Fanfic: o passado do exercito dos sete | Tema: Inu yasha, Exercito dos sete
Mukotsu havia dito que era preciso “apenas esperar”, mas se tinha uma coisa que Bankotsu odiava fazer, era justamente esperar. Sempre fora uma pessoa de ação, não era do tipo que sentava e planejava. Não era como Mukotsu que demorava horas e horas apenas para produzir um veneno especialmente refinado e poderoso. Também não tinha a frieza e a calma de Renkotsu que demorava-se muito tempo elaborando planos.
Suspirou cansado, nem sabia ao certo porque estava cuidando daquela menina. A garota ainda era uma criança. Podia ver por cima do Kimono as marcas sutis dos pequenos seios, que afloravam lentamente. O corpo não tinha muitas curvas e a menina era tão baixa que poderia formar um casal perfeito com seu irmão envenenador.
A jovem soltou um gemido baixo e então abriu os olhos fracamente. Eram negros como os do pai, mas ingênuos e sem uma fagulha da experiência e sagacidade de Sugikawa.
- Papai? – a menina acordou confusa. Olhou ao redor procurando por seu pai, mas tudo que encontrou foi o líder do exercito dos sete. Bankotsu estava sentado de pernas cruzadas, fitando-a.
A menina soltou um grito assustada. Recuou ainda sentada cobrindo-se, embora fosse uma perda de tempo, sua roupa não revelava nada demais, e mesmo que ela estivesse nua não tinha nada interessante naquele corpo infantil que o atraísse.
- Quem é você? Aonde esta o meu pai? – ela tremia olhando para os lados como se Sugikawa fosse aparecer ali a qualquer momento. Bankotsu teve que parabenizar a ingenuidade da menina. Tinha que ser muito estúpida para não perceber o que estava acontecendo.
- Sugikawa esta morto – disse de forma direta. Bankotsu nunca fora bom com as palavras quando se tratava de consolar as pessoas, por isso desistira de tentar a muito tempo –mas se saber disso te deixa feliz menina seu pai lutou muito bem.
Bankotsu estava pronto para o habitual ela vai chorar, me jurar vingança e depois tentar me matar com uma faca de cozinha ou um pedaço de pau pensou prevendo as ações da garota. Já havia visto muitas mulheres naquela situação, e, embora suas reações variassem um pouco era no final das contas sempre a mesma coisa.
Ela não o jurou de morte, muito menos tentou mata-lo. Em compensação chorou mais que o triplo se comparado as outras mulheres. A menina chorou copiosamente abraçando as próprias pernas cruzadas e afundando o rosto em seus joelhos. Bankotsu a chamou algumas vezes, tentou iniciar alguma conversa, mas foi tudo inútil, ela não o estava ignorando, ia alem disso, para ela o mundo havia desmoronado ao seu redor. Não existia nada alem de sua dor e seu sofrimento. Era como se ele nem sequer existisse.
Bankotsu nunca entenderia isso. Chorar daquela forma era algo para fracos. Os mortos não deveriam ser velados com lagrimas e sim com atitudes fortes. O assassino não tinha mesmo como entender aquilo, era forte, sempre fora. Era impossível para ele entender a fraqueza, mas, mesmo assim a aceitava. Saiu do quarto e deixou a menina com suas lagrimas. Nem sequer sabia seu nome ainda, mas aquela não era a hora para apresentações e sim para despedidas. Ela deveria se despedir do pai.
Bankotsu ficou no outro lado da porta. Sentou-se e então teve que novamente fazer o que mais odiava na vida: esperar. Os seus irmãos foram ate ele dizendo que deveriam partir, mas Bankotsu os mandou embora. Disse para eles se divertirem um pouco por ai. Ele deveria ficar e encaminhar aquela menina. A levaria para uma vila qualquer. Precisaria fazer isso para sua consciência ficar em paz. Se depois disso a menina morre-se de miséria ou fome, isso não era de sua conta. Haveria feito sua parte.
Os seis se foram. Cada qual cuidar dos seus assuntos. Sabia que Mukotsu iria para seus venenos, Suikotsu se entreteria matando algum bando de samurais quaisquer e os demais iriam provavelmente se divertir com alguma mulher. No caso de Jakotsu, com um homem.
A porta do quarto se abriu depois de muito tempo. A filha de Sugikawa Gimbei finalmente sairá de seu isolamento e solidão. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar e seu rosto demonstrava toda sua dor.
A menina se sentou ao seu lado, cabisbaixa, voltou seu olhar para ele tristemente, mas nada disse. Ficou a mirar o vazio.
- Ainda não sei seu nome menina... entendo se não quiser fal...
- Gimbei, me chamo Kitsume Gimbei – disse com uma voz automática e triste – e o senhor... é Bankotsu... certo? Bankotsu do exercito dos sete – Bankotsu confirmou com a cabeça levemente surpreso. O choque havia alterado aquela garota, não a conhecera antes, mas via no rosto de Kitsume algo alem da ingenuidade que vira antes enquanto a menina dormia.
- Papai falou de você, não para mim... ele odiava me preocupar com qualquer assunto, mas hoje pela manha minha doença piorou, eu fiquei mais fraca e desmaiei – uma lagrima teimosa caiu. A menina não olhava para ele e sim para o vazio – preocupado meu pai chamou seus generais. Disse que sentia que seria atacado em breve. Falou que os deuses lhe enviaram um sonho em que era morto por um demônio com longas garras, tão longas quanto adagas. No sonho outros seis demônios se escondiam nas sombras assistindo a sua morte. Tudo isso meu pai disse para seus generais em sua sala de reuniões. Eu havia acordado fraca e me vendo sozinha procurei por ele... ouvi a conversa por detrás da porta. Fiquei tão assustada que... –a menina hesitou limpou do rosto lagrimas que insistiam cair, e, com uma voz vacilante e entre soluços prosseguiu – desmaiei na hora. Quando acordei vi você... na hora eu não percebi quem era de imediato. Quando disse que meu pai morreu o mundo desmoronou ao meu redor... eu enlouqueci, me senti sem ar, as forças me faltaram... eu queria morrer.
Bankotsu ouviu a declaração de Kitsume sem interrompe-la uma única vez. Entendia o sofrimento da garota, mas quando ela falou no seu desejo de morrer, não pode ficar calado.
- Morrer é para os fracos. É apenas uma fuga...
Kitsume sorriu fracamente e pela primeira vez o fitou.
- Sim, eu concordo senhor Bankotsu, mas sou fraca, sempre fui, de corpo e de espírito – seu sorriso se alargou – mas meu pai morreu para me proteger e achei que seria um desrespeito com ele morrer também.
- Foi uma morte honrosa... – disse tentando aliviar um pouco o sofrimento da princesa.
- Tenho certeza que foi. Papai era uma pessoa assim em vida, é normal que fosse assim em morte também – ela se calou, tomando coragem e após um longo tempo perguntou – era o senhor o demonio com garras que o matou?
Não havia sido ele, mas Bankotsu não via muita diferença nisso. Teria matado o lord Sugikawa como Suikotsu, sem hesitar. Para o assassino o sangue do pai de Kitsume estava em suas mãos. E isso não o incomodava nem um pouco. Havia sido pago para mata-lo, e o fez.
- Suikotsu o matou, ele é o “demônio com garras” mas isso não importa Kitsume, todos nós somos demônios.
A princesa balançou a cabeça negativamente e com muita timidez pegou a mão de Bankotsu e a acolheu entre as suas. As mãos dela eram pequenas e miúdas, com uma cor clara enquanto as do assassino eram bronzeadas, grandes e muito firmes.
- Porque diz isso? Eu também tentei me convencer disso senhor Bankotsu, mas não consegui – ele olhou abismado para a garota. Não imaginou que alguém pudesse ser tão ingênuo, se perguntou se era mesmo filha de Sugikawa, ou apenas uma bastarda. Kitsume continuou – não acho que o senhor seja um demônio, se fosse porque não me mataria? Alem do mais meu corpo... me sinto forte como nem havia lembrado ficar. O que fez para curar-me senhor Bankotsu?
- Não fiz nada – disse, e era verdade. Fora seu irmão que fizera – Mukotsu o fez, a contra-gosto, mas fez.
Ela soltou a mão do assassino devagar.
- Entendo, mas se foi a contra-gosto alguém deve telo obrigado. Foi o senhor não foi?
Menina maldita, ate que ela não é tão burra assim teve que se render a verdade. Não gostava de como Kitsume olhava para ele. Ela o estimava demais, acreditava que havia algo de bom nele. Estranhamente por causa disso ele se sentia obrigado a corresponder as expectativas da princesa.
- Sim, sim... eu mandei. Meu trabalho era matar seu pai, não você.
- Mas também não precisava me salvar senhor Bankotsu, mas foi exatamente isso que fez. E sabe porque o fez? Porque no fundo é uma pessoa boa.
Aquilo era demais para ele ouvir. Bankotsu deu uma boa gargalhada. Desisto de tentar entender essa menina! o pior que estava gostando mesmo da garota, por mais estranha que fosse o assassino simpatizara com ela.
Ficaram conversando mais, durante horas os dois ficaram sentados apenas trocando palavras despretensiosamente. Kitsume não falou muito sobre si mesma. Segundo ela sua vida era chata e sem novidades. Vivia trancada no castelo, tinha poucos amigos da sua idade por não poder sair para conversar e brincar como as outras crianças. Suas melhores amigas eram as duas servas que cuidavam dela, mas ambas eram muito mais velhas do que Kitsume, e por mais que a princesa as amasse não era como ter amigas de sua idade.
Por outro lado a princesa perguntava curiosamente tudo sobre Bankotsu. Ela interrogava como era o mundo lá fora, como eram as pessoas, se os youkais existiam mesmo e se eram realmente cruéis como nas historias. Kitsume perguntou sobre a Shikon no tama, e disse que seu sonho era ser uma sarcedotisa tão virtuosa e pura como a falecida Kikyou que morrera protegendo a joia. Bankotsu respondia as perguntas como podia, mas a cada pergunta respondida, a princesa fazia mais duas ou três.
- Olhe não sei ler, não sei como é o mundo nesses seus livros – retrucou depois de mais uma pergunta – tudo que sei é que ele não é nada entediante. Mesmo já tendo andando por todos os cantos do Japão ainda me surpreendo com o que vejo.
Continuaram conversando durante muito tempo, mas por fim Bankotsu disse que deveriam ir. Iria leva-la a um lugar seguro. Kitsume aceitou e os dois caminharam juntos ate a vila mais próxima. Era estranho ao nível máximo do absurdo como aquela garota tímida que estava abalada com a morte do pai a horas atrás, havia se transformado e sorria para todos os lados com as coisas mais ínfimas. Coisas banais que Bankotsu via todos os dias, mas não dava a menor importância para ela eram diamantes de extremo valor
- Essa sensação... o vento batendo no meu rosto, isso é tão... lindo – ela caminhava de olhos fechados pela floresta. Bankotsu levava a menina pela mão.
- É só o vento Kitsume – respondeu já meio cansado de toda aquela felicidade exuberante. Ela havia feito um show quando os dois passaram por um lago com uma cascata, e isso nem havia sido se comparado a quando encontraram um casal de pássaros em seu ninho – ate naquele castelo fechado aonde você viva existia vento...
A menina sorriu abraçando-o de lado, se apoiando em seu braço. Bankotsu achou que aquilo não seria impossível, mas o gesto o deixou constrangido. Agradeceu por a menina ser ingênua demais para notar.
- Claro que existia vento lá senhor Bankotsu – respondeu sorridente –mas é completamente diferente. Antes eu ficava na janela do meu quarto observando com inveja o mundo lá fora. Agora eu estou aqui fora, como sempre desejei.
Pouco tempo depois chegaram em um vilarejo. O mercenário preferiu não entrar na pequena vila, haviam muitas pessoas que o conheciam e se soubessem que Kitsume estava com ele seria um grande problema. Parou com a garota a alguns metros da entrada da aldeia.
- Agora nos separamos Kitsume. Vá e vivia uma nova vida. Fiz o que tinha que fazer por você. E isso, nada de lagrimas entendeu?
Ela não chorou, mas ficou bem triste. Kitsume aceitou bem a situação e antes de ir o beijou na bochecha com ternura.
- Senhor Bankotsu... sabe porque eu não o odeio? – o modo como ela perguntara aquilo deixara o mercenário estranhamente curioso. Ela não estava sorrindo, nem triste... seu olhar era misteriosamente distante e reflexivo. Nunca a via visto assim. Bankotsu respondeu que não e então ela continuou – meu pai sempre dizia... que trocaria a própria vida e todo o seu castelo pela oportunidade de me ver curada. O senhor pode ter feito o que fez...e acredite por um momento eu o odiei... mas aquelas palavras de meu pai ficaram em minha mente. Você dera a ele o que ele mais desejava, e deu a mim o que eu mais desejava também. Sei que o senhor é um assassino Bankotsu, mas aos meus olhos o senhor foi meu salvador, apesar de todo o mal que fez – a menina fez uma longa reverencia, digna de uma princesa – eu, Lady Kitsume Gimbei, oitava senhora da geração dos Gimbei, agradeço-lhe em nome de minha família.
E então ela se foi, acenando. Bankotsu acenou de volta e ficou observando ate a garota sumir no horizonte. Era estranho, como aquela menina gostava dele, mesmo Bankotsu tendo feito tudo para merecer seu ódio. Quando ela se foi Bankotsu deu meia volta e se foi também. Iria se reencontrar com seus irmãos. Aquela havia sido uma pequena pausa em sua vida. Um breve momento de descanso. Era hora de voltar ao trabalho.
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Com a derrota de Sugikawa o exercito dos sete estava praticamente desempregado. Não havia mais grandes senhores feudais a serem derrotados e a maioria deles temia qualquer envolvimento com eles. O grupo de assassinos errou de um lado para o outro, entre vilas, florestas e montanhas, sem porem parar em qualquer lugar em especial. Em uma tarde, uma semana depois do ata ...
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