Fanfic: Pecados e Desejos *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo 2 - Um Homem Muito Real

Anahí

De manhã eu levantei mais cansada do que quando fui dormir.

A exaustão passava do lado físico para o emocional, e eu parecia carregar um peso de toneladas nas costas.

Praticamente me arrastei até o banheiro, o simples fato de escovar os dentes e tomar banho, me custando muito.

Não queria pensar no sonho daquela noite, na sensação de culpa e impotência, na insônia que me acometeu durante quase a madrugada toda.

Enxuguei-me devagar, de frente para o espelho de corpo inteiro do banheiro, reparando nas olheiras escuras contra minha pele clara sob os olhos.

E na palidez ainda mais acentuada do meu rosto.

Sabia que precisava reagir, pensar mais em minha saúde, mas parecia sem forças até para começar a agir.

Minha vontade era a de me encolher em um canto e ficar bem quietinha.

Por mais que eu lutasse contra, o sonho teimava em voltar a minha mente. Quase podia sentir o sussurro sensual contra minha orelha, a mão em meus seios.

Era sempre assim. Sensações fortes, mas sem que eu pudesse ver claramente quem me tocava. Era como se uma nuvem permeasse tudo.

Em alguns momentos eu imaginava olhos verdes, ou uma pele bronzeada, ou o formato de um rosto masculino. Mas em partes isoladas, nunca o todo completo.

Era algo mais forte do que eu.

Pensei também na minha mãe, no modo como me condenava, e fui engolfada pela culpa.

Era difícil lutar contra coisas das quais eu não conseguia controlar. E aquilo só me deixava ainda mais desanimada, sem forças.

Deixei a toalha de lado e meus olhos se depararam com meu copo nu no espelho.

Em geral mal me olhava. Não tinha vaidades, não me maquiava, usava roupas básicas.

As únicas coisas com as quais me preocupava um pouco eram com meu perfume e meus cabelos. Gostava deles e os mantinha longos, talvez até demais. Por isso em geral estavam presos em um coque ou em uma trança. Mas não tinha coragem de cortá-los. Embora se fossem curtos me dariam menos trabalho.

Mas depois daquele sonho, sem querer me vi analisando a mim mesma e, intimamente, pensei o que um homem diria se me visse nua.

Era bem alta, com pernas longas bem torneadas, talvez a parte mais bonita do meu corpo.

O problema era estar vários quilos abaixo do meu peso, o que as deixava mais finas, mas mesmo assim belas.

Minha postura ereta, e meu queixo quase sempre erguido, me faziam parecer ainda mais alta e inacessível.

Os ossos do quadril apareciam, a barriga era completamente lisa, não havia um grama de gordura sobrando em meu corpo esguio e longo.

Os seios eram pequenos e assemelhavam-se aos de uma garotinha, firmes, empinados, com dois mamilos rosados e pequenos.

A pele não possuía nenhuma marca. Era lisa, branca leitosa, uniforme até nos pés macios.

Tanto meus pés quanto mãos eram bem feitos, delicados, com dedos bem feitos e unhas curtas.

Meu rosto não era bonito. Os traços não combinavam entre si.

Achava meus maxilares angulosos demais para uma mulher, o queixo firme, o nariz fino e empinado dando-me um ar duro e aristocrático.

Os olhos eram azuis, as sobrancelhas finas e os cabelos completamente lisos.

A boca diferia dos traços finos, era carnuda demais. Muitas pessoas diziam que eu tinha lábios sensuais, tipo Angelina Jolie, mas eu os achava brutos, para o resto do meu rosto.

Não era feminina, curvilínea ou sensual. Era uma mulher fria, aparentemente arrogante, sempre mais alta que a maioria dos homens que cruzavam meu caminho.

Não tinha ilusões quanto a mim mesma. Por isso afastei-me do espelho e fui me vestir rapidamente, fazendo careta.

Não sei por que me dei ao trabalho de ficar me olhando, imaginando o que um homem acharia de mim. Nunca deixei que um deles se aproximasse de mim aquele ponto.

Por isso não admitia nem entendia por que de repente passei a ter sonhos eróticos com um completo desconhecido.

Pus um jeans surrado, uma blusa básica de malha branca e tênis também branco.

Enrolei meu cabelo em um coque apertado, pus umas gotas de perfume atrás da orelha e saí do quarto, respirando fundo e procurando um pouco de ânimo para encarar mais um dia.

A casa estava em silêncio.

Estava louca por uma xícara de café e fui para a cozinha.

Surpreendi-me ao encontrar Nate lá, sentado à mesa empanturrando-se com o café-da-manhã farto à sua frente, enquanto Elisa lavava a louça.

— Bom dia. — sorri para ambos.

O menino me olhou, mastigando um grande pedaço de pão.

Elisa sorriu.

— Bom dia, dona Anahí. Vou servir seu café na sala de jantar.

— Aqui está bom. — sentei-me em frente ao meu sobrinho.

Ele superprotegia a comida com os braços, como na noite anterior.

— Sirva-se à vontade. — Elisa mostrou-me as guloseimas sobre a mesa e encheu minha xícara com café fumegante. — Quer leite?

— Não, assim está ótimo, obrigada.

Ela voltou à pia e Nate tomou um grande gole do seu achocolatado.

Enquanto eu passava manteiga em uma torrada, puxei assunto com ele.

— Sabe se Letícia já acordou, Nate?

Ele pôs o copo na mesa. Seus dedos gorduchos agarraram o enorme pão cheio de queijo e presunto caindo pelas laterais.

Murmurou, antes de abocanhá-lo:

— Ela só acorda tarde.

— Gostaria de aproveitar a manhã para conhecer melhor a fazenda. Quem sabe você não possa me acompanhar?

Surpreso, ele parou de mastigar e me olhou.

Depois fez que não com a cabeça e desviou o olhar.

— Por que não? — insisti, saboreando meu café.

— Não gosto de caminhar.

— Ora, vá com a sua tia, querido... — incentivou Elisa, piscando para mim. — Você conhece a fazenda pelo avesso.

— Não quero. — resmungou.

— Tudo bem. — falei suavemente. — Vou sozinha.