Fanfic: Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada (Livro 1) | Tema: Fantasia
Segui Gregório, junto da Sue, até nossos quartos. Quanto mais andávamos o lugar parecia maior do que já era. Era como se as dimensões se expandissem a cada passo que dávamos. Algumas pessoas, na maioria sendo pré-adolescentes, como eu, ou até mesmo, um pouco mais velhos, conversavam e riam despreocupadamente. Em seus semblantes, pareciam seguras e confiantes de que nada aconteceria com elas.
A brisa gélida começou a ficar mais intensa, mas, pra mim, não incomodava muito. Marie dizia que eu morava dentro de um iglu, se referindo ao meu quarto por ser gelado demais. Enquanto eu não me preocupava com o frio, Sue tremia por causa disso. Seu queixo batia. Gregório não pareceu se importar com isso e continuava a falar sobre o Instituto:
— Como vocês podem ver, aqui é o lugar mais seguro para pessoas como nós.
— "Nós"? – estranhei. – Você é Remanescente? – Já estava me acostumando com o termo.
— Ora, pode apostar que sim, Adrian. – deu um tapinha no meu ombro. – Sou neto de Mystorian, Rei dos Deuses. O chefão de lá de cima. – apontou para o céu.
— Esse nome não é estranho... – divagou Sue. – Adrian, você não falou um nome parecido com o dele, hoje cedo, na aula de história?
— Sim, eu acho que sim. – respondi. Tentei fazer um esforço tremendo para lembrar daquilo, afinal, aconteceu tanta coisa hoje que não me espantaria em acabar esquecendo alguns detalhes.
— Você disse? – Gregório fingiu-se estar surpreso.
— Sim. Não apenas dele, na verdade. Falei o nome de mais alguns outros também, mas agora não lembro quais foram. – cocei a cabeça, tentando lembrar. Nada. – Não sei explicar, esses nomes vieram na minha cabeça assim, de repente. E sumiram do mesmo jeito que vieram: de repente. Só lembrei desse nome porque você acabou de dizer.
Nós três não dissemos mais nada. As poucas vozes que dava pra ouvir eram as dos outros alunos do Instituto. Gregório estava parado na nossa frente. Ele me analisou da cabeça aos pés como se eu fosse um caso excepcional, extraordinário, enquanto alisava seu bigode. Por fim, ele disse:
— Não é tão raro saber estes nomes. – sorriu. – Faz parte do nosso passado e do presente, também.
— Se eu sou uma Remanescente, como não consigo lembrar os nomes, como o Adrian fez? – Sue parecia triste por não saber. Mas, talvez fosse algo a mais. Se ela lembrasse dos nomes, poderia saber quem é sua mãe. Assim como eu saberia quem é a minha também.
— Não se preocupe, minha querida. – ele disse, tentando tranquilizá-la. – Poder acessar as lembranças do passado não é algo simples de se fazer. Às vezes, acontece de ser mais rápido para uns do que para outros. Mas, no final do dia, o resultado será o mesmo: ambos saberão dos nomes, dos fatos passados e mais outras coisas.
— Entendo. – ela não queria estender mais o assunto. Não agora, mas, depois com certeza.
Era possível ver seu desapontamento, mas não tinha nada o que pudesse fazer.
— Sabe o que é extremamente raro? - Gregório mudou ligeiramente de assunto. – Ler o idioma dos deuses.
— O quê? – Sue pediu para que Gregório repetisse mais duas vezes para poder finalmente ter entendido. – Não falam a nossa língua?
— Bem, sim. Mas, não.
— Não ficou nenhum um pouco confuso, Gregório. – disse eu.
— É complicado mesmo. – Gregório riu, mostrando os dentes amarelos. – Eles falam, sim, nossa língua, é claro. Porém, eles têm seu próprio idioma: Divin. Que é bem fácil de lembrar, pois vem de divino.
— Podia ter começado com isso, não? – Desde que Gregório falou aquilo sobre ter as lembranças rapidamente ou não, Sue parecia mais na agressiva em relação a ele.
— É, como queira. – Gregório deu de ombros. – O Divin é algo raro entre nós, Remanescentes, pelo menos nos mais recentes. Antigamente, nos primeiros Remanescentes era mais comum isso acontecer, pois eles tinha contato direto com seus ascendentes. Hoje em dia, não é muito necessário, por assim dizer, já que os deuses mal se comunicam conosco. E quando fazem, é na nossa língua.
— Gregório, se alguém conseguisse entender o idioma dos deuses, é possível que possa entender a escrita também? – indaguei. – Sabe, em manuscritos, ou até mesmo em certo objetos, como espadas ou armaduras?
— Olha, agora você me pegou, Adrian. – ele coçou o pouco cabelo que tinha, encharcado de gel. – Mas acho que, sim, é possível. Por quê?
— Nada não. Apenas curiosidade. – menti.
Ele pareceu ter acreditado, mas não Sue. Ela percebeu que era mentira, mas não disse nada.
— Bom, vamos, não temos tempo para conversar mais. – disse Gregório. – Já está quase na hora de recolher, e amanhã tirarei todas as dúvidas que tiverem. Menos sobre quem são seus pais, aí só ele ou ela poderá lhes dizer.
Voltamos a andar pelo Instituto. Quando entrei pela primeira vez ali, por mais que o lugar fosse enorme, não fazia ideia de que teria que andar por causa toda a extensão do lugar para chegar naquela ilhota aonde ficava os quartos. Do Q.G (como era chamada a casa) até os quartos era um pouco demorado, ainda mais quando Gregório fazia questão de parar para falar sobre o lugar, sendo que ele havia dito que contaria tudo no dia seguinte.
Ele nos contou que, além dos prédios de Arquearia, da arena para treinamento de combate (com e sem armas) e os estábulos, haviam também uma arena de equitação ao fundo, e um espaço para termos aulas "normais" que, segundo Gregório, era para nós não ficarmos atrasados nos estudos, quando decidirmos que é hora de seguir adiante, sair do Instituto e ingressar em alguma faculdade. Fora que, ainda teríamos aulas sobre a história, a nossa história para facilitar o entendimento com as coisas que lidamos diariamente.
Ingressamos mais ao leste do Instituto, em direção a ponte avermelhada, que cruzava o pequeno rio, ligando as duas partes do lugar.
— Cuidado. – Gregório nos alertou. – A ponte não aguenta muito peso. Então, terão que ir de um por um.
— Você estará logo atrás, certo? – perguntei.
— Nah, já fiz muito por hoje. – ele disse. – Não tem como se perderem aí. Basta procurar o quarto em que estiver seu nome escrito na porta. Simples.
— Como assim? – Sue questionou. Como sempre querendo saber tudo nos mínimos detalhes.
— É simples. – Gregório abriu os braços e sorriu novamente, mostrando seus dentes amarelados mais uma vez. – Mágica. Todo o lugar tem propriedade mágica. Desde o momento em que entraram aqui, o ambiente vem os estudando, colhendo informações. O flash que você presenciaram assim que puseram os pés aqui serviu pra isso. Além de adaptar seus olhos, claro.
— Não é invasivo? – Sue era cautelosa.
— Que nada, Srta. McMenning. É cem por cento seguro. Vocês têm minha palavra. – ele garantiu.
— Não estou muito confiante nisso, Adrian. – resmungou.
— Ora, não há motivos para ter medo. Suas informações estão seguras, nenhum de nós têm permissão para bisbilhotar nada do outro. Agora, vão! – Gregório agitava as mãos freneticamente para que atravessássemos a ponte.
— É melhor irmos, Sue. – disse eu, tentando pôr um fim no impasse. – Confiamos neles até agora, e nada fizeram com a gente. Seu pai disse que aqui era um lugar seguro pra você. Talvez deva confiar no que ele disse.
Susan me encarou. Ela parecia que ia explodir após eu ter falado sobre o pai dela.
— Jogou baixo, Adrian. Vamos. – murmurou. – Mas não estou nada feliz com isso.
Isso! Ótimo! – Gregório comemorou um pouco óbvio demais. – É... quero dizer, que bom. Se permitem, estou de saída.
Nem tivemos tempo de nos despedir, e ele saiu andando em disparada. Mas aí, ele virou de costas e voltou até nós e disse:
— Como eu disse antes, vocês chegaram um pouco atrasados para o jantar. Sinto muito se estão com fome, mas são as regras. Porém, em cada quarto há uma geladeira que é abastecida magicamente com o que vocês quiserem, claro, nada fora do normal. Amanhã, conto tudo que vocês precisarão saber. Tchauzinho e boa noite, crianças. Mais uma vez, bem-vindos aos Instituto Quase Gente.
Minha barriga roncou quando ele falou em comida.
— Droga...
— Vamos, esfomeado. – Sue me puxou pela manga da camisa. – Vamos procurar esses benditos quartos.
— Sim, claro. Vamos. – concordei. – Bom, primeiro você.
Olhei para trás, não conseguia mais ver o Gregório. Ele sumira tão rápido que nem percebemos.
— Agora é com a gente.
— Não temos mais nosso guia maluco, só nos resta procurar pelos quartos.
Ela atravessou a ponte avermelhada com facilidade. Logo após ela ter atravessado era minha vez. A ponte balançou um pouco, achei que fosse cair, mas consegui passar para o outro lado são e salvo.
Achar os quartos não foi tão fácil quanto Gregório disse que seria. Tinha dezenas de quartos, com os mais variados nomes.
— Não vamos achar nunca. – Sue reclamava pela demora em localizar os quartos. – Depois de hoje, tudo que quero é uma cama, mas nem isso vai ser fácil de conseguir.
— Relaxa. Um dia a gente acha. – brinquei, tentando amenizar o clima. O frio começou a ficar mais forte. Era quase possível ver alguns flocos de neve nos rodeando, mas pode ter sido a fome criando algumas ilusões. – Ademais, não faltam muitos para checar.
Assim que voltamos a procurar os quartos, quase me iludi quando pensei ter achado o meu quarto. Porém, era de outro cara chamado Adriano Vallaz.
Susan tinha se distanciado de mim, tentando expandir a área de busca.
— Aqui! – ela gritou. – Achei o meu.
Fui andando até ela, que estava parada diante de uma porta branca recheada de runas entalhadas por toda ela. Na parte de cima estava escrito o nome dela: SUSAN MCMENNING. Sue analisou com cuidado aquela porta, como se fosse revelar um segredo sobre ela, ou que desse muita bandeira como seria o quarto dela por dentro. Não aconteceu nada. No final das contas era apenas uma porta.
— Pelo menos colocaram os dois "n" – quebrei o silêncio.
Ela não disse nada por um bom tempo, até que cabisbaixa falou:
— É definitivo, Adrian. – Sue não estava mais empolgada por achar o quarto e poder se jogar na sua cama nova. – Agora, aqui é a nossa casa. Tudo aconteceu tão rápido que nem tive tempo de conversar com meu pai sobre minha mãe, como ele sabia do lugar. Sobre tudo. Esta é a nova vida que nós temos, e nem fui perguntada se queria realmente isso.
— Eu sei, Susan. – respondi-a. Fitei o céu. A lua continuava brilhantes e, de fato, agora, estava caindo alguns flocos de neve. O vento uivou alto. – Penso no meu pai a todo momento, e na Marie também. Eles se foram, Sue. Marie morreu para que eu pudesse estar aqui. Meu pai... ele foi levado para algum lugar e tenho quase certeza que estão maltratando ele. Em questão de poucas horas perdi a minha família. Só me resta aqui, Sue, não tenho mais uma casa para onde voltar. – Olhei pra ela. Sue estava chorando. Coloquei minhas mãos em seus ombros. – De novo, sinto muito por tudo que você passou hoje. Por mais que você diga que não foi minha culpa, eu sei que é. Você entrou nessa por minha causa. Se não fosse por Galiofeu ter ido atrás de mim, você estaria com seu pai, com sua família, Sue.
— Uma hora ia acontecer comigo também, Adrian. – ela disse, enquanto enxugava as lágrimas de seu rosto. – Só adiantei o processo. – ela sorriu com o canto da boca. – Você estava em perigo, eu o ajudei. Fiz isso porque eu quis. Eu fui ajudar um amigo, Adrian, e faria de novo, seu teimoso.
— Eu sei, eu sei. E agradeço por ter ido a meu resgate, mesmo que tenha causado uma separação familiar entre você e seu pai.
— Não, Adrian. Eu estou sendo um pouco egoísta por estar ressentida por não ter conversado com meu pai. Do mesmo jeito que os monstros foram atrás de você e das pessoas que você ama, eles também viriam atrás de mim e não poupariam eles. Pode não ser a melhor coisa no momento, mas vir pra cá pode ter salvado meu pai, minha madrasta e minha irmãzinha. Vai ser complicado, mas tenho certeza que iremos progredir bastante aqui para proteger minha família e você poderá resgatar seu pai.
— Pode apostar que sim, Sue. – respondi. Porém, eu não estava muito confiante nisso. Tipo, sim, eu quero reaver meu pai, mas tudo parece tão difícil agora. – Olha, já disse antes e repito de novo: se precisar de alguém para conversar pode contar comigo, Susan.
— Eu sei que sim, Adrian. – ela me abraçou rapidamente. – Você é o melhor amigo que já fiz.
— Isso é meu triste pra você, Sue. – rebati, aliviando o clima triste que havia ficado.
— Você não toma jeito, Trevosinho.
— Sou um caso único Susan McMenning com dois n.
— É, deve ser sim. Agora, você deveria procurar seu quarto. – ela voltou até a porta, tentando abrir.
— Acho que sim. Boa noite, Sue.
— Até amanhã. – ela sorriu.
Estava prestes a sair quando escutei Susan resmungando enquanto tentava abrir a bendita porta.
— Tudo bem aí? – perguntei.
— Sim, claro. Nada com o que se preocupar. – ela falou, tentando agir normalmente.
— Tem certeza?
— Sim, eu tenho.
— Não parece ter muita certeza disso.
— Adrian não me faça ir até aí. – disse ela, entre os dentes e fechando os punhos.
— Até depois, Susan. – sai o rápido que pude. Tem horas que ela fica assustadoramente perigosa.
Olhei para trás, ainda consegui ver Susan chutando a porta, batendo de um lado e do outro da porta, tentando compreender como funcionava. Eu estava tão focado pra ver se ela conseguia entrar, que não percebi um tronco de árvore na minha frente. Quando reparei nele, já estava com a cara doendo. Balancei a cabeça, os sentidos zumbiam no meu cérebro. Voltei a andar como se nada tivesse acontecido. Olhei mais uma vez para trás, Susan tinha sumido. Era possível (a hipótese mais plausível, na verdade) que ela tinha conseguido descobrir a maneira de abrir a porta e entrado no quarto. Só faltava achar o meu.
Zonzei em meio aos quartos, procurando a porta que tivesse meu nome, mas parecia uma missão impossível. Tentei seguir por ordem alfabética, mas ela se embolava toda e perdia o padrão. Talvez eu não tivesse quarto, afinal. Seria um indício de que eu não pertencia aquele lugar. Mas, após por muito procurar, era quase automático ver que o quarto não era meu que nem percebi que tinha passado pelo meu. Só então que, após alguns segundos, meu cérebro voltou a racionalidade e notei o engano. Voltei correndo até a porta. Era idêntica as outras, exceto pela coloração acinzentada. Tinha as mesmas runas entalhadas nela e na parte superior estava escrito: ADRIAN WEST. O único porém que a porta tinha para as portas convencionais era que não tinha maçaneta para abri-la. Pensei no que Sue tinha feito para abrir a porta. Me veio a "solução".
Chutei a porta até ela abrir.
Nada.
Esmurrei. Empurrei. Mentalizei ela abrindo.
Nada.
Até pensei em procurar ajuda de alguém mais experiente do Instituto para abrir a porta, mas não aparecia ninguém, mesmo que Gregório tenha dito que estava quase no toque de recolher. Seria bom se a Candence ou Ferdinand aparecesse magicamente explicando como funciona aquela porta, mas não os vi desde que começou a tal da reunião semanal. Eu estava num lugar que não sabia como funcionava e sem poder entrar no quarto que havia sido "criado" especialmente pra mim. Típico, pensei. É exatamente o tipo de sorte que eu tenho.
Já estava pensando em como poderia dormir no gramado, enrolado com algumas folhas, quando uma das runas deu-se a brilhar:
Não sei qual era seu significado, mas brilhava tão intensamente que tive a sensação de que estava pedindo para eu pressioná-la.
Apertei.
Novamente, nada aconteceu.
— É, sempre tive vontade em dormir ao ar livre. – murmurei pra mim mesmo.
Até que... puff! A porta se abriu, ficando entreaberta.
Era só isso? Me xinguei mentalmente. Não lembrava de ter visto aquela runa na porta da Sue. Talvez cada porta tenha uma runa diferente para abri-la.
Empurrei a porta devagar. Estava escuro, mas eu consegui enxergar algumas silhuetas dos móveis que estava lá dentro. Até que, por fim, adentrei no meu novo quarto e, cá entre nós, me surpreendi bastante. Liguei a luz, e quando esta acendeu fiquei de queixo caído. Primeiro, o quarto não era apenas mais um quarto qualquer, como aqueles de hotel. Era o meu quarto. Exatamente, literalmente meu quarto, mas, com bônus: um grande sofá em formato de L no canto direito à porta, virado para uma parede onde ficava localizada uma televisão de LED com 42''. Os lençóis da cama, a própria cama também, o piso era idêntico. O guarda-roupa, o armário onde ficava as coisas que eu não usava mais, até mesmo a mesinha que ficava ao lado da cama estava lá. Estava tudo lá. A tinta na parede era amarela, igual à do meu quarto. As únicas coisas que não tinham eram a janela que dava visão da rua e o ar condicionado, mas este último não parecia fazer falta, já que o quarto estava fazendo refrigerado, era como se a climatização ambiente do quarto fosse programada para atender perfeitamente o que estava nas minhas lembranças.
O flash que deu-se quando entrei no Instituto pela primeira vez estava dando as caras e mostrando para que veio. A mágica havia feito seu trabalho de fazer minhas estadia a mais reconfortante possível. Estar ali dentro deu um certo ar de nostalgia da vida que eu tinha até a manhã fatídica de hoje em que tudo virou de ponta cabeça. Mais uma vez, não pude deixar de pensar no meu pai e em Marie que, de certa forma desapareceram da minha vida. Me esforcei para não chorar só de lembrar deles novamente. Aonde que quer eles estejam aposto que querem que eu seja forte e que, de uma forma, irei superar tudo isso.
Fiquei tentando em olhar dentro do guarda-roupa, pra ver se minhas antigas roupas estavam lá também, mas algo dentro de mim já sabia a resposta. Tirando a parte em que estava localizado o meu antigo quarto, uma das outras áreas dentro daquele espaço eram completamente diferente, inédita. Como foi visto pelo de fora, parecia apenas que tinha apenas um lugar lá dentro: o quarto em si. Mas parece que, as coisas nunca são o que aparentam ser naquele lugar; a cabana velha lá fora, que serve de fachada para o Instituto, ninguém daria nada por ela, que esconde um segredo. Portanto, não seria diferente dos quartos lá dentro.
À esquerda de onde ficava a mesinha de cabeceira da cama, tinha uma porta porta, fechada. Se fosse exatamente como meu quarto aquela porta levaria até o banheiro. Voltando até a porta de entrada, tem uma passagem que dá em direção a uma nova área, bem parecida com uma cozinha, exatamente como Gregório disse que teria.
Fui até a cozinha pra ver como era, afinal. Minha barriga roncou novamente. E, se possível, teria algo pra comer. Logo de cara, o espaço não era imenso. Tinha uma geladeira, alguns poucos armários – apenas dois – e um balcão pequeno que sustentava um micro-ondas. Estranhei por não ter uma pia, por exemplo. Há a possibilidade de que, as louças se lavem sozinhas, já que todo aquele lugar é revestido por mágica, por que não ter louças autolaváveis? Tinha, também, uma mesinha de mármore ornamentado pelas mesmíssimas runas que encobriam a porta, e duas cadeiras que completavam o conjunto. Não era a cozinha mais luxuosa do mundo, ou ao menos se parecia com a da minha antiga casa, mas ela serviria perfeitamente.
Eu, estando com fome, nem pensei duas vezes e fui até a geladeira. Abri-a e para minha infeliz surpresa estava vazia. A barriga roncou de novo, mais alto que da outra vez.
— Calma, rapaz. – passei a mão na barriga, tentando acalmar meu estômago. – Vamos dar um jeito nisso. Sempre damos.
Já estava alucinando por não ter comido ainda que, quando minha barriga roncou eu pensei que estivesse concordando comigo.
Puxei uma das cadeiras e a arrastei até para em frente a geladeira. A cada dois minutos eu a abria pensando que a comida teria chegado magicamente. Mas não vinha nada. A barriga roncava, era como se fosse um leão da montanha querendo comer, senão eu estaria acabado e quem seria a janta seriam minhas pernas
Comecei a ficar frustrado, e parece que aí foi quando minha mente foi clareando. Lembrei em partes do que Gregório disse sobre a comida que podíamos comer no quarto que, magicamente, aparecia. Menos se fosse algo extravagante demais, aí não viria nada. Fui testar tal hipótese. Levantei-me da cadeira e fiquei rente a geladeira, com as mão tocando na porta.
— Por favor, senhora geladeira – Sim, eu cheguei a esse ponto de tão desesperado que estava pra comer. – Se possível, poderia trazer-me uma pizza de frango com queijo cheddar?
Nada.
Nem um chacoalhar sequer. A geladeira permanecia parada. Nenhum movimento alertando que tinha ouvido meu pedido.
— Por favorzinho? – implorei, quase chorando.
Nada.
Até que uma "campainha" apitou vindo da geladeira:
PLIM!
Abri a porta e tinha uma pizza de frango com queijo cheddar na estante de cima. Fiquei tão ávido pra comer que não percebi que estava quente. (É, eu sei que soa estranho. Mas a pizza estava mesmo quente). Gritei de dor, sem me importar se alguém fosse ouvir. Água corrente, pensei. Marie sempre dizia que feridas causadas por queimadura é bom colocar as mãos em água corrente, para ajudar na dispersão da dor.
Com as palavras da Marie em mente, e, mãos brevemente queimadas, fui correndo até o banheiro enxaguá-las. A dor se esvaiu progressivamente, até que não doeu mais e ficou "apenas" uma vermelhidão. Fiquei pensando numa maneira de pegar a travessa de pizza.
Voltei até a cozinha, a porta da geladeira continuava aberta após eu ter me queimado. Passei direto por ela e fui até um dos armários, procurando algum pano ou luvas. No segundo armário, que ficava na parte baixa, tinha um par de luvas de cozinha, que ocasionalmente apareceu. Vesti-as e fui até a geladeira pra pegar a pizza.
Levei a travessa para a sala, para comer enquanto assistia tv. Parecia fazer uma eternidade desde a última vez que tinha feito isso, antes de ficar de castigo por ter supostamente destruído a minha antiga escola. As notícias que passavam nos canais não eram nada animadoras: teve algumas notícias sobre o ocorrido no colégio Castelo Branco, como o terremoto devastou a estrutura do lugar e outra loja que ficava em frente; O sumiço de dois alunos – Sue e eu; E, por fim, falou sobre as diversas mortes ocorridas no Planetário que, até então, ninguém tem nenhuma pista do que aconteceu.
— Chega de tragédias. – disse pra mim mesmo. Troquei de canal para onde estava passando algum filme qualquer, que nem prestei muita atenção. Meu pensamento estava longe dali.
Após a terceira ou quarta fatia de pizza eu já estava cheio. Meu estômago não rosnava mais. Coloquei as fatias restantes da pizza de volta na geladeira.
De repente, o sono bateu. Bocejei uma, duas, três vezes. Fui até o banheiro escovar os dentes pra depois me jogar na cama. Coloquei Anoitecer na mesinha ao lado e fui pra cama.
Assim que me deitei, os olhos pesaram. Senti as forças esvaindo meu corpo, deixando espaço apenas para o cansaço e sono. Meus olhos foram se fechando lentamente. A cada piscada que dava demorava mais entre os intervalos, até que me dei por vencido e dormi.
Foi o melhor sono que tive há dias. Sem pesadelos ou sonhos estranhos em lugares inóspitos. Apenas nada.
Uma boa noite de sono é revigorante.
Queria ter ficado deitado na minha cama, só sair dela para comer ou ir no banheiro. Porém, minhas expectativas foram por água abaixo quando um som de trombeta no volume máximo invadiu o quarto, me fazendo quase pular da cama. Com a cara inchada de sono, olhei às horas no meu relógio/espada, eram 5:50 da manhã. Puxei o lençol até ficar todo encoberto. Coloquei o travesseiro na cabeça para abafar o barulho, mas não parecia adiantar. Era tão alto que fazia tremer as paredes do quarto. O ruído parecia ser, literalmente, o maior despertador do mundo criado especificamente para nós, Remanescentes.
Saltei da cama e fui em direção do banheiro.
O despertador continuava tocando. E continuou nos próximos dez minutos, parando exatamente às 6:00 horas.
— Ótimo. – resmunguei para o meu eu do espelho. – Me levantei à toa. Era só ter ficado na cama.
A ideia de voltar para a cama pairou sob minha cabeça, mas fui interrompido quando alguém bateu na porta do meu quarto. Pensei em ignorar, achando que quem fosse iria embora após eu não ter ido abrir. Mas, seja lá quem era insistiu.
De cara fechada e mal-humorado fui até a porta. Nem me importei como eu estava; com o cabelo grudado na testa, os olhos com algumas remelas e o rosto inchado por ter sido interrompido durante minha hora de dormir. Ainda vestia a roupa da noite seguinte.
O chão gelado foi de grande ajuda para me manter acordado.
— Quem está aí? – gritei, enquanto chegava perto da porta. Dava pra ver as sombras de alguém pela brecha embaixo da porta.
— Sou eu, Cabeção. – reconheci a voz da Sue. Pelo tom que ela falou, também não parecia muito feliz por ter sido acordada essa hora.
Abri a porta. Sue me olhou de cima a baixo.
— Você está péssimo. – disse ela. Sue estava vestindo roupas novas e limpas, com exceção do casaco cinza que vinha usando desde o dia anterior. Ela escolheu uma combinação de camisa vermelha com algumas figuras bordadas, uma calça jeans preta e sapatos brancos. O cabelo ondulado estava jogando no ombro direito. Para alguém que, assim como eu foi "expulso" da cama, ela estava linda.
— Ah, obrigado. Não tive tempo de me arrumar todo, já que fui "praticamente" expulso da minha cama por um barulho infernal. – rebati, com certa ignorância. Mas ela não parecia se importar.
— Não temos tempo pra isso, Adrian. – ela parecia com pressa, enquanto falava. Sempre olhando para os lados, vendo se alguém estava nos observando.
— O quê? Por quê? – era tudo tão confuso que não consegui acompanhar o ritmo.
— Aquela insuportável da Candence veio até meu quarto dizendo que temos que ir para o refeitório, tipo, agora. Parece que Gregório vai nos apresentar para o restante dos outros alunos do Instituto.
— E pra que a pressa, Sue?
— É melhor irmos logo antes que tenhamos que lavar algum estábulo.
— E precisa me acordar tão cedo? – reclamei, mas não direcionado à ela, mas, sim, ao Gregório.
— Também não gostei disso, mas como é como você disse antes. Temos que confiar neles. E fazer o que nos pedem. Agora, anda logo. Lava esse rosto e coloca uma roupa descente.
— Você até parece a Marie falando, sabia? – e vendo que ela não desistiria até eu ir me arrumar, fui entrando novamente no quarto. – Me dá cinco minutos para eu ficar pronto, ok?
— Tá, vai rápido. Ainda temos que conversar sobre este lugar.
Pode ter parecido grosseira ter deixado a Sue no lado de fora, mas é que dentro do quarto não existe certas barreiras ou paredes que dividam os cômodos. Trocar de roupa na frente dela seria no mínimo constrangedor para nós dois.
Assim que fechei a porta, fui correndo até o guarda-roupa para pegar algo limpo para usar. E, felizmente, logo de cara tinha meu casaco favorito, não pensei duas vezes e o tirei do cabide e joguei em cima da cama. Peguei uma camisa branca e uma calça jeans azul, bem básico. Por fim, vesti meu casaco vermelho que, de certa forma "inexplicável", parecia adequado para usar. Como estávamos com pressa, não tinha tempo de tomar banho; só trocar de roupa e jogar água no rosto para dispersar à apatia. Molhei o cabelo, deixando-o menos volumoso, e voltei correndo até a porta, passando primeiro, claro, na mesinha ao lado da cama para pegar Anoitecer.
— Pronto. Podemos ir. – disse eu, abrindo a porta. Sue parecia estar impaciente.
— Agora está bem melhor, Adrian. – ela sorriu brevemente, perante a minha nova aparência.
— Não tanto quanto você, mas faço o melhor que dá em pouco tempo.
Era perceptível ver suas bochechas ficarem vermelhas. Ela olhava para os lados, e não diretamente pra mim.
— Bom, temos que ir, certo?
— Sim, claro. Vamos logo acabar com isso.
E, então, nós seguimos até o refeitório. A fila para atravessar a ponte vermelha estava num tamanho bastante considerável. Éramos praticamente os últimos da fila. Alguns alunos olhavam para nós, tentando descobrir quem nós somos, mas não vieram falar conosco. Não entendi muito bem o porquê. Talvez estavam querendo manter a surpresa.
***
O refeitório era enorme. Sério. Tinha dezenas de mesas de madeiras compostas para agrupar dez alunos. Os detalhes na parte inferior era bem rústico: poucos acabamentos, se tornando algo mais bruto. Nas paredes os tijolos estavam expostos de cima à baixo, a madeira que estruturava o telhado também estava à mostra, sendo coberta por palhas e telhas. O piso era como uma extensão do gramado que tinha no lado de fora. Mais adiante (muito mesmo), tinha uma espécie de palco coberto por madeiras negras, nada muito requintado. Muitos alunos, por isso, estavam descalços. Era um verdadeiro clima de lar.
Os alunos, que se amontoavam se esgueirando para arranjar lugares às mesas iam depressa, gritando entre si, cumprimentando uns aos outros como se não os vissem há décadas. Até Candence e Ferdinand apareceram por lá, falando com uns outros alunos. Quando nos viram, vieram até nós, sorridentes. Candence havia mudado completamente o visual de ontem. Nada de cores extravagantes, imitando o arco-íris. Ela vestia cores mais amenas e menos impactantes aos olhos; uma camisa amarelo claro, bermuda azul e sandálias brancas. Consigo, carregava um chapéu preto na cabeça. Já Ferdinand, mantera o estilo militar: camisa regata branco gelo, calça camuflada e um par de chinelos marrom.
— Olha só quem acordou. – disse Candence, com seu habitual bom humor. – Já não era sem tempo, hein? Preparados para apresentação de vocês?
— Nem um pouco. – resmunguei. – Não precisava me acordar tão cedo.
— É. Foi quase um sacrifício tirar ele do quarto. – rebateu Sue.
— Aqui, Tampinha, você tem que viver à risca sob às diretrizes do lugar. – falou Ferdinand, com seu apelido jocoso pra cima de mim. – No começo pode ser difícil, mas vão se acostumar logo. – ele deu um tapinha no meu braço.
— Ou, vocês podem não se acostumar e viverem limpando os estábulos todos os dias durante um ano. – Candence sorria exageradamente até mesmo pra ela.
— Não! – Sue exclamou. – Nada de limpar estábulos.
O clima entre nós estava mais agradável que ontem. Não tinha mais tanto aquela tensão que pairava no ar, as intrigas causadas entre Candence e Sue e com Ferdinand e eu. Acho que, depois de tudo que passamos ontem, brigar entre si não seria a melhor saída. Mas, mesmo assim, ainda dava pra ver que Sue não ia muito com a cara da Candence e vice-versa. Ferdinand parecia mais contido em relação a sua implicância comigo, claro, o apelidinho ainda continuava sendo usado, mas parece que havia certo respeito e gratidão em relação a mim. Ir ajudá-lo deve ter amenizado a raiva que ele sentia de mim.
— Vem. Hoje, vocês sentarão conosco. – Candence nos convidou. Ela olhou para Ferdinand, que não a contrariou. – Talvez assim seja mais fácil para passar pela apresentação aos demais integrantes do Instituto. Estar entre amigos ajude a aliviar o nervosismo.
— Somos todos amigos agora? – perguntei, em tom de brincadeira.
— Não abuse da nossa generosa amizade, Tampinha. – Ferdinand esbarrou em mim. – Não você, Sue, você é legal. – ele sorriu.
— Hã, obrigada Ferdinand. – Sue estava ficando vermelha, corando. A cara que Candence fez não foi uma das melhores, mas eles não pareciam ter percebido. Só eu.
— Vamos! – Candence falou mais alto que devia, e os outros alunos olharam em nossa direção.
Nós quatros sentamos numa mesa mais perto do palco. Candence nos contou que, antes de cada refeição pela manhã, Gregório sobe no palco para ditar as atividades diárias que ocorrerá naquele dia. Geralmente não demorando mais que cinco minutos no máximo.
Não demorou muito e Gregório deu as caras no refeitório. Ele continuava usando terno, mas este de agora é completamente laranja, bem extravagante. Ouviu-se uns risinhos, mas ele parecia não se importar. Andava de cabeça erguida, afinal, era ele o diretor do lugar. A autoridade máxima dali.
Gregório passou direto para o palco. Do bolso retirou um rolinho de papel e começou a falar:
— Bom dia, alunos. Hoje, as atividades serão as seguintes: agora, pela manhã, vocês terão aulas de história, geografia e redação.
Algumas vaias foram escutadas. Gregório agitava a mão pedindo silêncio. E continuou:
— Podem vaiar à vontade, não vai mudar a grade de hoje. Pela tarde, terão as aulas práticas. Quem faz arquearia, terá aula de tiro ao alvo em movimento, quem faz combate de espadas ou corpo-a-corpo terá aula de defesa e contra-ataque. Para aqueles que pratica luta a cavalo, praticarão luta montada. E, para aqueles que praticam as habilidades de cura, terão aula de como usar a natureza e o ambiente a seu favor, para ajudar os membros que precisarem de cuidados. E, para finalizar o dia, hoje teremos a tão aguardada e disputada caça ao coelho.
Os alunos gritavam, batiam na mesa. Comemoravam.
— Ah, antes que eu me esqueça. – ele se apressou, apontou para Sue e eu. – Temos dois novos integrantes. Subam até aqui.
Susan olhou pra mim como se pressentisse o que estava por vir. Nem ela e nem eu queria subir para nos apresentar. Mas, Candence e Ferdinand nos empurraram e tivemos que ir até o palco, à frente de todos.
— Não sejam tímidos, crianças. – disse Gregório. – Aqui é a casa de vocês agora. Estes serão seus irmãos de batalha, amigos infindáveis. Aqui vocês acharão uma família. Agora, apresentem-se.
Desta vez, eu fui na frente. Sue tinha se apressado na última apresentação que fizemos, durante a aula do Sr. Finchyn.
— Hã... meu nome é Adrian West. – falei, nervoso. – Obrigado pela hospitalidade.
Candence puxou as palmas e os outros a seguiram.
Voltei a ficar ao lado da Sue. Ela estava suando, estava mais, aparentemente, nervosa do que eu.
— A-Adrian... eu não estou me sentindo bem.
— O quê? Como?
— Não sei. – ela continuava suando frio.
— Agora, a próxima novata. Venha. – chamou Gregório.
Sue foi até a frente e, com as pernas tremendo ela falou:
— M-Meu nome é Susan... – ela não chegou a completar a frase.
De repente, todo seu corpo começou a brilhar. Ninguém entendia o que estava acontecendo, principalmente ela. Sue continuava imóvel onde estava. Seu corpo parecia ser um prisma, encandeando todas as cores do arco-íris. A áurea que estava ao seu redor iluminava todo o refeitório.
— Faça alguma coisa. – falei com Gregório, mas ele estava de queixo caído vendo a cena.
— Não posso. – disse ele, sem tirar os olhos da Sue. – Não percebe? Ela foi Clamada.
— Clamada? – não consegui acompanhar o raciocínio. – Como assim?
Gregório não falou mais nada.
E, de repente, assim como começou, a luz que emanava de Sue se extinguiu. O refeitório voltou a ser iluminado pela luz ambiente, provida do sol. Todos, inclusive eu, tentavam compreender o que tinha acontecido. Sue parecia ter saído de um transe.
— O que aconteceu? – ela perguntou, aturdida.
— Clamada. – exclamou Gregório. – Saúdam Susan McMenning, filha de Aezirel. Deusa da Luz. Feitora do arco-íris. Senhora da perseverança. Sábia entre os deuses
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Todos, até mesmo Candence, curvaram-se diante à Sue. O silêncio reinou no refeitório. Ela se virou até mim, tentando compreender o que tinha acontecido. Nem eu tinha ideia do ocorrido. — Adrian... o que está acontecendo? – sua voz era fraca. — Sua mãe, Sue. Você foi Clamada como filha dela. – res ...
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