Fanfic: Famoso Apaixonado- Triangulo Amoroso (finalizada/adaptada) | Tema: Dulce, Alfonso, Christopher

Quando chego à praia, Wyatt está com os olhos quase fechados por causa do sol, conversando com Camden, nosso diretor de fotografia, sobre ângulos de câmera. Filmar na praia parece sensual, cheio de sol e brisa, mas, na verdade, envolve muita técnica e coça demais. É uma batalha constante para conseguir o ângulo certo, a quantia certa de areia e sujeira, e chegar à sua marca sem tomar uma rajada de vento no rosto ou uma rasteira das ondas.

Alfonso é profissional nisso. Juro que os elementos se curvam diante dele. Presenciei uma chuva torrencial se transformar em céu ensolarado em questão de segundos, assim que ele pôs os pés na praia. Miguel tem poderes em Bloqueado, e o clima faz coisas estranhas quando ele está por perto. Alfonso e seu personagem parecem ter muito em comum.

Estamos filmando o que Wyatt decidiu chamar de a cena “exaustiva”. É aquela em que Roberta e Miguel aterrissam na ilha e ele a cura. Eu estou coberta de sangue e terra falsos, e estou vestindo o que poderia ser descrito como trapos, não roupas.

Essa cena acontece bem no início do livro, mas o filme não está sendo rodado em ordem cronológica. Wyatt sempre diz que procura seguir a ordem, para que o ator vá incorporando de forma autêntica a personagem, mas os cronogramas de filmagem são complicados. Fazemos o que é preciso.

Alfonso está conversando com uma assistente de produção, que por sua vez está montando uma montanha de areia. Ele está tentando ajudá-la, e ela não se cansa de pedir para ele parar. Vejo que ela ficou vermelha, e os cantos dos seus olhos se contraem para formar um sorriso. Alfonso não está bem paquerando. Parece mais que ele está ciente do efeito que exerce sobre ela.

— Vamos lá, pessoal. Vamos terminar isso antes do pôr do sol.

Wyatt não olha para mim, mas faz sinal para que nos aproximemos, e Alfonso joga um pouco de areia na assistente. Ela sacode o cabelo e ri. Alguma coisa se exalta no meu peito, mas é afugentada pelo meu nervosismo. Colocam os microfones em nós, o que sempre envolve um dos caras do som ficando íntimo demais do meu decote (ou a falta dele). Então vamos até a beira da água.

Respiro profundamente e me concentro no oceano. O turquesa mais espetacular que já vi. Demi provavelmente chamaria de algum nome ridículo, tipo verde-casco-de-tartaruga. A distância, a água é linda e brilhante, e, quando você entra nela, bem de perto, é perfeitamente cristalina. Dá para ver direitinho a areia embaixo dos pés.

É a mesma coisa que atuar: é bastante diferente quando visto de perto. Quando você assiste a um filme, parece que é tudo uma coisa ininterrupta. A história passa de uma cena para a outra com uma graciosidade espontânea. Mas dia após dia, cena após cena, é tudo fragmentado e instável. Ponha a mão aqui, levante direito o queixo, enquadre os ombros no centro. Vá até a marca numa determinada palavra.

No entanto, o maior problema é que vivo muito no meu mundo interno. Wyatt fala isso o tempo todo. Ele grita comigo por causa disso. Pare de pensar! Mas eu não consigo. Fico preocupada em não captar a essência de Roberta e decepcionar milhões de fãs.

Já interpretei dezenas de personagens antes disso, personagens de Shakespeare e Tennessee Williams, até uma garota muito tagarela escrita por Steve Gleck, o aluno da oitava série que venceu o concurso de um ato da minha escola há alguns anos. Mas isso era diferente. Roberta é uma personagem amada no mundo todo, e é minha função trazê-la à vida. Ela terá meu rosto, minha voz, meu cabelo. Ela será eu. E se eu interpretá-la do jeito errado?

Parece tão fácil para Alfonso. Ele não ensaia. “Cai” de paraquedas no set, faz algumas piadas e, assim que Wyatt grita ação!, se transforma em Miguel. Parece um interruptor de liga e desliga.

O que é maluco, porque Miguel não se parece em nada com Alfonso. Alfonso é simpático e extrovertido, e Miguel é reservado e misterioso. Por outro lado, os dois têm cabelos castanhos e olhos castanhos esverdeados inexplicavelmente maravilhosos. Sem falar no abdômen. É simplesmente… lindo. Não há outra maneira de descrever.

— Precisamos melhorar hoje! — grita Wyatt. Sei que ele se refere a mim. Eu preciso melhorar hoje. E vou. Nunca fui daquelas que desistem diante de um desafio. Nem em sonho que agora seria a hora de começar.

Nesta cena, eu estou deitada na areia, nos braços de Miguel. Estou morrendo — há fragmentos de avião encravados por todo o meu corpo. Ainda bem que vão colocar a maioria por computação gráfica mais tarde. Assumimos nossos postos na areia. Eu me deito no chão e, em seguida, Alfonso se aproxima e fica bem do meu lado. Quando suas mãos tocam meus ombros, eu involuntariamente sugo mais ar que o normal. Essa é, de longe, a cena mais íntima que já fizemos.

— Você está morrendo! — grita Wyatt. — Essa merda está doendo! Dá para a gente conseguir sentir essa porcaria?

— Você consegue — sussurra Alfonso(Rainer) para mim.

Wyatt grita AÇÃO e eu começo a sufocar. Miguel se curva sobre mim sem saber o que fazer. Sinto as pontas dos dedos dele deslizando pelas minhas costelas. Percorrendo minha caixa torácica. Me concentro na minha sensação. Dor. Morte. Escuridão.

— Corta! — grita Wyatt.

Exalo o ar. Alfonso se senta no chão.

— Não está me convencendo — diz Wyatt.

Alfonso olha sério para ele.

— Poderíamos gravar um pouco mais rápido — ele diz.

Wyatt balança a cabeça.

— Eu quero sentir o desespero — ele explica. — Quero sentir como se você não soubesse o que fazer para que ela não morra, e você… — ele aponta para mim; aquilo faz meu sangue congelar —, você está praticamente inconsciente.

Ele se agacha do meu lado e diz, colocando com brutalidade uma mão no meu estômago:

— Precisa vir daqui, do seu centro, do âmago.

Ele se afasta, batendo os pés. Vejo que murmura alguma coisa.

Alfonso toca meu ombro e diz, calmamente:

— Não dê ouvidos a ele. Você está ótima.

Mas eu sei que ele está errado. Eu não estou ótima. Queria estar, mas não estou.

Começa a ficar quente, o sol vai subindo cada vez mais. Nick sabe ver a hora pela posição do sol. Uma vez ele tentou me ensinar, mas não compreendi direito como aquilo funcionava, já que não se pode olhar diretamente para o sol.