Fanfics Brasil - 19 - A missão começou. Candy vai dirigir de novo. S.O.S Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada (Livro 1)

Fanfic: Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada (Livro 1) | Tema: Fantasia


Capítulo: 19 - A missão começou. Candy vai dirigir de novo. S.O.S

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Depois do choque inicial sobre o que seria nossa missão e para aonde iríamos, e deles aceitarem relutantemente a embarcar nessa "jornada que nos levará a morte", Gregório nos cedeu a sala ao lado, onde ocorrem as reuniões semanais, para discutirmos mais detalhes do que viria a seguir. Como diretor e guia, ele ficou para fornecer algumas informações que poderiam ser úteis.


— Se eles estão mesmo com o bidente de Baphoraz... – começou Gregório. – A coisa pode ficar mais complicada para o nosso lado. Como vocês sabem, Baphoraz, antes de sumir como os outros deuses, ele era responsável pelo panteão dos magos, controlando, obviamente, a magia pelos Quatro Mundos. Fora que, ainda tem o Véu, a camada protetora entre as realidades e, claro, a magia que ocorre aqui no Instituto. Se isto tudo ruir... – se reteve. Era visível que tinha ficado abalado tanto quantos nós. – Não quero pensar nisso.


— Nós vamos conseguir, Greg. – disse eu, exalando um falso entusiasmo. Claro, eu quero que a missão seja bem sucedida para resgatar meu pai e recuperar o bidente, mas era algo quase impossível. Além disso, a sorte não nos favorecia em nada. Na verdade, nunca esteve ao nosso favor. Mas não é por isso que iriamos perder as esperanças. – Nós temos.


Sue levantou a mão, querendo fazer alguma pergunta.


— Não é por nada, mas, se o bidente pertence a Baphoraz, como que os monstros poderiam utilizá-lo?


— Esta é uma pergunta intrigante, de fato. Porém, há um feitiço. – divagou Gregório. – É algo muito, muito poderoso e, se for bem executado poderá extinguir toda a magia dos mundos. O Véu cairá, haverá caos por todos os lados. Contudo, por ser um feitiço bastante poderoso, ele tem suas especificações. Para tal, é preciso ser realizado durante a última lua cheia do Outono. Que não por acaso é daqui a seis dias.


— Espera. – Ferdinand levantou as mãos, pedindo tempo. – Deixa eu ver se entendi: Nós quatro temos que ir para A Fazenda, resgatar o pai do Adrian e, se não fosse o bastante, temos que trazer o bidente de Baphoraz?


— Sim. – Gregório deu de ombros.


— Não esqueça o fato do lugar estar infestado por monstros de todos os tipos. – acrescentou Candy.


Ferdinand agitou os braços freneticamente como quem diz: Isso daí que ela disse.


— Olha, pessoal – disse eu, prestes a dar um dos meus discursos "motivacionais". Depois do que estou pedindo para eles fazerem, não falo mais nunca outro desses. –, eu sei que é loucura o que estou propondo a vocês...


— Loucura é pouco, Tampinha. – Ferdinand me interrompeu. – Insanidade? Cem por cento. Morte certa? Sem dúvidas.


— E é por isso que nós vamos. – disse Candy, brincando com os dedos no braço da cadeira.


— Como é? – O grandão olhou torto para ela.


— Qual é, Ferdinand. – falou Sue. – É o Adrian que está pedindo nossa ajuda. Acho que devemos ir com ele, depois de tudo que já enfrentamos um mês atrás. Começamos juntos e devemos terminar juntos, não acham?


Ferdinand esperou um tempinho para responder, na certa tentando fazer suas engrenagens mentais funcionar mais rápido.


— Fer – disse eu. Era a forma carinhosa que a Candy chamava ele, mas que decidi adotar quando o grandão me tirava dos nervos, o que era quase sempre durante os treinos. Era apenas para não deixar as coisas sérias, como ele me chamando de Tampinha. – Não precisa vir se não quiser. O que estou pedindo a vocês é quase uma missão suicida, mas que terá uma grande recompensa quando recuperarmos o bidente. E, claro, meu pai.


— Não é que eu não queira, Tampinha. – retorquiu. – É A fazenda, Adrian. Têm, sei lá, dezenas de histórias falando como aquele lugar está dominado por monstros, fantasmas e tudo mais que possa nos matar. E está pedindo para irmos com você?


— Falando desse jeito faz parecer ser uma ideia ruim. – disse eu. – Mas, sim, é para lá que a missão vai nos levar. Está dentro?


— Com certeza. – rebateu Ferdinand, com um largo sorriso no rosto. – Só estava checando se estava faltando algum detalhe.


— Se não tem mais ninguém para se opor a esta missão – parlou Gregório. Quando ele falou mais parecia um padre ministrando um casamento, o que fez sorrir mesmo que tinha sido breve. – Então estamos combinados.


— Ahn, Gregório. – chamou Sue. – Você não tem, sei lá, noção de como chegarmos até a Fazenda?


— Sim. – respondeu prontamente. – Sigam para o centro de Bahuessi assim que saírem daqui, pela manhã. Tenho um velho "amigo" – Sim, ele usou aspas quando mencionou tal amigo. – Que poderá dar mais informações para chegar até o local. Talvez.


— Talvez? – questionou Candy. – Ele vai ou não dar as informações?


— Depende do quão bem-humorado ele vai estar amanhã. – disse ele, dando de ombros como se não fosse mais problema dele.


Engoli em seco. Tenho quase certeza que, como sempre, as coisas serão resolvidas pelo jeito mais difícil.


— Bom, receio que vocês tenham que se preparar para partir amanhã bem cedo. – continuou Gregório. – Antes de irem, falem com o Paul. Vou deixar algo com ele para entregar a vocês de manhã.


— Por que não agora? – perguntou Sue.


— Porque agora não sei aonde está. – riu-se. – Boa noite e fechem a porta depois de sair.


Ele se retirou da sala e foi em direção sei lá para onde, buscar sei lá o quê.


Decidimos ficar conversando mais um pouco, elaborando alguns detalhes para nossa ida de amanhã. Não era uma missão fácil, como buscar dois remanescentes que estão em perigo lutando contra um Chacáh. Tentamos buscar respostas sobre como é o lugar, as vias de entrada, a região e mais um bocado de coisa que se faz quando está pesquisando por algo. Chegou um momento em que o cansaço bateu e fomos, então, rumando para os respectivos quatros, mas não antes de combinar o horário para o encontro. Geralmente, durante o Outono, o sol nasce por volta das seis e dez da manhã. Combinamos, então, de nos encontrar as cinco e quarenta embaixo do arco que dá para a porta que nos leva para o mundo real. Dando assim, trinta minutos para ficarmos despertos e encarar o dia que estava por vir.


Adentrei no quatro e joguei alguns livros que falavam sobre a Fazenda em cima da cama e me debrucei para lê-los. As informações, por vezes, se divergiam e não dava algo muito concreto. Mas, dentre informações desconexas, tinham poucas coisas que se repetiam em cada livro o que dava, esperançosamente, alguma veracidade: Cerca de, aproximadamente, cento e cinquenta anos atrás, a Fazenda servia como posto avançado para remanescentes mais dispersos ao norte, infelizmente não dizendo a local precisamente e quão ao norte seria. Em um fatídico dia, monstros invadiram o lugar, matando e destroçando cada um que vivia ali. Contudo, antes dos líderes da fazenda perecerem, lançaram um feitiço para prender os monstros que os atacaram, amaldiçoando-os. Daí vem o nome Fazenda Amaldiçoada. Desde então, o lugar foi "excluído" do mapa, para que não fossemos lá. Porém, haviam aqueles que achavam as histórias como se fossem apenas isso: histórias. E foram até o local para desmentir tudo que estavam nos livros, mas nunca mais retornaram. O que levou a acreditar que era tudo verdade.


E, cá estou eu, para afirmar que é verdade. Mesmo estando lá apenas em sonho, pude sentir toda a atmosfera sombria e mortífera do lugar. Eu não queria ser desesperançoso, mas mesmo que chegássemos lá, ainda havia mais monstros do que nós quatro poderíamos dar conta. Antes que a paranoia invadisse por completo minha mente, meus olhos foram pesando e, por mais que tentasse ser forte para resistir ao sono, uma hora eu acabaria cedendo. Era até melhor, na verdade. Eu estaria cem por cento para o dia seguinte.


Coloquei Anoitecer na mesinha ao lado da cama. Empurrei os livros para o lado e, lentamente, fui adormecendo.


Felizmente, ou nem tanto, não tive sonhos pitorescos com em relação a fazenda, meu pai, monstros ou até mesmo com minha mãe. Tinha sido mais um dos sonhos do Adrian inocente, sonhando em ser um brilhante astronauta, ou depois ir nadar pela praia, coisas desse tipo. Mesmo estando em um profundo sono, distante ouvi um barulho como se fosse um despertador. Não era da corneta ensurdecedora que tocava todas as manhãs para levantarmos. Era como um despertador comum, desses em... relógio?


Pisquei os olhos algumas dezenas de vezes bem rápido para poder acordar em definitivo. Anoitecer estava apitando incessantemente na mesinha. O estranho é que não tinha colocado nenhum alarme para tocar. Talvez fosse uma das propriedades mágicas da espada/relógio. Eram cinco e dez da manhã, vinte minutos adiantado da hora em que marcamos. Olhei para minha cama, estava uma bagunça, os livros espalhados, parecia um ninho. E foi então que me lembrei de algo importante que tínhamos conversado antes: arrumar a mochila com tudo que fosse necessário; roupa, comida, alguns medicamentos – gaze, band-aid, essas coisas que, pareciam insignificantes e sem sentido quando se tem o bolo cura tudo.


Sai avoado para arrumar a mochila. Joguei os livros das aulas fora, em cima do sofá. Corri para frente do armário, peguei duas mudas de camisa, outra calça, algumas cuecas (só por precaução) e meias extras. E, claro, não podia faltar meu bom e velho amigo casaco. Tentei deixar o mais arrumado possível e fui para a geladeira pegar algumas comidas que não estragassem por estar lá dentro do abafado na mochila. Depois da mochila pronta, fui correndo para o banheiro, pegar alguns suprimentos médicos e, claro, tomar um banho.


Não demorou muito e já saí em direção ao ponto de encontro.


O dia ainda não tinha amanhecido. Não oficialmente. Ainda era noite no céu. O tom azulado mais escuro começara a dar lugar ao azulzinho claro, poucas nuvens no céu. As estrelas já estavam se despedindo por agora, para voltar mais tarde. A brisa gélida assoprou, esvoaçando o gorro do meu casaco, junto do meu cabelo, deixando todo emaranhado. Não vi ninguém por perto, pelo menos na ilhota, todos ainda estavam dormindo, como se não tivessem preocupações maiores do que ter as aulas entediantes da Sr.ª Allen e fazer as atividades diárias de cada especialização em combate.


A ponte avermelhada balançava vagarosamente por conta dos ventos, o pequeno filete do rio que corria por baixo dela estava mais veloz, a água com tons mais escuros, refletindo o mesmo efeito que se tinha no céu. Eu ainda não a achava totalmente segura, mas ela não tinha causado nenhum acidente. Por mim, seria mais seguro atravessar pelo rio.


Não demorou muito e quando estava chegando ao arco, nosso ponto de encontro, vi uma silhueta esperando encostada na armação de mármore. Era a Susan. Por mais que não estivesse chovendo, o frio estava presente, por isso, Sue vestia seu velho casaco cinza que cobria a blusa que estivesse usando, calça jeans e sapatos pretos que nunca tinha visto ela usando antes. Seu cabelo escorria pelo ombro. Suas mãos estavam acobertadas pelos bolsos do casaco, sua mochila estava pendurada em um dos ombros.


— Bom dia, Adrian. – Sue esperou que eu chegasse mais perto para poder falar.


— Bom dia. – respondi. Meu humor pela manhã é tão agradável quanto um urso com fome, mas tentei ser o mais amigável possível. Além disso, era a Sue, eu não podia ser grosseiro com ela.


— Então, animado para nossa primeira missão? – perguntou.


— Animado? Acho que não. Decidido, sim. – retruquei, empregando desnecessariamente meu mau humor matinal.


Ela não pareceu se importar muito, ou não teve tempo para me dar uns tapas, pois estavam chegando Candy e Ferdinand logo atrás de nós, um minuto atrasado da hora marcada, mas não era importante.


Desde o pouco que conheço do Ferdinand ele não usa camisa sem ser as regatas, porque segundo ele, facilita no manuseio da espada e para golpear os inimigos caso não tenha alguma arma. Mas, desta vez, ele estava usando uma camisa de manga longa preta, a usual calça estilo militar e sapatos de corrida tamanho "Pé Grande". Diferente da última vez que ele tinha saído do Instituto, ele não trazia sua espada na bainha, presa na cintura. Ele não estava com nenhuma arma aparente. Carregava a mochila em uma das mãos que fazia parecer que estava carregando um saquinho do pó do esquecimento Já Candy, como sempre, tem que usar roupas de cores extravagantes: o cabelo louro estava preso em um rabo de cavalo, usava um casaco vermelho com as iniciais I.Q.G em negrito, calça verde luminescente e sapatos amarelos que pareciam iluminar tudo. Como ela utilizava o arco que pode ser materializado pelo pensamento, não tinha algum arma a mostra, a mochila estava "presa" nos dois ombros. Nós quatro parecíamos alunos que estavam indo para o colégio, não para uma missão arriscada.


— Boa dia, moçada. – disse Candy, esboçando um grande sorriso.


— Estão prontos? – questionou Ferdinand friamente. Era quase cômico Candy e Ferdinand estarem juntos. Ela é sempre feliz e alegre, já ele é mais fechado, sorri em poucas ocasiões e por coisas específicas. Mas, no fundo, sabíamos que ele era um cara legal, por mais que implicasse um pouco. Passar mais tempo com eles me fez ver como é essencial conhecer as pessoas antes de julgá-las, especialmente quando tentam fazer de tudo para te deixar para baixo.


— Não... – respondeu Sue em um sussurro audível para todos.


A paisagem estava mudando. O sol estava prestes a nascer. O céu assumiu cores mistas, parecia estar brigando para saber qual cor iria dominar: azul ou o alaranjado do sol. A corneta tocou. Após um mês e ainda me assustava quando tocavam-na.


Eram cinco e cinquenta da manhã.


Estranhamente, os primeiros raios solares iluminaram os céus antes do esperado. Era um ocorrido a exceção da regra que vinha acontecendo desde que mudara as estações. Como era o combinado sair quando os raios aparecessem, nós, então fomos. Dando início a nossa "jornada".


— A hora é essa, pessoal. – disse eu.


Eles assentiram.


Candy apertou um botão em meio as raízes que cresciam no arco, abrindo a nossa passagem para o mundo exterior. Fazia mais de um mês que não sabia o que era ver um carros passando, asfalto, outras casas, e pessoas que andavam de um lado para o outro. Atravessamos pela porta, adentrando no mundo exterior. Tirando o céu, era completamente diferente do que se tinha no Instituto. Quer dizer, claro que tinha prédios e construções, mas aquilo era real.


Desta feita, estávamos de volta na velha cabana de madeira caindo aos pedaços. Paul continuava firmemente sentado na sacada, em sua cadeira de balanço, com uma garrafa de bebida ao lado. Ele vestia as mesmas roupas de antes, a jaqueta militar, a calça rasgada e tudo mais. À esquerda, um velho São Bernardo estava repousando e roncando, aparentemente. Era o velho Beethoven, supus. Não tinha conhecido o cachorrão pessoalmente.


— Aí estão vocês. – disse Paul. Ele era cego, mas seus outros sentidos eram bem apurados. Além disso, não é tão silenciosa o nosso retorno para sair do Instituto e voltar para o mundo exterior. – Gregório contou que vocês vinham.


— Estava com saudades, Paul. – Candy o abraçou bem apertado. Beethoven, que estava do lado dele, acordou, nos encarando, com a língua de fora.


Beethoven latiu.


— Também estava com saudades de você, Beto. – Ela acariciou o pelo do cachorro.


Ferdinand tocou os ombros de Paul, que deu uns tapinhas na mão dele. Sue e eu ficamos um pouco mais afastados, não éramos tão próximos ao Paul.


O homem tem esses olhos totalmente brancos, por causa da cegueira, mas parece que enxerga tudo ao seu redor.


Beethoven se levantou e esfregou-se em minhas pernas, com a língua para fora, babando incansavelmente. Depois de cheirar minhas mãos, fez a mesma coisa com a Sue, que ficou mexendo na cabeça dele e fazendo cocegas pelas costas dele, fazendo o Beto se tremer todo e fica com um "sorriso" em seu rosto canino.


— Ele gostou de vocês. – disse Paul. – Beto tem um faro especial para descobrir boas pessoas.


— Ahn, obrigado. – respondi meio sem jeito.


— Obrigada. Ele parece ser um cachorro bem dócil e amigável mesmo. – falou Sue. Ela também tinha ficado um pouco sem graça, suas bochechas ficaram levemente tingidas de vermelho.


— Paul. – chamou Candy. – Gregório disse que iria entregar alguma coisa para você que ia nos ajudar na missão.


— Sim, sim. Eu jamais iria esquecer, minha querida. – Paul tateou sua jaqueta militar verde oliva e enfiou a mão em um dos bolsos. Ele sacou um punhado de dinheiro, parecia ser o suficiente para alguma coisa que talvez fossemos precisar. Além do dinheiro, tinha um papel rasgado e rabiscado com alguma coisa escrita. – Aqui está. – Estendeu a mão para que alguém pegasse.


Candy se adiantou e pegou o dinheiro juntamente com o pedaço de folha. E antes que pudesse formular alguma pergunta, Paul se adiantou e disse:


— Gregório contou que era para entregar a vocês este montante de que, me parece ser dinheiro. Dá para sentir a diferença das espessuras do papel normal com o utilizado para imprimir as notas. Ele não disse para quê, mas que era uma precaução futura caso precisem.


Ferdinand analisou o dinheiro que estava na mão da Candy e depois pediu para ela pusesse no bolso da sua mochila, deixando ela segurando apenas o papel rabiscado. Como sou um pouco curioso, me aproximei deles para ver o que tinha escrito no papel. Sue teve a mesma ideia. O papel era meio amarelado e, claramente, era a letra do Gregório que tava escrito ali. No papel tinha um nome de alguém e o que parecia ser um endereço, ambos não era familiar para mim ou Sue. E nem para Candy e Ferdinand, ainda mais com as expressões que fizeram quando leram o nome: Augusto Bocarra.


— Você conhece algum Augusto Bocarra? – perguntei ao Paul. Estava intrigado com aquele nome. A nossa missão mal havia começado e já estava cheia de mistérios.


— Não. Infelizmente o nome não me remete a alguém conhecido. Desculpe. – respondeu ele. Sua voz tinha diminuído uma oitava e ficando menos pesada e rouca. – Mas, se o Gregório escreveu aí no papel é porque ele sabe o que está fazendo.


Nós quatro nos entreolhamos e meio que concordamos com o olhar que "Gregório" e "sabe o que está fazendo" na mesma frase era algo hilário. Mas, por respeito ao velho Paul, seguramos o riso.


— Adoraria ficar mais tempo aqui com você e o Beto – disse Sue, acariciando o São Bernardo uma última vez. Seu olhar parecia um pouco triste por deixá-los ali. –, mas temos que ir.


— Eu entendo, crianças. Vão. – falou Paul. – Que os deuses guiem vocês para a vitória.


Nós soltamos um "êhh" um pouco desmotivado com aquilo. O único que pareceu confiante que os deuses nos ajudaria em algo foi o Ferdinand. Ele acredita ferrenhamente que os deuses continuam por aí, ajudando e olhando por nós.


Do outro lado da rua, um carro prata estava estacionado. Era o antigo carro do meu pai que pegamos para ir até o Planetário e posteriormente vir para o Instituto. Da última vez que tinha visto o veículo ele estava há alguns metros mais atrás da localização do Instituto, quando tinha acabado o combustível e resolvemos deixá-lo lá. Mas, se ele estava aqui significava uma única coisa. E não era uma coisa boa. Aquele carro era uma das coisas que me restaram do meu pai, além da Anoitecer que fora um presente.


— Quem está pronto para pegar carona com a tia Candy de novo? – perguntou Candy. Ela estava empolgadíssima com a oportunidade de dirigir novamente.


Ferdinand olhou pra mim como quem diz: Preferia ir no Titanic. A Susan, claramente, ficou nervosa quando Candy saiu correndo para ligar o carro.


— Será que não podemos ir andando? – sugeriu Susan.


— Não. – gritou Candy do outro lado da rua. – Vai ser divertido.


— Vai ser divertido, ela disse. – repeti.


Olhei para trás, Paul continuava nos encarando com seus olhos completamente brancos. Beto havia deitado aos pés de seu dono de novo. Ficou nos observando, com a língua de fora. Até que ele era um cachorro adorável.


Sem mais opções possíveis, além de ir com a Candy ou de sair voando com as asas que eu tinha que só havia usado uma vez, abaixei a cabeça e fui até o carro, descontente.


***


Felizmente o trânsito em direção ao centro de Bahuessi estava engarrafado. O que significava que Candy não poderia correr feito uma louca, desviando por mínimos centímetros dos outros carros a nossa frente. Estávamos animados com o início da missão. Repassamos mais algumas vezes o que fazer e para onde ir, até o contato que Gregório havia nos dado.


O centro da cidade era um conglomerado de prédios altos e diversas lojas por toda a extensão que tínhamos visto até então. Paramos numa dessas lanchonetes 24h para tomarmos o café da manhã. Não demorou muito e voltamos a seguir em direção ao local onde ficava o tal do Augusto Bocarra. O sol matinal havia despertado com vontade. Da saída do Instituto até o centro durou cerca de duas horas de carro. Por onde passávamos, algumas pessoas olhavam para nós, tentando imaginar o que quatro adolescentes estavam fazendo ali essa hora do dia.


Ferdinand e Candy andavam dois passos à frente de Sue e eu. Como eram os mais velhos e experientes nessa coisa toda de sair em missão, combinamos de eles irem como a primeira dupla a fazer reconhecimento do local, enquanto Sue e eu éramos o "elemento surpresa". Ninguém imaginava que fossemos filhos de deuses. Para aqueles caras de terno, com suas maletas pretas e passos apressados, éramos apenas crianças qualquer que estavam matando aula (o que não deixa de ser verdade). Eles passavam por nós como se não existíssemos. Eu olhava para eles, era incrível como não têm ideia que existe mais do que apenas aquilo que veem. Um mês atrás eu era igual a eles, ignorante sem ver toda a pintura.


Voltei o olhar para Ferdinand. O grandão que sempre carregava a espada guardada na bainha presa a cintura, agora ele não estava usando-a. Não que Ferdinand precisasse usar armas, ele era muito bom em combate usando apenas as mãos. Mas ele costumava dizer que a espada era como uma extensão do seu corpo. E, além da espada, ainda utilizava o arco dourado, exatamente igual ao da Candy, mas que deixou de lado após algumas tentativas fracassadas de ser bom no alvo. Depois do ocorrido no colégio Castelo Branco, Ferdinand confidenciou que não sabe como acertou aquele disparo no Galiofeu. Quer dizer, Candy e Sue eu até entendo não andar com os arcos à mostra, pois eles se materializam com a vontade do pensamento. Além, claro, Sue tinha seu bastão metálico que estava resguardado em forma de anel em seu dedo. Eu, tenho Anoitecer que está em forma de relógio. Intrigado, resolvi tirar as minhas dúvidas sobre a espada que ele tanto presava.


— Ei, Ferdinand. – chamei-o.


Ele e Candy pararam mais à frente.


— O que foi, Tampinha? – disse ele.


— A espada. – falei. Ele não pareceu entender. – Você carregava a espada na bainha, mas não está usando-a. Decidiu vir desarmado, apenas com os punhos para atacar os inimigos? – brinquei.


As garotas deram-se a rir.


— Não, Tampinha. – rebateu. – Andar por aí com uma espada presa à cintura, com vários mortais comuns podendo ver, não é algo inteligente para se fazer. Passei ontem à noite tentando fazer um feitiço de encobrimento, para camuflá-la.


— Faz sentido. – disse Sue. – E deu certo, pelo visto. Sabe, porque não estou vendo nenhuma.


Outra série de risos. Ferdinand estava ficando um pouco vermelho.


— Sim, deu certo. – assegurou o grandão. – Está no meu bolso neste exato momento, seus chatos. – Ele deu língua, como uma criança birrenta. – Nunca vão adivinhar o que seja.


— Uma caneta? – deduziu Candy no mesmo tom descontraído.


— Por que eu teria uma espada que vira uma caneta? – Ferdinand parecia ofendido com tal suposição. – Não faz o menor sentido nisso. Não é por nada Candy, mas é uma ideia ridícula. E o que faria quando não estivesse em forma de espada, iria anotar as aulas do Gregório?


— Tá. Não precisa levar para o lado pessoal, Fer. – disse Candy, saindo fora da "discussão".


— Uma moeda? – foi a vez da Sue dar um palpite.


— Sim. Temos uma ganhadora. – Ferdinand mexeu em um dos bolsos da sua calça e retirou uma moeda de prata. Ela era ornamentada nos dois lados; um dos lados era o símbolo de seu pai, Borthus, uma espada flamejante; do outro, uma espada levemente encurvada.


— Você faz o quê, joga pra cima e ela vira a espada? – perguntei, sem levar muito a sério.


— É exatamente isso. – disse Ferdinand. – Mas não vou fazer aqui, obviamente. Agora, se já tiraram sarro o bastante, vamos continuar andando.


Concordamos com a cabeça e voltamos a andar.


Não demorou muito e entramos em uma avenida (Sim, era uma avenida) com o que mais parecia ser um bazar enorme. De ambos os lados, lojas e mais lojas de especiarias, roupas, móveis, artigos de decoração como tapetes, cortinas. Naquela parte do centro de Bahuessi, as pessoas vestiam roupas comuns, fugindo à regra das outras ruas do lugar, em que se viam muitas pessoas usando ternos e gravatas, roupas sociais e suas pastas com documentos importantes.


— Olha que lindinhos quatro crianças andando sozinhas por aqui. Até parece que são gente grande – disse uma senhora em uma das lojas que vendia pastéis.


— Crianças estão interessadas em tapetes da mais alta qualidade? – perguntou um segundo vendedor. – Venham, entrem e escolham o que mais gostar.


— Eles não querem saber dessas coisas velhas que você vende, Abe. – rebateu um terceiro vendedor com um grande bigode acima da boca. – Querem coisa nova, tecnologia dos dias atuais.


— E o que você entende disso, Carlos? – retorquiu Abe. – Você é um velho tanto quanto eu, seu pançudo.


Não demos muita importância para eles, mas olhamos para trás quando os dois homens começaram a brigar, berrando xingamentos que só as pessoas velhas sabiam. Era hilário ver aquilo, como são "inocentes" em assuntos mais complexos como a existência de monstros e deuses.


Mais adiante, já perto do final da Avenida do Bazar tinha uma loja enorme que tinha o dobro do tamanho das demais. Era uma loja de penhor/antiquário. Um homem baixinho e gordo estava na porta, olhando para as pessoas que andavam por ali. Devia ter em torno dos cinquenta para sessenta anos. Os poucos cabelos que tinha estavam nas laterais da cabeça, deixando um grande espaço no topo da cabeça. Os olhos eram grande e castanhos, atentos para qualquer movimento. O nariz era achatado, como se tivessem dado murros a vida inteira e o amassado no processo. Vestia roupas simples, uma camisa comprida em tom bege, calça também bege e sapatos de camurça. Ele parecia um band-aid ambulante. Mas um detalhe que mais me chamou atenção não era sua roupa ou a loja. Era sua boca. Era gigantesca. Ao mesmo tempo que parecia um mortal comum, sua aparência se transfigurava em um ser monstruoso, um sapo balofo com dentes afiados.


Ele era um monstro, literalmente.


— Acho que achamos o Augusto Bocarra. – adivinhou Candy.


O homem que parecia ser Augusto Bocarra olhou em nossa direção. Deu um sorriso tão largo quanto sua grande boca permitia, os dentes pontudos e afiados brilharam. Sua língua monstruosa passou pelos lábios. Os olhos tremeram, ora ficou castanhos ora em tom amarelado como os olhos de anfíbios. O ser monstruoso veio até nós, andando desajeitado e disse:


— Olá apetitosas crianças. – Seus olhos brilhavam. – Eu sabia que vocês vinham.



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