Fanfic: Pecados e Desejos *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Ergui os olhos para o homem que segurava o cachorro e fiquei perplexa ao ver Alfonso.

Antes que eu pudesse compreender o que estava acontecendo, ele disse:

— Desculpe. Não tinha visto você aí, mas o Kafka saiu disparado na frente e logo estava em cima de você. É um cão manso. Te assustou?

Eu não podia acreditar que era mesmo ele.

Mas sua beleza era inconfundível, assim como seus olhos verdes, muito claros ali.

Senti-me bombardeada por todos os lados por sua aparência gritantemente masculina, o peito nu e musculoso encoberto por uma fina camada de pelos escuros, apenas uma bermuda cobrindo-o.

Fui envolvida por uma onda de excitação, nervosismo e confusão.

Tentei recuperar o controle, ignorando o coração que batia fortemente, o corpo dormente parecendo fora de controle.

Bati na areia dos braços e consegui indagar o mais friamente possível:

— O que você está fazendo aqui?

Alfonso me observou atentamente. Estremeci por dentro.

Soltou o cachorro, que saiu correndo pela areia. Quando se ergueu, percebi que era mais alto que eu, pelo menos uns dez centímetros.

Pela primeira vez senti-me quase delicada perto de um homem.

— Eu moro aqui.

— Aqui?

Ele apontou para a casa do penhasco.

Fiquei muda, surpresa.

— E você, Anahí? O que está fazendo aqui?

— Eu... Não sabia que você morava aqui. — disse com desagrado, como se aquilo explicasse tudo.

— Compreendo. Se tivesse essa informação não viria. Estou certo? — seus olhos verdes eram muito penetrantes.

— Está. — senti meu coração acelerar ainda mais.

O descontrole que aquele homem causava em mim me enchia de raiva, principalmente de mim mesma.

— Percebi que não gostou de mim ontem na livraria. Poderia até acrescentar que me olhou com ódio.

Não consegui desviar meu olhar.

— Não posso odiá-lo. Nem o conheço. Apenas não aprovo o que sei do senhor.

— Refere-se a Letícia.

— Sim. Mas isso não é da minha conta. Eu preciso ir.

— Espere. — Alfonso passou a mão pelo cabelo escuro que o vento jogava em sua testa.

Era um gesto naturalmente charmoso e fez ondular os músculos de seu bíceps e de seu peito.

Senti a garganta seca, sem poder evitar notar aquilo, muito ligada a cada parte dele que parecia encher meus olhos.

— Gostaria de resolver nossas diferenças agora.

— Nossas diferenças? — franzi o cenho.

— Exato. Para que quando nos encontrarmos novamente, não seja fulminado por esses olhares de ódio.

— E o que isso lhe importa?

— Sempre achei que gostaria de você se a conhecesse pessoalmente, Anahí. E ainda penso assim.

Um arrepio percorreu minha coluna.

Ergui mais o queixo, não querendo ligar para o modo como estava abalada.

— Como pensava isso se não me conhecia?

— Eu a conhecia...

O cachorro latia, correndo perto das ondas que quebravam na areia. Percebi aquilo com uma ínfima parte de mim.

Quase que cem por cento da minha atenção fixava-se somente em Alfonso.

—... através de Letícia.

Eu entendi.

Como falava dele para mim, também falava de mim para ele.

Enrubesci, imaginando o que minha irmã poderia ter dito.

Na certa nada que o fizesse sonhar comigo. Talvez coisas como, dona da verdade, fria, igual à mamãe, patinho feio da família...

Como se pudesse ler meus pensamentos, Alfonso disse baixo:

— Você é muito diferente de Letícia.

Eu senti um baque na boca do estômago, como se ele estivesse dizendo que eu não era nem bonita, nem sensual, nem interessante como a minha irmã.

Ergui o queixo e apertei os lábios.

— Tenha um bom dia! — e dei-lhe as costas, para me afastar.

— Anahí!

Eu dei dois passos e, chocada, o senti segurar meu braço.

O toque dos dedos dele sobre a minha pele pareceu me queimar e eu puxei o braço com força, voltando-me para encará-lo com raiva.

Alfonso ficou surpreso com a minha reação.

— Eu não quis ofendê-la! Como pode dizer que não me odeia?!

— Quer saber a verdade? Pois bem, Senhor... Acho que é um aproveitador barato, que usa as mulheres até enjoar e depois se desfaz delas em busca de novas conquistas. Infelizmente, minha irmã foi tola o bastante para cair na sua lábia. Esse seu ar de homem educado não me convence... Quero apenas que fique longe! E que nunca mais toque em mim!

Eu me assustei ao perceber que quase gritava, descontrolada.

Alfonso estava sério, seus olhos parecendo ler minha alma, me desnudando sem que eu pudesse evitar ou me esconder.

E suas palavras só me deram ainda mais certeza disso.

— Eu compreendo perfeitamente, Anahí.

O tom de voz dele e seus olhos brilhantes, profundos, me arrepiaram.

Tive a sensação de que sabia sobre meus sonhos com ele, e do desejo arrasador que despertava no mais fundo de mim, mesmo contra minha vontade.

Tentei me convencer que não havia como saber daquilo. Mas o medo me corroeu, voraz.

Dei-lhe as costas e praticamente corri para longe, fugindo covardemente.

Não me incomodei com a areia quente sob meus pés. Parei apenas para pegar os tênis no caminho e subi pelo morro até o carro, angustiada, ofegante.

Só me senti segura novamente quando dirigi para longe daquela praia. Dele.

Nunca mais voltaria ali.