Fanfic: Pecados e Desejos *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Alfonso

Eu fechei a porta e a segui pelo hall até a espaçosa sala, observando-a mais do que surpreso.

Percebi seu nervosismo, a coluna muito reta, o modo como olhava em volta, desde o chão liso de tábuas corridas até as poltronas e sofás de couro macio, não deixando escapar nada.

Enquanto isso meu olhar se fixava nela.

No cabelo castanho firmemente preso em um coque, o pescoço longo, o formato esguio de seu corpo e do rosto, que poderia ser aristocrático e anguloso demais para uma mulher, não fossem os lábios extremamente carnudos e a curva graciosa das sobrancelhas arqueadas.

Não era feia nem bonita. Era diferente, singular, atraente à sua maneira.

Apenas um pouco magra demais, principalmente por sua altura.

Estava curioso com sua presença ali, mas seria um idiota se não notasse o modo como me olhava.

Da primeira vez, tinha apenas fúria ali. Da segunda, na praia, percebi uma intensidade, um nervosismo que assustava até mesmo à ela.

E agora... Aquele olhar me consumia, com uma fome tão voraz que era impossível não entendê-lo.

Parou no meio da sala, nervosa, virando para me encarar.

Piscou, como se não pudesse aguentar meu olhar atento, assim desviando-o para os tênis que segurava, os pés nus.

Sua pele clara ficou corada.

Murmurou:

— Eu não devia estar aqui...

Ela era um poço de contradições.

Acostumado com mulheres mais diretas e soltas, mais à vontade consigo mesmas, senti o quanto Anahí era diferente.

Lembrei das vezes em que Letícia falou dela, dando a entender que era fria, fechada, virginal.

Mas não tinha dito que havia um vulcão dentro dela, prestes a entrar em erupção...

— Fico feliz que tenha vindo, Anahí. — sorri devagar e seus olhos se arregalaram um pouco. — Fique à vontade. Não sou o bicho-papão.

Ficou ainda mais corada, as bochechas vermelhas.

— Acho melhor ir embora. Só queria deixar claro que não te odeio e...

— Tudo bem. Já tomou seu café da manhã? Venha...

Passei por ela e, como se fosse a coisa mais natural do mundo, segurei sua mão e fui levando-a para o terraço na frente de casa.

Não opôs resistência, mas estremeceu visivelmente e me seguiu calada.

Sua mão era leve, fina, de dedos longos, bem macia e fria.

Chegamos ao terraço, com sombra e plantas que se estendia até o muro que protegia a casa do penhasco. Podia-se ouvir o barulho do mar lá embaixo e ver o céu muito azul que nos cercava por inteiro.

Ela olhou para a rede branca ali perto, as espreguiçadeiras e a mesa branca com duas cadeiras posta para o café da manhã.

— Sente-se, e fique à vontade. — falei soltando sua mão, não querendo assustá-la mais do que já estava.

Fitou-me rapidamente nos olhos e pareceu mais nervosa.

— Estou atrapalhando você...

— Não. — puxei uma cadeira para ela, sem mover meus olhos um milímetro sequer dos dela, sério, falando baixo. — Sente-se.

Ela obedeceu e largou os tênis no chão, tensa, os ombros eretos.

Sentei na cadeira de frente e percebi os sentimentos controversos que passavam pelo rosto dela, como se qualquer movimento mais brusco meu a fizesse sair correndo dali.

Agi normalmente.

— Geralmente tomo café mais cedo. Mas estou trabalhando desde a madrugada e só agora tive tempo de parar um pouco. De estômago vazio não sou ninguém. Suco?

Fez que sim, como se nem soubesse do que eu falava.

Despejei suco de laranja em dois copos e pus um na frente dela.

— Prove os pães de queijo. São deliciosos.

Minha sensação era a de que estava passando fome.

Havia sombras sob seus olhos e a clavícula era bem pronunciada. Se tivesse uns quilos à mais, seria bem mais bonita. Não pude deixar de notar que os seios sob a blusa larga eram pequenos.

Não era curvilínea e sensual como as mulheres com as quais eu estava acostumado.

Mas de alguma maneira me atraía.

— Sirva-se à vontade, Anahí.

Seus olhos passaram pela mesa farta, mas negou num gesto de cabeça. Pareceu relaxar um pouco mais e olhou em volta.

Por fim se deu conta de algo e me encarou de novo.

— Bach?

A música tocava desde antes dela entrar ali, mas seu nervosismo nem a deixou notar.

Eu adorava ouvir música, de todos os tipos, dependendo do meu estado de espírito. Sempre foi uma companhia para mim, mesmo quando estava sozinho.