vivido momentos aterrorizantes e havia sobrevivido... Sobreviveria a isso também,claro que sim!!!

      Assim que adentrou a empresa e sentou-se em sua cadeira, viu Maite parar em sua frente, a encarando fixamente. Ainda não havia chegado a tarde e já estava exausta, queria apenas que aquele dia acabasse, mas ainda teria muito com o que lidar, e Maite estava entre esse "muito".

    Encarando sua secretária com pouca paciência, Anahi se colocou a dizer tudo que havia passado desde que havia conhecido Dulce e a ela mesma. Falou sobre tudo que vinha acontecendo e sobre as atitudes dela que vinham sendo muito erradas e nada aceitáveis.

     Anahi deixou claro que o que aconteceu no dia em que Maite a beijou e o que quase havia acontecido no dia anterior não seria mais aceito por ela. Não estaria disposta a tolerar mais aquela atitude, havia lhe dado uma advertência, mas fora ignorada. Estava alí naquele momento dando uma segunda e última advertência, não haveria espaço para outra. Se aquilo voltasse a acontecer, se voltasse a beija-la ou tentar beija-la sem sua permissão,receberia uma justa causa. Seria demitida de suas funções e saíria de sua empresa imediatamente, não importando se tivesse ou não onde viver, onde trabalhar e do que viver.

    Exigia respeito e faria com que a respeitasse. Ajudava todas as pessoas que podia, mas não admitia ser tratada daquela forma, com desrespeito e ingratidão... Maite não tendo muito o que dizer e sabendo estar totalmente errada, apenas afirmou entender e garantiu que isso não voltaria a acontecer. Uma vez que tudo estava bem claro em relação a isso, Anahi pediu que Maite se retirasse, mas a mesma não se moveu. Tendo sido encarada mais uma vez por Anahi, Maite tratou de perguntar o que havia acontecido com Dulce no dia anterior. Ouviu Anahi dizer que havia apenas lhe contado toda a verdade e se resolvido com ela, no momento seguinte Maite contou a loira que Dulce havia invadido sua casa, exigindo uma explicação e havia lhe esbofeteado seguidas vezes perdendo totalmente o controle de si mesma.

   Anahi a observou atentamente, havia notado assim que  a viu, as marcas que tinha no rosto e não podia mentir, sentia que aquilo havia sido obra de Dulce. Agora tendo a certeza disso, não podia deixar de pensar que odiava violência e não achava ser esse o jeito de resolver as coisas, mas não pensava absolutamente em interferir nisso, tinha problemas suficientes na vida e com a ruiva...

   O dia havia se arrastado, pelo menos isso sentia Anahi e estava exausta quando finalmente adentrou sua casa, já passando da meia noite. Andava pelo corredor se arrastando e sentia todo seu corpo doer. Desejava um banho quente e reconfortante,antes de deitar em sua cama, macia e acolhedora e enfim poder dormir um sono dos justos.

   Anahi surpreendeu-se ao entrar em seu quarto, a cama estava arrumada de forma diferente do habitual, havia pétalas e rosas vermelhas sobre ela,velas aromáticas espalhadas por todo o cômodo e champanhe no balde de gelo sobre a mesa colocada ao lado da cama, mais próxima da janela.

   Anahi olhou por todo o quarto que se encontrava a meia-luz, não via Dulce. Adentrou o quarto fechando a porta atrás de si e então a viu. Dulce estava deitada no sofá ao lado direito do quarto, vestia camisola  e robe de seda vermelha, seus cabelos soltos caíam por seu rosto o cobrindo quase por completo, sua respiração era tranquila e seu semblante sereno.

   Anahi sentiu-se mal, Dulce havia lhe preparado uma surpresa, havia arrumado todo o quarto e se vestido de maneira especial, havia lhe esperado certamente por horas e sendo bem sincera, após sair de seu prédio, Anahi imaginou que Dulce apareceria no dia seguinte dando desculpas e mentindo mais uma vez para justificar seu sumiço. Sentiu-se culpada, ela estava preparando uma noite especial e Anahi havia estado na empresa até pouquissimo tempo atrás.

   Chegando bem perto da ruiva e agachando a seu lado, a loira beijou suavemente os lábios da namorada. Acariciou seu rosto e chamou por ela baixinho:

Anahi: Dulce, meu bem (chamou carinhosamente) Amor.

Dulce: Hum (disse sonolenta) Any, você demorou tanto, onde estava?

Anahi: Na empresa amor.

Dulce: Você esqueceu Any? (perguntou sentida)

Anahi: Do que meu bem?

Dulce: De hoje ( Anahi a olhou com nitida incompreensão, fazendo Dulce baixar os olhos antes de voltar a encara-la) Hoje, ontem não é, porque já são mais de meia noite, faziamos mês de namoro... mas você não lembrou.

     Anahi sentiu a magoa evidente na voz e nas palavras da ruiva e sentiu-se duas vezes mais culpada do que já estava se sentindo pelo simples fato de não ter lembrado. Viu a ruiva levantar-se e aproximar-se do banheiro, perguntou onde iria e ouviu a ruiva dizer que se arrumaria para ir embora, sentiu-se péssima.

Anahi: Dulce, me desculpe por favor, eu tive um dia terrivel e muito cheio, eu pensei em tanta coisa ao mesmo tempo, fiz tanta coisa e ainda nem consegui terminar, eu... eu me esqueci admito, mas não foi por mal. Me desculpe.

Dulce: Mas em nenhum momento do dia pensou em mim? Porque se tivesse pensado teria lembrado de que dia era (disse sentida).

Anahi: Sim eu pensei...

Dulce: Sei (disse rindo sem humor).

Anahi: É verdade, eu até fui ao seu apartamento, mas você não estava (nessa hora Dulce a encarou ficando nervosa imediatamente) O porteiro disse que não estava, que havia saído logo depois que a deixei em frente ao prédio. Onde estava?

Dulce: Eu? Eu.. eu estava na rua comprando essas coisas, depois fui para casa e fiz algumas coisas e depois vim para cá arrumar tudo (disse nitidamente nervosa).

Anahi: Eu te liguei várias vezes e você não atendeu.

Dulce: Ah, eu... meu celular não quer ligar, acho, é o mesmo problema de antes, a placa.

Anahi: Honestamente é bem melhor comprar outro, eles arrumam e tudo, mas não fica a mesma coisa.

Dulce: Sim, é verdade, assim que der irei trocar... Mas o que foi fazer lá se não lembrou de que dia era?

Anahi: Precisava de um abraço e percebi que só tinha você para que me desse um, mas não estava ( disse simplesmente) Dulce me desculpe, mesmo.

Dulce: Tudo bem Any (disse respirando profundamente) Não tem problema, você tem muitas coisas na cabeça, muita coisa para resolver e fazer, é normal que acabe se esquecendo de coisas que não tem tanta importância.

Anahi: Dulce, não fala assim (disse se aproximando) È claro que tem importância, foi apenas um esquecimento, uma falha. Perdão amor, te prometo que isso nunca mais vai se repetir.

Dulce: Tudo bem! Eu entendo (disse virando para entrar no banheiro).

Anahi: Amor (a puxando pelo braço) Você não precisa ir embora. Eu demorei muito eu sei, mas já cheguei, sei que é um pouco tarde, mas não podemos começar agora?

Dulce: São mais de uma da manhã. Vai jantar agora?

Anahi: Tem jantar? (surpresa)

Dulce: Sim, comprei as coisa e pedi que Maria fizesse para mim e depois que estava pronto a mandei para casa, para ficarmos a sós.

Anahi: Me desculpe, mesmo (ela estava realmente se sentindo mal e culpada) Eu vou tomar um banho rápido e já descemos para jantar.

Dulce: Any ( a olhou seriamente por um tempo, até que resolveu facilitar as coisas) Tudo bem, não precisa se apressar, eu vou descer e esquentar tudo enquanto você toma banho, preciso de quinze minutos mais ou menos, dá para tomar seu banho com calma.

Anahi: Tudo bem, eu já desço (disse beijando a ruiva e entrando ao banheiro).

       Dulce viu a porta de fechar e ficou parada por um tempo, Anahi havia esquecido, será que já não se importava com ela!? Tentando não pensar muito sobre isso, deixou o quarto para esquentar a comida. Estava fazendo tudo como Maria havia lhe explicado e esperava que estivesse mesmo fazendo tudo certo.

     Anahi tomava banho e pensava em como havia dado aquela mancada, não poderia ter esquecido, nem ao menos havia lhe comprado um presente. Todos os seus problemas a estavam fazendo perder o foco em seu relacionamento e isso não poderia acontecer, coisas assim eram fatais para uma relação, trataria de se certificar de que isso não voltasse mais a acontecer.

    Vinte minutos depois, Anahi adentrava a sala de jantar, que já se encontrava pronta, tão igualmente romântica quanto o quarto e com o jantar servido. A imagem era de babar, de fato havia feito um excelente trabalho e olhando para a ruiva a sua frente decidiu que poderia não dormir aquela noite, mas faria com que todas aquelas horas de espera tivessem valido a pena...

                                                                                                            Continua...