Fanfic: O Jogo Da Mentira- Trendy/Vondy | Tema: Dulce, gemeas

– O que você está fazendo?

Num instante, Dulce levantou a cabeça. Quando viu a figura parada no final do corredor, iluminada por trás pelo sol que passava pelas janelas foscas, seu sangue ficou gelado. Era Taylor.

Agitei meus braços inúteis, desejando poder puxar Dulce para um lugar seguro.

Tudo o que conseguia ver era a lembrança que acabara de recuperar. Aquele cânion escuro e assustador. Aquela mensagem aparecendo em meu telefone. Eu a descartei de um jeito tão despreocupado na hora... Como irmãs, Taylor e eu provavelmente já ameaçamos nos matar centenas de vezes. Mas dada minha atual situação, eu precisava considerar que, quando Taylor escreveu aquela mensagem, não era apenas uma expressão passageira de raiva e frustração. Talvez estivesse falando sério. E se ela tivesse mesmo deixado Alfonso no hospital e voltado para me matar? Estava muito escuro naquela montanha. Muito isolado. Qualquer coisa poderia ter acontecido, e ninguém teria escutado.

Levantando-se, Dulce enfiou o celular de Taylor no bolso do short, rezando para aquele não ser o momento em que alguém decidiria mandar uma mensagem de texto para a irmã de Roberta, pois o toque de mensagens de Taylor era um grito de macaco muito característico. Ela continuou com o telefone de Roberta na outra mão.

– O que você está fazendo? – retrucou Dulce, tentando demonstrar a atitude impetuosa e hostil de Roberta.

Os olhos de Taylor percorreram Dulce como se ela soubesse que a pegara fazendo alguma coisa ilícita e estivesse tentando descobrir o que era.

– Falaram que você saiu da quadra porque não estava se sentindo bem – disse ela em tom monótono. – Como uma boa irmã, vim ver como estava.

O telefone de Roberta começava a ficar escorregadio na palma da mão de Dulce.

– Fiquei meio tonta – disse ela, atenta ao intenso olhar de Taylor. – Vim aqui pegar minha garrafa d’água extra e decidi me sentar um pouco.

– Sério? – perguntou Taylor, balançando-se para frente e para trás nos calcanhares. Seu tom foi enfático demais, e o estranho sorriso em seu rosto se alargou. – É estranho você estar na frente do meu armário. Procurando alguma coisa?

A mente de Dulce estava a mil, tendo relances das vezes que o assassino de Roberta a tinha atacado. As mãos estrangulando-a por trás. O refletor caindo a centímetros de sua cabeça, as palavras naquele quadro negro mandando-a parar de investigar. Se Taylor tinha levado a cabo o que dissera na mensagem, ela era perigosa... Muito perigosa. E ali estava Dulce, investigando outra vez e encontrando uma evidência que podia prejudicar Taylor. Dulce olhou o vestiário vazio. Se gritasse, será que alguém ouviria?

Quando Taylor deu um passo à frente, Dulce se retraiu, certa de que a irmã de Roberta ia fazer alguma coisa. Mas Taylor passou por ela, inseriu o código de seu armário e abriu a porta. O coração de Dulce martelava nos ouvidos enquanto Taylor vasculhava sua bolsa, mantendo os olhos na irmã o tempo todo. Ela está procurando o telefone, pensou Dulce. Ela sabe que não vai estar ali, porque sabe que está comigo. Só está fazendo isso para me deixar nervosa.

– E então? – disse Taylor por fim, pegando uma escova de cabelo e passando-a por seu longo rabo de cavalo. – Digo, sei que sou fascinante e tudo... O Alfonso sem dúvida acha isso. – Um sorrisinho passou por seus lábios quando ela disse o nome de Alfonso. – Mas não é melhor você pegar sua água e voltar para o treino?

– Ah. Claro – disse Dulce, mas não se moveu. Parecia que o telefone de Taylor, aninhado em seu bolso de trás, estava pegando fogo. Então Taylor virou as costas para tomar água no bebedouro e Dulce jogou rapidamente o iPhone na bolsa dela. Por incrível que pareça, Taylor não pareceu perceber.

Dulce virou as costas e contornou os armários em direção ao de Roberta. Seus dedos tremiam quando ela inseriu a combinação e abriu a porta. Vasculhou o conteúdo por um tempo, fingindo procurar alguma coisa, e pegou uma garrafa de Evian que por sorte estava na prateleira de cima. Ela a inclinou e bebeu com avidez, mas o líquido não ajudou a matar sua sede.

Quando levantou os olhos, Taylor estava parada no final do corredor, observando seu telefone com os olhos arregalados. Dulce quase gritou. Por um momento terrivelmente longo, Dulce não conseguia lembrar se tinha fechado a mensagem de Taylor para Roberta e retornado à tela inicial do telefone.

– Hã – disse Taylor, franzindo a testa.

– O que foi? – perguntou Dulce com a voz trêmula.

– Eu poderia jurar que coloquei o telefone no bolso lateral da minha bolsa – disse lentamente Taylor.

Alarmes dispararam na cabeça de Dulce. Ela sabe que você estava vasculhando!

Fuja agora! Mas seus tênis pareciam pregados ao chão.

– Não sei onde você colocou seu telefone – resmungou ela, com as palavras presas na garganta.

– Claro que não sabe. – Taylor riu, revirando os olhos.

Ela enfiou o telefone no bolso, depois foi até Dulce com os olhos em brasa. Seu corpo parecia irradiar calor, e seus membros pareciam prontos para o ataque.

– Buu! – sussurrou Taylor, tocando o peito de Dulce, que gritou e se retraiu, protegendo o corpo com as mãos e fechando os olhos com força.

Quando os reabriu, Taylor estava rindo.

– Alguém está nervosa – disse ao passar por Dulce. As dobradiças da porta rangeram quando ela saiu do vestiário.

Dulce também saiu, parando do outro lado da porta. O barulho suave das batidas das bolas de tênis na quadra enchia o ar enquanto ela observava Taylor atravessar os campos de treino e se unir à equipe nas quadras. Ela estava com um sorriso de orelha a orelha, como se não tivesse acabado de agir de um jeito diabólico e louco um segundo antes. Mas Dulce não se deixava enganar.

Nem eu. Taylor estava de olho nela. E era melhor minha irmã se cuidar.