Fanfic: O Jogo Da Mentira- Trendy/Vondy | Tema: Dulce, gemeas

Naquela noite Dulce se deitou na cama de Roberta completamente sem sono. Tinha fugido da festa depois de sua conversa com Alfonso, sem querer encarar o sr. Pardo.

Antes de ir, enviou mensagens de texto breves às amigas de Roberta, dizendo que não estava se sentindo bem, embora soubesse que devia parecer loucura. Assim que voltou à casa dos Pardo, teve uma longa conversa com Christopher por telefone, discutindo tudo o que havia descoberto. Ele quis ir até lá imediatamente e só desistiu quando Dulce prometeu que ligaria assim que acordasse; ela não podia correr o risco de o sr. Pardo perceber que Christopher também sabia sobre ele.

Então ela se trancou no quarto, empurrou a cômoda de Roberta para frente da porta e jogou as cobertas sobre a cabeça. A sra. Pardo bateu na porta uma hora depois e perguntou se ela estava bem, mas Dulce fingiu estar dormindo. Provavelmente foi algo que ela comeu, ouviu a mãe de Roberta sussurrar no corredor. Ou algo que ela bebeu, resmungou a vovó Pardo. Dulce não ouviu a voz do sr. Pardo.

Ela sabia que a desculpa da doença não ia durar muito; em algum momento teria que encarar a família. O sr. Pardo sabia que Dulce o escutara. Mas será que sabia que ela tinha juntado as peças? E o que ele estava esperando? Por que ainda não a tinha matado? Claro que sabia o quanto ela tinha bisbilhotado. Será que faria parecer que ela morrera em um acidente? Assim, eliminaria de uma vez só Dulce e Roberta.

Eu também tinha me perguntado se meu assassino estava ganhando tempo, decidindo qual seria a melhor maneira de matar Dulce de forma a parecer um acidente; uma batida de carro, uma overdose, um tombo feio. Meu pai era médico e tinha acesso a todos os tipos de drogas. Estaria planejando matar Dulce enquanto ela dormisse e depois fazer o papel de pai enlutado para o resto do mundo?

As cortinas brancas tremulavam como fantasmas. O enorme closet de Roberta estava aberto, revelando vestidos e blusas organizados nos cabides. Em seu computador, o protetor de tela mostrava fotos de suas melhores amigas. Agora que Dulce tinha feito o upload de mais fotos, tanto imagens dela quanto de Roberta passavam pela tela. Havia uma de Roberta com seu uniforme de tênis do Hollier. A seguinte retratava Dulce e Maite no La Encantada, posando com roupas malucas no provador da Neiman. A única diferença no rosto sorridente das gêmeas era a cicatriz minúscula no queixo de Dulce, resultado de uma queda do Hamburglar no parquinho de um McDonald’s quando era pequena.

Dulce se sentou de repente. O sr. Pardo tinha falado daquela cicatriz na primeira manhã em que ela tomara café com a família. Talvez fosse algum tipo de aviso de que a menor diferença podia estragar seu disfarce se ela não fosse cuidadosa.

Ela se deixou cair na cama outra vez, morrendo de medo e de melancolia. O sr. Pardo parecia tão doce e carinhoso, o tipo de homem que faria qualquer coisa pelas filhas, o que tornava ainda mais triste o fato de ele ter feito algo tão terrível.

Fechei os olhos com força, enojada pela ideia. De tudo o que tinha acontecido desde minha morte, isso era o mais difícil de processar. Eu sentia que estava me afogando toda vez que pensava em tudo o que meu pai fizera para me decepcionar.

Como pôde trair minha mãe? Ele sabia que isso ia destruir nossa família. E como pôde ter me matado? Como meu pai pôde arrancar a vida de mim, sua filha? Talvez nunca tivesse me amado. Talvez eu fosse apenas uma filha adotada que ele nunca quis, para começo de conversa.

Sem nenhum sinal de sono, Dulce rolou para o lado, tirou de baixo da cama o caderno em que anotava os avanços da investigação sobre o caso de Roberta e o abriu em uma página em branco. sr. Pardo, escreveu em cima. Era doloroso colocar aquilo no papel.

Então ela se recostou para pensar. Ele sabia de Dulce o tempo todo? Será que Alma mencionara que Roberta tinha uma gêmea quando a colocou para adoção? Será que ele colocara aquele vídeo de Roberta sendo estrangulada na internet na esperança de que Dulce o visse e aparecesse? Dulce sempre achara uma coincidência doentia o fato de Travis, seu irmão temporário na época, ter encontrado o vídeo do assassinato que levara Dulce a Roberta na mesma noite em que Roberta morrera. Mas o sr. Pardo devia ter assistido aos vídeos do Jogo da Mentira de Taylor e encontrado um que chamaria a atenção de todos. E então havia invadido a conta do Facebook de Roberta e respondido a Dulce. Roberta estava sempre logada. Teria sido muito fácil.

Então Dulce pensou novamente na primeira manhã em que tomou café com os Pardo. O pai de Roberta desapareceu de casa no meio do café, dizendo que ia pegar o jornal. Ele teve tempo de prender o bilhete Roberta está morta no carro de Taylor.

Ele era amigo do sr. Perroni, e, se Roberta e as amigas tinham o código do alarme da casa dos Perroni, sem dúvida o sr. Pardo também podia ter. Até onde Dulce sabia, os Pardo cuidavam da casa quando os Perroni saíam de férias. Dulce não sabia como o pai de Roberta tinha entrado sem ser notado no auditório da escola para jogar o refletor sobre ela, mas ele era ágil; corria toda manhã antes do trabalho e às vezes fazia trilhas nos finais de semana. E provavelmente era capaz de várias coisas.

Algo rangeu no corredor, e o pânico se formou no peito de Dulce. E se fosse o pai de Roberta? Houve outro rangido, sem dúvida um passo. Dulce reprimiu um pequeno soluço. Fora aterrorizante viver sob o mesmo teto que Taylor quando Dulce achava que ela matara Roberta. Mas o sr. Pardo tinha duas vezes o seu tamanho. Dulce não teria a mínima chance.

A maçaneta começou a se virar. Com o coração na boca, Dulce esperou que a porta se abrisse e batesse contra a cômoda de carvalho, mas Drake soltou um latido choroso, e a maçaneta voltou para o lugar.

A pulsação de Dulce ainda estava acelerada quando os passos voltaram pelo corredor. Ela fixou os olhos no teto. A luz da lua iluminava uma minúscula rede de rachaduras que se espalhavam a partir do lustre. Dulce as contou várias vezes, perguntando-se se um dia conseguiria dormir outra vez.