Fanfics Brasil - 20 - A mulher com cabelo de fogo Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada (Livro 1)

Fanfic: Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada (Livro 1) | Tema: Fantasia


Capítulo: 20 - A mulher com cabelo de fogo

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A pior coisa que alguém poderia dizer, além de "você está correndo risco de vida", é "eu sabia que você estava vindo". Sério, tira completamente o fator surpresa. Para os "mortais comuns", aquele cara parecia ser um simples homem de meia idade, mas aos nossos olhos, era claramente uma figura anfíbia, tremeluzindo para os contornos humanos. Eu não tinha visto nenhuma menção sobre ele ou a espécie de monstruosidade que ele era nos livros da biblioteca. De cara, meus instintos gritaram na minha mente: Ataca que é monstro. Mas, felizmente consegui me conter, pois o monstro que dizia ser Augusto Bocarra era o contato que Gregório tinha fornecido, e seria bom ouvir o que ele tem para falar, só então faríamos picadinho de sapo.


— Sr. Bocarra? – Sue se adiantou impondo toda sua formalidade. – Sr. Augusto Bocarra?


O sapão passou mais uma vez a língua em meio aos lábios babados.


— Sim, é claro que sou eu. – ele respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.


— Nós... – Ferdinand tentou ser formular algo, mas foi interrompido pelo figura monstruosa.


— Eu sei quem são vocês. Alunos do Gregório. – disse Sr. Bocarra. – E se estão aqui... – deu mais outro sorriso mostrando todos os dentes. – É porque precisam de mim para alguma coisa.


— Se sabe quem somos, então deve saber o motivo de virmos até aqui. – falou Candy. A garota esta serena. Sua feição era de completa seriedade, sem nenhum risinho querendo escapulir. Estava mais parecida com Ferdinand do que com ela mesmo.


— Não. – Sr. Bocarra balançou a cabeça em negativa, espalhando sua baba pela calçada. – Gregório só falou que vinham, não disse o porquê.


— Estamos querendo sua ajuda para uma coisinha boba. – disse eu. Poderia ter dito o que estávamos atrás, mas não era a hora ainda. Se ele soubesse do que estamos procurando, com certeza nos mandaria ir atrás de alguma coisa tão impossível quanto o que queremos. E ele não é do tipo de pessoa (ou monstro) que faz as coisas de graça.


— Posso saber o que seria essa coisinha? – Sr. Bocarra se inclinou mais para frente, como se fosse ouvir algum segredo.


— Uma localização. – Ferdinand tomou as rédeas da conversa. – É o máximo que podemos dizer. – e acrescentou rapidamente. – Pelo menos por enquanto.


O Sr. Bocarra ficou olhando para nós como se estivesse pensando se iria nos ajudar, ou como faria para nos matar e servir-nos como o almoço. Ele coçou o queixo verruguento, sem deixar de nos olhar por um segundo. Era quase como se não piscasse os olhos.


— Pronto. Me decidi. – ele falou após cinco minutos.


Seja lá o que tinha decidido, não era coisa boa para nós. Fiquei mais uma vez tentado a sacar Anoitecer e ameaçá-lo a nos dizer a localização da Fazenda.


— Vou ajudá-los, crianças. – disse ele.


— Mas... – Era óbvio que teria um "mas".


— Mas terão que fazer um pequeno favor, afinal nada é de graça, crianças. – e frisou a última parte, agitando o indicador: - Nada é de graça.


Ótimo, pensei. Não que fosse uma surpresa pra mim, ou para os outros. Como sempre o jeito mais difícil prevalecia nas nossas querelas.


— Nos dá um segundinho? – disse Sue. E nos saiu puxando para um lugar mais afastado.


— Façam como preferir. – Sr. Bocarra deu de ombros. – Sejam breve, pois minha imensa benevolência para ajudar-lhes está prestes a expirar. Vocês têm no máximo cinco minutos para decidir o que irão fazer. Estarei no antiquário.


Ele deu as costas para nós e foi para sua loja, não coincidentemente quando um cliente adentrou no lugar.


— E então? – perguntou Ferdinand.


— Vamos ter que fazer o favorzinho que ele pediu. – decidiu Sue. Aquela era uma das poucas vezes que as escolhas da Sue não prevalecia a cautela.


— É, mas o que será o "favorzinho"? – indaguei. – Pode ser de comprar um tapete daqueles vendedores que vimos pouco tempo atrás, ou roubar um banco. – Comecei a agitar os braços freneticamente. – E mais alguém reparou no fato dele ser um monstro? Ao meu ver, pode ser uma armadilha.


— Qual é, Adrian. – disse Candy, como quem reafirma algo para uma criança que acabara de esquecer. – É óbvio que será uma armadilha. Mas que outra opção temos? Se queremos chegar na Fazenda para resgatar seu pai e o bidente, este é o melhor jeito.


— O único jeito. – completou Sue. – Temos que fazer isso para prosseguir e ter sucesso na nossa missão. A Sr.ª Arco-Íris está certa.


— Se elas duas estão concordando entre si, não há por que ficar contrário a elas. – disse Ferdinand. Ele estava razoavelmente certo. Elas duas mal concordavam com as coisas, mesmo tendo deixando os conflitos de lado (nem tanto).


— Está bem. Vamos. – concordei, me dando por vencido.


Sem opção melhor... na verdade, não tinha outra opção. Entramos no antiquário.


A porta dupla revelou um "novo mundo" velho com objetos antigos e, possivelmente, raros. Era o esperado de se encontrar em uma lugar que era loja de penhor e antiquário ao mesmo tempo. Os pertences daquele lugar eram dos mais variados tamanhos, cores, metais. Vão de vasos de cerâmicas com ornamentos pretos e dourados, que remontam centenas de anos atrás, relógios de madeira que ficam no chão, outros pendurados na parede. Perto destes, tinha também relógios de bolso e de pulso, folheados em ouro e prata. Fora isso, havias mobílias, pratarias. Quadros estendiam-se pelas paredes, outros encostados em móveis no chão. Neles haviam vários tipos de estilos e pintores, fazendo ser uma das maiores e melhores coleções de arte do mundo. Fora algumas estatuetas e esculturas, o que chamou atenção (a minha, pelo menos) foram as armaduras completas de guerras passadas. Elas tinham um tanto quanto de charme.


O Sr. Bocarra estava atrás do balcão, atendendo o homem que recém entrara na loja. Ambos estavam conversando sobre algum objeto de grande valor que o homem havia colocado à venda. Não demorou muito e o Sr. Bocarra retirou de baixo do balcão uma grande quantidade de papel e começou a preenchê-la. Passou não mais do que dez minutos para completar a papelada finalizar a transação. O homem passou por nós com um grande sorriso no rosto, como quem revela ter feito um ótimo negócio.


— Venham. – chamou o Sr. Bocarra, ainda atrás do balcão. Ele começou a mexer em uma das gavetas de moedas que tinha em cima do balcão.


Quando nos aproximamos dele, o sapão abriu outro grande sorriso. Ele era sorridente demais, o que nunca é um bom sinal.


— Sabia que eram espertos. – disse ele. – Fizeram a escolha certa.


— Era isso ou nada. – retruquei.


— Se fizermos o que você quer, dirá o que queremos. Combinado? – emendou Ferdinand. Era sabido por nós do Instituto que o Ferdinand não é muito paciente em assuntos de diálogos e "diplomacia".


— Claro. Não vejo motivos para não ajudá-los. – falou Sr. Bocarra.


Não acreditei um segundo sequer no que ele disse.


— Entrem, crianças. – ele abriu a portinha do balcão para que o seguíssemos. – E me acompanhem. Vou contar-lhes-ei uma breve história.


Um calafrio percorreu minha espinha. Tínhamos todos os motivos aparentes para não confiar nele. Aquele "homem sapo" sabia que precisávamos dele, então estávamos presos em suas mãos. Faríamos o que ele quisesse.


Relutantes, seguimos ele até seu escritório. Era uma sala grande com vários objetos raros por todo lugar, parecia uma mini versão do antiquário. O Sr. Bocarra se acomodou em sua cadeira, do outro lado da mesa. Ferdinand e Candy sentaram nas cadeiras à frente dele, enquanto Sue e eu ficamos em pé.


— Bom, crianças – a forma como ele nos chamava de crianças era quase como se fosse menosprezo. Por sermos crianças, não valíamos de nada. O que fez aumentar minha vontade de cortar aquela língua dele. – é hora da história. Anos atrás chegou até mim duas pequenas estatuetas de esmeralda. As figuras foram feitas por gente do seu tipo, remanescentes. Os desenhos eram de monstros, dois dos mais perigosos e temidos, tão amedrontadores que este velho sapo não ousaria de contar-lhes os nomes.


— Ok... E daí? – perguntou Candy. Ela não estava com cara para muitos amigos.


— E daí que foram roubadas, sua garota insolente. – o tom de voz do Sr. Bocarra ficou mais ríspido. Por um momento, aquele momento, a tensão ficou mais séria. – Enfim... – ele limpou a garganta. – estas duas peças foram roubadas alguns meses por uma ladra de joias e antiguidades. Quero que vocês tragam de volta para mim.


— O quê? – quase me engasguei com aquilo. – Não.


— Não? – Sr. Bocarra riu-se. – Eu disse que ia ajudar vocês, e vocês não querem fazer o mesmo por mim? Talvez eu não tenha sido claro. Vocês vão fazer o que eu pedi, senão... adeusinho Fazenda Amaldiçoada. – e diante da nossa surpresa, ele emendou: - É, eu sei.


E gargalhou, triunfante.


Era como se um iceberg tivesse despencado em cima de mim. Ele sabia todo esse tempo para onde iriamos. Como? Será que Gregório contou o nosso destino? Fiquei atônito por algum tempo até voltar a realidade, que não percebi quando Sue concordou que faríamos o que ele pediu e em troca ele nos daria as coordenadas exatas da Fazenda.


— Adrian? Adrian? – era Candy me chamando, estalando os dedos na frente dos meus olhos para que eu recobrasse a atenção. – Você está bem?


— Hã?! – foi o que consegui falar logo de cara. – Estou bem.


— Você parecia não estar ouvindo nada. Ficou apenas encarando o Bocarra como se fosse pular no pescoço dele. – disse Sue.


— Vocês não? – falei. – Ele estava brincando conosco o tempo todo. Sabia exatamente o que estamos querendo.


— Sim, Tampinha, a gente sabe. – interviu Ferdinand. – Foi um baque pra todos, mas não temos tempo para entrar em choque. Temos que fazer isso que ele pediu: pegar de volta as estatuetas de esmeralda. Só assim avançaremos até a fazenda.


— Tudo bem. – concordei ainda um pouco zonzo. Não era a primeira vez que isso acontecia comigo, ficar com a "mente desligada" enquanto as outras partes do meu corpo agem normalmente. – Sabemos onde está a ladra?


— Sim. – respondeu Sue. – O Sr. Bocarra nos deu a localização precisa dela, segundo ele, não foi até lá cobrar as peças de volta, porque não é do feitio dele ir atrás de mercadorias, é melhor mandar terceiros fazer o trabalho de recuperação dos objetos. No caso, nós quatro.


— Vamos logo. – apressou Candy. – Não temos o dia todo.


Concordamos com ela e fomos seguindo até onde a ladra de estatuetas estava escondida.


***


Se existe algo que eu gosto menos do que as aulas da Sr.ª Allen, com certeza é andar sob o sol quente, fervilhando minha cabeça e deixando a vista embaçada. Ainda bem que tinha deixado o casaco no banco do carro.


Tínhamos saído da Avenida do Bazar e regressado ao "miolo" do centro. Por termos o endereço da ladra, ficou mais fácil de nos localizar e evitar andar por muito mais tempo. Agora, faziam quase três horas que havíamos deixado o Instituto. Eu já estava com saudades, admito. O fluxo de pessoas no centro, principalmente os homens apressados vestindo terno, tinha aumentado gradualmente. Muitas pessoas passarelavam de um lado a outro, indo de loja em loja, comprando coisas aos montes.


Ferdinand e Candy que antes andavam a nossa frente, agora estavam ao nosso lado. Éramos quatro adolescentes andavam enfileirados na horizontal, ocupando uma parte das calçadas. Alguns compradores ávidos reclamavam quando esbarravam suas bolsas abarrotadas de compras em nós, como se tivesse sido nossa culpa.


Nenhum de nós ameaçava a dar uma palavra sequer. Estávamos, pelos menos eu, focados em achar a tal mulher, recuperar as peças e sair logo daquele lugar e pegar a estrada. O tempo não era nosso aliado, de hoje até a última lua cheia tínhamos apenas cinco dias.


Tentei deixar esses pensamentos de lado e me concentrar no próximo passo: recuperar as estatuetas. O local do alvo era um hotel na esquina entre a Avenida Muorr e a Rua Oszi, por "sorte" ou qualquer outra coisa do tipo, estas duas avenidas não eram tão movimentadas quanto as outras. Não demorou muito e chegamos no destino. O Hotel Santo Sonho era um daquelas hospedagens antigas que sobrevivem para ocupar espaço no centro em meio aos outros prédios modernos apenas por rebeldia, servindo de contraste as demais construções. Tinha uma placa em vermelho e branco escrito: FECHADO.


— Temos que arrombar a porta. – anunciou Ferdinand, já tomando impulso para derrubar a porta frontal.


Sue, Candy e eu afastamos um pouco para não sermos pegos pela poeira e escombros que viriam a cair com o impacto do Ferdinand contra a porta.


Ao chocar-se ruidosamente contra a porta, Ferdinand não parou apenas nela, com a inércia da investida adentrou o saguão do hotel, carregando poeira a dentro. Se houvesse algum efeito surpresa para emboscar a ladra, com certeza já tinha ido embora.


O hotel por dentro era de um estilo cafona, já deteriorado pela passagem do tempo: o chão era de madeira apodrecida, com alguns vãos entre elas. Os pouquíssimos móveis que tinha estavam mofados e/ou rasgados, jogados e emborcados. Nas laterais das portas e seguindo adiante rente as paredes, uma fileira de plantas mortas davam um toque mais sinistro ao lugar. Onde geralmente se faz o check-in, estava todo acabado, umas goteiras provindas do andar superior caia direto no balcão da recepção, mofando e encharcando a madeira. À direita, onde as pessoas ficavam para descansar e que dava em direção, ao que parecia ser um bar, estava destruído. Era como se tivesse pegado fogo, o cheiro de queimado daquele lado estava forte, ainda mais quando o vento (que começou assoprar dentro do hotel quando Ferdinand arrebentou a porta) levava a fuligem para os outros cantos do lugar. À esquerda, surgia-se uma escada detalhada com cerâmicas enegrecidas e acinzentadas pela poeira. Aquele lugar era o terror das rinites.


— Bom, entramos. – disse Ferdinand, espanando a poeira da roupa. – E agora?


— Nos dividir? – perguntei. Eu não tinha muita experiência em saída de campo, então estava meio perdido sobre o que fazer.


— Não é perigoso? – ponderou Sue. – Quer dizer, não sabemos em qual andar a ladra está. Ou o que ela é.


— Em condições normais, sim, seria perigoso. – confirmou Candy. – Mas temos que fazer isso. É como eu disse: é obviamente uma armadilha.


— Como vai ser, então? Duas duplas? – sugeriu Sue. – Sabe, uma no primeiro e outra no segundo.


— Parece bom pra mim. – concordei. – Podemos nos encontrar nas escadas que dividem os dois andares e partimos para os outros em conjunto novamente.


— Então, Candy e eu ficamos com o segundo andar; Sue e o Tampinha com o primeiro. – disse Ferdinand, com um grande sorriso no rosto. Antes que fosse tarde, acrescentou – Ah, qualquer coisa gritem.


Ninguém discordou.


Antes de subirem os lances de escada, Candy deu-nos uma lanterna para facilitar a locomoção pelo andar. Nos separamos no início da escada que dava para o segundo andar. Quanto mais avançamos dentro do hotel, a iluminação ia ficando escassa, aparecendo alguns raros feixes de luz. Era um típico andar de um hotel abandonado: teias de aranhas aos montantes, poeira, portas trancadas e outras abertas/quebradas, infiltrações vindas do teto pingavam no piso, molhando a madeira, deixando-a fofa. Todo aquele cenário parecia ter saído direto de um filme de terror. Era questão de tempo um fantasma pular na nossa frente e nos assustar, no meu caso, morrer.


Sue estava calada, focada em achar alguma coisa que fosse sobre a mulher pela qual estávamos buscando. Vasculhamos os primeiros quartos e não achamos nada de interessante, apenas acomodações velhas e caindo aos trapos. No geral, o primeiro andar tinha doze quartos, e naquela altura já tínhamos percorrido cerca de quatro ou cinco, e todos deu no mesmo resultado: nada.


— Não estou gostando disso, Adrian. – confidenciou Sue. Era a primeira vez que ela fora desde que começamos a procurar pistas no primeiro andar. – Está tudo muito quieto.


Os cabelos na minha nuca diziam a mesma coisa.


— Está me lembrando de quando invadimos o Planetário. – recordei. Aquela havia sido nossa primeira "missão" juntos e foi para resgatar meu pai. Infelizmente, deu tudo errado e acabamos destruindo uma parte do Observatório e perdido meu pai, que fora levado pelos Zumbis de Areia. – Começou assim, depois foi uma loucura com todos aqueles Zumbis nos atacando.


— Algo está me dizendo que será bom estarmos com armas em punho, Adrian. – disse ela. Sue deu-se a rodar uma vez seu anel de aparência prateada e retirando-o do dedo indicador para retornar a girar mais uma vez. Em poucos segundos, Sue estava segurando seu bastão, pronta para atacar qualquer um que ousasse dar um susto nela.


Fazia semanas que ela dizia estar treinando com o bastão, mas eu não tinha visto ela utilizando nenhuma vez na caça do coelho.


— Acho melhor eu ir iluminando o caminho. – falei, enquanto pegava a lanterna da mão dela. – Qualquer coisa você me defende, Sue.


Ela sorriu. Era bom vê-la sorrir.


No último mês, Sue havia amadurecido muito para alguém que tem apenas treze anos. Ela aprendera a lidar com a distância que estava para com seu pai, Dustin, que morava um pouco mais afastado do centro de Sempre Noite, dificultando ainda mais a vinda dele para Bahuessi, não que fosse permitido. Além disso, aquela conversa que Gregório teve sobre os deuses terem sumido pesou bastante nela que, no mesmo dia que soube quem era sua mãe, soube também que ela não estaria por perto para ajudá-la a controlar e utilizar suas novas habilidades. Éramos amigos, sem dúvidas, mas ela havia se distanciado um pouco de mim nos últimos dias, não que fosse proposital. Ela estava sempre muito atarefada entre aprender a conjurar uma dobra luz e acertar alvos em movimentos com seu arco, o Nunca Erra.


— Adrian? – Sue me chamou. – O que você está fazendo?


Só então eu percebi que estava mirando com a lanterna para uma das paredes em que a tinta havia se descascado. Às vezes, fico preso em meus próprios pensamentos que acabo esquecendo que o mundo a minha volta não para.


— Hã, desculpa. – disse eu.


Reparei que esta parede em especial não tinha se descascado. Era como se alguém tivesse arranhado até a tinta sair. Havia marcas de garras na horizontal, na linha em que a tinta havia sido arrancada.


— Ali, Sue. – apontei para o local na parede. – Percebe? É como se tivessem arrancado a tinta.


— Era isso que eu ia dizer, Cabeção, se você não tivesse feito uma estátua olhando para a parede. – disse Sue. – Estou achando que a mulher que estamos atrás não é uma simples ladra...


Neste momento, um barulho de como se derrubassem algo no chão ecoou no primeiro andar. Veio em um dos quatros que estava trancado. Como sempre quando fico com medo, minhas pernas deram-se a tremer. Um chiado estridente reverberou pelo andar. A lanterna na minha mão começou a piscar e falhar até que ela se apagou. Deixando tudo escuro. E, de alguma forma, assim como no Planetário quando usamos a passagem secreta, eu conseguia enxergar perfeitamente. Sue estava atrás de mim, praticamente colada nas minhas costas. Pude senti-la suando. Assim como eu, ela estava tremendo e com medo. Pensei em dizer alguma coisa para acalmá-la, mas vi um vulto correndo na minha frente no final do corredor de um quarto para o outro. Era horrível. (Eu estava quase gritando feito uma garotinha). Não consegui distinguir a figura completamente, mas ela (só podia ser a ladra) corria usando as quatro patas, ou as patas e mãos, não importa. Seu cabelo era de fogo, que quando passou outra vez por nós, iluminou fracamente o andar.


— A-Adrian. – gaguejou Sue. Eu conseguia ouvir seu queixo batendo de medo. – É melhor voltarmos e reagrupar com os outros.


— Sem dúvidas. – disse eu. – Vamos.


Peguei na mão dela e saímos correndo. Era fácil por eu conseguir enxergar em meio àquela escuridão. A cada passo em direção as escadas era audível uma gargalhada ruidosa. Aquela mulher estava brincando conosco. Já rente aos lances de escadas, ouvi um chiado atrás de nós, na metade do corredor a mulher de cabelo de fogo estava sobre os dois pés, sua cauda estava um pouco acima da cabeça. Seu cabelo incandescente iluminou o lugar completamente. Ela era horrível, saído diretamente de filmes de terror, com certeza. Sua pele era amarelada. As garras eram enormes, os cabelos desgrenhados, crepitando fogo incontrolavelmente. O que mais foi assustador era seus olhos completamente brancos. Ela não usava nenhuma arma aparente, além das garras.


Outro chiado.


Correu para o quatro que tava no seu lado esquerdo. Ouviu-se outro barulho de madeira quebrando e caindo. O primeiro andar ficou completamente negro novamente. Sem pensar duas vezes, corri puxando a Sue comigo, na sorte de encontrar Candy e Ferdinand antes daquela criatura horrenda.


— Candy! Ferdinand! – Sue e eu gritávamos uníssono, na esperança de sermos ouvidos e resgatados por eles dois.


Nenhuma resposta.


Não significava que eles haviam sido encurralados por aquele monstro, mas as opções não melhoravam. Arfando e cansados, vencemos os lances de escadas e chegamos ao segundo andar. Nenhum sinal de Candy ou do Ferdinand. O medo já estava tomando conta de mim, as pernas tremiam, o suor estava escorrendo por todo o corpo, empapando a camisa. As minhas mãos estava molhadíssimas, assim com as da Sue, mas este pequeno detalhe não parecia incomodá-la. A paranoia estava presente. Era como se eu conseguisse ouvir aquela coisa se aproximando e se esgueirando pelos andares, se aproveitando do nosso medo para fazer joguinhos com nós.


Mais um chiado. Desta vez mais agudo e amedrontador.


Mais à frente, um dos quatros clareou com uma luzinha fraca. Branca. Artificial. Era uma lanterna.


Candy e Ferdinand saíram de lá, aterrorizados. Com os olhos esbugalhados eles correram de lá olhando para trás pra ver se estavam sendo seguidos, não nos vindo, só reparando quando já estavam na nossa frente e gritaram assustados.


— Pelos deuses. – gritou Ferdinand. Eu nunca tinha visto ele com tanto medo assim. – A-aquela coisa – gaguejou. Sua voz tremia. – O que é aquilo?


— Não sei. – respondi. Vê-lo com medo, me fez temer mais ainda por nós. Se tinha alguém que nos manteria íntegros e com confiança, esta pessoa era Ferdinand. Ele era o líder da equipe verde, sabia liderar e motivar seu time, mas naquele estado, era quase outra pessoa. – Não conheço nada que tenha nos livros que se pareça com aquilo.


Outro chiado. Ódio e desprezo. Dava para sentir isto no ar.


Atrás de nós, nos lances de escada, o teto desabou, impedindo nosso regresso para os andares abaixo. Mais adiante, nas escadas que davam para o terceiro andar, o teto também caiu. Estávamos presos no segundo andar. Onde ela queria que estivéssemos.


— E agora? – perguntou Candy, apavorada. – Estamos presos aqui. Não temos para onde ir.


Remanescentes presunçosos, se acharam que poderiam vir aqui e levar as estatuetas de volta aquele sapo balofo do Bocarra. Disse a mulher monstruosa. Pagarão caro por terem vindo aqui. Não sairão vivos do meu reino do terror. Completou.


— E aí está a armadilha que você comentou, Candy. – disse Sue. A voz dela falhava, sua respiração estava pesada.


— Vamos manter a calma. – Eu nem sei como tive coragem para dizer isso. Eu estava surtando com tudo aquilo. Quer dizer, não tenho medo do escuro desde que me conheço por gente, mas estar ali, naquele hotel abandonado, preso em um andar com tudo escuro, ainda por cima contra um monstro, era pedir demais que eu não tivesse medo. – Temos que enfrentá-la. – As palavras foram ganhando mais confiança. – Nós vamos sair daqui...


Fui atrapalhado por um estrondo do quatro mais à frente. A porta saiu voando, entrando no quarto da frente. A mulher com cabelos incandescentes surgiu ereta. Seus pavorosos olhos brancos nos encararam. As madeixas de fogo dançavam sobre sua cabeça. Ela abriu a boca para emitir outro chiado, deixando à mostra suas presas afiadíssimas. Após seu chiado, a lanterna que Candy segurava começou a falhar, assim como a minha e, por fim, a luz se extinguiu.


A minha confiança extinguiu junto à luz da lanterna.


— Deixe-me apresentar para vocês. Eu sou Ayza, a Dama das Sombras. Não recebo muitas visitas aqui. – falou a mulher monstruosa. – Não de pessoas como vocês, filhinhos dos ex—deuses. Vez ou outra aparece mendigos procurando abrigo, mas logo eles percebem que este hotel não é... hum, do tipo que acolhe as pessoas. – ela começou a farejar o ar, como se sentisse nosso medo. – Não se preocupe, irei matar-lhes rapidamente e entregar suas cabeças para Ele e assim serei recompensada.


De novo falam sobre esse tal de Ele. Galiofeu havia dito a mesma coisa, que trabalhava para esse cara que estava me querendo vivo. Um mês e meio se passou e até agora não descobri nada sobre quem seja, ou o motivo de me querer como refém.


— Bom, hora de morrer. – disse ela. Tomou posição de ataque para nos matar.


— Espera! – exclamou Sue. Não sei como ela conseguira forças para gritar. – Sei que você quer nos matar e tudo mais, mas se fizer isso, hum... não saberá o temos a oferecer.


— O quê? – aquela afronta deixou Ayza um pouco confusa. – O que vocês têm a oferecer?


— Itens raríssimos. – prosseguiu Candy. De alguma forma, ela tinha entrado no jogo da Sue. – Quer dizer, sabemos que você gosta de roubar coisas caras e antigas. Temos duas relíquias dessas que são muito raras.


— É? – Ayza relaxou a postura, não iria mais nos atacar, por enquanto. – Quais?


— Duas armas da coleção particular Nelfdr, o deus artesão. – continuou Ferdinand. – São tão raras e exclusivas que nem saíram em catálogos quando criadas.


— Cadê?! – A mulher monstruosa estava inquieta. – Eu quero!


— Aqui. – disse eu. Apertei o botão e Anoitecer surgiu em minha mão. – Esta espada de lâmina negra é única. – continuei. – Ela faz coisas incríveis e até então desconhecidas por todos. Além dela, tem o arco negro: Nunca Erra. Mostra a ela, Sue.


— Sem problemas. – Sue antes de invocar o arco, apertou o botão para que o bastão virasse um anel novamente. Após tê-lo feito, mentalizou e poucos segundos o arco negro estava em suas mãos. Uma aljava de couro estava presa em seus ombros. – Este arco permite quem o empunhe de nunca errar o alvo.


— Sério? – os olhos esbranquiçados de Ayza brilharam em meio ao fogaréu de seus cabelos. – Posso ver? Quero presenciar de perto estas armas lendárias.


— Com todo prazer. – rebateu Sue. Sem esperar um segundo sequer, ela puxou uma das flechas e colocou no arco, disparando-a em direção do monstro, encravando na coxa esquerda. – Corram! Para o quarto.


Fomos para o quarto mais perto e trancamos a porta, não que fosse adiantar de muita coisa. Ainda tinha uns moveis velhos no quarto e colocamos atrás da porta, para pesar mais e dificultar que ela entrasse.


No corredor, Ayza gritava ruidosamente, praguejando todos nós. Emitiu um chiado tão potente que tremou o quarto. Era "palpável" o ódio que ela estava sentindo, sobretudo da Sue, que acertara uma flecha nela.


— Você vai morrer garotinha. – vociferou Ayza do lado de fora do quarto, tentando empurrar a porta.


— Ora, quem pediu uma demonstração foi você, só fiz o que você queria. – retorquiu Sue. Sua voz tinha voltado a confiança de sempre. O medo tinha esvaído dela.


Como eu era o único que conseguia enxergar o escuro, vi que tinha um buraco no chão, perto da parede. Era através daquele buraco que Ayza atravessava os andares tão rapidamente, seria questão de tempo até ela lembrar que tem aquela passagem ali.


— Temos que sair daqui. – anunciei. – Vocês não estão vendo, mas tem um buraco ali no canto, é a nossa chance de sair daqui vivos.


— Não. – disse Candy. O que foi um espanto para todos nós. – Não podemos sair sem as estatuetas que o Bocarra quer. Foi pra isso que viemos e vamos buscá-las.


— Olha, Candy, eu mais que eles adora sua valentia e coragem, mas não temos a menor chance de enfrentar aquela coisa. – argumentou Ferdinand. – Ela só abriu a boca e nos encheu de medo, imagina o que ela pode fazer se quiser nos atacar seriamente.


— Temos uma chance. – alegou Sue. – Ela está atrás de nós, principalmente de mim que a acertei com a flecha. Candy e Ferdinand vão procurar as estatuetas. Adrian e eu vamos segurar a mulher com cabelo de fogo por máximo que pudermos.


— Mas... – Ferdinand tentou argumentar, mas um estrondo abaixo de nós o interrompeu. Ayza tinha se lembrado da passagem que fizera entre os quartos.


— Rápido! – gritei. Saí empurrando os móveis que estavam emperrando a porta.


Ferdinand me ajudou com o restante, e em poucos segundos a porta estava livre.


— Vão. – bradou Sue. – Espero que achem logo.


Eles dois saíram disparados pela porta. Ferdinand sacou da bolsa outra lanterna, agora esta funcionava. Eles foram procurando nos quartos que estavam com as portas escancaradas. Sem termos tempo para respirar, Ayza esvoaçou para dentro do quarto, iluminando-o. Seu cabelo parecia uma labareda dançante na cabeça dela. Sua carranca era mais assustadora do que antes. O tom amarelado da pele estava com alguns detalhes em vermelho. A coxa esquerda dela estava escorrendo um liquido verde, era o sangue dos monstros.


— VOCÊS ESTÃO MORTOS. – ela vociferou tão alto que alguns poucos pedaços do reboco caíram no chão. – Seus amigos terão o mesmo destino de vocês, mas ele viverão tempo o suficiente para verem vocês dois morrerem em agonia.


As garras dela cresceram exponencialmente. Pareciam gládios, porém mais fatais. Ela avançou como uma locomotiva desenfreada, Sue e eu só tivemos tempo de rolar para o lado, e com muita dificuldade. Ayza voltou rapidamente e investiu novamente, balançando suas mãos e tentando desferir golpes fatais em nós dois. Como o arco não seria tão bem utilizável, Sue fez ele desaparecer, e no meio do rolamento, fez surgir o bastão novamente. Aquela era a primeira vez que lutávamos ombro a ombro contra alguém. Eu, com Anoitecer em mãos me defendia do jeito que dava, Sue também, embora ela tivesse mais problemas para se defender. Como ela utilizava mais o arco como arma, e por mais que treinasse com o bastão, ela não tinha prática com ele em combate de verdade. Mas isso não a fez desanimar.


Mesmo dentro do quarto, era possível ouvir as passadas de Ferdinand e Candy correndo pelo corredor, entrando de quarto em quarto a procura das estatuetas. Ayza chiava ruidosamente enquanto atacava com suas garras. Em movimento astuto, ela usou sua cauda para derrubar Sue e eu, ficamos prostrados no chão.


— Acabou para vocês. – gargalhou Ayza, prestes a deferir o ataque final. Com suas duas mãos, ela nos segurou enquanto agitava a cauda reptiliana. – Adeus, imprestáveis.


Sua cauda parecia descer em câmera lenta, mas eu não podia fazer nada, não enquanto tivesse preso embaixo dela. Sue tinha deixado seu bastão cair das suas mãos, ela tentava desesperadamente pegá-lo de volta, mas Ayza pressionava ela contra o chão, afundando-a mais ainda. Em um rápido relance, as coisas começaram a mudar. Sue começou a brilhar, em uma luz tão cintilante, quanto no dia em que fora Clamada. Ela parecia ser um prisma que catalisava as luzes vindas dos raios solares e emanavam as cores do arco-íris.


Brilhou mais forte. Iluminou todo o quarto.


— Meus olhos! Queima! – berrou Ayza, colocando os braços em frente aos olhos para cobrir a luminosidade. A mulher monstruosa tentou correr, mas estava desorientada, cega por causa do clarão.


Ao tentar proteger o rosto do brilho da Sue, Ayza nos permitiu escapar de sua pegada, ficando desnorteada, zonza. Ela tentava atacar, mas não conseguia mirar e/ou focalizar nós dois. A luz que era emitida pela Sue pareceu tê-la cegado completamente. Tentou atacar usando a cauda, mas passou longe de nós. Sue foi até seu bastão caído no canto do quarto. Voltou à frente da Ayza, tocou-lhe o peito com a ponta gélida do bastão.


— Quem é você? – gritou Ayza para Sue. – Maldita seja por me cegar. Eu me vingarei de vocês!


— Eu... – disse Sue. – Sou Susan McMenning. Filha de Aezirel. Deusa da Luz. E estou declarando seu fim.


Sem nenhum remorso ou compaixão, Sue afundou o bastão no peito da Ayza. O monstro chiou, se esperneou, mas não foi páreo para o golpe desferido pela Sue. Parecia ter descarregado toda sua raiva, insegurança e pensamentos dúbios naquele golpe. A mulher de cabelos de fogo se desfez em fumaça amarelada, como seu tom de pele. Sue olhou seu bastão rajado com o sangue esverdeado de Ayza. Ela pegou um trapo velho da cama e limpou, para logo após colocá-lo em seu dedo como forma de anel. Aquele brilho que ficou envolto dela estava começando a extinguir-se, ela estava voltando ser apenas a Sue. Seus olhos não pareciam acreditar no que estavam vendo, ela parecia em choque, surpresa com o que acabara de fazer.


— E-Eu fiz isso, Adrian? – perguntou Sue. As penas delas tremiam, quase caia. Por sorte, fui mais rápido e consegui segurá-la e levar ela até a cama para descansar um pouco.


— Sim, Sue. – disse eu. – Você matou Ayza para nos salvar.


— Como? – ela ainda continuava incrédula do que acabara de fazer.


— Você estava brilhando muito, muito mesmo que acabou cegando-a. Você foi incrível, Sue. – em um gesto impulsivo, abracei-a tão forte, como se não quisesse que ela escapasse dali.


— Adrian... – ela me chamou. – Foi a primeira vez que senti minha mãe perto de mim desde o dia que fui Clamada. Ela, de alguma forma, me motivou a utilizar essa habilidade... não sei como, mas foi isso que senti: ela do meu lado, me ajudando.


Antes que eu pudesse formular algo para dizer, Candy e Ferdinand voltaram arfando para o quarto, carregando duas estatuetas de esmeraldas. Eles tinham chegado no finalzinho em que os últimos resquícios do poder da Sue estava esvaindo. Obviamente, fizeram milhares de perguntas sobre o que tinha acontecido.


Sue e eu intercalamos para relatar o que tinha acontecido após eles terem saído do quarto. Sobre como Ayza nos encurralou e como Sue conseguiu reverter a situação a nosso... quer dizer, ao seu favor e desnortear a mulher de cabelo de fogo tempo o bastante para cravar o bastão no seu peito.


— Nunca mais deixe eu mexer com ela. – disse Candy, sorrindo.


Nos permitimos um breve sorriso. Um de poucos desde então. A missão não seria nada fácil. As provações seriam daí para pior, até chegarmos na Fazenda, o que me lembrou do Augusto Bocarra.


— Já estamos com as estatuetas. – falei. Eu estava sério, como em poucas vezes ficava. O Sr. Bocarra havia nos mandado para uma armadilha e era hora de cobrar o que era nosso por direito. – Vamos falar com o sapo.



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O tempo havia corrido mais do que era esperado. Já era de tarde. Eu estava possesso. Mal via a hora de colocar minhas mãos naquele sapo balofo e fazer dele picadinho. Ou, sendo menos radical, jogá-lo em um brejo e cobrir com cimento. Após os acontecimentos no hotel, decidimos certamente em não confiar em ninguém, além de n&oa ...


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