Fanfic: Pecados e Desejos *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo 3 - Voltando Atrás

Anahí

O encontro com Alfonso não me deixou em paz nos dias seguintes. Não saí da fazenda para não correr o risco de vê-lo, mas ele não saía da minha mente e dos meus sonhos.

Ficava revoltada com aquilo, mas era algo que fugia ao meu controle.

Joaquim piorava lentamente e só uma vez ou outra reconhecia as pessoas.

Letícia, apesar de ter dito que não aguentava tantas responsabilidades, quase não parava em casa.

Largava Nate comigo e com Elisa, Joaquim com a enfermeira e a fazenda com o administrador.

Tinha confessado para mim que estava se encontrando com um turista alemão e vivia sempre linda e radiante.

Nunca estava presente quando Joaquim recuperava a consciência.

Mesmo sabendo que minha irmã me achava uma chata, eu tentava trazê-la à razão. Deixei claro que Joaquim talvez não tivesse nem duas semanas de vida e que, em nome do amor e do respeito que ele lhe devotara naqueles anos de casamento, podia ao menos ficar ao lado dele e do filho naquele momento.

Letícia ouviu a tudo com desdém. Retrucava me acusando de querer ser perfeita e mandar em sua vida. E se arrumava e fugia dali.

Comecei a entender por que ela tinha insistido tanto para que eu viesse para a fazenda. Largava cada vez mais a responsabilidade de tudo nas minhas mãos. Sabia que eu me preocuparia e não teria coragem de partir.

Apesar de Nate viver emburrado e comendo de tudo, eu não desistia de tentar conquistar a sua amizade e a sua confiança.

Ele me evitava, recusava os passeios, fechava-se em si mesmo e fugia de qualquer aproximação.

E em meio a tudo aquilo, por incrível que pudesse parecer, minha estafa não piorou. Parecia ter estagnado.

Acho que eu me preocupava tanto com os problemas da família de minha irmã, que nem tinha tempo de pensar nos meus.

Sofria por Joaquim e às vezes até agradecia a Deus por ele ficar a maior parte do tempo sem consciência. Aquela doença degradava corpo e mente, e ninguém poderia fazer nada. Era só dar um conforto a ele para não sentir dores e esperar a morte chegar.

Eu sempre gostara do meu cunhado, apesar de ter um pé atrás com qualquer homem. Mesmo sem conhecê-lo tão bem, sabia que era honesto, bom caráter, um ótimo pai e um excelente marido.

A princípio não fui muito favorável àquele casamento com um homem tão mais velho, mas logo mudei de ideia quando o conheci. E pensei que, se alguém pudesse dar jeito em Letícia, esse alguém era ele.

Tinha me enganado redondamente.

Mesmo no começo do casamento, quando Joaquim ainda era forte e elegante, cheio de amor e mimos com ela, minha irmã arrumava amantes, principalmente entre turistas da cidade.

Sentia prazer em contar seus casos para mim, como se sentisse orgulho de si mesma, e se divertisse com as minhas reprovações.

Costumava dizer que eu não sabia o que estava perdendo.

Quatro dias depois do encontro com Alfonso na praia, eu me sentia sufocar naquela casa.

Nate estava mais agressivo do que nunca e nem me deixava chegar perto dele.

Mal via Letícia, sempre apressada e animada com sua nova conquista, ignorando tudo que acontecia em seu lar.

E Joaquim piorava a olhos vistos, sem que eu pudesse fazer nada para ajudar, mesmo com meu diploma de Medicina.

Naquele dia Joaquim estava acordado quando fui vê-lo, e conversamos um pouco.

Ele falou baixo, mas agradeceu por eu estar ali e pediu que ajudasse Letícia a cuidar de Nate. Não perguntou por ela nem reclamou de sua ausência, até mergulhar de novo na inconsciência.

Depois disso, desci para a sala arrasada.

Não sentia fome, mas precisava desesperadamente de um café quente e fui para a cozinha.

Perguntei a Elisa por Nate.

— Foi até a cidade com Matias buscar as compras. Ele estava mais animado hoje. Conversou bastante com o pai. — Elisa sorriu tristemente e voltou a limpar o fogão. — Disse que queria tomar um sorvete.

Eu tomei meu café, pensando que gostaria de ter ido com eles e fugir um pouco da morte, da doença e da tristeza, que começavam a me sufocar naquela casa.

Imaginava como Nate, sendo tão criança ainda, devia se sentir.

— E Letícia?

— Saiu cedo. Disse para não a esperarem para o almoço. — Elisa me fitou. — Ah, dona Anahí, falando nisso, o que devo preparar para o almoço?

Confusa, ergui os olhos de minha xícara e fitei a senhora, que esperava as minhas ordens como se eu fosse a dona da casa.

Só então me dei conta como Letícia estava jogando as responsabilidades em cima de mim.

Senti-me cansada, pesada, sufocada.

Levantei-me lentamente.

— Não sei, Elisa... Faça o que você achar melhor. Eu vou pegar a pick-up e dar uma volta. Estou com meu celular e você tem o número. Se algo acontecer é só ligar. E obrigada pelo café.

Saí da casa como se fosse perseguida por assombrações, me sentindo sufocar ali.

Peguei o carro e dirigi para fora da fazenda, sem rumo, procurando apenas alívio e liberdade.

Estava muito agoniada, sem saber ao certo como lidar com problemas que não eram meus, mas dos quais eu não poderia fugir, ou fingir que não existiam.

Pensei em ir até a cidade, procurar meu sobrinho, passar o dia com ele. Mas lembrei do modo como o garoto vinha me tratando e temi perturbar o passeio dele.

Quando parei o carro na beira do barranco é que me dei conta de onde estava.