Fanfic: Pecados e Desejos *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Mas apertei de leve seu ombro e fui sincera.

— Ele está certo, Nate. Vou cuidar de você.

— Mas... Não vai voltar para a sua casa? Para o Rio?

— Estava pensando em morar aqui. Talvez procurar trabalho no hospital da Ilha. Você gostaria?

Baixou os olhos, ficando corado. Então, acenou com a cabeça.

— Então, é isso que vou fazer. Minha intenção é ficar com você, tá?

— Tá.

— Que tal descermos para tomar café juntos? O que quer fazer hoje?

— Andar a cavalo.

Descemos conversando.

Tomamos café com calma e percebi que ele estava emagrecendo, as bochechas menores. Parecia mais disposto também.

E eu me sentia melhor me alimentando direito, com mais disposição.

Nosso acordo estava funcionando bem.

Saímos para cavalgar e passeamos pela fazenda. Quando voltamos, passava das dez horas da manhã.

Fomos jogar bola no quintal da frente e nos divertíamos, suados, quando ouvi a comoção dentro de casa.

Nate parou de imediato, atento.

Quando Elisa surgiu na varanda, com lágrimas nos olhos, torcendo seu avental, entendi tudo.

Respirei fundo e fui para perto de Nate, que a olhava um pouco confuso.

Na hora em que passei o braço em volta dele, deu um pulo para trás, nervoso, arregalando os olhos.

— Tia... — uma palavra tão pequena e tão carregada de sentimentos escapou de seus lábios, como uma súplica, um pedido de negação.

— Estou aqui com você. — garanti, me aproximando e me ajoelhando a sua frente, segurando seus braços, tentando ser forte para ajudá-lo. — Sei que vai ser difícil... Mas estamos juntos.

— Não pode ser... Meu pai... — seus olhos se encheram de lágrimas.

O sofrimento era tanto que senti meu coração sangrar e, mesmo querendo me manter firme, senti os olhos marejarem também.

— Pense da seguinte maneira, Nate. Ele falou com você hoje. Se despediu.

— Não... — começou a chorar e eu o abracei forte.

Na varanda, Elisa enxugava os olhos com o avental, arrasada.

— Lembra do sonho que me falou, que seu pai andava pela casa? Agora ele está livre. Livre da doença que o deixava em uma cama.

— Mas eu quero meu pai! Eu rezei tanto pra ele ficar bom! — agarrou-me com força, soluçando, desesperado.

— Eu sei, querido... — deixei que chorasse e extravasasse, acariciando-o, minhas lágrimas escorrendo por meu rosto. — Mas ele precisava descansar. Precisava muito.

— Por favor, diz que é mentira... Por favor...

— Calma...

Deixei que chorasse tudo, desabafasse, até ficar exausto, apenas me abraçando.

Por fim, se afastou um pouco, rosto todo inchado e vermelho.

Eu me levantei e segurei sua mão.

— Vem, vamos lavar esse rosto e beber uma água. Depois você me diz o que quer fazer, se quer sair um pouco daqui, ir para seu quarto...

— Quero ver meu pai.

— Querido, ele não está mais lá. Escute...

— Por favor, tia, quero ver meu pai pela última vez.

Olhei indecisa para seus olhos tristes e depois para Elisa, sem saber o que fazer.

A senhora acenou.

— Deixa ele fazer assim, Anahí. Precisa se despedir.

— Está bem. Mas primeiro vamos beber uma água. Vou com você.

Foi de cortar o coração.

Fiquei o tempo todo ao lado de Nate enquanto chorava olhando para o pai.

Joaquim parecia calmo, tranquilo, como se dormisse.

O menino segurava a mão dele, completamente arrasado. As lágrimas pingavam do meu rosto.

Irene se mantinha quieta em um silêncio sentido e respeitoso.

Eu precisava tomar várias decisões, mas não queria deixar meu sobrinho. Assim, pedi para que Elisa ligasse para o médico contando do ocorrido e para Letícia, que como sempre não estava em casa.

Depois, convenci Nate a sair do quarto. Levei-o para o quarto dele, esperei que tomasse um banho e cansado, pediu para se deitar.

Sentei ao seu lado na cama, acariciando seu cabelo. Ele não tinha mais forças para chorar, muito quieto, triste e cansado. Até que pegou no sono.

Conferi que estava mesmo dormindo e saí para receber o médico que havia chegado.

Enquanto ele fazia o óbito, fui em busca de Elisa, que me disse logo:

— Não consigo falar com a dona, Letícia. O celular parece desligado.

— E essa agora! — fiquei irritada. — Tenho que saber se já deixou algo preparado, se tem uma funerária que se encarregue de tudo...

— Isso só com ela.

— Eu sei. Vou tentar ligar também.

No entanto, as horas passaram e nada dela chegar ou atender.

Acabei ligando para uma funerária na cidade e encomendei os serviços deles, que organizariam tudo.

Soube que a família tinha um jazigo no cemitério, era só esperar minha irmã para passar os dados daquilo.

Consegui fazer Nate tomar uma sopa e o levei para passear um pouco longe da casa, para que não visse o corpo do pai saindo em um caixão.

O tempo todo ficou calado e cabisbaixo, dando dó no coração.

E não havia nada que eu pudesse fazer, além de ficar a seu lado, dando carinho e apoio.