Fanfics Brasil - 4 - "Por favor, não destrua o colégio novo. Com amor, papai" Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada (Livro 1)

Fanfic: Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada (Livro 1) | Tema: Fantasia


Capítulo: 4 - "Por favor, não destrua o colégio novo. Com amor, papai"

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A luz do sol que entrava pela janela me incomodou um pouco (Tendo em vista a cidade que eu moro, Sempre Noite, ter um raio de sol matinal era uma coisa irônica). Coloquei o travesseiro em cima da cabeça e puxei mais ainda o edredom. Queria ficar ali para sempre, nem precisava dormir, bastava ficar apenas deitado.


— Ah, você acordou. Ótimo. – A mulher que estava na porta era Marie, ela é praticamente a mãe que nunca tive. – Agora, levante-se, tome banho, vista uma roupa limpa e desça para tomar seu café da manhã. O ônibus deve passar daqui uma hora. – ela deu um risinho – Não seja um menino mau. Faça isso e vai ganhar uns pedaços daquele bolo que você tanto adora. – seus grandes olhos azuis brilhavam de felicidade


Minha barriga roncou tão alto quanto o urro daquela coisa em meu sonho. O bolo verde de laranja que a Marie faz é simplesmente divino. De alguma forma ela consegue deixar o bolo na cor verde e ainda com gosto de laranja. Ela é incrível. Em questão de segundos estava em pé, ao lado da cama pronto para encarar meu grande dia.


— Marie. Isto não se faz – falei em tom casual, bem alegre -, usar chantagem para que eu levante da cama.


Ela sorriu e suas rugas perto do olho apareceram.


— Chantagem ou não, o importante é que deu certo e você está de pé. – ela disse, apontando para o banheiro e mexendo a mão para que eu fosse logo até lá – Agora, vá logo. Não vou falar outra vez – sua voz ficou dura, mas logo em seguida deu outro sorriso.


— Tudo bem, Marie. – disse eu – Ah, meu pai está em casa? – perguntei para mudar o rumo da conversa.


— Não. – ela fez uma expressão de tristeza – Ele ficou no trabalho ontem o dia todo e, provavelmente, vai ficar hoje também. Quando ele ligou ontem à noite... Bom, não entendi bem, mas ele disse que apareceu uma questão urgente, algo sobre... Não estou lembrada. – fez um esforço para tentar lembrar, mas parece que não conseguiu – Mas, ele perguntou sobre você e eu disse que você passou o dia todo dormindo.


Eu dormi o dia todo? Não pude acreditar nisso. No meu sonho pareciam minutos, poucas horas, talvez. Mas, o dia todo? Tinha algo de errado. Bom, não em dormir. Se tem uma coisa que eu gosto é dormir, mas nunca me aconteceu isso de ficar mais de quinze horas seguidas dormindo.


— Típico... – murmurei para que ela não ouvisse. – Ele disse alguma outra coisa?


Ela ficou pensando por alguns segundos e, então:


Sim! – exclamou – Seu pai disse que tinha deixado alguma coisa na gaveta da mesa que fica no escritório dele. Era algo sobre um presente de primeiro de dia de aula. O que me faz lembrar que, você, mocinho, está se atrasando. Agora, vá já para o banheiro. Só saia deste quarto quando já estiver todo arrumado e pronto para tomar café. Estamos entendidos?


— Sim, Comandante Marie. – bati continência, e fui para o banheiro. Era uma brincadeira nossa quando, às vezes, ela ficava mandona demais. – Permissão para ir tomar banheiro?


— Permissão concedida, soldado Adrian. Hoje será um ótimo dia para você, pequenino. – ela sorriu mais uma vez e fechou a porta. Mesmo com a porta do quarto fechada, pude a ouvir cantando alguma música.


Lá estava eu, no meu quarto. Olhei para o lado esquerdo, onde fica minha cama, tive vontade de pular nela e voltar a dormir, mas se eu fizesse isso, iria ouvir do meu pai quanto da Marie durante um mês sobre como fui irresponsável e imprudente por ter faltado logo no primeiro dia de aula. Afastei essa ideia da minha cabeça e fui até o banheiro. Até que perdi o equilíbrio e...


BAAAC!


Tropecei no meu sapato que estava largado no meio do quarto. Até aí tudo bem, quem nunca tropeçou e caiu? É só que eu não caí. Não, de uma vez só. Meus olhos estavam fechados – algo bem natural quando alguém cai. Senti meus joelhos tocando no chão, mas só. A parte de cima do meu corpo não havia tocado o chão; mexi os dedos das mãos e, realmente, estava levitando. Até que inventei de abrir os olhos e o quer que estivesse me segurandosoltou e caí de cara no chão, amassando o nariz.


— Grrr! – grunhi – "Hoje vai ser um ótimo dia"— fiz minha melhor imitação de Marie.


Levantei-me num tremendo esforço, eu só queria ficar ali deitado, jogado no chão e esperar o dia passar. Mas, eu simplesmente não podia. Prometi ao meu pai que iria para o colégio e que tentaria não explodir nada e não entraria em confusão, dessa vez. Que seria um bom menino e, talvez, eu pudesse ter minhas coisas de volta.


Cara, eu estava muito errado. Como eu soube? Bem... começa assim:


Depois que me levantei, tivesse uma sensação estranha, quase igual quando estava naquele sonho. Senti alguém, ou algo me vigiando. Olhei para todos os cantos do quarto, mas não tinha ninguém ali. Óbvio, eu estava sozinho, a não ser que fosse invisível, aí eu estaria em sérios problemas. Mas, não. Olhei em todos os cantos possíveis: embaixo da cama, atrás de armários, dentro do guarda-roupa. Nada. Fui até a janela e o medo começou a tomar conta de mim, as mãos tremiam; as pernas batiam uma na outra. Estava quase chorando de medo. Mas, reuni coragem – não sei de onde e puxei a cortina.


No meio da rua estava a mulher com quem tive o sonho na noite anterior. Ela vestia o mesmo vestido preto e as botas de chuva (Estavam limpas agora), diferente do sonho. Único diferencial era uma espécie de bastão de algum material preto (Qual a obsessão dela por coisas pretas?) que estava segurando em sua mão esquerda. Ela, de alguma forma havia escapado daquele homem das cavernas gigante e... Vindo ao mundo real? Como isso seria possível? Eu ainda estava sonhando? O que diabos estava acontecendo comigo?


A distância da janela até a rua era de uns doze metros, mas, mesmo assim, consegui ver que ela estava tentando dizer alguma coisa. Uma onda de desespero tomou conta de mim, eu tinha que ouvir o que ela estava dizendo. Tentei abrir a janela uma, duas, três vezes e nada. Aí lembrei que precisava pegar a chave, que estava em cima da mesinha que ficava ao lado da minha cama. Fiz sinal com minha mão para ela esperar um pouco. Fui correndo até o armário, peguei a chave e voltei o mais rápido que pude para a janela. Porém, ela já não estava mais lá. Aonde ela poderia ter ido? Atrás de mim? Virei-me e ela não estava lá. Menos mal, eu teria sido a primeira pessoa com treze anos a morrer de infarto se ela aparecesse atrás de mim, magicamente. Voltei a olhar pela janela e acho que quase tive um infarto, de fato. Tinha algo escrito em vermelho sangue na minha janela:


CUIDADO! ELES ESTÃO ATRÁS DE VOCÊ.


Sei que parece mentira, mas é verdade. Estava mesmo escrito na janela. Se eu pudesse até tiraria uma foto, mas assim que eu li, a mensagem desapareceu da mesma forma que surgiu, misteriosamente.


Você deve estar se perguntando: “Será que ele não tá surtando com tudo isso acontecendo”? A resposta é simples: SIM! EU ESTOU SURTANDO. POR ALGUM MOTIVO NÃO CONSIGO SABER SE ESTOU DENTRO DE UM SONHO OU SE ESTOU ACORDADO. Se eu estiver sonhando, ótimo. Vou acordar e pronto; se eu estiver acordado e tudo isso aconteceu mesmo, então eu estou ficando maluco. É outro nível de esquisitice, até mesmo pra mim. Quer saber? Deixa pra lá. Isto deve ser apenas minha consciência pregando uma peça em mim.


Afastei-me o mais rápido que pude da janela e fui correndo até o banheiro. Não podia mais me atrasar. Pensei que ficar longe da janela ajudaria a esquecer de o que tinha acabado de acontecer, mas eu estava errado. No espelho do banheiro também tinha algo escrito no mesmo tom vermelho sangue de antes:


CUIDADO! ELES ESTÃO ATRÁS DE VOCÊ.


Tive vontade de gritar o mais alto que pude, mas me retive porque Marie poderia subir e perguntar o que tinha acontecido. Como eu iria explicar que uma mulher misteriosa apareceu nos meus sonhos e no dia seguinte do outro lado da rua, escreveu na janela do quarto e no espelho que eu estava em perigo? Por mais que Marie gostasse de mim como uma mãezona, ela acharia que eu perdi a cabeça e ia passar diversos chás horríveis para me acalmar.


Assim como da primeira vez, a mensagem sumiu, deixando apenas meu reflexo em frente ao espelho; eu estava acabado. Meu corpo todo pesou. Tinha algumas olheiras. Meus olhos estavam vermelhos e mal conseguiam abrir. Meu cabelo estava colado na testa por causa do suor. Senti o cansaço tomar conta de mim. Bocejei uma, duas vezes. Dei um tapinha no rosto para me manter acordado. Tomei coragem e fui escovar os dentes.


Cinco minutos depois, entrei no chuveiro e liguei a água morna. Ela sempre me deixava relaxado. As gotas quentes tocavam minha pele e pude sentir o cansaço indo embora. A energia voltava ao meu corpo. Fechei os olhos para aproveitar mais a sensação. Fui inundado de imagens da noite anterior: eu no meio do Breu (Ainda não me acostumei com esse nome), sem saber para onde ir; o tornado se formando e eu sendo obrigado a invadir a cabana; a conversa com aquela mulher, os bolinhos deliciosos; o momento em aquele porrete enorme atingiu à varanda, derrubando a porta; a voz daquele Neandertal gigante ainda martelava minha cabeça. De alguma forma, estava tudo conectado. Só não sabia como.


Após tomar banho, arrumei a mochila e peguei uma roupa qualquer no guarda-roupa, vesti e saí do quarto e fui para cozinha, tomar café. Na metade da escada já dava para sentir o cheiro do bolo de laranja da Marie, o que me deixou mais animado para aturar o restante do dia que estava por vir. Quando entrei na cozinha, me deparei com um banquete para um batalhão e ainda sobraria para o dia seguinte.


Se você viesse aqui em casa e visse o tanto de comida que a Marie faz para três pessoas – naquele dia era para duas – ficaria assustado e imaginaria que seria estrago. Mas, não. Ela fazia a quantidade exata para nós e para o abrigo de sem-teto que tem no centro da cidade. Marie é uma mãezona para todos. Meu pai não reclamava, pois sabia como ela podia ser durona e achou melhor ceder.


Na mesa tinha quase tudo que você consegue imaginar: de café a suco. De torrada à bolacha. Ovos com bacon à ovos mexidos. Algumas caixas de cereais estavam em cima do balcão. Panquecas com e sem cauda. Alguns sanduíches naturais. Dois bolos: um de laranja e o outro de baunilha, esse era para ela levar, mas também colocou na mesa. Frutas que ela mesma cultivara na sua hortinha lá no quintal; maçãs, peras, mamões, morangos, laranjas.


Eu, como uma pessoa que nunca diz não para a comida da Marie, fiz o que achei que devia ser feito: tentei pegar um pedaço de cada e coloquei no prato. A cena não foi muito bonita, admito. Mas, quando se prova a comida dela pela primeira vez, não quer parar e, sim, comer tudo antes que alguém faça. Marie sentou junto a mim na mesa, como fazíamos todas as manhãs, conversamos sobre algumas coisas que estavam passando na TV, como as fortes chuvas que castigam o norte do país incessantemente. Marie dizia que eram obras dos deuses castigando nós (Sim, ela disse deuses).


Quando o programa deu intervalo e Marie viu a hora, ela enlouqueceu.


— Adrian, termina logo. Você vai se atrasar e acabar perdendo o ônibus – ela falava, me apressando.


— Calma Marie. – disse eu, sossegado – Ainda tenho tempo, o ônibus só passa daqui a... – olhei no relógio de parede e faltavam dez minutos para ele passar. Terminei de comer mais rápido do que o Flash troca de roupa. Ainda de boca cheia subi correndo até o quarto para terminar de me arrumar e pegar a mochila.


Só ouvia a Marie gritando:


— Aiai, meu menino, você não toma jeito mesmo. E vê se não se esquece de pegar o quer que seja que seu pai guardou pra você no escritório.


Me arrumei o mais rápido que pude, conferi mais uma vez se estava tudo certo na mochila; caderno, lápis, caneta, essas coisas. Antes que esquecesse, fui ao escritório do meu pai para pegar o bendito presente que ele havia deixado. Abri a gaveta e tinha uma caixinha embrulhada. Deve ser isso, pensei. Quando abri a caixa, tinha um relógio dentro; era preto com o visor digital e os dois botões em detalhes metálicos, junto tinha um cartãozinho escrito: "Quando precisar aperte o botão esquerdo. E, por favor, não destrua a escola nova. Com amor, papai". Admito que fiquei emocionado com o presente, era um gesto legal dele. E o cartãozinho, era como se ele soubesse que não estaria presente para entregar em mãos.



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  Fui tirado daquele momento tocante de pai (Mesmo ele não estando lá) e filho, pela buzina do que imaginei sendo o ônibus escolar:  BIIIIIIIIIIIIIIIIIIII. Coloquei o relógio no pulso esquerdo, senti uma leve pontada no meu pulso, como se fosse uma agulha penetrando na pele. Uma pequena onda de choque percorreu por todo meu corpo. N&a ...


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