Fanfic: Saint Seiya - Initiu Legends (Saga Santuário) | Tema: Saint Seiya
— Vou te dizer... Que raiva eu tenho da Saori. E quando falo é raiva mesmo, a ponto de odiar aquela garota. — dizia Seiya caminhando de um lado para o outro, elevando os dois braços e dobrando para trás da cabeça. — É, eu odeio a Saori. ODEIO!
Exclama Seiya com tanta vontade que fez Miho parar o balanço e observar o amigo. Embora estivesse de folga naquela manhã, acordara cedo de costume e preparara um desjejum para ele, e levaria até sua quitinete se não o encontrasse a caminho do orfanato e ambos seguindo para um parque que havia do outro lado da rua.
Seiya ainda vestia a roupa da noite anterior, tendo o casaco apenas amarrado na cintura. Miho, por sua vez, usava um macacão com saia xadrez azulado e uma blusa branca por baixo de meia–manga e sapatilhas azuis. O lanche que havia levado, só restava uma bolsa vazia dobrada no chão acompanhado de um casaco. Ao ouvir aquelas palavras tão pesadas de Seiya, meio que chamou sua atenção.
— Nossa Seiya... Odiar alguém é tão... forte! — dizia Miho olhando para ele surpresa por sua reação. — Olha, eu não sei o que aconteceu nos anos que passou na Fundação, mas ela não pode ser esse... — ela tentava encontrar palavras, mas não encontrava qualquer um leve para usar naquele momento. — monstro, como pinta pra mim.
— Haha! Eu convivi tempo suficiente com ela para saber o quão nojenta e esnobe ela é, e confesso que nem esperava encontrá–la aqui. — dizia Seiya levando a mão à cintura, olhando para o parque. — Mas ela conseguiu ficar mais insuportável do que antes, do que realmente não queria lembrar.
Miho apenas arqueou o semblante ouvindo Seiya falar daquela maneira. A inquietação dele era notória, ficando a caminhar de um lado para o outro, muito ansioso e perturbado com alguma coisa. Continuava a balançar moderadamente, segurando nas correntes enquanto observava a creche do outro lado da rua.
— Não sei! — disse Miho suspirando. — A maneira como fala, nem parece que falamos da mesma pessoa. Nem parece a Saori que me deixou viver aqui no orfanato, a trabalhar aqui no 'Filho das Estrelas'... — dizia apontando para o orfanato mais à frente. — Se não fosse ela, onde eu estaria agora? Até mesmo Eiri! Eu poderia estar na rua ou... sabe-se lá onde.
— Bom, ela não pode ser o demônio encarnado todo o tempo. — disse Seiya sentando, por fim, no balanço ao lado. — Talvez ainda exista alguma alma naquele criatura.
— Foi tão difícil assim ontem? — indagou Miho demorando sobre Seiya, vendo–o baixar a cabeça.
— Não suporto ficar muito tempo no mesmo espaço que ela, Miho. — Seiya desabafava, olhando pra frente, vendo os carros passarem. — Aquele olhar pedante dela... me dá nos nervos, e ontem... Não sei explicar.
E realmente não sabia. Seiya não podia negar certa imponência vindo de Saori naquele momento, e seu olhar tinha um brilho incomum naquele instante. Sentiu–se intimidado diante de Saori, e não pareceu ser o único. Mesmo Hyoga, em sua arrogância, ficou a observá–la calado, com uma expressão longe daquele ar superior e nariz empinado que chegara na Cúpula do Coliseu.
— Seiya? — chamava Miho, fazendo Seiya se voltar para Miho. Por um instante esqueceu que estava ali com ela. — Perguntei se descobriu mais alguma coisa sobre sua irmã, sobre a Seika.
— Não muito. — disse se lamentando, lembrando dos documentos entregues por Saori como parte do acordo que fizeram. — Não existem grandes novidades, nada que você não tivesse me contado.
— Mas você não tinha feito um acordo com ela... — indagava Miho debruçando–se, apoiando–se na própria perna e olhando para Seiya.
— E ela cumpriu a sua parte... ao menos parte dele. — e Seiya percebeu o estranhamento de Miho. — Quero dizer. Ela me entregou uma pasta com informações sobre a Seika, mas existem páginas faltando. Começo a ler o 7 e de repente pula para... o 10, ou estou na página 27 e pula para 33. Ela tá jogando comigo.
— Talvez sejam partes não conclusivas... — disse Miho buscando encontrar justificativas para aquilo, mas apenas fez Seiya rir.
— Ela quer me forçar a continuar no torneio. Ela sabe que se eu souber o suficiente, eu caio fora! — disse Seiya olhando para Miho. — Quando digo que aquilo é um demônio, você não acredita...
Miho riu, batendo de leve em sua perna e ambos rindo daquilo. Ficaram a balançar ainda por mais alguns instantes. A garota realmente gostaria de ajudá–lo mais, e por isso levantava o maior número de informações possíveis dos antigos funcionários do orfanato, mas poucos se lembravam de Seika, senão de se dirigirem a ela como "a garota que fugiu", e isso não ajudava em nada. Miho se lembrava vagamente dela, alguém como ela era hoje, auxiliando no cuidado com as crianças como meio de manter–se próximo ao irmão. Lembrava–se ainda de quando Seiya partiu e de quantas vezes a pegou chorando nos corredores.
— Eu queria poder te ajudar mais, Seiya. — dizia ela parando o balanço e olhando para o chão com olhar triste. — Eu queria realmente poder te ajudar mais sobre a Seika.
Seiya parou seu balanço em seguida, descendo do brinquedo e parando diante de Miho, agachando–se para captar seu olhos que estavam vermelhos querendo chorar.
— E você está, Miho. Pensei de chegar aqui e estar sozinho, e encontrei você aqui! — dizia Seiya abrindo um sorriso e limpando uma lágrima que descia pela face da garota. — Você está sendo meu maior apoio, Miho. Não imagina o quão feliz fico em saber que posso contar com você.
Ela sorri, soluçando as lágrimas enquanto é ajudada por Seiya a levantar–se do balanço, recolhendo os pertences dela e entregando enquanto a convidava caminhar pelo parque.
— E de pensar que vivíamos brigando quando crianças... — disse ela relembrando.
— E Seika sempre apartando nossas brigas. — completou Seiya olhando o orfanato à distância e ouvindo o sino tocar. — E nós dois vamos encontrá–la, Miho. É uma promessa. Eu vou encontrar Seika! Se o preço for de me arrebentar naquela arena, eu aceito o desafio. — disse Seiya confiante.
— Quando é sua próxima luta? — questionou Miho fitando–o.
— No próximo fim–de–semana. Acho que o que aconteceu ontem a Saori vai dar uma folga, apresentar seminários e outras recreações, sei lá! Nem quero saber. — disse bufando e Miho somente olhou para ele de lado. — Eu vou aproveitar esses dias e procurar um trabalho qualquer. Estou ficando sem dinheiro, perdi total noção das coisas fora do Santuário... — lamentou Seiya.
De fato, no Santuário não havia qualquer preocupação com dinheiro. Rodório, como único vilarejo da região, era autossuficiente, produzindo somente o além para sustentar o vilarejo e o Santuário, pouco para a exportação. A sua economia era bem simples, vivendo mais do artesanato que por si só era vendida por alto valor no mercado pela riqueza dos detalhes, com louças e outros artigos que viravam luxos nas capitais gregas.
O excedente era sempre ofertado ao Santuário, posteriormente distribuído em igual para os aspirantes, soldados e cavaleiros. A única alta na região era na Panatenaia, a consagração de Atena que atraía muitos turistas, e o investimento seguia para a agricultura e cultura local. O porto mais afastado oferecia o extra na temporada de pesca, sendo o transporte para a Ilha dos Curandeiros, onde ervas medicinais eram encontrados em abundância e onde muitos enfermos eram levados para tratamentos mais intensivos.
Voltando pata o Japão, Seiya precisava interar–se de uma economia após 10 anos vivendo numa região totalmente anacrônica, e controlar o dinheiro havia se tornado bem complicado. Havia recebido um pagamento das semanas que esteve no navio vindo da Grécia para Tóquio, mas já estava acabando. Naquele momento, sentiu as mãos de Miho puxá–lo, e viu um pequeno envelope sendo estendido a ele.
— Não, Miho, isso não. Não posso aceitar... — dizia recusando aquilo.
— Aceite, Seiya! Não é muito, mas vai ajudá–lo até se ajeitar por aqui! — dizia ela puxando sua mão e entregando o envelope que tinha algumas notas. — Não é muito, eu sei! Eles me pagam por semana, e eu moro aqui, não estou precisando tanto quanto você. Quando se ajeitar, você me paga, ok? Até lá, eu te ajudo no que for preciso. Sabe onde me procurar.
Seiya olhava o envelope em mãos e sorriu para Miho, agradecendo mais uma vez por aquilo. Não se sentia nada à vontade, mas prometeu pagar–lhe em breve. Despediu–se da amiga e voltava para sua quitinete. Olharia mais uma vez aqueles papéis na esperança que poderia ter deixado algo passar ou mesmo por onde poderia começar investigando. Porém, a sua mente só estava concentrada sobre quem seria seu oponente na próxima semana.
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Uma pilha de jornais encontrava–se sobre a mesa. Todas já estavam folheadas e com as páginas abertas falando sobre o último combate do Torneio Galáctico. Embora rasgassem elogios sobre a organização e das imagens das lutas que se tornara febre mundial, não se podia ignorar as notas pequenas sobre a 'exposição do perigo nas lutas', ressaltando o 'perigo do envenenamento de Hidra' e seus males.
Cada nota explicava diferentes 'venenos' do cavaleiro e que danos poderiam provocar num corpo humano. As poucas páginas que recriminavam o torneio transformaram aquilo num sensacionalismo barato com informações de 'um dos cavaleiros gravemente ferido no Hospital da Fundação Graad', levando Saori pedir maiores informações do estado de Ichi e de Hyoga, este que se recusou a seguir diretamente para o hospital.
— Recebi uma cópia dos exames e relatórios médicos, Srta. Kido. — dizia Tatsumi chegando com uma pasta e entregando à Saori, sentada à mesa da sala–varanda.
Estava uma tarde fresca, permitindo que ela usasse uma blusa cavada deixando os ombros nus, levemente justo no busto e com caimento natural até à cintura de cor champanhe e desenhos de flores num rosa bebê. Usava uma calça tipo leging rosa mais forte e sapatilhas brancas. Os cabelos estavam presos mais ao alto e ela se servia de chá quando recebeu a pasta, pedindo o que poderia adiantar a ela.
— Hyoga fez todos os exames e não foi encontrado nada nocivo, mostrando–se perfeitamente bem, Já Ichi se manterá internado, mas está em plena recuperação e conversando com os médicos. — dizia Tatsumi juntando todos os jornais. — Sensacionalismo barato querendo vender jornal.
— E desmoralizar o Torneio Galáctico. — completou Saori respirando aliviada enquanto passava um olho nos relatórios médicos. Havia ali também de Seiya, mostrando que somente sofrera contusões. — Em todo o caso, mantenha a imprensa longe da Fundação e os médicos impedidos de dar qualquer informação. — alertou Saori e já providenciado por Tatsumi como ele mesmo afirmava de maneira categórica. — Ótimo! E quanto ao que pedi, já foi providenciado?
— Todos já receberam, exceto Seiya a quem mandei entregar hoje pela manhã. Descobri que está morando próximo ao porto. — respondeu Tatsumi apontando para a pasta nas mãos de Saori. Havia uma folha marcada com o brasão da Fundação.
— Que idiota! — comentou Saori meneando negativamente levando a mão à fronte enquanto olhava o papel.
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A porta do apartamento foi aberta com certa dificuldade, uma vez que Seiya trazia algumas bolsas de compras e quase derrubando tudo ao tropeçar em uma blusa jogada no chão. Após cambalear equilibrando a bolsa, conseguiu colocar sobre a mesa, xingando mentalmente. Suspirou aliviado de não ter quebrado um único ovo. Seguiu a porta para fechar e viu a pequena caixa de correio, que havia na entrada, sinalizado. Recolheu algumas malas–diretas, anúncios e um envelope amarelo da qual olhou com pouco interesse, jogando tudo sobre a mesa enquanto ligava a TV.
A programação era mais comentando sobre o Torneio Galáctico, principalmente sobre o 'envenenamento de Cisne' e sobre o 'congelamento de Hidra'. Seiya servia–se de água, guardando as compras — uma caixa de ovos, leite, biscoitos e macarrão instantâneo — enquanto ouvia os comentários sobre tudo ser um truque, um 'grande circo armado para entretenimento de um festival grego'. Isso despertava risos da plateia, principalmente por conta das caras e bocas do apresentador e animação no canto da tela.
Por fim, apenas reduziu o volume e tomava a pasta entregue por Saori. Mais uma vez buscava algo que ajudasse encontrar sua irmã. Folheando as páginas, Seiya notou o número de um telefone, sendo a central da Fundação Graad.
— Olá? Eu gostaria de saber informações. Queria saber se alguém de nome de Seika Ogawara os procurou..
"Seika Ogawara! Quantos anos? Ahn... 24–25 anos..."
"É mesmo? Pode me dar o número...? Obrigado!"
"Ahn? Ah, não... é Ogawara, não Higawara... Obrigado!"
Diversas folhas rasuradas encontravam–se sobre a mesa, com números de telefone, incluindo de Fundações Graad em outras cidades japonesas e até mesmo fora do país. O mais próximo que chegou foi uma senhora num asilo em Fukushima deixada poo sua neta, mas nada sabia de Seika.
Desde que aparecera na TV, nenhuma Seika buscou qualquer prédio da fundação, o que era muito ruim. Porém, Seiya insistia para si mesmo que era uma questão de tempo. Talvez ela estivesse em algum lugar onde a Fundação ainda não tinha se estabelecido e estava a caminho de um. Quem sabe em alguns dias não teria melhores resultados?
Seiya jogou a cabeça para trás, levando a mãos aos cabelos e olhando para o teto, voltando–se para frente e passando a mão no rosto e olhando todos aqueles papéis. Começou a juntar tudo, guardando as anotações mais importantes, jogando outras na lixeira, incluindo os panfletos pegos no correio — mal tinha dinheiro para as compras, imagine para roupas e outros supérfluos eletrônicos — até ver o envelope amarelo. Não tinha se atentado ter o selo da Fundação Graad. Aquilo fez o coração de Seiya disparar. Seria informação de sua irmã?
Seiya rasgou o envelope e se surpreendeu com seu conteúdo, engolindo a seco ao perceber notas de dinheiro num segundo envelope juntamente com uma carta com o valor 'pago de sua participação no Torneio Galáctico pelo serviço prestado'. Seiya ainda estava se atualizando quanto aos valores naquele mundo urbano, mas sabia que não somente devolveria o dinheiro emprestado por Miho como sobraria o suficiente para ele. Olhou a mala–direta recebida e para o dinheiro em mãos.
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Batidas foram ouvidas na porta, demorado por ser aberta por Shun que se mostrava distraído demais olhando aquela pena de ave tão incomum. Olhava–a contra a luz da janela, colocando de volta sobre sua mesa e respirando fundo. Encontrara aquilo na sala dos elevadores, vazia, após ter a leve sensação de alguém o vigiando nos corredores e perceber uma silhueta desaparecer nas sombras. Aquele jeito, muito lembrava alguém, lembrava seu irmão. Porém, não encontrou ninguém senão aquilo no chão. Nem havia acabado de assistir a luta, somente o sinal concedendo a vitória à Cisne.
Quando abriu a porta, viu apenas uma garota de cabelos longos e ondulados castanhos escuros presos na altura da nuca e mechas caindo sobre sua face num tom levando ao acobreado. Era uma empregada da mansão trazendo um envelope amarelo que Shun agradeceu. Não fechara a porta de imediato, olhando o brasão da Fundação Graad quando ouviu um barulho vindo do quarto de Jabu.
Jabu também havia recebido o envelope, mas estava sob uma mesa junto de uma maleta médica onde tinha algumas ataduras jogadas. Algumas grandes, outras pequenas. A porta não estava trancada, e ouviu–se duas batidas antes que Shun metesse a cabeça para dentro do quarto e visse o colega fazendo as amarras no braço direito.
— Jabu? Tudo bem? Ouvi um barulho e... — dizia Shun um tanto tímido.
— Tá tudo bem, Shun. Apenas... Apenas dei um mal–jeito colocando a ataduras. Não se preocupe... — disse Jabu de costas para a porta. Shun não perceberia a careta que ele fazia enquanto segurava o braço, da qual o cavaleiro olhava um tanto preocupado.
— Ahn, tudo bem... — disse forçando um sorriso e já fechando a porta, mas parou alguns instantes pensativo e olhando de volta para Jabu. Mordeu os lábios e respirou fundo. — Ahn, Jabu, será que poderia... conversar... digo, perguntar–lhe algo?
Jabu levantou a cabeça e olhou para um ponto qualquer do quarto. Sentiu apreensão nas palavras de Shun, e ele sentiu o mesmo, chegando engolir a seco. Olhou Shun por cima dos ombros, este ainda na porta com um olhar suplicante e segurando um envelope em mãos que batia de leve na outra vazia. Virou–se para ele, apoiando o braço na mesa e assentiu que sim.
— C-Como você tem estado muito com Saori... — dizia Shun entrando pouco mais no quarto, mas se recostando na parede e olhando para as mãos inquietas. Jabu apenas o assistia, silencioso. — Pensei se poderia saber algo... Tipo, ter informações do meu irmão... — Shun olhou ansioso para Jabu, os olhos quase umedecidos. — Informações sobre o Ikki.
Jabu, discretamente, respirou fundo. Fechando os olhos por breves instantes e antes de se voltara para Shun. Torceu a boca para o lado e meneou negativamente.
— Não, Shun. Não sei dizer se Saori sabe de alguma coisa... — dizia, percebendo o olhar triste do garoto e buscando amenizar aquilo. — Eu... Eu não fico perguntando sobre isso ou não me atentei exatamente. Sei apenas que ela tem buscado informações. Ela nem mesmo sabia da chegada de Hyoga. Todos nós só soubemos de verdade na Cúpula da Arena do Coliseu. Ikki deve chegar em cima da hora também.
Shun assentiu, olhando mais uma vez o envelope em mãos um tanto desinteressado. Jabu compreendia a ansiedade do colega junto à porta, pois era um dos poucos garotos que tinha um irmão mais velho que o protegia de tudo e de todos, separados quando 'adotados' e enviados para qualquer parte do mundo para se tornarem 'cavaleiros'. Cada dia que passava e alguém chegavam à Fundação, Shun esperava ser seu irmão, mas não havia qualquer evidência de seu retorno. Jabu não mentira sobre desconhecer a localização dos outros, e sentiu–se momentaneamente mal em dizer aquilo quando o garoto esperava alguma informação.
— É... É o que penso. — disse Shun após alguns minutos em silêncio. — Eu... E–Eu queria apenas... rever meu irmão. Saber se ele... está bem. — dizia com a voz levemente embargada. — Eu não deveria...
— Shun, ele vai voltar! — disse Jabu incisivo e olhando–o firme para ele. — Não deve se culpar por isso. Ele vai voltar. Lembra? Ele prometeu a você que voltaria. Se bem lembro do Ikki, ele não faltaria com sua palavra, principalmente com você. — e forçou um sorriso.
Shun assentiu, respirando fundo, fechando momentaneamente os olhos e forçando um riso com aquilo. Era verdade. Ikki jamais lhe faltou com a palavra e não seria aquela vez que faria isso. Era apenas uma questão de tempo e tão logo o veria naquele corredor com aquele seu olhar firme sobre ele. Agradeceu ao Jabu por aquilo, respondendo com um aceno e sorriso do colega de torneio e já se retirando quando lembrou do envelope em mãos, perguntando sobre o que seria aquilo.
— Ahn, acho que uma ajuda de custo. — disse Jabu tomando o envelope dele em mãos e abrindo. Retirou um segundo envelope e mostrando o dinheiro. — É um pagamento da Fundação Graad por nossa participação no Torneio Galáctico. Um pequeno salário mais bonificações pra cada vitória, exposição de imagem e outras questões burocráticas. — explicou Jabu dando os ombros. — Afinal, precisamos sobreviver de alguma forma.
— Entendo... — disse Shun abrindo seu envelope, encontrando realmente uma carta e dinheiro, passando a ponta dos dedos sobre as notas. — Bom, obrigado Jabu. Será que poderia pedir que se soubesse de alguma coisa sobre meu irmão... — e Shun viu Jabu assentir, agradecendo antes de deixá–lo novamente a sós.
Jabu viu a porta ser fechada e baixou a cabeça, olhando para o envelope e depois para o braço levemente enfaixado. Abria e fechava os dedos insistentemente, com uma expressão preocupada.
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O centro comercial estava bem movimentado. Os preços variavam de loja para loja e Seiya sentiu–se perdido como jamais imaginou acontecer antes. Eram lojas de roupas, calçados, eletrônicos, cada uma mais atraente que a outra, e também com valores discrepantes. Um mesmo casaco de manga de couro e linho vermelho sofria disparates de preços somente pelo detalhe de etiqueta, mas conseguiu comprar aquela mais barata e que mantinha uma boa qualidade de material. Comprara ainda calça jeans, blusas básicas e outro casaco e ao menos um tênis. Estava até considerando divertido, mas havia de economizar para entregar o dinheiro da Miho e para uma reserva futura. Não sabia até quando Saori faria aquela 'generosidade'.
Sentou–se na praça de alimentação e pediu um lanche de uma conhecida rede fast–food. Acostumara–se com a comida natural do Santuário, algumas até fruto de suas caçadas nos bosques da região, e aquilo nem parecia ter gosto de qualquer coisa. Ao menos sabia que o dinheiro ajudaria a comprar algo melhor que macarrão instantâneo.
— Seiya? — alguém o chamou pelas costas, vendo Shun carregando algumas compras como ele, mas já vestindo uma calça cargo verde e um casaco de manga comprida branca tipo moletom fechado, sobreposto uma blusa magenta. Ele trazia uma bandeja com lanche, tal qual Seiya comia. — Não imaginava te encontrar aqui. Posso me sentar com você?
— Ahn? Claro, Shun. Sente–se! — dizia Seiya retirando suas bolsas e colocando no chão, próximo aos pés, embaixo da mesa. — Parece que pensamos em igual. Também recebeu seu pagamento do circo da Saori? — disse ele bebendo do suco que pedira no lugar de refrigerante e servindo–se das batatas fritas.
— Sim, recebi hoje, e aproveitei para comprar algumas roupas. — disse sentando–se, colocando suas bolsas no chão tal como Seiya. — Tinha apenas algumas roupas que o mestre Albion conseguiu para a minha partida.
— Somos dois, além das vestimentas de treino. — completou Seiya assentido por Seiya. — Digamos que no Santuário não existe exatamente uma moda, sendo um lugar bem anacrônico, eu diria... — riu ele, acompanhado por Shun quando atentou–se num detalhe dito por ele. — Tu disse, Albion? Foi treinado por Albion? — Shun se mostrou surpreso, mas assentiu indagando do porque da surpresa. — Já ouvi falar dele pela minha mestre, dito como um Prata de grande respeito. Foi incumbido de ser o guardião na Ilha de Andromeda!
— Nossa! Não sabia que meu mestre era assim tão conceituado. — dizia Shun orgulhoso. Estava a derramar maionese num sanduíche e parou, com ar nostálgico. — Ele é alguém admirável, Seiya. Paciente, um pai na verdade. Alguém com quem podíamos contar sempre.
— Assim como a Marin. — comentou Seiya debruçando–se sobre a mesa. — Sinto falta das conversas com ela, embora fosse bem exigente nos treinamentos... — e riu, baixando a cabeça, comendo outra batatinha.
— Marin... Marin... — dizia Shun batendo de leve na mesa, lembrando–se. — Uau! Meu mestre a conheceu, chegou a comentar dela enquanto treinava no Santuário. Ela também é uma Prata, não é? — indagou Shun, confirmado por Seiya. — Coincidência nossos mestres se conhecerem... — e logo o semblante de Shun ficava triste, desviando o olhar de Seiya, mas que reparou na mudança repentina de Shun. — Nós dois parecemos ter tidos mestres maravilhosos. Espero apenas que Ikki também.
— Alguma notícia dele? — indagou Seiya olhando para Shun.
Lembrava bem do quanto os dois eram unidos, e serem separados daquele jeito muito lembrava ele e Seika, fazendo Seiya compreender bem aquela dor, aquela ânsia de reencontrar seu irmão. A diferença entre eles é que Shun era mais certo de um reencontro com Ikki que dele com Seika, já que ela não retornaria de treinamento algum. Estava desaparecida, sem qualquer informação de onde estaria. Apenas Jabu tinha essa informação porque estava na sala naquele dia, mas não sabia se ele tinha comentado com os outros. Por hora, deixava apenas como algo particular.
— Nada! Perguntei ao Jabu mais cedo, já que está sempre com Saori, e saber se ele sabia de algo. Tipo... se ouviu alguma coisa, sei lá! — respirou fundo. — Ele disse que não sabia de nada, mas que veria algo. — e deu os ombros, torcendo a boca para o lado contrariado.
— Bom, não espero nada do Jabu, mas ele tem mais chances de saber alguma coisa. Ele tem nada contra você mesmo. — dizia Seiya sentando–se ereto na cadeira. Mas, sendo o cachorrinho da Saori, tem mais chance de saber alguma coisa. Mas, não se preocupe... — e Seiya esticou o braço para bater de leve na mão de Shun ainda sobre a mesa.
Shun sorriu. Ouvir aquilo de Seiya e de Jabu no mesmo dia o deixava mais animado.
— Mas estou preocupado com Jabu, ele não tem estado muito bem. — comentou Shun, chamando a atenção de Seiya que derramava o resto da batata na bandeja. — Ele anda estranho...
— Jabu é estranho. Quando não está atrás de Saori como cachorrinho atrás do dono, está bancando o 'bonzão' prepotente. — comentou Seiya colocando três palitos de batata na boca, falando de boca cheia.
— Estou falando sério, Seiya... — pontuou Shun num tom ainda preocupado. — Sei que você e Jabu não se dão bem, mas... — suspira. — Ele realmente não está legal.
— Eu também estou, acredite! — e engole a batata que mastigava. — Deve ter exagerado nos treinos, apenas isso. E estava a falar do Hyoga... — e riu daquilo, bebericando de seu suco. — Aliás, tão arrogante quanto o patinho russo cuspindo em cima de geral como ontem. Aliás, se ele chegou em cima da hora, não duvide que Ikki também chegue...
Seiya voltou a olhar para Shun que tinha os olhos fixos às suas costas. Ele engoliu os palitos a seco, já imaginando que Hyoga estivesse bem atrás dele, e logo se virou. Não havia ninguém. Porém, viu sim Hyoga mais ao fundo falando com alguém, e muito lembrava o homem que viu no coliseu, a quem parecia reconhecer.
— Quem é aquele com Hyoga? Não era quem achava conhecer? — indagou Shun sem tirar os olhos de Hyoga.
— Sim, e algo me diz que não é boa coisa. — respondeu Seiya, bem sério.
Autor(a): katrinnae Aesgarius
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Santuário de Atena, Grécia Os passos ecoavam no corredor do Templo do Patriarca. Ao longo do caminho, podia–se admirar as paredes brancas em blocos de mármore e fios dourados a 1,20m do chão, seguindo depois escorrida até o teto, com suas quinas trabalhadas em gesso criando um visual estereóbata — em três camadas ...
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