Fanfic: O Jogo Da Mentira- Trendy/Vondy | Tema: Dulce, gemeas

Naquela tarde, batia sol na quadra de tênis do Hollier enquanto elas se alongavam para aquecer. Todas faziam versões próprias das posturas da ioga. Clara se dobrou na postura do Cachorro Olhando Para Baixo. Maite jogou a perna para trás, alongando o quadríceps. Taylor estava a alguns metros das outras, enrolando a pegajosa fita esportiva branca no calcanhar. Ela parecia perdida em pensamentos, provavelmente sobre Alfonso.

Embora teoricamente telefones não fossem permitidos no treino, Dulce estava com o iPhone de Roberta na palma das mãos, lendo a mensagem mais recente de Christopher.

ESTOU MUITO CHATEADO POR CAUSA DO BAILE, disse ele.

NÃO FIQUE, respondeu Dulce. EU E MINHAS AMIGAS TEMOS UMA IDEIA PARA COMPENSAR.

TOME CUIDADO!, alertou Christopher. QUER MESMO SE METER EM MAIS CONFUSÃO?

VAI SER ÓTIMO, digitou Dulce rapidamente. PROMETO. O JOGO DESTA NOITE AINDA ESTÁ DE PÉ? Havia uma partida de futebol masculino no Wheeler, o colégio rival, que garantiria o lugar deles nas finais distritais. Como Roberta, esperava-se que ela fosse. Como o namorado de Roberta, também se esperava que Christopher fosse.

ACHO QUE SIM, respondeu Christopher. Dulce sentia sua hesitação pelo telefone. MEU PRIMEIRO JOGO DE FUTEBOL... E ESTOU NO ÚLTIMO ANO. RS.

SE SERVIR DE CONSOLO, TAMBÉM É MEU PRIMEIRO JOGO, respondeu Dulce. PEGO VOCÊ ÀS SETE.

– Trocando mensagens com Christopher? – provocou Maite, aproximando-se e jogando-se no banco.

Dulce cobriu a tela, envergonhada.

– Como sabe?

– Porque você está com uma expressão idiota e apaixonada. – Maite a cutucou. – Antes do cancelamento do baile, os boatos diziam que Christopher ia ser coroado o Rei da Colheita.

Dulce ficou de queixo caído.

– Sério?

– Não fique tão surpresa. Ele está namorando você. Claro que ia ser indicado. – Maite dividiu seu rabo de cavalo ao meio e puxou para firmá-lo.

– Estão prontas, mulheres do Hollier? – ressoou uma voz alta.

Todas se viraram e viram, na extremidade da quadra, a treinadora Maggie, que usava um short azul-marinho brilhante da Umbros e uma camisa da equipe de tênis do Hollier, com as mãos nos quadris. Algumas garotas riram. Maggie sempre as chamava de “mulheres do Hollier” ou “mulheres hollianas” e, certa vez, até de “mulheres da raquete”.

– O treino de hoje será um teste de força de vontade – continuou Maggie, andando pela linha de fundo. – Coloquei cada uma de vocês contra a jogadora cujas habilidades são mais parecidas com as suas. Vamos começar com nossas cocapitãs, Anahí e Roberta. – Ela fez uma pausa dramática como se esperasse aplausos. Como não os obteve, jogou duas bolas de tênis felpudas na direção de Anahí. – Quadra seis, senhoritas – disse ela, indicando a quadra mais distante de onde a equipe estava.

Maite lançou um olhar solidário a Dulce. Em geral, jogar com Anahí não era algo que Roberta comemorasse.

Dulce deu de ombros.

– Ela é legal – murmurou.

Charlotte ficou surpresa, mas não disse nada.

Anahí olhou para Dulce enquanto atravessaram a quadra lado a lado, como se estivesse tentando avaliar se ela voltaria para o modo rival ou se a trégua que haviam feito na noite anterior seria mantida.

Dulce deu a Anahí um sorriso tranquilizador, esperando acalmá-la.

– Antes, podemos nos alongar um pouco mais? – perguntou ela. – Estou dolorida depois da noite de ontem.

Anahí suspirou, aliviada.

– Eu também.

Uma série de passos ressoou atrás delas, e o time de futebol masculino passou correndo, em uma de suas voltas de aquecimento ao redor do campo.

– Oi, Anahí – gritou Pablo.

– Oi – disse Anahí sem animação, acenando.

Então Pablo reparou que Dulce estava com ela. Sua expressão ficou amarga.

Houve uma pausa desconfortável, e elas andaram em silêncio por alguns segundos.

– Então ainda está saindo com o Pablo? – perguntou Dulce no tom mais amigável que conseguiu, lembrando-se de que Anahí tinha evitado a pergunta na noite anterior.

Anahí ajustou a tira de sua regata roxo-escura.

– Nunca saímos de verdade – disse ela. – Ele só foi comigo para se vingar de você.

Dulce se lembrou da resposta que realmente queria de Anahí na noite anterior.

– Posso fazer uma pergunta esquisita?

Anahí apoiou a mão no quadril do short branco perfeitamente plissado e esperou.

Dulce engoliu em seco.

– Tem certeza de que minha irmã passou a noite inteira na festa do pijama de volta às aulas?

Anahí revirou de leve os olhos.

– Por quê?

– Só acho que ela estava em outro lugar e mentiu para mim. Coisas de irmã – respondeu Dulce de modo vago. – Não vou encrencar você nem nada do tipo. Mas, caso se lembre de alguma coisa, por favor, me conte.

Algumas gotas de suor apareceram na testa de Anahí.

Por fim, ela soltou um suspiro.

– Não tenho cem por cento de certeza de que ela passou a noite inteira lá.

O coração de Dulce saltou.

– Ela estava lá quando você acordou no dia seguinte?

Anahí tirou uma mecha de cabelo do rosto.

– Bem... Não.

– Ela tomou café da manhã lá ou coisa assim? – perguntou Dulce, apertando sua raquete.

Anahí ergueu um dos ombros, depois o deixou cair.

– Então ela não ficou a noite toda lá – disse Dulce. – Mas você disse que tinha ficado.

Os olhos de Anahí reluziram.

– Meu Deus, Roberta. Eu estava tentando irritar você, ok? Fiquei zangada por você ter dito a Taylor para não andar comigo. Eu queria que soubesse que ela passou por cima de você e foi assim mesmo.

Dulce mal a ouviu. Deu um passo para trás e se virou, ficando de frente para Taylor, que jogava contra Maite na quadra um. Taylor rebateu uma bola alta, jogando-a fora do alcance da raquete estendida de Maite. Ela fez uma alegre dança da vitória como se fosse uma adolescente comum. Mas Anahí tinha acabado de dar a confirmação a Dulce. Taylor não voltara para a festa do pijama naquela noite. De repente, parecia que o ar fora sugado dos seus pulmões. Ela dobrou o corpo para frente, olhando para o chão de argila endurecida.

– Ei, você está bem? – A sombra de Anahí pairava sobre Dulce. – Parece que vai desmaiar.

– Hum, eu só... Preciso de água – gaguejou Dulce. – Já volto.

Ela andou na direção da escola, fazendo tudo para parecer despreocupada.

Empurrou a porta dupla do vestiário feminino, sentindo-se enjoada com o cheiro de plástico e pão dormido. Havia metade de um cookie com gotas de chocolate esmagado no banco de madeira paralelo aos armários. Ela checou as cabines, aliviada por estarem vazias, depois encontrou o armário de Taylor, que era decorado com estrelas cadentes, raquetes de tênis em papel dourado e seu nome em letras roxas e grossas. Tocou o cadeado e girou a combinação para zero. Preciso encontrar alguma coisa, pensou de modo maníaco. Qualquer coisa.

Eu prendi a respiração. Parecia perigoso. Só esperava que ela soubesse o que estava fazendo.

Dulce usou a ponta do tênis para bater na base do armário; na antiga escola delas, em Henderson, Demi tinha lhe ensinado que, se girasse um cadeado para o zero e o chutasse, ele se abriria. O armário rangeu, depois se abriu. Vitória.

Vários cadernos estavam guardados no fundo, junto com um grosso livro de química. Na prateleira de cima havia um frasco de desodorante com cheiro de melão.

Dulce pegou a bolsa de couro marrom de Taylor no gancho de metal e abriu como uma criança rasgando o papel de um presente de Natal. O iPhone de Taylor, protegido em sua capa rosa de neoprene, estava no bolso lateral, entre papéis de chiclete e canetas esferográficas. Dulce recolocou a bolsa dentro do armário e fechou a porta com um empurrão para o caso de alguém aparecer. Só o que faltava era alguém contar a Taylor que tinha visto a irmã bisbilhotando suas coisas.

Então, com dedos trêmulos, ela percorreu as mensagens, da mais recente às com mais de um mês. Naquela segunda-feira, ela tinha escrito para Alfonso: ESTOU FELIZ POR TERMOS CONVERSADO. Outra para Alfonso mais cedo na segunda: É IMPORTANTE VOCÊ NÃO CONTAR A NINGUÉM.

Fora alguns ONDE VOCÊ ESTÁ?, não houvera correspondência enquanto Alfonso estava na reabilitação. Mas mesmo as mensagens de Taylor para Maite e Belinda eram estranhamente cifradas, coisas como DESCULPE TER FURADO, MAS ACONTECEU UMA COISA e PRECISO CONVERSAR COM VOCÊ, mas nunca qualquer detalhe. Era quase como se ela esperasse que alguém a espionasse.

Dulce pegou o telefone de Roberta e tirou uma foto das mensagens, pois poderia decifrá-las mais tarde. Por fim, desceu até 31 de agosto, o dia da morte de Roberta.

Taylor mandara um monte de mensagens naquele dia, mas apenas uma para Roberta, às 22h43. Quando Dulce a leu, sua garganta se fechou e sua visão ficou embaçada.

DA PRÓXIMA VEZ QUE NOS VIRMOS, VOCÊ VAI MORRER.

Dulce se apoiou contra os armários, tapando a boca com a mão.

Por cima de seu ombro, eu lia o texto sem parar, a letra preta contra o balão verde de texto. De repente, a tela ficou clara demais, e o brilho de neon tomou todo o meu campo de visão. Do nada, algo se alterou em minha mente, e fui sugada para uma lembrança completa.