Fanfic: Memorias em um espelho | Tema: Inu yasha
Em frente ao um riacho a pequena garota contemplava seu reflexo impassível nas águas cristalinas. Kanna nada sentia, o mundo ao seu redor era cheio de cores, de vozes, de sentimentos... mas a garota via a tudo com indiferença. Entendia que haviam as emoções, entendia o ódio e paixão de Narak por Kikyou, o ódio que Inu Yasha tinha dele, e o medo de Kagura pelo youkai que gerara as duas. Sim, ela entendia a existência daquilo tudo, mas não compreendia nada.
Era como ouvir uma língua desconhecida, é fácil perceber que é uma língua, mas impossível compreender o significado das palavras. Era assim que ela via o mundo ao seu redor, palavras de uma língua incompreensível. O mundo era repleto de cores, mas mesmo assim no interior da garota era tudo um monótono e constante preto e branco.
Não que ela se lamentasse ou se entristecesse por isso. Kanna não sentia medo, dor ou afeição. Servia Narak era verdade, mas não fazia isso por qualquer motivo em especial. As coisas eram assim e para ela não haveria vontade de mudança.
Havia porem uma única coisa que atraia a atenção de Kanna, e isso eram os reflexos. Ela adorava os reflexos, eles tinham um poder mágico que a deixava absorta em pensamentos durante horas. Poderia ver uma pessoa e nada sentir, mas se visse o reflexo dela era como contemplar sua verdadeira essência. Dentre todos os reflexos o que mais a fascinava era o seu.
Kanna pensava em tudo isso enquanto o fitava. A imagem formada pelas águas mostrava uma pequena garota com roupas e cabelos brancos. Os olhos negros não demonstravam emoção nenhuma, apenas a contemplavam com uma aura fria. Em suas mãos repousava seu espelho, um pequeno objeto circular com aproximadamente sessenta centímetros de diâmetro, o vidro era polido e sem arranhões, e a moldura do objeto era simples e branca, combinando com a youkai que o portava.
Kanna demorou mais alguns segundos fitando aquele lindo e enigmático reflexo, esperando que ele lhe dessa uma resposta sobre ela mesma, mas ela sabia que isso jamais aconteceria. Em silencio deu as costas ao rio. A vista majestosa do monte Hakurei a saudou, a montanha alta e imponente se erguia majestosa. Diziam que aquele lugar era sagrado e que purificava a todos, mas sendo ela o nada que diferença isso faria? Para ela o monte era como qualquer outro monte, não havia nada nele de especial.
Caminhando a passos curtos e sem pressa na direção do monte Kanna observou a paisagem ao seu redor, a vegetação era mais verde, os passaram cantavam com mais alegria e o vento parecia soprar mais agradável. O ambiente leve a calmo do exterior do monte porem mudou completamente quando ela adentrou em seu interior. Pelo lado de dentro o monte Hakurei se ramificava em um labirinto interminável de cavernas interligadas. A luz do sol era ali substituída pela escuridão. A barreira mágica que protegia o monte não protegia também o seu interior. Kanna subiu a longa escada que se estendia pelo interior do monte. Era uma caminhada longa mas ela pouco se importava.
O caminho se abriu em uma grande galeria, lá ela avistou dezenas de centenas de youkais amontoados. Os servos do Narak pensou com indiferença. Aquelas criaturas tinham almas simples e sem ambições, ela podia ver isso claramente mesmo sem precisar absorver suas almas. Eram criaturas sem desejos ou ambições, viviam a sombra de Narak sem expectativas para o futuro. As únicas coisas que os moviam eram sua insaciável fome por carne, em especial humana, os impulsos sexuais e o medo da morte. Em suma em nada se diferenciavam de animais sem intelecto.
Andando pela galeria Kanna lhes dirigiu um rápido e desinteressado olhar. Não tinha desprezo por eles, nem se sentia superior. Convivia com eles como se convive com todo o ecossistema ao redor.
- Kanna como você é sortuda!
A menina ergueu a cabeça para visualizar Kagura. Sua irmã estava mais mal-humorada que o normal nos últimos dias. Kagura estava em uma das sessões superiores da galeria, vestia um kimono branco com detalhes em vermelho. Os cabelos negros longos estavam presos e uma pequena pena branca os adornava.
Kanna apenas a encarou sem nada dizer e isso deixou Kagura mais irritada ainda, balbuciou alguma coisa que a menina não entendeu e retirando a pena dos cabelos fez-la crescer de tamanho. A youkai planou na sua pena que a fazia voar como um tapete mágico e pousou ao lado de Kanna recolhendo a pena e fazendo-a voltar ao tamanho normal.
- Não fique me olhando com esses olhinhos entediados como se não soubesse do que estou falando! – disse ainda mais irritada com os olhos rubros queimando de raiva e impaciência – você tem muita sorte de não ter energia maligna e poder entrar e sair daqui a vontade! Eu por outro lado estou presa nesse maldito monte a quase um mês!
Silenciosa como sempre Kanna ficou ao lado da irmã. Kagura era a única amiga que ela tinha. Não sabia bem o porque gostava dela, e nem sequer o real significado da palavra “amiga”, mas sentia um estranho conforte e bem estar quando estava próxima da irmã e o pensamento de perde-la a fazia se sentir vazia e com um aperto no peito. Ela deveria dizer “um aperto no coração” mas esse estava em posse de Narak.
No começo Kanna se sentiu intrigada quanto a isso, pensou que tal afeição se assim se podia chamar o que sentia pela irmã poderia ser explicado pela longa convivência que tinha com ela, mas ela convivera com Narak pelo mesmo espaço de tempo e não sentia o mesmo por ele. Narak era seu irmão embora ele sempre falasse que era o pai de ambas e que poderia mata-las a qualquer momento se quisesse. Kanna não o via como pai, eram ambos youkais, carne da mesma carne. Ele poderia ter o maior poder, mas isso não mudava o fato de ambos terem vindo do mesmo corpo. Se havia um pai nisso tudo Kanna acreditava que esse era o ladrão Onigumo, este sim originara a Narak, Kanna, Kagura e a todos os outros, como seus falecidos irmãos Goshinki, Juromaru e Kageromaru.
- Logo sairemos daqui Kagura-san. Suikotsu e Jakotsu foram enviados para matar Sesshomaru. Narak logo terá terminado de completar seu corpo...
A sua voz era calma e fria, como uma brisa fria de inverno. Kanna notou o desconforto e medo no rosto da irmã ao ouvir aquelas palavras, mas logo aquela expressão sumiu e ela simplesmente deu de ombros e disse em tom de zombaria.
- Antes verei você sorrir do que Sesshomaru ser derrotado por dois humanos. Narak é muito estúpido se acha que eles poderão derrota-lo ou simplesmente não se importa se eles venceram ou não, o que é o mais provável. Aquele maldito usa a todos nós como se fossemos peões!
Kanna respondeu aquilo com seu costumeiro silencio o que só fez deixar Kagura ainda mais irritada. Sua irmã adorava falar mal de Narak quando ele não estava por perto e queria ser ouvida. Kanna ouvia, mas pouco se pronunciava o que deixava a mestra dos ventos louca.
- Chega! Não sei do que adianta você ser livre para sair dessa caverna se não aproveita isso!! Eu sou o vento, era eu que deveria estar livre!
Dito isso Kagura se foi. Kanna compreendia a irritação da irmã. Era uma youkai que adorava a liberdade, o sol e o ar puro. Kagura não suportava ambientes fechados e odiava mais ainda ficar muito tempo sem fazer nada.
Kanna observou com o olhar a sua irmã se afastar ate sumir na escuridão. A garota se sentou no chão apoiando as costas na parede de pedra da caverna e ficou a admirar seu próprio reflexo no espelho, acariciando o objeto com uma das mãos.
- Minhas memórias se perdem em reflexos do passado. Em que espelho se perdeu a minha face...? – disse a menina observando a própria imagem. Havia algo atraente naquelas palavras que a fazia gostar de pronuncia-las apenas para ouvi-las mais uma vez, como se fossem uma musica. Com delicadeza tocou mais uma vez no espelho enquanto repetia as palavras baixinho.
- O que esta fazendo Kanna? – disse uma voz calma, com um leve tom de curiosidade – você não é de falar muito. Não imaginava que disse-se algo sem que ninguém lhe fizesse uma pergunta.
Kanna apenas moveu lentamente a cabeça para visualizar Kohaku. O jovem exterminador de youkais estava em pé ao seu lado, ela não havia ouvido ele se aproximar e sabia que isso se devia a habilidade do exterminador de se mover sem produzir som algum. O garoto segurava sua kurasi-gama, uma corrente com foice acoplada, alem de uma espada que repousava em sua cintura.
Ele se sentou ao seu lado com um sorriso delicado no rosto. Kohaku não era muito de sorrir, mas o fazia quando estava a sós com ela. Kanna também gostava dele, e isso se dava pela semelhança entre os dois. Ambos eram sempre calados e introspectivos, viviam em algum mundo distante dentro de suas cabeças. Havia uma confiança mutua entre ambos, embora nenhum expressa-se isso em palavras.
- Kohaku... – disse com um discreto aceno com a cabeça – era apenas um poema o que eu falava...
O garoto a olhou com espanto, sem palavras. Kanna voltou a olhar para o espelho, contemplando sua outra eu refletida.
- Não sabia que você gostava de poemas, nem de que os fazia – disse ele se aproximando mais – eram palavras muito bonitas, me conte o resto.
- Não sei – respondeu com sinceridade e um olhar distante – o poema não é meu, apenas o vi em uma das almas que absorvi...
- Você pode fazer isso?! – disse em um sobressalto – hmm... é mais forte do que eu pensei Kanna, quero dizer, você é forte ao seu modo. É uma habilidade muito boa.
Kanna apenas concordou com um aceno positivo. Narak não sabia, ela nunca havia contado pois ele nunca perguntou a respeito, mas Kanna podia ver o passado, presente e futuro de cada alma que era absorvida pelo seu espelho. Mais que as memórias ela podia ver os sentimentos das pessoas. Se lembrava perfeitamente do dia em que absorvera a alma da garota, Kagome, era poderosa e vasta, muito mais forte do que qualquer uma que ela já havia visto. Kagome porem pouco sabia sobre esse poder, utilizava uma quantidade muita pequena dele. Mas se ela despertar esse poder nem mesmo Narak poderá com ela pensou. Kanna estava convicta de que seu irmão seria morto por Kagome, era algo tão claro e nítido como uma imagem refletida em um espelho.
O futuro dela, de Kagura e de Kohaku eram todos incertos, mas quanto a Narak Kanna não tinha duvidas, ele morreria. Não importava se conseguiria reconstruir seu novo corpo no monte Hakurei, não importava se conseguisse absorver os poderes de Sesshomaru como já havia tentado anteriormente, nem mesmo importava se completaria ou não a Shikon-no-tama. Nada disso mudaria o fato de que ele iria morrer, se não pelas mãos de Kagome, então pelas de Kikyou.
Queria apenas ficar ao lado da Kagura-san e do Kohaku-san mais tempo pensou olhando mais uma vez para o garoto. Achou que deveria dizer algo, falar o que pensava, mas preferiu se fechar em seu silencio.
Silenciosa como sempre voltou a contemplar seu reflexo no espelho...
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