Fanfics Brasil - 7 - Aceitamos ajuda de estranhos Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada (Livro 1)

Fanfic: Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada (Livro 1) | Tema: Fantasia


Capítulo: 7 - Aceitamos ajuda de estranhos

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Eu não sei qual é a desse povo que tenta começar uma conversa assim "Você vai morrer", ou até mesmo "Venham conosco se quiserem sobreviver". Não seria mais fácil falar "Oi. Tudo bem?" e depois ir à parte drástica da conversa.


Logo de cara não demos muita atenção para quem tinha dito aquilo. Sue e eu estávamos focado em tentar entender o que estava se passando. Ela estava visivelmente abalada, talvez até mais do que eu. Estávamos cobertos de poeira, o cabelo dela estava cinza em vez de castanho. Seus joelhos estavam avermelhados pelo empurrão que Galiofeu, nosso ex-professor história, havia dado nela. Tirando alguns arranhões, ela parecia bem fisicamente. Os maiores ferimentos eram psicológicos. Já eu, as coisas estavam um pouco piores: minha perna esquerda estava quebrada, o braço esquerdo estava com hematomas graves e cortes por toda sua extensão, bem como no braço direito e em quase todo o corpo, e duas costelas quebradas. A dor começa a dar as caras lentamente, pois a adrenalina que sentia estava se esvaindo do meu corpo. O corpo fraquejou, me senti tonto e quase ia caindo de cara no chão se não fosse Sue ter me segurado.


Mesmo estando fraco, vi que duas pessoas se aproximavam de nós, poderiam ser qualquer um. Alunos. Monstros. Nunca se sabe. Ambos carregavam um arco dourado nas mãos e uma aljava de couro pendurada nos ombros. Era um garoto e uma garota. O garoto parecia ter por volta dos dezesseis anos. A pele era morena, os olhos eram grandes na cor castanho claro, tinha a cara fechada, trancuda e o corte de cabelo rente ao couro cabeludo lhe dava um ar de lutador. Ele era forte e grande, suas mãos eram grandes e calejadas. Vestia uma regata branca, calça estilo militar presa num estranho cinto marrom, que depois reconheci sendo um suporte da bainha para a espada que estava guardada, e sapato esportivo tamanho grande demais para saber. Já a garota era totalmente diferente; primeiro pela coloração da roupa que era muito chamativa. Ela tinha a pele bem clara que dava pra ver algumas veias em seu pescoço. O cabelo era louro de um brilho sem igual, perdendo apenas para o Sol. Seus olhos eram azuis eletrizantes, tinha algumas sardas no nariz e na bochecha. Estava usando uma blusa amarela, carregava um casaco laranja amarrado na cintura, calça skinny azul e sapatos brancos. Carregava uma bolsa vermelha nas costas. Diferente do grandão, ela não carregava uma espada, apenas o arco dourado.


Meus sentidos estavam sendo desligados. Antes de desmaiar de dor ouvi um pedaço da conversa:


— Quem são vocês? - perguntou Sue - O que vocês querem?


— Não sei se você ouviu, mas estamos aqui pra ajudar. - rebateu a garota - Meu nome é Candence Prust e o grandão ali - apontou para o garoto que ficou um pouco mais recuado de nós, de braços cruzados olhando para todos os lados como um guarda-costas. - é o Ferdinand Soriz.


— Se estão aqui para ajudar... - disse Sue - Adrian precisa de ajuda. Ele está bastante machucado e mal respira direito.


Minha visão ficou preta. Única coisa que ainda funcionava - e bem pouco era minha audição. Ouvi passos se aproximando ainda mais de nós.


— Tenho uma coisinha que fará com que ele se sinta bem. - disse a garota, abrindo a mochila. - O faça comer isso.


— O que é isso? - perguntou Sue, receosa.


— Ora, não há tempo. Se quiser que ele fique bem dê isso pra ele comer. Agora! - enfatizou.


Contrariada, Sue colocou o quer que fosse à minha boca. E tinha um gosto horrível. Eu estava fraco demais para poder cuspir aquele negócio.


— Ei, coma isso, Adrian. Vai fazer você se sentir melhor. Eu acho... - Sua voz falhou por um breve momento. Não sabia o que aconteceria comigo, caso eu comesse aquilo. Mas não havia opção.


Tentei comer aquilo, sério, eu fiz de tudo. Mas, simplesmente não tinha força pra mastigar. Até mandei mensagem para meu cérebro: "Colabora comigo, camarada, vai ser bom pra nós dois". Parece que ele entendeu o recado. Comecei a mastigar bem lentamente e a cada mordida que dava o gosto ia ficando um pouco melhor. Ora tinha gosto de bolo de chocolate ora tinha gosto de pipoca com bastante manteiga. Não demorou muito após engolir, sentir meu corpo reagindo àquela comida. Como um choque, a força, a energia, a vitalidade voltava pra mim. Meus ferimentos já não doíam mais. Senti os ossos voltando ao lugar (Isso, sim, doeu. MUITO), os cortes sendo fechadas, as costelas sendo restauradas (Também doeu). Abri meus olhos e a garota, Candence, estava acocorada na minha frente com aquela variante de cor que estava usando. Foi demais para meus olhos.


— Por que o arco-íris está parado na minha frente? - murmurei.


— É assim que você agradece quem salva a sua pele, nov? - falou a garota.


— Como se sente Adrian? - Sue parecia mais relaxada agora que eu estava aparentemente bem.


— Como se tivesse acabado de sair de um pesadelo em que o colégio era destruído... - olhei ao redor e me dei conta que era tudo real. - O.k. Talvez não tenha sido um pesadelo, afinal... Foram vocês que flecharam Galiofeu, não foram?


Candence assentiu.


— Obrigado pela ajuda. - disse eu. - Aquela coisa que eu comi tinha um gosto estranho.


— O que foi isso que você deu pra ele? - Sue olhava para a garota multicolorida.


— É um pedaço de bolo que contem quase todos os nutrientes que ajudam na saúde e que fazem milagre. Basicamente, eles curam tudo. Ferimentos, dor de cabeça, gripe, coração de partido...


— Quase tudo. - O grandalhão, Ferdinand, se aproximou interrompendo a conversa. - Já que o garotinho está bem, é melhor irmos andando, o caminho até o Q.G é um pouco distante.


— Q.G? - perguntei, mas o garoto apenas me ignorou como se eu não existisse.


Neste momento, o direito do colégio, o senhor Perry, veio até nós perguntar se estávamos bem e estranhou a presença deles dois, já que não eram alunos de lá.


— Fer - chamou Candence. - Acho que seria bom usar aquele presentinho que o Paul nos deu.


Nós nos olhamos sem entender nada, Candence apenas deu um sorriso e disse:


— Apenas observem. É hilário.


Ferdinand tirou um pacotinho roxo do bolso esquerdo de sua calça, enfiou a mão lá dentro e tirou um punhado de pó. O senhor Perry não entendeu nada e ficou confuso:


— Mas... Mas o que é isso?


— Fica tranquilo, velho, é para seu próprio bem. - disse Ferdinand jogando o pó no rosto do senhor Perry.


No primeiro momento nada aconteceu. Depois, o senhor Perry começou a tossir incessantemente. Até que parou. Seus olhos corriam por todos os cantos como se não se lembrasse de onde estivesse. Ele parecia perdido.


— Agora, velho, você não se lembrará de mim ou daqueles três ali. - e apontou pra nós. - E se alguém perguntar, você não sabe quem eles são. O que aconteceu aqui foi um desastre natural. Um terremoto. Está bem?


O senhor Perry assentiu.


— Ótimo. Agora pode voltar pra lá de onde veio.


Nosso diretor, ou ex-diretor voltou para o lado dos outros professores e alunos que estavam apavorados com o acontecido. Ao fundo podiam-se ouvir sirenes se aproximando do local, alguns curiosos e moradores perto do colégio chegaram aos montes para tentar ajudar enquanto os médicos não chegavam.


— Eu nunca me canso disso. - falou Candence, quase sussurrando.


— O que acabou de acontecer? - perguntou Sue. - O que foi aquilo que ele jogou no senhor Perry?


— Ah, aquilo é o pó do esquecimento. É usado para, bom, fazer as pessoas esquecerem o que acabaram de presenciar. Funciona em nós e nos mortais comuns também. Nestes funcionam com o dobro da eficácia.


— Pera, pera, mortais comuns? - Perguntei.


— Eu não deveria explicar agora, mas tudo bem... - Candence foi interrompida por Ferdinand que parecia estar um pouco agitado demais.


— Candy, tem alguma coisa errada por aqui. Nós precisamos mesmo sair daqui. - A urgência transparecia em sua voz.


— Ahhh! Está bem, Ferdinand. - bufou Candence. E então ela apontou para Sue e eu - Eles virão com a gente?


— Sim. O Q.G. espera que a gente leve eles em segurança até lá.


— Levar a gente? Q.G? Que conversa é essa? - Sue estava ficando impaciente e se levantou. - Não vou sair daqui até contarem tudo. - Ela cruzou os braços e bateu pé.


— Não temos tempo pra isso. - disse Ferdinand rangendo os dentes. - Vocês não entendem o perigoso que nos metemos pra ajudar vocês. Vocês têm duas opções: Ou vêm por boa vontade ou deixamos vocês aqui à mercê de quem quer que esteja tentando capturar vocês.


— É um bom ponto de vista. - disse eu. - Sue, nós temos que ir.


— Você confia neles, Adrian?


— Olha, queridinha- Candence se adiantou a falar -, Você deveria nos agradecer por dois motivos: A) ter ajudado a matar aquela criatura lá. Qual era mesmo aquela coisa que atacou vocês? – A garota demorou trinta segundos pra lembrar. - Chacáh. B) Ter ajudado seu amiguinho aí a ficar melhor dos machucados que ele tinha. Então, sim, acho que ele tem que confiar em nós. Você também deveria. Somos os mocinhos.


Sue ficou vermelha de raiva, estava prestes a explodir quando seu celular tocou. Sue pegou o celular da mochila, estava escrito "Papai está ligando". Ela se esqueceu da discussão que havia entrado com aquela garota, a Candence. Susan se levantou e andou um pouco até ficar numa certa distância de nós.


— Alô? - disse Sue - Oi, pai. Sim, pai, eu estou bem. Terremoto? - ela pareceu confusa. - Ah, sim, terremoto. Desculpe é que estou um pouco abalada com tudo que aconteceu.


Ela parou de falar frases completas e ficou só respondendo "ahãm, ahãm, ahãm, ahãm, eu sei" por uns cinco minutos.


— Eu... eu não vou colocar na chamada de vídeo. - disse ela, envergonhada.


Não estávamos entendendo nada. Candence e Ferdinand reviravam os olhos de insatisfação, como se tempo fosse algo precioso e que não o tínhamos.


— Não temos tempo pra isso. - disse Ferdinand, explodindo de irritação. - Quanto mais tempo ficamos aqui, mais rápidos eles chegarão aqui e isso vai virar um banho de sangue.


Bom, se tem uma coisa que eu digo sempre é: Se puder evitar banhos de sangue, faça. (Sim, eu digo isso sempre)


Mesmo um pouco distante da Sue, deu para ouvir o pai dela gritando do outro lado da linha: QUEM É ESSE AÍ? BANHO DE SANGUE? SUSAN REGINA. CHAMADA DE VÍDEO, AGORA!


O segundo nome dela é Regina?, Pensei.


Ela olhou pra nós como quem diz: Valeu pela ajuda. Realmente deixou tudo mais tranquilo. Sue mexeu no celular e em poucos segundos estávamos de frente para o pai dela (Não preciso explicar né?).


— Quem são esses daí? - O pai dela parecia ter uns cinquenta anos. Tinha os cabelos castanhos dela, só que com um toque grisalho. Usava óculos, e tinha os olhos escuros. O rosto era meio gordinho e o nariz pequeno. E ainda ostentava uma barbicha rala.


Sue não respondeu de imediato, o que fez seu pai perguntar de novo, só que agora mais alto:


— QUEM SÃO ESSES DAÍ?


— São meus... Amigos, pai. - disse ela, com a cabeça baixa.


Fiquei tentado em levantar a mão e dizer: Eaaaí? Mas acho que seria um pouco exagerado. Por isso, então, não me aproximei ou tentei fazer contato direto com o Sr. McMenning. Os dois recém-chegados, Candence e Ferdinand, ainda impacientes, começaram a andar de um lado para o outro, como se estivessem fazendo uma varredura do perímetro.


— Primeiro dia de aula e já fez amiguinhos? - Seu tom de voz ficou mais ameno, feliz, talvez - É a garotinha do papai.


Susan ficou mais vermelha que um morango.


Hora da confissão: Admito que me segurei muito para não rir. Ela se voltou pra mim e fez uma cara bem intimidadora, que meu deu um leve frio na espinha. De repente, não havia mais graça em ser chamada de garotinha do papai.


— Filha, e esse daí, o trevosinho? - Ele apontou pra mim, o que foi estranho numa chamada de vídeo pelo celular. - Acho que o reconheço. Não é aquele que destruiu a antiga escola?


Ótimo. Logo agora que a conversa estava indo bem ele tinha que se lembrar deste pequeno detalhe.


— Ahá! Lembrei. - gritou do outro lado da tela do celular. - Adrian. Não foi por ele que você quis ir para o Castelo Branco? Você só ficava falando como ele havia sido acusado injustamente, como não era possível ele ter feito aquilo. Até fez uma maquete de isopor mostrando como era impossível ter explodido a sala de aula.


— PAAAI! - Sue gritou tão alto que o pessoal do outro lado da rua se virou pra ver o que era. - Não é hora de tocar no assunto.


— Tá, tudo bem. Como você quiser, anjinho. - disse ele, simplesmente. - Então... - mudou de assunto - que história é essa de BANHO DE SANGUE?


— Olha, velho - Ferdinand de aproximou irritado dela, pegando o celular de sua mão. - Não temos tempo pra isso, está bem?


— Ora, quem é você pra falar assim comigo? - gritou o pai dela do outro lado.


— Não importa quem eu sou. - rebateu. - Sua filha e o amiguinho idiota dela foram atacados por um Chacáh. Não um terremoto. Há mais monstros vindo. Então, eu sugiro que acabe logo o papinho desnecessário, porque eu não perder minha vida por causa de vocês.


Nós três - Sue, eu e Candence estávamos incrédulos. Nos entreolhamos pra saber se tínhamos escutado direito o que ele acabou de falar.


Olha, eu descobri que monstros são reais há o quê, trinta minutos? Mais? Até eu sei que contar isso para as pessoas não vai adiantar, elas simplesmente não entendem. Como eu sei disso? Não sei explicar. Meu cérebro está inundando com tantas informações novas a respeito sobre essas coisas.


Passou cinco minutos, e o pai da Sue, o Sr. McMenning, ficou em silêncio, tentando, talvez, compreender o que acabara de ouvir. Provavelmente deve pensado que o grandalhão é maluco ou algo do tipo. Eu também pensaria se não tivesse presenciado.


— Monstros? - Por fim, ele falou. Sua voz parecia serena. - Eu sabia que este dia chegaria.


— Como? - Sue pegou o celular de volta da mão do Ferdinand. Sua expressão era de surpresa, assim como a de todos nós. - O senhor sabia?


— Será que posso ter um minuto a sós com minha filha? - O Sr.McMenning gritou do outro lado da chamada.


Relutantes, nós três recuamos mais ainda para deixá-los conversar. Mas não longe o bastante para não poder escutar o que diziam. Só consegui ouvir pedaços da conversa, tinha algo relacionado com a mãe da Sue, sobre ela ter avisado que este dia chegaria mais cedo ou mais tarde.


Espera um segundinho aí! Ele disse Deuses? No plural? Ele também?


Ele disse também que Sue deveria ir com eles - Candence e Ferdinand -. Que eles a manteria em segurança, como sua mãe havia dito anos atrás. Depois disso, Susan desligou o celular e veio até nós, chorando.


— O que houve? - perguntei, tentando ser solidário.


— Nada... - disse ela. - Vamos, tenho que ir.


Ela fitou os outros dois.


— Meu pai... - fez uma pausa. - Ele disse que vocês sabem um lugar seguro.


— Sim, oras. - disse Candence. - Estamos falando a uns quinhentos anos que vamos levar você até lá. É um dos únicos refúgios seguros. Agora, vamos logo.


— É... Candy? - chamou Ferdinand - O Q.G. fica uns oito quilômetros daqui, em outra cidade. E não tem mais nenhum ônibus que vá até lá nas próximas três horas.


— Ahhh, ótimo! Era só o que faltava: estar presa nesta cidadezinha com dois novatos e podendo ser atacada por monstros a qualquer instante.


Ela saiu bufando de raiva descendo a rua.


E agora? - perguntei, mas o grandalhão mal encarado decidiu me ignorar e ir atrás dela.


Olhei pra Sue, ela estava abalada com toda aquela reviravolta familiar que acabara de ter. Mas ao mesmo tempo ela demonstrava estar confiante, como se a conversa com o pai tivesse sido esclarecedora ou algo do tipo.


— Vamos ir com eles? - perguntei para quebrar o gelo.


— Sim. - respondeu simplesmente, e foi atrás dele.


Bom, eu tive que ir também, não queria ficar sozinho caso outro monstro apareça para atacar. Olhei para trás, vi o antigo Colégio Castelo Branco com a frente destruída, pessoas ao redor chorando, gritando e aliviadas por estarem vivas.


De longe, ouvi sirenes dos bombeiros e das ambulâncias se aproximando mais ainda. Peguei a mochila que estava no chão. Espanei-a. Coloquei nas costas. Pensei no meu pai e na Marie, o que eles estariam achando disso tudo? Será que estavam preocupados?


Respirei fundo. E fui andando até meus novos companheiros de viagem, para um lugar desconhecido.


***


Vocês podem estar se perguntando: Adrian, você realmente confia nesses dois para segui-los até um lugar que você nunca ouviu falar? Olha, em ocasiões normais, eu não confiaria. Meu pai (Assim como todos os outros pais do mundo) sempre disse para não aceitar ajuda de estranhos. Mas, quando esses estranhos salvam sua vida duas vezes, é bom dar um voto de confiança.


Nós quatro percorremos o centro de Sempre Noite, ziguezagueando entre as ruas, para não facilitar que fossemos encontrados por algum monstro que tivesse atrás de nós. (Devo dizer que não achei necessário). O sol estava muito quente, fazendo-nos ficar desidratados bem mais rápido que o normal que, em algum momento da "jornada" eu vi um camelo de cartola atravessando a rua. Mas acho que foi apenas minha imaginação, porque os outros não disseram nada a respeito.


Não tínhamos um plano para chegar até o Q.G. (Que descobri aonde fica: Bahuessi. Uma cidade que faz divisa com Sempre Noite) Ferdinand e Candence não faziam a gentileza de nos contar o lugar chegar até lá, tudo que diziam era para continuar andando que, em algum momento, a ideia iria surgir.


Sue estava do meu lado, com a cabeça baixa, não dissera mais uma palavra desde que saímos do colégio. Vez ou outra, pude a ouvir chorando baixinho, mas quando percebia que eu notava, ela limpava o rosto e continuava andando como se nada tivesse acontecido.


Essa garota continua sendo um mistério pra mim. Mas, aos poucos, consigo entendê-la. Hoje cedo, no ônibus, ela foi super legal comigo, até então, tudo bem. Só que minutos atrás, descobri  — graças ao pai dela que fala muito alto ao celular – que ela estava lá no colégio novo por minha causa. Pode parecer estranho, mas é até legal saber que você é famoso. Ela acreditava em mim, quando eu duvidava de mim mesmo (Mas nunca deixei transparecer isso pra ninguém). Eu a conhecia poucas horas, mas já sentia uma afeição por ela, havia se tornado minha única amiga em anos. Tá, eu a coloquei em perigo algumas vezes hoje pela manhã, quando fui sequestrado pelo nosso professor de história, o Sr. Finchyn, que mais tarde revelou-se um monstro: Galiofeu. Mas saímos vivos. Ninguém se machucou gravemente, além do colégio, mas não conta.


Estávamos cruzando a Avenida Lincoln Sheppard quando me dei conta de que ali perto havia um lugar para descansarmos e, ao mesmo tempo, comer alguma coisa. Olhei para meu relógio/espada, marcava 12h35min; a barriga já começava a roncar.


— Ei! – chamei a atenção deles. – Conheço um lugar aqui perto para comermos alguma coisa e pensar numa maneira de ir para esse tal Q.G.


— Não temos tempo para lanchinhos. – respondeu Ferdinand, sua voz era ríspida e grave.


— Na verdade, Fer - disse Candence. –, comer alguma coisa até que seria uma boa.


Sue nada disse, apenas assentiu.


Ferdinand bufou de desaprovação, mas ele era voto vencido. Era três contra um.


— Está bem. – concordou vendo que tinha perdido. – Só quinze minutos e voltamos a andar.


Tomei à frente do grupo, liderando-os até o Confins de Júpiter, minha lanchonete favorita. Eu vou lá com meu pai quando ele arruma um tempo no trabalho. Além de ser uma das mais conceituadas de Sempre Noite. Eles fazem o melhor pão de centeio do universo. (Não que eu tenha provado de outros mundos).


Na frente da loja, é coberta por tijolos dando um visual mais rustico ao lugar, há também um canteiro de flores no lado esquerdo e, no direito, um pequeno estacionamento de bicicletas. Ainda há também, nos vidros da loja, painéis de neon multicolorido escrito o nome do local. Assim que entramos, deu para perceber que o lugar estava lotado, quase não havia mais mesas. Mas, por sorte, havia uma lá no cantinho. Fomos até lá, nos aconchegamos e esperamos ser atendidos.


Não demorou muito até que uma garçonete veio até nossa mesa, era a Maggie. Maggie é uma garota de vinte e cinco anos que sempre fazia questão de nos atender – meu pai e eu. Certo dia disse a ele que a Maggie era a fim dele, mas ele não acreditou. Quando ela chegava à nossa mesa, ela ficava vidrada nele, suspirando. (Ahh o amor!). Ela é ruiva, olhos castanhos e tem umas sardas no nariz, e usa aparelho, que segundo ela, é mais estético do que para correção dentária.


— Oi, Adrian. – disse ela, sorridente. – Faz tempo que você não vem aqui. Como está seu pai, ocupado como sempre? – Quando ela falou dele soltou um suspiro óbvio demais, seus olhos brilharam. Ela percebeu que deu bandeira e foi logo se apressando. – Então... São seus amigos?


— Sim. Acho que posso chamá-los assim. Amigos – disse eu.


— Bom, se são amigos do Adrian – disse Maggie, voltada para eles. – São sempre bem-vindos a retornar quando quiser.


— MAGGIE! – gritou o gerente, o Sr. Pallel.


— Tenho que ir o Sr. Pallel vai querer comer meu fígado se eu demorar. – disse ela. – Vai ser o de sempre, Adrian?


— Sim. E com porções extras. Meus amigos aqui estão com fome.


— Pode deixar. – Ela deu um sorrisinho, anotou o pedido e foi até o Sr. Pallel que ficava gritando e agitando os braços.


— Uma figura ela, não é? – disse eu, quebrando o silêncio.


— Qual a história dela com seu pai? – perguntou Candence, obviamente notando o comportamento da Maggie.


— Não tem nenhuma, na verdade. Ela dá bandeira de que gosta dele, mas meu pai é concentrado demais no trabalho, mesmo eu dizendo pra ele que a Maggie era a fim dele. Mas, sinceramente, acharia estranho eles dois... Sabe namorarem ou algo do tipo.


— É, deve ser mesmo. – disse Candence, encerrando o assunto.


Ferdinand continuava com aquela de olhar para todos os cantos da lanchonete, esperando uma armadilha, como se os clientes dali fossem monstros disfarçados de pessoas comendo rosquinha e donuts. Susan continuava de cabeça baixa, vidrada no chão. Eu queria ajudá-la de alguma, mas não sabia como. Talvez ela precisasse de um tempo para processar tudo aquilo.


Enquanto esperávamos nosso pedido, ficamos conversando mais profundamente sobre este mundo de monstros, deuses e afins. Candence contava a história como se tivesse ouvido aquilo dezenas de vezes:


— Olha – disse ela -, só sei o que me contaram nada mais.


Fez uma pausa e começou a falar a história.


— Foi há quase dez milhões anos atrás, não tinha nada, além do vasto espaço. Antes que perguntem, a questão temporal entre nós e os deuses são bem distintas; o que pra nós parece muito tempo, pra eles é um piscar de olhos. - Fez mais uma pausa, tomando fôlego. A história parecia ser longa e complexa - Reinava um único Ser, onipotente, onipresente, onisciente: Umnus. Durante um período de tempo, Umnus ficou sozinho, vagando no espaço, até que Ele deve ter cansado de ficar sozinho, com isso ele fez surgir uma companheira: Kanda, a Deusa Mãe, Feitora de Mundos. Eles tiveram seis filhos, os primeiros de uma nova espécie: os Primevos. Estes, os Primevos, eram únicos. Dotados de grande sede por conhecimento e de poder desfrutar de um novo Universo que estava sendo criado por eles. Os primeiros foram os antagônicos Heloz, o Deus Céu e do Ar, e Cahã, a Terra e a Deusa dos seres viventes, antes dos homens, algumas lendas dizem que ela também é Deusa da natureza. Depois os gêmeos: Calluh, a Escuridão e o céu além do visível, que vem acima de Heloz, e Kahliz, a Noite e Deusa das estrelas e mais um tanto de coisas. E por último os deuses unos, que depois se separaram: Magãda, o Mar e Pai dos seres aquáticos e Ornarc, o Abismo e o Deus dos vulcões. Por centenas de milhares de anos, eles reinaram soberanos, moldando o Universo a seu bom grado, até que Umnus e Kanda decidiram se afastarem dos filhos, com intuito de os deixarem tomarem conta, já que um dos motivos para que eles nasceram foi de cuidar do desenvolvimento do Universo. Então, deu-se que Umnus, o Criador, abriu uma fenda no reino de Ornarc, e lá vive até hoje com Kanda, alheio aos acontecimentos do mundo. Pelo menos é isso que dizem. – Candence fez outra pausa para respirar.


E não por coincidência, nosso lanche chegou: pães de centeio, rosquinhas, donuts, bolos de laranja e refrigerante. Servimo-nos com um pouco de cada, até Ferdinand não resistiu o doce sabor dos donuts. Sue pegou um pedaço do bolo e colocou em seu prato. Candence pegou donuts e rosquinhas e jogou em seu prato, formando uma pilha de comida, o que foi engraçado. E eu, peguei meu pão de centeio, quando o coloquei na boca veio uma sensação de formigamento. O sabor que senti naquele pedaço de bolo que Candence havia me dado, horas antes, era o mesmo que daquele pãozinho.


— Outra hora eu termino a história - Candence estava de boca cheia.


Depois de terminarem de comer, pareciam saciados o bastante para continuar a caminho de Bahuessi.


— Precisamos chegar a Bahuessi o mais rápido que pudermos se demorar mais tempo aqui, em Sempre Noite, a coisa vai ficar feia. – disse Candence. – Temos que pensar em algum meio.


— Roubar um carro, talvez? – sugeriu Ferdinand.


— Não! – rebati na mesma hora. – Não vamos roubar nenhum carro. Temos que achar outro jeito.


— Posso ligar para meu pai. – disse Sue, enquanto limpava a boca. – Ele me deve muita explicação e essa seria uma boa oportunidade pra isso.


— Éerr, Sue, não acho bom envolver seu pai nisso. – disse eu. – Se, por acaso, formos atacados na entrada, seu pai pode se tornar um alvo.


Sue mordeu os lábios, nervosa.


Até que uma ideia clareou minha cabeça. Poderia ser um tiro no escuro, mas era bem melhor que roubar um carro. Se as notícias do acontecido no colégio tivessem chegado à imprensa, é possível que Marie esteja morrendo de preocupação.


— Ei, pessoal, acho que sei um jeito de irmos até Bahuessi. – falei. – Meu pai tem outro carro na garagem, que ele usa mais para sair. O carro ainda deve estar lá, se algum de vocês dois – olhei para Candence e Ferdinand. – souberem dirigir será ótimo e vamos chegar até o Q.G. em menos tempo do que ir andando ou esperar um ônibus.


— Bom, parece ser o plano mais razoável até agora – disse Candence. – Eu topo!


— Eu também. – concordou Sue. Uma das coisas que não achei que veriam: elas duas concordando em algo.


E mais uma vez, Ferdinand era voto vencido, mas ele nem pareceu se importar.


— Ótimo. – disse eu. – Minha casa não é mais do que dez minutos daqui, dá para irmos andando sossegado e, possivelmente, sem nenhum ataque de monstros.


Já estava me acostumando melhor com a ideia de monstros surgindo de qualquer canto, como um bueiro, tendo a aparência de um rato gigante.


— Esperem lá fora, enquanto eu pago a conta.


Eles assentiram e foram em direção a saída da lanchonete.


Fui até o caixa, o Sr. Pallel parecia mais tranquilo, pedi a conta e o paguei. Passei pela Maggie e me despedi dela. Tinha a sensação de que não voltaria ali tão cedo. Dei uma boa olhada para o Confins de Júpiter. Aquele lugar era como uma segunda casa para mim.


Virei-me de costas. Comecei a andar. O sol quente reinava soberano lá no céu. Pensei no que Candence havia dito, sobre os deuses. Será que há um que seja o sol? De uma forma ou de outra, eu acabaria sabendo a resposta.


E, de repente, quando dei por mim, estava seguindo o caminho de casa com aquelas pessoas, na esperança de ver a Marie e ela decidir que eu não iria a lugar algum.



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Sabe quando dizem que depois de comer as coisas ficam melhores? É verdade. O bom humor estava ao nosso lado, até Ferdinand estava mais sorridente e alegre, e eu pensando que só havia uma expressão no rosto dele: zangado. Candence cantarolava uma música que nunca tinha ouvido na minha vida e rodopiava nos postes de luz. Sue, que vinha atr&aa ...


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