Fanfic: Pecados e Desejos *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Meu coração bateu descompassado e eu pensei imediatamente em fugir dali.

Como eu podia ter dirigido até aquela pequena praia abaixo da casa de Alfonso Herrera? O que eu estava querendo?

Não quis pensar. Disse a mim mesma que só tinha vindo ali em busca de paz, solidão... E que as chances de outra coincidência com Alfonso eram mínimas.

Saí do carro e o tranquei, sem dar chance para minha consciência me impedir. E logo descia o barranco, ansiosa, nervosa.

Olhei para a praia, e sem conter a decepção, percebi que estava vazia.

Como se meus olhos tivessem vida própria, ergueram-se para a casa branca do penhasco. Quase pude visualizar Alfonso lá, e imaginei como ela seria de perto e por dentro.

Tirei os tênis, dobrei a calça de malha cinza até as canelas, e segurando o calçado pelos cadarços, comecei a caminhar à beira mar molhando os pés na água fria e cristalina.

A praia era pequena. Andei por ela indo e vindo várias vezes, parando para admirar o mar reluzente com ondas mais fortes naquele dia, aspirando a maresia, sentindo o vento contra o rosto e nos meus cabelos presos.

Ergui novamente os olhos para a casa.

O passeio, ao invés de me relaxar, me deixava mais tensa.

Algo de ruim se avolumava dentro de mim, sentia vontade de gritar, extravasar toda preocupação e agonia daqueles dias.

Precisava desesperadamente de alguma coisa, mas não sabia de quê.

Estava cansada. Queria vida, ar, liberdade...

Nunca agi por impulso ou me deixei levar pelas emoções. Mas, algo mais forte do que eu, me impulsionava até aquele lugar e fui lentamente em direção aos degraus de madeira que serpenteavam o penhasco.

Com a mente num turbilhão e o coração batendo como um louco no peito, segurei o corrimão e comecei a subir, sem saber ao certo o que estava fazendo.

Não pensava. Não queria escutar minha própria razão, que me criticava por aquele ato insano, aquela loucura sem cabimento.

Apenas me deixei ir, como se fosse independente de todo o resto. Parecia estar fora de mim mesma.

Tremia quando subi o último degrau e olhei para baixo.

A praia belíssima, a vegetação, as pedras e o mar estavam aos meus pés, como um paraíso me aguardando.

Só então olhei à minha volta.

Havia um caminho de terra entre as moitas e flores coloridas rasteiras ao chão e pequeninas. Segui por ele até dar numa rua mais larga à esquerda, que sumia numa curva.

À direita ficavam os muros brancos da casa e um enorme portão de garagem aberto.

Eu me aproximei.

Minha mente parecia rodopiar com vários pensamentos e sensações que eu não queria analisar naquele momento.

Simplesmente agi, sem pensar em causas ou consequências, levada pelos instintos pela primeira vez na vida.

Passei pelos portões de madeira pintados de branco, meu olhar passeando em volta.

Chão de cascalho, árvores balançando ao vento, um Cherokee enorme e preto na garagem, ao lado de uma moto igualmente impressionante...

E a casa.

Era magnífica. Térrea, toda branca, com varandão cercando-a por inteiro. Plantas em vários tons de verde e coloridas se espalhavam por lá, movendo-se com a brisa.

As enormes vidraças refletiam a luz do dia. Algumas das janelas estavam abertas e por elas escapavam cortinas de voal brancas.

A construção se estendia até a beira do penhasco, com muro cercando-a toda.

Eu não pensei que era uma intrusa ao subir os degraus da varanda de lajotas frescas após o chão morno lá de fora.

Não pensei em nada ao me aproximar da porta de madeira branca e tocar a campainha.

Apesar do calor, eu estava gelada.

Meu coração parecia bater em minha garganta e eu apertei os cadarços dos tênis em uma das mãos, tentando recuperar meu autocontrole, ser eu mesma...

Mas no fundo não queria. Só queria estar ali.

Uma eternidade se passou.

Quando a porta abriu-se e Alfonso apareceu, apoiando um braço sobre ela na altura da testa e me fitando, uma onda de calor, excitação e nervosismo, me envolveu e tirou meu ar.

Fixei seus olhos verdes e tornei-me bem consciente de tudo.

O chão frio sob meus pés nus, a brisa suave que soprava e fazia as plantas balançarem, o silêncio que nos rodeava...

Sobretudo fiquei consciente de mim mesma e do modo como me sentia viva como em nenhum momento da minha vida.

Alfonso estava com os cabelos escuros em desalinho, uma camisa larga e branca, calças largas e brancas de algodão, e descalço.

Seu bronzeado e o tom da roupa pareciam deixar seus olhos ainda mais verdes, em destaque no rosto másculo onde uma sombra de barba despontava.

Ele estava visivelmente surpreso, as sobrancelhas escuras franzidas.

Por um momento apenas me olhou, tão intensamente que o medo começou a percorrer minha coluna e me dei conta do ridículo de tudo aquilo.

Tentei procurar uma desculpa para mim mesma, mas não havia nada mais além do que a minha vontade.

Sabia que precisava de uma explicação.

Antes que Alfonso dissesse algo, murmurei com uma voz rouca que não reconheci como minha...

— Eu... Eu vim por que... Não agi certo com você naquele dia. Eu fui... Muito rude. Não me senti bem com isso. Afinal, mal o conheço.

A desculpa soou esfarrapada, até para meus ouvidos desnorteados.

Corei, percebendo a loucura de tudo aquilo.

Como se fosse a coisa mais natural do mundo eu estar em sua porta, Alfonso deu-me passagem e disse suavemente:

— Entre, Anahí.

"Vá embora!", gritou uma voz histérica dentro de mim.

Mas eu me sentia estranha demais para obedecer.

Passei por ele e entrei.