Fanfic: Pecados e Desejos *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Andamos pela praia, como se fôssemos os únicos habitantes do planeta.

A manhã era linda, a água batia verde na areia, o céu era incrivelmente azul sob as nossas cabeças.

Quando chegamos ao final e voltamos, lancei um olhar em sua direção, indagando:

— Tomou café ao sair de casa?

— Não, nem deu tempo.

— Está com fome?

— Sim. Tenho comido na hora certa e agora sinto falta quando pulo uma refeição.

— Vem, vamos fazer um lanche. — sorri. — Trouxe tanta coisa que podemos passar o dia comendo.

Estendemos uma toalha sobre o gramado entre a vegetação, em um lugar na sombra onde dava para encostar nas árvores.

Anahí me ajudou a tirar as coisas do carro e deixar ali.

Nos sentamos e servimos com sanduiches de queijo e suco de laranja geladinho.

— Uma delícia. — sorriu, bem à vontade, encostada em um tronco, descalça.

Estava mais bonita naquele dia, parecia mais corada e até menos magra. Não tinha mais o aspecto de uma pessoas doente, com olheiras.

Comi meu sanduiche todo, observando-a com prazer, com um interesse que nem eu entendia.

Anahí percebeu meu olhar e ficou um pouco sem graça.

Por fim indagou:

— E então, voltou à quermesse ontem? Foi na sexta e no sábado.

— Não. Ontem fiquei escrevendo. Estava em um dos meus surtos psicóticos em que não consigo parar até ter um capítulo terminado.

Ela sorriu, prestando atenção.

— E conseguiu terminar o capítulo?

— Mais de um. O trabalho rendeu. Por isso posso aproveitar à vontade hoje. — estiquei as pernas a minha frente, satisfeito, deixando os restos do lanche sobre um saco que trouxe para lixo.

Só então me dediquei a apenas olhá-la.

— Mas não me disse se gostou da festa na cidade. Vi que foi com Nate no sábado.

— É, nós gostamos bastante. — tomou um gole do seu suco, mas seu olhar permaneceu no meu.

Disse, como se apenas fizesse um comentário qualquer:

— Parece que você tem um bom grupo de amigos na Ilha...

— Tenho sim, apesar de morar aqui há pouco mais de um ano.

— Só? Pensei que fosse mais.

— Um ano. Mas gosto de fazer amizades. Aquele pessoal é bem legal.

— Como os conheceu?

— Um casal que estava ali é dono da livraria, aquela em que nos vimos da primeira vez. Vendem meus livros lá e me apresentei. Acabaram me convidando para jantar na casa deles e a amizade se firmou. Conheci os outros através deles.

— Entendi.

Algo a perturbava. Percebi que queria saber mais, no entanto não tinha coragem de perguntar.

Então saquei o que era.

— Uma das moças ali é corretora e foi quem me vendeu a casa em que moro, quando cheguei aqui. Não sei se reparou, uma morena bonita. — completei inocentemente.

— Acho que sim. — mexeu no suco, dizendo como quem não quer nada: — É uma de suas namoradas?

Acabei sorrindo, pois tinha acabado se entregando.

— Pelo visto pensa que pego todas as mulheres da Ilha.

— É por aí mesmo... As solteiras e as casadas.

Percebi que o fato de ter saído com Letícia ainda a incomodava muito.

— Na verdade prefiro as solteiras. Sua irmã foi um caso à parte.

Ficou me encarando, até que perguntou:

— Por quê?

— Quando a conheci, parecia ser muito jovem para ter um marido doente, entrevado em uma cama. Desabafava comigo e acabou acontecendo. Mas não é comum, Anahí. Pode acreditar, em geral evito problemas o máximo que consigo. — fui bem sincero.

Ela pesou as palavras, pensativa.

— Nate me contou que o procurou e pediu que parasse de ver a mãe dele. Foi por isso que terminou o caso de vocês?

Acenei de leve com a cabeça.

— O menino me impressionou. Parecia um adulto. E o sofrimento que vi no olhar dele me fez sentir um canalha. Tentei pelo menos agir certo com alguém.

— E conseguiu. Eu... agradeço por não ter debochado dele ou o magoado mais.

— Não faria isso.

Ela concordou com a cabeça.

Amassou o papel do sanduíche. Colocou-o no saco.

Disse sem me olhar:

— Não respondeu se a morena bonita é sua namorada.

— Não, Paula não é.

Eu me divertia com seu interesse, mas não demonstrava. Apenas a olhava.

— Com certeza já foi.

— Foi.

— Imaginei.

— Por que o interesse? Ciúmes?

Olhou-me rapidamente, corada.

— Claro que não! Percebi algo de sexual entre vocês. Apenas curiosidade.

— Quer saber também se transei com ela no sábado, para relembrar os velhos tempos?

— Não!

— Mas vou dizer. Voltei sozinho para casa. Acredite você ou não.

Era difícil dizer qual sua reação. Parecia lutar bravamente para disfarçar o que sentia.

Mudou logo de assunto:

— Onde morava, antes de vir para cá?

— No Rio de Janeiro. Sou carioca, como você.

— É mesmo? De onde?

— Cresci em Quintino. Mas por último morava na Lagoa.

— O que aconteceu? Cansou da vida na cidade grande?

— Pois é. Depois de roubarem dois carros meus e saber que um amigo foi assassinado após um assalto, onde levaram tudo dele e nem reagiu, comecei a me cansar mesmo. Sempre gostei de natureza, uma vida mais tranquila, um lugar legal para escrever. Aí vim na Ilha de visita e acabei ficando. — dei de ombros.

— Sua profissão permite que se mude à vontade.

— É verdade.

Olhei em volta, para ver se o isopor e a cesta estavam bem fechados. Então me levantei e estendi a mão a ela.

— Vem, vamos dar um mergulho.

Anahí pareceu meio incerta, mas por fim aceitou minha mão.