Fanfics Brasil - 18 - Me ofereço para uma missão de risco Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada (Livro 1)

Fanfic: Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada (Livro 1) | Tema: Fantasia


Capítulo: 18 - Me ofereço para uma missão de risco

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 Passou um mês e duas semanas desde todos os acontecimentos que fizeram minha vida virar ao avesso. Após algumas noites em claro e me sentindo um completo estranho alheio aquele lugar, as coisas foram finalmente entrando nos conformes. Contado com o apoio da Sue e dos outros amigos que fiz em um curto período de tempo fui me acostumando com o Instituto, com a nova vida que eu tinha. Eu, agora, não era mais um estranho qualquer que explodia salas por estar nervoso. Agora pertencia a um lugar onde me encaixava, onde as outras pessoas tinham passado por situações semelhantes que a minha. Sinceramente, eu não esperava acabar gostando daquele dali, deixando tudo que era importante para mim no passado.


Comecei a ir todos os dias para as aulas pela manhã, algumas delas ministradas pela Sr.ª Allen que, depois de muitas conversas e pensamentos de voar no pescoço dela com Anoitecer, acabamos entrando em um consenso e tentamos melhorar ao máximo a convivência na sala de aula. À tarde, ia direto para Arena dos guerreiros, lugar em que me sentia bem, completo. O treinamento com Ferdinand ficou mais intenso e exaustivo, em duas semanas já tinha ido treinar junto as outras duplas. O que, infelizmente, me fez ouvir várias broncas da Graci, mesmo eu fazendo os movimentos certos. Ainda bem que tinha o Nick e Ferdinand para amenizar os chiliques que ela fazia durante o treinamento. À noite, ainda tinha as aulas de introdução à magia com Gregório que tentava ser um bom professor, mas acabava se perdendo em devaneios. Entretanto, ele passava diversos livros que tinham na biblioteca do Q.G e facilitava na aprendizagem.


Uma vez por semana, às quartas-feiras, tinha a reunião semanal com os membros do Instituto. Da primeira vez que ouvi algo sobre isso, na noite que cheguei no lugar, Gregório havia dito que os alunos davam-lhe nos nervosos, que tentavam matar ele, mas não era bem assim. Claro, tinha discussões acaloradas sobre os temas da pautas seguintes, sobre como seria as atividades das próximas semanas, mas nada que fosse exagerado.


Nas quintas, a caça ao coelho Andy ficou ainda mais disputada quando Gregório decidiu implantar um relógio gigante nos céus para cronometrar o tempo que duraria a prova – cerca de uma hora e vinte minutos. Durante o mês todo, eu fiquei no time do Ferdinand, lutando contra a Sue que melhorara e muito nos disparos com seu arco. Conseguimos ganhar uma caça durante a luta épica entre Ferdinand e Graci que foi de encher os olhos. Ambos não queria dar o braço a torcer para o outro e se empenharam ao máximo para derrotar o adversário. As outras duas daquele mês foram ganhas por Nick que sempre ostentava um sorriso no rosto quando tinha que enfrentar nós do time verde. Graci ganhou a primeira do mês de Agosto, e a segunda o time vermelho quase levara também, mas foram emboscados por nós, o time verde, e acabamos levando essa também.


Era um sábado chuvoso lá fora. As atividades em campo aberto tinham sido deixadas de lado, principalmente as de arquearia por causa dos ventos fortes que derrubavam alvos e carregavam as flechas para direções contrárias. Dentro do quarto não tinha muito o que se fazer além de assistir tv durante o dia todo e, de vez em quando dar uma lida nos livros que tinha pego para as aulas do Gregório. Os trovões ribombavam tão alto quanto a corneta. Raios iluminavam o quarto... droga, clareavam tudo. Não que eu tivesse medo de raios e trovões, só que não parecia seguro sair.


Sem ideia melhor do que fazer, desliguei a televisão e fui para cama, tentar dormir. Desde que tinha chegado ali eu não tive mais daqueles pesadelos que me deixavam desnorteados e que levavam a lugares completamente estranhos. Porém, também, depois da minha primeira caça ao coelho, eu não ouvira mais nada da minha mãe. Estava um completo silêncio. Não tive mais notícias sobre meu pai, não que fosse algo inesperado, já que ele tinha sido levado pelos Zumbis de Areia. Mas quando comecei as aulas de introdução à magia descobri alguns feitiços de localização que podiam ser conjurados a partir de uma memória seja de um lugar ou de alguma pessoa. Eu tinha tentado lançá-lo algumas vezes, mas não tive sucesso em nenhuma delas e por isso deixei de lado e fiquei sem esperanças de revê-lo.


Mesmo sendo incomodado pelos trovões reverberando no céu, consegui pegar em um sono profundo. Estava tudo preto, tão escuro quanto meu quarto fica de noite. Eu mal conseguia ver à frente de mim, estendendo a palma da mão. Tudo que eu sabia era que aquilo era um sonho, ou um preludio de um pesadelo aterrorizador. Parecia, com toda aquela escuridão, que eu estava cego. Só conseguia ouvir pingos de água indo ao encontro do solo. Minha bussola interna estava zunindo sem saber para qual direção ir.


Pouco tempo depois a escuridão foi ficando menos densa ao ponto de conseguir enxergar novamente, parecia que eu estava dentro de alguma caverna que pelo jeito em que se encontrava, estava abandonada. O lugar não tinha mais que cinco metros de altura, paredes de rocha maciça com alguns desenhos indecifráveis por toda a extensão. O chão era um misto de terra, cascalhos e ossos que, meu cérebro quis interpretar sendo de animais e não de pessoas. Atrás de mim uma luzinha que mal se sustentava clareou com dificuldades a saída da gruta. A cada passo que eu dava até a saída, os cabelos da nuca ouriçavam. Queria estar com Anoitecer, mas eu a tinha tirado do pulso antes de dormir.


Prossegui para fora da caverna, e vi que era uma "pequena" abertura no térreo de uma montanha infinitamente maior, inclusive do que a Grande Árvore. Ela se estendia para além das nuvens, com outras rachaduras e bolsões de ar como a caverna que se abria na sua base. Mais adiante daquela montanha, abria-se uma floresta densa, sendo iluminada pelos raios que cruzavam o horizonte. O céu que antes era tingido de azul-escuro, agora tinha a pigmentação acinzentada puxando para o preto sideral. Nem as estrelas davam as caras. Graças a caçada, florestas densas e possivelmente repletas de perigo não eram tão assustadoras. A não ser que surgisse aranhas gigantes, aí era terrivelmente assustador.


Receoso, ingressei mata a dentro. Corujas cantavam nos troncos das árvores, morcegos davam rasantes nos galhos. Tive a impressão de ter ouvido alguns uivos, mas felizmente era apenas o vento apitando em meus ouvidos. Mais trovões cruzavam o céu. Por estar descalço (quem dormi com os pés calçados?), sentia os pés afundando em meio ao lamaceiro por causa da terra molhada. Continuei andando, impetuoso e atento para qualquer movimentação suspeita sem ser dos animais que acobertavam em meio àquela fauna. Em uma passagem estreita entre as árvores, acabei arranhando a perna em um dos galhos pontudos que estava prostrado no chão. Desta vez, diferente do último sonho que tive, o corte não cicatrizou, ficou sangrando rasamente e ardendo com o contato dos pingos da chuva. Esta que havia aumentado a intensidade, me deixando ensopado.


Depois de sei lá quanto tempo, consegui atravessar a floresta por completo, saindo de frente a uma árvore grande e robusta com diversas gaiolas vazias e quebradas. Mais adiante, tinha uma casa de tijolos, estilo medieval de dois andares com luzes acesas, ao redor dela tinha uma extensa coletânea de árvores desfolhadas e de troncos apodrecidos, fora uma plantação de trigo que se perdia de vista


Trovões trespassaram o horizonte e desabaram perto da casa. O meu "eu" interior gritava desesperadamente Não vai até lá, CabeçãoÉ armadilha! E, como eu digo sempre: Nunca vá em direção a armadilha (Sim, eu digo isso sempre), dei as costas e comecei a retornar por onde tinha vindo, na esperança de acordar. Mas, como todo outro sonho/pesadelo que tive, não era tão simples assim. Já tinha passado das primeiras árvores na direção contrária, quando ouvi um grito esganiçado partindo de lá dentro. E mais outro. Quem quer que fosse, eu não poderia deixá-lo ali, mesmo sabendo do perigo e que aquilo tudo era um sonho. Meu recém senso de querer ajudar os outros me impediu de simplesmente dar as costas para aquela situação.


Contrariado por mim mesmo, galguei até a choupana. A chuva com a adição dos ventos fortes castigavam as plantações de trigo, fazendo-as esvoaçarem. As gaiolas presas na árvore foram caindo e rolando pelo chão. As luzes dentro da casa oscilaram, uma silhueta gigante cruzou pela janela no lado interior da residência. Os cabelo da minha nuca estavam em pé mais do que nunca. Praguejei por não estar com Anoitecer ali comigo. Meus sonhos nunca mais foram legais. Silenciosamente, apertei o passo e cheguei até uma das paredes da casa, me acocorando embaixo da janela que estava aberta.


Mais gritos de dor.


Ouvi vozes vindo de lá dentro. Risos. Tilintar do metal chocando contra alguma coisa. Escutei passadas chegando em direção a parte frontal da casa, mas logo se deslocou para algum outro lugar. Aproveitei a oportunidade da janela estar desguarnecida e pulei para lá dentro. O interior da casa era tão podre quanto as árvores que ficavam ao redor do lugar. O papel de parede estava todo descascado, móveis estavam aos frangalhos. Tinham poças de algum líquido vermelho espalhado pelo lugar. Sangue. Única coisa que parecia funcionar (e muito mal) era uma luminária que estava pendurada por um fio.


Outro berro embebido de dor.


Passos ruidosos vieram do segundo andar da casa, fazendo cair alguns pedaços do reboco do teto. Me embrenhei pelo meio da casa, decidi em não pegar as escadas que levavam para o andar superior, onde outra luz fraca iluminava lá em cima. Cheguei na cozinha e o cenário foi de embrulhar o estômago: Não tinha móveis usuais de cozinha. No lugar era um grande freezer branco-gelo manchado por marcas de mãos rajadas de sangue. No meio tinha uma mesa com uma grande carcaça do que parecia ser de um lobo gigante, a pelugem preta eivada por gotículas de sangue. O animal estava sem as ancas, as tripas estavam prostradas numa pia mais adiante, embutida na parede.


Segurei a vontade de vomitar e transcorri até uma portinhola que estava entreaberta, era de lá de vinha as gargalhas sádicas, os gritos escandalosos e as pancadas no metal. Por detrás da porta, descia uma escada em caracol, as minhas pernas começaram a tremer, o medo encheu meus pulmões. Mentalmente contei até dez, respirei fundo e desci pela escada.


A iluminação lá embaixo estava ficando mais nítida, forte. A poucos degraus de adentrar no porão, vi outras silhuetas na parede de rocha amarelada. Cabos de energia se emaranhavam no teto. Continuei a descida silenciosamente na esperança de não ser ouvido. Quando finalmente cheguei ao piso do porão, eu quase gritei de pavor. Tinha cerca de dez monstros em um círculo, enquanto um outro estava na frente da pessoa que estava sendo torturada por eles. Os monstros eram dos mais variados tipos e tamanhos. Reconheci alguns graças as aulas que tivemos sobre os biótipos de alguns monstros. Os de pele avermelhada, músculos em excesso, cabelos negros que mais pareciam algas e um único chifre em suas cabeças eram os seojis, monstros sádicos que adoravam duas coisas: matar e comer. Principalmente comer o que matavam. Outros dois pareciam lagartos, com direito a língua bifurcada, pele escamosa esverdeada com breves tons amarelados, caudas longas e olhos amarelados com um traço na vertical em tons pretos. Eram os atreisos, monstros rápidos e com voracidade para destroçar qualquer um que aparecesse na sua frente. Alguns outros eu não consegui lembrar os nomes, mas eram tão letais quanto os demais. O algoz que importunava o prisioneiro era um seoja de pele roxeada, portando uma grande espada de osso amarelado.


— Este verme moribundo não vai durar mais tempo. – gritou um dos atreisos.


— Sim! Vamos matá-lo agora e depois comermos. Humanos têm a carne macia. – rebateu um seoja no meio da rodinha do mal.


O homem tentou gritar novamente, mas tinha algo tapando sua boca. Ele se contorceu nas amarras, tentando erroneamente se libertar. O seoja que estava responsável por torturar deu um soco potente no estômago do encarcerado. Depois de se debater nas correntes, ele recebeu uma folga quando seu carrasco saiu da sua frente, tirando o pano de sua boca. A ventral do monstro estava respingada com sangue do homem acorrentado. Jogou sua espada óssea no chão empoeirado, fazendo-a subir.


Quando deu uma brecha para que eu conseguisse visualizar quem era o infortunado que estava sendo tratado como um brinquedo para aqueles monstros, quase enfartei. Era meu pai! Mesmo todo ensanguentado eu reconheceria ele em qualquer lugar e/ou situação. Era ele sem dúvidas. Ele tinha um grande corte na barriga, causado pelo Zumbi de Areia quando o levaram do Planetário um mês atrás.


— Pai! – exclamei, mas ele não pareceu ouvir. Ninguém deu importância. Eles não me escutariam, óbvio, aquilo era um sonho.


Me aproximei do meu pai, passando pelas brechas que os monstros davam, e acabei chegando ao lado dele.


— Pai. – disse eu, tocando-lhe o rosto castigado. Meus olhos já estavam cheios de lágrimas, estava chorando horrores, soluçando sem parar.


Meu pai parecia acabado, já nas suas últimas forças. Tinha perdido peso, as costelas machucadas se mostravam quase coladas a pele. Os olhos eram de olheiras profundas, como se não dormisse há semanas. A barba crescera. Seu abdômen era quase todo latanhado por marcas de cortes seja de espadas ou chicotes, ou seja lá o que eles usassem.


— Pai, eu estou aqui. – falei-lhe rente ao ouvido.


Ele parecia ter escutado desta vez.


— Adrian... – murmurou, sua voz estava rouca, fraca. – Meu filho...


— Pai, vou tirar você dessa. – sussurrei. Dei um abraço nele, mas sem apertar muito para não machucá-lo. – Aonde o senhor está?


— Eu... não sei, filho. – respondeu, após uma crise pesada de tosse, expelindo bolotas de sangue.


— Está falando murmurando o quê? – gritou um dos seoja, jogando um osso do chão nele. – Fica quieto e morra em silêncio, humano.


— Adrian... – chamou-me. Seus olhos encontraram os meus. – Eu te amo, meu filho. Se eu não conseguir... sair dessa... – outra crise de tosse. – Sinto muito por não ter contado sobre sua mãe... e Marie. Desculpa.


— Pai – As lágrimas desciam aos montantes pelo meu rosto. – Eu vou te resgatar. Só preciso que aguente mais um pouco, por favor.


Neste exato momento outro monstro desceu as escadas correndo, desengonçado.


— Senhor, senhor. – gritou o monstrengo. – Temos um invasor.


— O Quê? – esbravejou o seoja torturador. – Quem? Como?


— Não sei, meu senhor. Mil perdões. – se ajoelhou pedindo clemencia. – Ao que me parece é um humano, senhor, as pegadas combinam com as que eles deixam. Veio da direção das árvores.


Um falatório se iniciou. Eles estavam falando de mim, o invasor. Mas, ao que aparentava, eu estava invisível para eles, então não podia ser pego ou tocado. Como que as marcas de lama ficaram visíveis?


— Calem a boca, seus inúteis. – gritou o carrasco, bravo. – Comecem a procurar este invasor e certifiquem-se de que ele não saia daqui vivo.


Os monstros sacaram suas armas e saíram correndo escada acima procurando o invasor. Por um momento ficou apenas meu pai e eu, mas um dos monstros tinha voltado. Era o seoja de pele roxa que torturara meu pai. Ele vinha farejando o ar, a cara fechada de poucos amigos. Parou rente ao meu pai, cheirando da cabeça aos pés. Olhou para o lado na direção que eu estava, me afastei bem devagar. Ele agitou as mãos tentando me alcançar, mas acertou apenas o vento.


— Eu sei que você está aqui, Adrian West. – anunciou o monstro. – Olhe bem como seu pai está, pois esta será a última vez o que verá. Seu mundo vai ruir, remanescente. – disse ele, profético. – Sem o bidente, vocês, remanescentes, perecerão em desgraça e ninguém poderá ajudá-los.


Pegou a espada de ossos do chão arenoso. Tateou-a por alguns segundos. Depois, com raiva, os olhos esbugalhados e vermelhos acertou meu pai na barriga. Fazendo-o gemer de dor e se inclinar para frente, sendo detido pelas correntes.


— PAAAI!


O gritou foi perdendo a intensidade, ao meu redor ficou tudo preto. Silêncio. Frio. Estava "cego" novamente. Senti meu corpo pesar, e depois cair. Em fração de momentos, meu corpo ficou tão leve quanto uma pluma. De repente, ouvi ruídos distantes... eram trovões? Estavam rompendo os céus com aquele barulho. O quarto estava frio dando contraste com o quente e aconchegante colchão da minha cama. Abri os olhos lentamente. Tinha acordado, afinal. Mas isto não me fez ficar menos infeliz. Meu pai estava gravemente ferido e sendo constantemente açoitado por monstros. Eu tenho que ir atrás dele e vou resgatá-lo.


Outro trovão ribombou. O último.


Já não havia mais barulho de chuva. Não fazia ideia de por quanto tempo eu tinha dormido, mas agora que estava acordado só tinha um objetivo: resgatar meu pai das garras daqueles monstros. Mas, primeiro, eu tinha que saber aonde ficava aquela casa, e não poderia fazer isso sozinho.


Era domingo.


Anoitecer, em sua forma de relógio, estava marcando nove e meia da manhã. Saltei da cama e fui até o banheiro para escovar os dentes e ir correndo para o refeitório. Antes de ir sair peguei meu casaco, porque eu não sabia como estava o tempo fora do quarto. Não ouvir os trovões não significa que parou de chover.


Lá fora, estava cheia de poças d'água, criando mini piscinas para se pular com galochas. O céu estava cinzento, nublado. A chuva tinha dado uma trégua, pelo menos por alguns instantes. Desde sexta vinha chovendo incessantemente, o que acabou atrapalhando algumas aulas. Alguns poucos estavam ainda atravessando a ponte avermelhada para chegar na parte principal do Instituto.


No refeitório era a mesma bagunça e gritaria por parte dos outros remanescentes, esperando Gregório aparecer para dar seu discurso matinal e só então liberar para irmos tomar café da manhã. Eu não estava com muita vontade de comer, não depois do que vi naquele maldito pesadelo com meu pai sendo torturado.


Estava sentado na mesa com Sue, Candy e Ferdinand. Nós quatro depois de muitos desentendimentos estávamos nos dando melhor do que antes, só a Sue e a Candy que ainda discutiam por alguns motivos bobos, mas logo paravam quando percebiam que estavam indo longe demais.


Gregório chegou no refeitório cerca de dez minutos atrasados. Ele ainda estava usando seu pijama listrado azul e um roupão de pele de urso, pantufas e um gorrinho. Na mão esquerda trazia consigo uma folha com as atividades que possivelmente teria, se a chuva cessasse de vez. Na mão direita, carregava uma xícara de café esfumaçante, nela tinha escrito: MELHOR DIRETOR DO MUNDO. Havia controvérsias entre aquela xícara e a realidade, mas era inegável que ele tentava dar seu melhor quando queria. Depois de dar os anúncios, Gregório liberou que fossemos comer, como sempre a multidão alvoraçada e esfomeada foi atacar a mesa com o café da manhã. Basicamente, foi a única coisa que aconteceu pela manhã. Como era domingo, não teríamos aula, é o único dia que temos folga das nossas atividades.


Mais tarde, por volta das cinco horas fui até a sala do Gregório conversar sobre o pesadelo que tive e pedir para sair atrás do meu pai. Já tinha ido algumas vezes naquela sala, no Q.G, mas sempre me sentia desconfortável com aquele tanto de animais empalhados, o estômago embrulhava só de imaginar cada um deles me encarando com seus olhos sem vida e esbugalhados.


— Gregório – disse eu, me ajeitando na poltrona. –, ontem à noite tive um sonho, ou melhor, um pesadelo.


Ele não falou nada. Fez um gesto com mãos para que eu prosseguisse.


— É meu pai, Greg. – revelei. – Depois desse tempo todo eu o encontrei. Ele está muito ferido e precisa de mim mais do que nunca. Você tem que me deixar ir atrás dele.


Eu tenho? – me encarou, debochado. Gregório não fazia por mal, tampouco por não gostar de mim, mas ele, às vezes, deixava sua autoridade subir à cabeça. – Eu não tenho que fazer nada, Adrian. Olha, eu sei que você estava procurando seu pai com toda vontade que tem dentro de ti, mas não posso simplesmente mandar alguém sei lá onde.


— Mas... é meu pai! – minha reação a negativa do Gregório foi mais explosiva do que eu achei que seria. – Eu tenho que ir atrás dele.


— Eu sei, Adrian. Deuses, eu sei. Você nem sabe aonde procurá-lo. Ele pode estar em qualquer canto dos Quatro Mundos. – Gregório tinha razão e sabia disso. – Entenda que estou impedindo você de ir em uma missão suicida que pode ou não resultar o que você deseja.


— Mas...


— Basta, criança. – Gregório estendeu a mão, me interrompendo. – No sonho que você teve, me conte exatamente tudo que você viu. Não deixe escapar nenhum detalhe.


Comecei a discorrer o pesadelo. Falei que tinha aparecido em uma caverna com tudo escuro, ao pé de uma montanha gigante. Contei sobre a floresta "assombrada" que rodeava os perímetros daquela casa. Como aquela casa era cercada por diversas plantações de trigo. Da árvore troncuda com gaiolas quebradiças. A casa de dois andares em estilo medieval, dos monstros que nela estavam. Quando terminei de contar, Gregório murmurou alguma coisa que me chamou atenção: A fazenda...


Minha mãe, tempos atrás, tinha dito algo sobre uma fazenda também. Estava tudo relacionado. Tinha que estar.


— Tudo isso que você falou... – disse Gregório, sua feição era de total palidez. Estava desacreditado que aquilo tinha sido verdade. – Só tem um lugar em todo os mundos que batem com esta descrição.


— A fazenda? – deduzi.


A expressão que ele fez nem precisou dizer se era ou não. Era lá, nessa tal fazenda.


— Adrian, você não entende quão perigoso é este lugar. O nome que aquele lugar ostenta de Fazenda Amaldiçoada não é à toa. Muitos foram até lá atrás dela e nenhum retornou. – seus olhos piscavam constantemente, como se tivesse entrando numa piração.


— Eu tenho que ir, Greg. É meu pai que está lá. Não posso deixá-lo sozinho. – pedi mais uma vez. – Além disso, durante meu sonho, aquele que parecia ser líder dos monstros falou algo sobre um bidente ser a nossa ruina.


Gregório ficou cabisbaixo, mexendo no fio do mouse do seu computador antigo. Coçou a cabeça algumas vezes. Ele me encarava e depois olhava para os bichinhos empalhados, como se eu indo para a Fazenda fosse acontecer o mesmo comigo. Por fim, deu um sorriso amarelo, torto e disse:


— O bidente é uma das armas mais antigas e poderosas de nossos deuses. Após seu portador, Baphoraz, sumir, tal bidente nunca mais visto e foi dado como perdido. E, se está em posse dos monstros, corremos grande perigo. – Fez uma pausa longa. Ele olhou pela janela, o tempo estava fechado, nublado, alguns pingos caiam da sacada em direção ao chão. – Você vai de qualquer jeito, não é? Mesmo se eu disser não.


— Se tiver alguma chance de salvar meu pai, eu vou pegá-la não importe o que me cause depois. É meu pai, cara. Eu vou trazer os dois de volta, Greg: Meu pai e o bidente.


— Tudo bem, Adrian. – deu um suspiro pesado, levantando poeira de uma das aberturas de sua mesa. Como se aquela fosse minha sentença de morte – Você vai nessa sua jornada. Porém, não posso mandá-lo sozinho. Você terá mais chances de retornar vivo se tiver alguém ao seu lado para ajudar.


— Tudo bem. – disse eu, animado. Toda ajuda seria bem-vinda, ainda mais com aquele bocado de monstro nas redondezas. E é possível que ainda houvesse mais.


— Poderá levar mais três pessoas consigo. Escolha-as bem. Embora, eu já pressinta quem serão. – Ele se levantou da sua cadeira executiva e veio até mim, apertou-me os ombros. – Vocês sairão na primeira luz do dia de amanhã.


— Obrigado, Greg. – me levantei da poltrona cor de bege e dei um abraço nele. Por mais que ele tivesse um jeito meio excêntrico, era uma pessoa legal e que eu podia contar em quase todas as vezes. – Não vou decepcionar você.


— Eu sei que não, Adrian. – disse ele, com seu habitual sorriso amarelado. – Eu sei que não.


Atrás de nós, alguém bateu na porta. Gregório mandou entrar. Era Sue, Ferdinand e Candy que se mostraram ao escancarar da porta. Eles pareciam surpresos em me ver ali, conversando com nosso diretor.


— Bom, acho que o grupo está todo reunido. – Gregório espanou as mãos. – Como eu disse, Adrian, eu sabia quem você ia chamar. Tive um pressentimento sobre você pedir para sair em busca de seu pai, e me adiantei para convocar a sua gangue.


— Não somos a gangue dele. – reclamou Ferdinand, de braços cruzados. Candy vinha ao seu lado, Sue mais afastada deles, quase colada na porta.


— Espera um segundinho. – Sue fez um gesto com a mão pedindo tempo. – Como assim, missão?


— Meu pai. – disse eu. – Depois de todo esse tempo tive sua localização e vamos resgatá-lo.


— Isso é ótimo, Adrian. – expressou-se Candence. – Aonde ele está? – perguntou esperançosa de ser um lugar bacana.


Gregório coçou a garganta, o que não foi legal, sendo um preludio para o anuncio que eu estava prestes a fazer.


— Uma fazenda. – revelei. Minha voz saiu mais rouca do que normalmente seria. – A Fazenda Amaldiçoada.


Os três ficaram com olhos esbugalhados, como se tivessem sido socados no estômago com aquela notícia. Depois deles se recuperarem da notícia alarmante, certamente eles teriam diversas dúvidas e então, para tentar melhorar o clima eu disse a coisa menos sensata que poderia:


— Então, quem topa a aventura que pode nos matar a qualquer instante?



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