Fanfic: Pecados e Desejos *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Durante os anos que vivemos juntas, nossa mãe deixou claro para nós duas as diferenças entre uma e outra.

Eu nunca invejei a beleza e a vitalidade de Letícia, pois a relacionava ao nosso pai, de quem guardava mágoa.

Mas muitas vezes imaginei como seria ter a aparência da minha irmã, rir como ela de qualquer coisa, ser mais livre...

Dificilmente eu tinha motivos para sorrir.

Aos 28 anos Letícia estava no auge de sua beleza.

Não era alta nem esguia, parecia ter a altura certa para uma mulher e era escultural. Sempre tivera um corpo de virar a cabeça dos homens, mas o deixara ainda mais bonito com cuidados, ginástica, tratamentos estéticos, bronzeamento, e tudo que o dinheiro do marido permitia fazer...

Assim como seus cabelos, antes castanhos claros, agora eram louros longos e brilhantes, combinando perfeitamente com a pele dourada e os olhos cor de mel.

Ao atravessar a roleta, eu sorri para ela.

Percebi que, apesar de nossos problemas e diferenças, eu tinha sentido saudades dela naqueles anos que ficamos sem nos ver. E uma onda de carinho por minha irmã caçula me envolveu.

— Oi, Letícia.

— Anahí! Quanto tempo! — seu sorriso era amplo, branco, perfeito.

Nos abraçamos e depois nos afastamos.

Seu olhar me percorreu de cima a baixo e ela pareceu preocupada.

— Querida... Você parece tão cansada... Emagreceu ainda mais.

— Estou bem. E você está linda.

— Que nada, mal tenho tempo de me cuidar... Estou tão feliz que você tenha vindo! — apertou minha mão com carinho. — Não vai se arrepender, eu prometo. Venha, vamos para o carro.

A ilha de Florada possuía apenas um centro relativamente grande e movimentado, mas em geral era formada por pequenas e médias fazendas e alguns sítios.

Os moradores conheciam-se ao menos de vista e tinham tudo que precisavam ali. Escola, igreja, supermercado, hospital, um grande hotel, pousadas para receber os turistas, restaurantes, um cinema e até um pequeno teatro.

Tudo era rodeado por campos verdejantes, morros suaves, praias belíssimas, algumas cachoeiras e quedas d'água.

Havia uma profusão de flores coloridas por todos os lados, e a cidade asfaltada e moderna dividia espaço com a natureza exuberante.

Turistas de todas as partes do mundo passavam por ali todo ano. Era uma cidade calma, com baixíssimos índices de violência e um verdadeiro paraíso.

Letícia costumava dizer que quem ia morar ali nunca mais saía.

Ela tinha um jipe conversível branco e nos acomodamos nele, depois o carro seguiu pelas belas e arborizadas ruas com casas coloridas.

Eu olhava em volta, encantada pela profusão de flores.

Não havia como negar que a ilha era um espetáculo para os olhos.

— Como estão Joaquim e Nate? — voltei-me para minha irmã, que tinha colocado os óculos escuros, e estava com os cabelos louros esvoaçando ao vento.

— Mal. — ela fez uma careta. — Você sabe, Joaquim não sai mais da cama. Contratei enfermeiras para me ajudar, pois tenho que cuidar da fazenda, do Nate, das coisas no casarão e de mim mesma.

— Por que não contrata um administrador para a fazenda?

— Já fiz isso. Mas tenho que ficar de olho.

— Imagino como deve ser duro para você...

— É horrível! E Nate... Nossa, ele só me dá dor de cabeça! Faz de tudo para atrapalhar a minha vida!

— Ele só tem sete anos, Letícia...

— Mas é um monstrinho! Você vai ver! Ele me odeia, Anahí. E parece um porco, gordo, sem educação... Tem horas que penso que vou explodir!

Deixei que desabafasse e fitei a paisagem em silêncio.

Mas ouvir uma mãe sendo tão depreciativa sobre o próprio filho me incomodou.

Entramos em uma estrada que seguia para o interior da ilha e se afastava do centro.

Era rodeada por campos, árvores que balançavam ao vento, e vegetação em vários tons de verde.

— Você sabe que nunca fui muito maternal. Gosto do Joaquim, mas nunca imaginei que casar com ele fosse me trazer tantos problemas. Tive Nate porque ele era louco para ter um filho. Agora está doente e tudo cai sobre as minhas costas...

Eu franzi o cenho.

Letícia nunca fizera segredo para mim de que se casaria com Joaquim só por seu dinheiro.

Ela estava agora com 28 anos e ele com 65. Era quase quarenta anos mais velho.

E apesar dele ter ficado doente, ela levava uma vida de rainha.

Pelo que me contava, nunca deixou de sair, se divertir e ter amantes, deixando o filho com babás e o marido com enfermeiras.

— O que você tem feito? — perguntei para desviar o assunto.

— Nada! Minha vida está um saco, Anahí. Desde que Alfonso me deixou, estou perdida, desorientada! Nós nos divertíamos tanto juntos, era muito mais fácil suportar os meus problemas...

Eu não queria ouvir falar daquele homem.

— O que os médicos falam sobre Joaquim?

— Aquilo que você já sabe. Não tem cura e vai ficando cada vez pior. — ela balançou a cabeça, inconformada. — Ele parece um bebê... E cada vez mais perde o senso de realidade. Muitas vezes nem reconhece a gente!

— Nate deve sofrer muito com isso.

— E eu?! Em vez de me ajudar, aquele garoto me dá mais trabalho!

Eu começava a entender por que meu sobrinho tinha problemas com comida, e de relacionamento com a mãe.

Pelo visto Letícia o considerava um estorvo, e não fazia questão de esconder isso dele.

— Você precisa ter paciência com Nate, Letícia. Deve ser muito difícil para ele ver o pai nesse estado.

— E quem tem paciência comigo?! Joaquim nem sabe mais que eu existo! Estou totalmente só! Até Alfonso me abandonou! Só tenho você, Anahí... Estou precisando muito de alguém ao meu lado.

— Acalme-se. Tudo vai ficar bem, você vai ver.

— Tomara... — ela suspirou e virou o carro em uma linda estradinha particular. — Sei que nunca fomos grandes amigas, mas somos irmãs. Ambas estamos com problemas e devemos nos unir. Entende por que insisti tanto para que viesse?

— Sim. Espero poder ajudar em alguma coisa. Mas deve tentar ser mais paciente. O quadro de saúde de Joaquim só tende a piorar.

— Eu sei. Mas se ao menos Nate me deixasse em paz, e estivesse tudo bem com Alfonso, eu estaria mais conformada. Acontece que nada dá certo!

O carro atravessava uma porteira aberta e seguia por uma estradinha de terra batida, já nas terras de sua fazenda.

— Vocês não são mesmo mais amantes? — a pergunta saiu antes que eu pudesse segurar, e me arrependi de imediato.

— Alfonso terminou tudo comigo. Não quer mais saber de mim. Acho que deve estar de caso com alguma outra mulher. Elas vivem atrás dele. Só pode ser.

— Assim é melhor, Letícia. Joaquim ainda está vivo e merece respeito. Sem falar em seu filho, que pode ouvir comentários. Vocês são bem conhecidos por aqui.

— Você não sabe o que está dizendo... — lançou-me um olhar enviesado. — É fácil me criticar porque não entende como minha vida é difícil! Há dois anos não tenho sexo com meu marido!

— Esqueceu que me contou que sempre traiu Joaquim? Mesmo antes dele ficar doente? — eu a encarei, séria.