Fanfic: Pecados e Desejos *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Antes que me afastasse, disse fria:

— O advogado vem hoje aqui, dar entrada na questão da guarda de Nate. Daqui a pouco. Se quiser mesmo assumir as responsabilidades dele, depois que eu for viajar, preciso da sua presença na reunião.

— Vai fazer mesmo isso? Deixar seu único filho? — ainda tentei, pela última vez.

— A questão é, você vai querer assumir? Preciso de uma resposta para ontem. Pense bem e me diga.

— Não há o que pensar. Ele fica comigo. — falei gelidamente, cada parte de mim gritando de nojo por aquela mulher.

Deixei-a para trás e fui rápido para a casa, praticamente correndo para meu quarto.

Entrei e fechei a porta, nervosa, fechando os olhos. Senti as lágrimas subindo, mas me contive antes que caíssem.

Tentei dizer a mim mesma que tudo se resolveria. Eu faria de tudo por Nate e, com o tempo, ele se recuperaria.

Pensei também na desconfiança de Letícia sobre meu amante. E me confortei, dizendo a mim mesma que logo ela esqueceria. Não perderia tempo se preocupando comigo.

Mas o medo persistiu, mesmo depois que tomei banho, me cuidei e saí em busca de café e de Nate.

Encontrei-o na cozinha e cumprimentei a ele, Matias e Elisa, que estavam lá.

Felizmente nenhum deles tinha se dado conta que não dormi em casa.

Ao olhar para meu sobrinho, meu coração se apertou.

Ele nem desconfiava que seria abandonado pela mãe. E eu não sabia como reagiria a isso.

Conversei com ele e com o casal de caseiros, nos alimentamos seguindo o que tínhamos combinado.

Ao final do café, indaguei:

— E então, vamos a quermesse hoje?

— Vamos. — tentava conter a animação. — Tem até parque lá...

— Podemos ir também.

— Certo. — sorriu para mim, sem reservas e desconfianças.

Sorri de volta como uma boba, ganhando o meu dia, feliz por que estávamos nos dando bem.

Quando o advogado chegou e Letícia me chamou para a reunião, Nate ficou me olhando, querendo saber o que era.

Não falei muito, desconversei, mas prometi que logo poderíamos sair para jogar bola de novo no campinho.

E enquanto seguia para a biblioteca, pensava em minha vida no Rio de Janeiro.

Estava afastada por mais um mês do hospital, quando voltaria e passaria por uma perícia médica para saber se estava apta a voltar.

Mas agora não sabia mais de nada.

Quando Joaquim falecesse e minha irmã fosse para a Alemanha, Nate ficaria arrasado. Eu sabia que a fazenda era a vida dele, amava aquele lugar. Como poderia tirá-lo dali e levá-lo para um lugar estranho? Ainda mais depois de tantas mudanças bruscas em sua vida?

Talvez pudesse estender minha licença, mas seria difícil, pois me sentia bem melhor de saúde.

Ou deixar o hospital, que durante anos foi a minha vida. E tentar trabalhar no pequeno hospital da Ilha. Pelo menos até ver como as coisas ficariam e o que seria melhor para Nate.

Pensei em Alfonso. Se eu ficasse mais tempo na Ilha, eu o veria mais, teria mais contato com ele.

Até lá nosso caso já teria deixado de interessá-lo.

Mas eu duvidava que pudesse esquecê-lo facilmente, ou parar de desejá-lo com aquela fome que parecia me consumir cada vez mais.

Seria difícil falar com ele, fingir que nada tinha acontecido, ver que estava com outras mulheres. No entanto, teria que me acostumar.

Querendo ou não, tudo mudaria e eu precisaria me acostumar com as mudanças.

O advogado da família chamava-se Aristóteles Ribeiro e era um senhor baixinho e bem apessoado, por volta dos sessenta anos. Fomos apresentados e sentamos em sofás e poltronas, à portas fechadas na biblioteca.

Ele explicou que sua firma estava responsável pelo testamento de Joaquim, que só poderia ser lido e explicado depois de sua morte e era totalmente legal, feito enquanto ele estava completamente dentro de suas faculdades mentais.

E então começou a falar sobre a transferência de guarda. Em geral era um processo demorado, mas tinha grandes conhecimentos e o dinheiro ajudaria a acelerar tudo.

Precisaríamos dar entrada no processo e logo teríamos um documento provisório, mas legal.

Letícia completou:

— Doutor, eu realmente preciso de tudo pronto antes de viajar. Vou ficar um bom tempo sem pisar no Brasil. Mas tenho uma dúvida...

— Pode falar, senhora.

— Os bens do meu filho, que ele herdar, ficarão impossibilitados de serem administrados por mim?

— Isso só saberemos com a leitura do testamento. Mas a senhora, como esposa de Joaquim, tem seus direitos garantidos por lei, independente do seu filho.

— Ótimo. — ela sorriu, menos preocupada.

Eu a olhava, calada, fria. Apenas ouvi.

Por fim, assinei os documentos necessários sobre a guarda, após ler minuciosamente.

Eu me comprometia a cuidar de Nate até seus 18 anos, provendo o que fosse necessário a ele, vivendo sob o mesmo teto, cuidando de suas necessidades.

Letícia também assinou, abrindo mão de sua guarda como mãe. E outro, colocando-o sob meus cuidados.

Não me importei com mais nada. Sabia que eu faria tudo por ele, seria meu filho, não apenas sobrinho e afilhado.

Nunca pensei muito em ter filhos, pois isso supunha ter um homem, coisa que nunca me interessou.

Até Alfonso.