Fanfic: The Mythology- Portiñon- Adaptada | Tema: Dulce María, Anahí Portilla, Portiñon, Mitologia Grega

Pov Dulce

O restante da viagem foi estranhamente quieta e fria. Muito fria. Tivemos apenas duas paradas, uma para almoçar em um posto na autoestrada e outro para dormir por míseras horas. Mas isso era de longe a coisa que chamava mais a atenção do que aconteceu nas últimas horas. Anahí havia mudado desde que tinha derrotado o Leão de Neméia com as próprias mãos.

Mudado como?

Quando estávamos no posto ela foi ao banheiro que era para apenas uma pessoa, eu e Miley ficamos esperando do lado de fora, exaustas demais para manter algum tipo de conversa. Porém quando ela estava para sair, girou a maçaneta e puxou a porta... A
arrancando da parede! A cara de surpresa de Anahí foi igual a nossa, os olhos azuis arregalados enquanto encaravam a porta em sua mão. Acabou que saímos de lá antes que o dono do estabelecimento notasse o que aconteceu.

Ela estava estupidamente forte. Agora a filha de Zeus além de soltar raios, controlar os ventos, tinha também uma força elevada. Nada comparado ao superman, pois quando eu brinquei a desafiando a levantar o carro, ela não conseguiu erguer mais do que alguns centímetros. Ainda assim era impressionante!

Como que em uma trégua, não enfrentamos nenhum monstro em terra. As caçadoras no ar tiveram de enfrentar apenas a um grifo, sendo auxiliadas por Miley que
foi para a parte de trás da picape lançar magias. Assim chegamos em Colorado Spring, inteiras, com os traseiros doendo de tanto ficar cansada e com uma Anahí usando o seu novo sobretudo.

-Nós vamos na picape agora – Ashley ponderou – É perigoso ficarmos separados, se alguma coisa acontecer seriamos facilmente divididos.

Tínhamos feito uma parada antes de entrar de fato na cidade. Os pégasos estavam próximos, aguardando as ordens de suas donas.

-Subam ai atrás – Ariana indicou a parte traseira da picape – Eu conheço as ruas menos movimentadas para o Jardim dos Deuses.

-De lá como iremos encontrar a distorção que vocês comentaram? – Miley indagou abrindo a porta do passageiro.

-Somos caçadoras – Megan sorriu um pouco orgulhosa – Sabemos encontrar as coisas quando procuramos.

Vi Anahí revirar os olhos e entrar na picape, deixando a porta aberta para que eu também entrasse. Ela estava quieta, mas atenta a tudo. Eu conhecia esse modo dela, era
quando estava séria e pronta para batalhar a qualquer momento. Aquela era provavelmente a semideusa mais sensível ao perigo que eu conhecia. E, graças aos
deuses, ela era assim senão agora eu seria um belo bife dentro da barriga de um leão mal.

Eu ainda estava levemente assustada com tudo o que aconteceu. Assim como também encantada. Anahí ficava cada vez mais forte não porque ela ambicionava o poder, mas sim quando era necessário e ela tinha de proteger alguém. Bem, infelizmente, era a mim quem ela estava sempre salvando. Pensar sobre isso me fez soltar um suspiro pesaroso. No segundo seguinte sentia dedos gelados tocando delicadamente minha
bochecha.

-Um dólar pelos seus pensamentos – Anahí falou baixo, mas sorrindo de lado.

-Meus pensamentos valem mais do que isso – cruzei os braços sentindo o carro entrando em movimento, um rápido olhar para trás e eu vi pela janela as caçadoras sentadas e recebendo todo o ar frio daquele clima maluco – Elas vão ficar bem lá atrás?

-São caçadoras, aprendem a se virar em qualquer tipo de tempo – Ariana comentou sem desviar o olhar da estrada – Afinal de contas, são treinadas diretamente por uma
deusa.

-Ártemis desde sempre foi uma deusa muito singular – Miley contou relaxando no banco ao lado do motorista – Justa, guerreira, pura. Dizem que a palavra dela tem um grande peso quando tem de argumentar sobre algo sério lá no Olimpo.

Saber disso apenas me fazia encolher disfarçadamente em meu canto. Megan era uma caçadora. O quão forte ela deveria ser agora? Tudo bem que no passado existia
aquela imagem de filha de Deméter fraca que dependia de Anahí. Mas depois desse tempo todo, ela foi designada pela própria deusa para fazer aquela missão. Em uma rápida olhada para trás, vi ela sentada sobre a borda, o olhar sério e afiado olhando tudo ao redor, uma mão segurando na lateral do carro e a outra no arco pronta para usá-la a qualquer
momento. Megan de longe parecia alguém fraco quando estava em seu modo “eu sou uma caçadora”.

Era um sentimento traiçoeiro, a insegurança agindo como um lento e torturante veneno. Pouco a pouco perguntas vinham aparecendo em minha mente. Como eu seria
forte o suficiente para proteger Anahí se eu só sabia me meter no perigo? A ex-namorada dela era tão mais forte e legal, sendo uma caçadora e tendo um Pégaso, enquanto eu ainda continuava sendo aquela garota magra e sem jeito. O que os deuses tinham na
mente em me colocar em uma missão desse nível? Talvez estivessem mesmo desesperados.

-Não gosto desse olhar – Anahí sussurrou, de repente perto demais.

A semideusa tinha deslizado para o meu lado. Os olhos azul esverdeados me fitavam daquele
jeito que pareciam ler minha alma. E isso era algo que eu não queria que ela fizesse, não queria que Anahí me visse sendo uma fraca! Então desviei o olhar e encarei minhas mãos.

-É o mesmo olhar de sempre – tentei desconversar.

-Não – Anahí segurou meu queixo e de uma maneira firme me fez fita-la – Eu conheço todos os seus olhares Dulce.

-Passou tempo demais olhando para mim, Portilla? – provoquei apenas para poder desviar do assunto.

-Sim – foi a resposta direta dela, sem rodeios.

-Deve ser tedioso então – dei um sorriso amarelo e revirei os olhos.

-É o oposto disso Candy– Anahí respondeu serena – Você não tem ideia do quanto é incrível?

-Fala isso para me animar, Nah – dei de ombros.

-Você foi ao Submundo e retornou, falando diretamente com minha mãe e aceitando uma missão sem pensar duas vezes – Miley falou virando o corpo para me encarar,
evidentemente escutando a conversa.

-Também salvou minha vida, lutando com as sereias enquanto eu ainda não estava acordada – Ariana acrescentou – Além de aprender muito rápido as coisas.

-Além de ter derrotado um ciclope sozinha, levantando praticamente um morro inteiro – Anahí falou com um sorriso enorme e orgulhoso – E conseguiu me ajudar a derrotar o
Leão de Neméia. Se não tivesse imobilizado ele e agido tão rápido, eu não sairia tão inteira da batalha.

-Ok, querem me deixar sem graça? Estão conseguindo!

Eu podia sentir minhas bochechas esquentando. Tudo bem, eu fiz essas coisas, mas ainda assim não conseguia me sentir tão incrível quanto Anahí e as outras duas pareciam querer demonstrar. A filha de Zeus revirou os olhos, passou o braço por sobre meu ombro e me puxou para perto em um único movimento.

-Licença que MINHA garota é incrível – ela falou alto e olhando ameaçadora para Miley e Ariana.

Miley riu do jeito possessivo de Anahí, enquanto Ariana ficava quieta olhando para a estrada. Acabei rindo também, relaxando por algum tempo enquanto percebia que não importava as reviravoltas que acontecessem. Anahí ainda continuava sendo Anahí, só que em versões cada vez melhores.

Chegamos no Jardim dos Deuses cerca de quarenta minutos depois. O lugar estava sem ninguém, apesar de ser ainda dia e meio da semana. Eu sabia que aquele parque natural era muito usado por escolas e turistas, por causa das enormes formações rochosas e o rico material natural que tinha por ali. Porém, agora, com tudo o que estava acontecendo naquelas mudanças de clima, o lugar estava tomado por neve mesmo sem
ser inverno ainda.

Ariana estacionou e nós saímos. As caçadoras apesar de terem recebido todo o frio da viagem por estar do lado de fora e em velocidade considerável, em nada mudavam a fisionomia. Eu por outro lado tinha de controlar o meu queixo para não ficar batendo de frio.

Teria passado despercebido, eu sabia disso, caso Anahí não tivesse ali. Enquanto as outras se agrupavam, ela tirou o seu sobretudo bege e colocou sobre meus ombros.

-Use – era a sua ordem simples e direta.

-É seu casaco – neguei fazendo menção de tirar.

-E eu estou te emprestando – ela recusou e me lançou aquele tipo de olhar de quem não iria ceder – Apenas aceite e não reclame.

Como eu disse, Anahí não deixava de ser Anahí apesar de estar mudando. O seu jeito nunca seria delicado demais, ordenando e não aceitando recusas. Mas estava ali,
bem implícito em seu gesto, o quanto ela estava prestando atenção em mim e cuidando.

Eu demorei a notar as pequenas ações que denunciavam essa mudança na filha de Zeus. Porém era tão claro que toda vez que percebia isso me derretia por completo, sem me importar naquele jeito taciturno dela demonstrar que estava cuidando de mim. Ajeitei o sobretudo, o vestindo e sentindo o quanto ele era quentinho. Quase me senti culpada por privar Anahí daquele item, mas estava tão satisfeita com o calor que não ousei reclamar mais.

-Nossa lady contou que devíamos seguir sempre ao oeste – Emily falou apontando na direção – No ponto mais alto, olhar na direção do Pikes Peak e encontraríamos pistas do que estávamos procurando.

-Não temos tempo a perder, temos de encontrar a selenita e voltarmos para fazer o ritual – Miley disse esfregando o braço direito para afugentar o frio – E ainda temos de lidar com Adônis, se as suspeitas se provarem reais.

Apertei os lábios com um pouco de força, deixando que minha boca se
transformasse em uma linha enquanto minha mente fervia com os pensamentos. Perséfone apaixonada por um mortal como Adônis. Então não era apenas com meu pai que ela teve outros sentimentos por algum mortal. Porém se fossemos comparar com os outros deuses, ela seria praticamente uma santa. Bastava pesar na balança os amantes de
Afrodite ou as investidas de Zeus, tanto com humanas quanto com outras deusas. As reuniões familiares deveriam ser um verdadeiro caos.

-Dulce – Ariana chamou enquanto andávamos em direção ao parque natural – Você está fazendo aquela cara engraçada de quem está pensando demais.

-É que minha mente sempre dá um nó quando tento pensar nas relações familiares dos deuses – fiz uma breve careta, escondendo minhas mãos dentro do bolso do
sobretudo para esquentar meus dedos – Você teoricamente seria uma espécie de meia- irmã minha, como já disse uma vez. Miley seria uma espécie de prima de consideração, se for pensar que a mãe dela e a minha são best friends. A Anahí seria minha tia, porque ela e minha mãe tem o mesmo pai. O que seria o mesmo até para Megan, que é filha de
minha avô e irmã de minha mãe...

-Ok, chega – Emily riu baixo – Minha cabeça já deu um nó também. Nunca tente entender os laços entre os deuses.

-Sem contar que para muitos, as relações consanguíneas é algo comum – Ashley acrescentou sorrindo – No fim acaba todo mundo se relacionando de alguma forma e sendo uma grande e desastrosa família.

-Você lembra quando tivemos de caçar o ladrão que roubou uma tiara mágica de Afrodite? – Emily olhava para Ashley nostálgica.

-Foi desastroso – Ashley riu – Nós estávamos apenas iniciando na caçada!

As duas contaram como foi a missão por boa parte do caminho, relembrando alguns outros detalhes. A imagem que eu tinha das caçadoras ia se desfazendo e refazendo de uma forma completamente diferente. Elas sempre faziam careta quando o assunto beirava a alguma coisa romântica. Ashley faltava matar Anahí com o olhar quando ela se
aproximava de mim e me tocava, o que fez a filha de Zeus fazer isso propositalmente, apenas para poder provoca-la.

Era estranho pensar que aquelas garotas tão jovens renunciavam ao amor para se concentrar em uma eterna caçada. Mas isso era estranho apenas para aqueles que tem sua vida normal, de chegar em casa, reclamar da escola, perder horas na internet e chorar porque não era popular na escola. Porém para nós, semideuses, conseguir fazer parte de um grupo como aquele, receber orientações diretas e preciosas de uma deusa e ter a
lealdade de parceiros de caçada... Eram promessas realmente tentadoras. O suficiente
para escolherem ser virgens para sempre.

Mas não, isso definitivamente não era para mim.

A caminhada foi relativamente animada, conversávamos sobre diversas coisas, Emily e Ashley curiosas para saber como andavam as tendências adolescentes atualmente, já que tinham se afastado quase que completamente dessa realidade. Mas quando começamos a subir a montanha que nos daria o ponto mais alto a oeste, o silêncio
prevaleceu. Não porque o assunto tinha acabado, mas porque estávamos concentradas em não cair ou nos distrair. Isso para mim era uma verdadeira provação, pois qualquer coisa parecia querer desviar minha atenção.

-Use a natureza ao seu favor – escutei uma voz profunda ao meu lado, encarei Megan surpresa ao ver que ela estava conversando comigo – Se você confiar nela, ela vai te ajudar.

Olhei para cima, vendo Anahí mais a frente subindo facilmente, quanto mais alto ficávamos, mais a filha do deus do céu ficava mais ágil. Isso dava a Megan e a mim até
mesmo certa privacidade para conversar. Franzi o cenho, me perguntando o que ela queria dizer com o “usar a natureza em meu favor”.

-Somos ligadas a natureza por causa de nossas mães – Megan disse meio que resmungando – Mesmo estando subindo uma montanha, não deixou de ter uma mínima vegetação ao nosso redor. Veja.

Megan se soltou e eu engoli um grito quando a vi fazer isso. Mas ela não caiu, pelo contrário, seus pés ficaram presos sobre o chão, sendo circulados por raízes que a
mantiveram presa a montanha. Ela estava em um ângulo bastante estranho, mas que não deixava dúvidas de seu autocontrole. Se a filha de Deméter estava tentando me intimidar com sua força, bem, sinto dizer... Mas ela estava conseguindo!

-Se você consegue essa conexão com a natureza ao seu redor, ela te responde muito mais rápido – a caçadora voltou a posição normal – Ou talvez isso seja demais para
uma filha da primavera apenas.

Aquilo havia sido uma provocação, eu tinha certeza disso! Mas eu não podia rebater, se o fizesse, poderia perder facilmente a minha concentração em simplesmente não cair de uma terrível altura, já que estávamos bem no meio de caminho.

-Por que está “tentando” me ajudar? – indaguei falando o tentando de uma maneira bem irônica, sem conseguir resistir a não falar nada.

-Apesar de tudo, não quero que ninguém morra – Megan disse de um jeito sério – Eu tenho um passado difícil com a Portilla, ela mesmo admitiu que foi uma idiota a maior parte do tempo. Isso infelizmente interfere na visão que eu tenho de você, mas não ao
ponto de querer que você morra.

“Eu tenho um passado com a Jauregui”. Ok, ela precisava jogar na minha cara que era a primeira namorada de minha garota? Era simplesmente mais forte do que eu aquela onda de ciúme que sempre crescia em mim quando pensava em Megan e Anahí juntas.

Era inconcebível que alguém a tenha tocado da mesma forma que eu tocava. Que tenha recebido olhares carinhosos e aquela atenção especial que eu tanto amava. Azar o da garota que não soube aproveitar isso da forma certa!

Resmungando, comecei a subir mais rápido apenas para ter uma certa distância da caçadora. O resto da escalada foi bem mais fácil, atingimos uma parte não tão íngreme e que permitia uma subida mais tranquila.

-Aqui está bom – Ashley determinou parando no ponto mais plano e alto da montanha – Para subirmos mais, seria muito perigoso e desnecessário.

-Ali o Pikes Peak – Megan apontou para uma das montanhas famosas do Colorado – E devo admitir que ainda não vi nada demais.

-Vocês contaram que quando Adônis foi perseguido, a sua amante correu pela floresta e se machucou, certo? – Miley indagou encarando algo mais a frente – E que o seu sangue transformou as rosas brancas em vermelhas.

-É o que conta a lenda – Emily concordou.

-Entendi! – Ashley exclamou – Olhem ali, há uma trilha que desce o Manitou Spring, a cidade entre o Jardim dos Deuses e a montanha. Ela é vermelha, como se fosse o rastro de Afrodite quando correu para o seu amado.

Ela fez uma careta engraçada e falou entediada a última frase. Miley sorriu concordando com a caçadora e eu olhei um pouco para baixo, soltando um suspiro.

-Subimos aqui para descobrir que temos de descer – disse desanimada.

-Vamos agilizar isso – Emily ponderou pegando o arco e retirando uma flecha de corpo muito mais grosso e definido do que as outras – Desceremos de tirolesa.

Arqueei as sobrancelhas pensando que era impossível isso. Mas a caçadora morena posicionou a flecha sobre o arco, mirou em um ponto onde havia uma floresta, ergueu um pouco o arco parecendo calcular aquelas coisas como trajetória e curva. Então atirou a flecha. Eu já ia abrir a boca quando a flecha desapareceu na floresta, mas antes que eu manifestasse qualquer coisa, uma corda brilhante e prateada surgiu ligando o ponto onde Emily atirou ao onde nós estávamos. Que ótimo, uma tirolesa mágica.

-Vocês descem, eu vou usar os meus próprios meios – Anahí falou olhando para a tirolesa – Nos vemos lá embaixo.

A filha de Zeus se aproximou do limite da montanha, olhou para baixo e pareceu que iria saltar. Quando voltou e me puxou pela mão tão de repente que eu quase tropecei quando Anahí se jogou da montanha me levando consigo.

Claro que eu gritei! Ela tão
bruscamente me jogava de uma altura que eu nem saberia calcular! E continuei gritando quando seus braços me envolveram e ela começou a voar de um jeito mais estável.

-Sua idiota! – gritei com ela batendo forte em seu ombro e braço – Idiota!

-Deixe pra me bater lá embaixo, podemos desestabilizar assim – Anahí ria alto – Precisava ver sua cara de pânico, Candy!

Bati nela uma última vez e me agarrei ao seu corpo, sentindo o frio em minha barriga aumentar quando a filha de Zeus resolveu se exibir, começando a voar fazendo piruetas e loops, sempre seguindo o fio prateado em direção a floresta. Quando alcançamos o chão, minha perna estava trêmula. Mas não o suficiente para me impedir de correr atrás de Anahí e dar uns belos tapas nela.

-Idiota, imbecil! – gritava com ela sentindo meu coração ainda disparado pelo voo inesperado.

-Pare com isso Candy – Anahí apenas ria desviando da maioria de meus tapas – Seus golpes fazem massagem em mim!

Aquela provocação fez meu sangue ferver, e eu teria corrido para cima dela com o intuito de bater de verdade com todos os tipos de golpe que eu conhecia, se Ashley não tivesse pousado a poucos metros de nos. Eu olhei para Anahí em um claro aviso de que depois nos acertaríamos e não da melhor maneira que um casal poderia fazer. Descarada como estava, a outra meio-sangue apenas lançou um beijo no ar e sorriu debochada.

Depois de Ashley veio Emily, Miley que gritou a descida toda, diferente de Ariana que só voltou bastante pálida e cambaleante. E por fim Megan que fez um pouso mais
suave de todos. Assim que todas estavam na floresta, o fio prateado desapareceu e Emily recuperou a sua flecha. Ashley guiou o caminho dessa vez, não tardando a encontrar a trilha vermelha que tínhamos visto de lá de cima.

Dessa vez Anahí seguiu ao meu lado, ela tentava conversar até perceber que eu estava emburrada o suficiente para não dar atenção ao que estava dizendo.

-Sabe, eu adoro voar com você – Anahí falou depois de meia hora de quase silêncio absoluto entre nós duas, mas eu nada respondi – Quero dizer, eu adoro voar por si só, é delicioso chegar bem ao alto, deixar que os ventos envolvam meu corpo e obedeçam ao meu comando. Mas ter você perto de mim nesses momentos é realmente delicioso – mantive meu olhar para frente – Na verdade, qualquer coisa com você por perto sempre fica melhor.

A última frase foi dita em um sussurro, bem perto de mim. Era inevitável e mais forte do que eu. Um arrepio passou por todo o meu corpo, fazendo com que tremesse
levemente e não era de frio.Maldita, ela deveria saber o quanto eu adorava quando sussurrava para mim, com aquele timbre de voz rouco que ela tinha naturalmente. Revirei os olhos e tentei manter minha postura, mas quando ousei olhar para a filha de Zeus, meu
coração foi destruído pelo seu sorriso.

-Prometo que não jogo mais nós duas do alto de uma montanha se você me der um sorriso – Anahí tentou negociar – Um sorrisinho só para me ajudar a suportar esse frio, por favor?

Revirei os olhos e inconscientemente meus lábios se repuxaram em um sorriso teimoso. Anahí só faltou comemorar isso, o que me fez sorrir sem me segurar mais. Ela era uma idiota e ainda teria uma série de tapas particulares quando a missão acabasse. Mas era a minha idiota que conseguia me fazer sorrir mesmo quando eu estava obstinada a não ceder.

-Estamos perto – Ashley disse de lá da frente.

-Como sabe? – Miley indagou curiosa.

-Instinto, sempre quando nós estamos perto de nossa caça, é como se soubéssemos automaticamente – Emily explicou pegando o arco e ajeitando uma flecha.

-Todo cuidado agora será pouco – Megan disse também pegando o seu arco.

O momento pequeno de descontração se desfez em um passe de mágica. Anahí pegou o seu isqueiro e o manteve firmemente em sua mão fechado em punho. Eu sabia que em um movimento ele se desdobraria em uma espada prata e dourada. Retirei também o meu brinco o mantendo em minha mão direita.
Caminhamos por apenas dez metros quando Miley travou no lugar. Sua respiração acelerou rapidamente enquanto ela encarava fixamente um ponto a sua direita. Ariana ao seu lado tentava enxergar o que ela via, mas franzia o cenho de maneira confusa.

-É bem suave – Miley explicou – Mas eu posso sentir, a variação de tempo irregular. Prestem atenção, acontece a cada dez segundos. Uma leve distorção bem ali.

Miley apontou para onde estava vendo. Focalizei minha visão naquele ponto, contando os segundos em minha mente. Quando fechou em oito eu vi, bem discreto, praticamente imperceptível. Mas era como se uma linha tênue cortasse o espaço, fazendo um risco discreto de quase dois metros de altura. Olhei para Miley e ela encolheu os ombros, provavelmente sensível ao estar em um lugar onde o tempo era diferente, assim como esteve por tantos anos em sua caverna. Foi impossível não me aproximar dela e tocar em seu ombro de maneira firme, a fazendo olhar para mim.

-Você não vai estar sozinha, não se preocupe – disse da maneira mais confiante possível – Vamos sair de lá nem que eu tenha de chutar sua bunda para fora, ok?

A filha de Hécate sorriu mais reconfortada e eu senti uma sensação boa de estar animando alguém. Ashley foi a primeira a se aproximar da fenda, a analisando assim que tornou a reaparecer. Ela levava cerca de seis segundos para desaparecer mais uma vez.

-Talvez basta tocar – ela analisou – Eu vou tentar isso.

-Eu vou com você – Emily logo ficou ao seu lado.

As duas trocaram um rápido olhar e depois encararam o vazio a frente. Ao menos até dez segundos depois o risco aparecer distorcendo levemente a realidade. Ambas levaram a mão até o ponto. Então levou menos de dois segundos para elas desaparecerem. Assim, do nada, sendo sugadas para aquela fenda que desapareceu também pouco depois.

-Vamos – Megan foi a frente, determinada e sem medo.

Segundos depois, ela foi sugada ao tocar a fenda. Ariana nem esperou que a linha desaparecesse, a tocou segundos antes que isso acontecesse. Miley foi a frente,
lançando um último olhar para mim e Anahí.

-Vamos conseguir – foi o que ela disse antes de tocar a fenda e ser levada por ela.

-Sim, nós vamos – Anahí reafirmou o que ela disse – Não importa o que acontecer, vamos sair dessa, ok?

Apenas acenei com a cabeça tentando ignorar a súbita onda de calafrios que tomou o meu corpo. Anahí segurou a minha mão e foi inegável a segurança que eu sentia ao tê- la ao meu lado. Engoli em seco quando paramos em frente ao ponto. Assim que ele
reapareceu, Anahí roubou um beijo meu.

-Para dar sorte. Agora vamos!

Ela esticou a mão e eu a imitei. Assim que eu toquei a fenda, foi como se todo o meu corpo desfragmentasse e fosse levado em cubinhos para dentro daquele corte no espaço.

Aquela era de longe a pior sensação que eu sentia ao ser sugada para o nada e ser jogada
em um lugar desconhecido. Tudo tão rápido que eu quase vomitei quando senti meu corpo materializado novamente. Cai sobre os joelhos, lutando contra a ânsia de pôr para fora tudo o que comi durante a viagem. Respirava fundo, mas bastou ver que Miley tinha mesmo vomitado para expelir tudo o que estava tentando manter dentro de mim. Anahí me ajudou a ficar de pé e me deu apoio quando eu precisei, mas bastou que eu conseguisse focalizar o ambiente ao meu redor para que o ar sumisse de meus pulmões.

Aquilo era como um jardim mágico. Havia caminhos de flores, arbustos lindos e com formas de diversos animais. Um pouco mais a frente, um belo cloreto branco, rodeado por trepadeiras e rosas vermelhas. Perto de lá, um lago onde cisnes belos nadavam tranquilamente. Não fazia frio, pelo contrário, o clima era tão agradável que parecia surreal que do outro lado estivesse em um inverno antecipado.

-Ali, uma mansão – Ariana apontou.

Era uma bela mansão clássica, iluminada e cheia de estátuas ao redor.

-Definitivamente estamos no lugar certo – Ashley fez uma breve careta – Tudo aqui inspira romance.

-É um lugar como Adônis viveria – Megan concordou.

-Alguém tem um plano? – perguntei ainda desnorteada com o lugar em que estávamos.

-Não conhecemos o território, muito menos temos ideia direito de como é o inimigo. Mas não temos tempo de fazer um reconhecimento – Emily ponderava.

-Acho que vamos ter de bater na porta – Ariana deu de ombros.

-Isso parece uma péssima ideia – Megan franziu o cenho.

-Ao menos é uma – Anahí falou e depois torceu o lábio – Não acredito que concordei com a Ariana!

-Vamos logo – Miley agitou-se.

A filha de Hécate foi a primeira a começar a seguir um caminho de pedras esteticamente colocadas. Troquei um rápido olhar com Anahí antes de soltar um suspiro e começar a seguir Miley. Apesar do lugar ser lindo, mágico e romântico... Eu não tinha dúvidas de que uma batalha logo estaria prestes a acontecer.

Notas da Autora

Só uma perguntinha, vocês já tem alguma suspeita sobre quem é a vilã? Se sim deixe nos comentários. Vamos ver se vocês aceitam. (;