Fanfic: O Jogo Da Mentira- Trendy/Vondy | Tema: Dulce, gemeas

No carro, Christopher ainda olhava incisivamente para Dulce.

– O que está acontecendo? – perguntou ele de novo.

– Eu sou a Roberta – respondeu Dulce, tremendo. – Juro.

– Não é. – Um sorriso triste surgiu no rosto dele. – Por favor, me diga a verdade.

Dulce olhou para os dentes dele, que brilhavam na escuridão. Olhou em volta para o deserto escuro diante deles. Um pensamento terrível crepitou em sua cabeça como um relâmpago: ele parecia seguro demais do que afirmava. Mas como ele podia ter certeza a não ser que...

– Você... Você a matou? É por isso que sabe?

Christopher caiu para trás. Ele pestanejou, e seu rosto empalideceu.

– Matar? Roberta está... morta?

Dulce mordeu o lábio com força. Ethan parecia arrasado.

– Ela foi assassinada – admitiu Dulce, numa voz ínfima. – Acho que alguém a estrangulou. Alguém que ela conhece. Eu vi em um vídeo.

Christopher franziu as sobrancelhas.

– Estrangulou?

– Com este cordão. – Ela puxou o relicário de baixo do vestido e o mostrou a ele. – No bosque. As amigas dela filmaram tudo. Até colocaram na internet.

O olhar de Christopher voltou-se para a direita. Uma expressão horrorizada de compreensão cobriu seu rosto.

– Ah. Ah.

– O que foi?

Dulce voltou a afundar no banco e cobriu o rosto com as mãos.

– Ela estava vendada nesse vídeo?

– Estava...

Christopher respirou fundo e olhou para ela novamente.

– Eu estava lá aquela noite.

Dulce estava chocada.

– Você estava lá?

– Eu estava andando de bicicleta quando vi um carro familiar passando depressa – explicou ele. – Reconheci pelo adesivo da MÁFIA DO LAGO DOS CISNES no vidro de trás... Belinda e eu tínhamos vagas marcadas perto um do outro no ano passado. Aquilo ficou na minha cabeça.

Dulce engoliu em seco.

– Não sei por quê, mas alguma coisa me fez segui-las colina abaixo até uma clareira – continuou Christopher. – Quando cheguei lá, a câmera tinha sido armada e elas haviam começado a estrangular Roberta. Eu não sabia o que estava acontecendo ou por que estavam fazendo aquilo, mas realmente parecia que iam matá-la.

Dulce permaneceu completamente imóvel enquanto Christopher explicava o que tinha acontecido: assim que Roberta perdeu a consciência, ele correu até a clareira. As garotas gritaram e se esconderam, derrubando a câmera do tripé. Ele correu até Roberta e tentou soltar suas mãos.

– Roberta ainda estava respirando – contou ele a Dulce. – Ela voltou a si.

Dulce olhou pelo para-brisa escuro.

– Então... você é a pessoa que aparece no final do vídeo tirando a venda dela? Você a salvou?

Christopher deu de ombros.

– Acho que sim. – Ele pigarreou e prosseguiu: – Mas entenda, depois daquela noite, eu não tive mais notícias de Roberta. Não que achasse que ela me devia alguma coisa, mas teria sido legal ter... não sei. Um agradecimento de verdade, talvez. Então, quando você se aproximou de mim lá na festa da Anahí, imaginei que isso fosse acontecer. Mas alguma coisa parecia estranha aquela noite. Diferente. O jeito como você falou sobre as Estrelas Vadias... seu senso de humor. E todas as vezes que eu te vi depois daquilo, tive a mesma sensação perturbadora. Você era... simpática. E engraçada. E interessante. E... capaz de sentir remorso. A Roberta que eu conhecia, que todo mundo conhecia, não teria se arrependido de nada, nunca. Por isso, comecei a me perguntar se ela não teria múltiplas personalidades. Ou talvez tivesse passado por algum tipo de despertar espiritual que a tornara não tão... dura. – Ele pressionou os polegares contra os olhos. – Seja lá o que tivesse acontecido, eu comecei meio que a me apaixonar por ela.

– Era eu – disse Dulce calmamente, os olhos fixos no colo. – Era eu a garota na festa da Anahí. E todas as vezes depois daquele dia. Não a Roberta.

Christopher passou a língua por cima dos dentes, assentindo lentamente com a cabeça.

– Então... quem é você?

Um fogo de artifício estourou a distância. Depois que o crepitar parou de soar, Dulce tomou fôlego.

– Sou a irmã gêmea da Roberta. Bom, fomos separadas na infância. Não chegamos a nos conhecer. Eu não a vi nem uma única vez.

Christopher a encarava sem piscar.

– Calma aí. Irmã gêmea? Tipo, sério? – Ele balançou a cabeça. – Comece do começo.

E então a história toda explodiu de dentro de Dulce, desesperada para sair.

– Eu tentei ir embora – explicou ela quando terminou de contar sobre o bilhete ROBERTA ESTÁ MORTA. – Não queria ficar presa na vida dela. Mas o assassino me viu na rodoviária, eu acho. E ele me encurralou na casa da Maite e disse que me mataria se eu tentasse ir embora outra vez. – Ela fechou os olhos; a sensação do relicário contra seu pescoço estava tão recente e vívida como se aquilo tivesse acontecido apenas momentos antes. – As amigas e a irmã da Roberta eram as únicas pessoas que sabiam que eu tinha tentado sair daqui. E a casa da Maite é uma fortaleza. Deve ter sido alguém que já estava lá dentro, uma das amigas da Roberta. Elas tentaram me estrangular exatamente como estrangularam Roberta naquela noite no bosque. Na noite em que a mataram.

Christopher balançou a cabeça com veemência.

– Não estou dizendo que as amigas da Roberta não a mataram, mas, se fizeram mesmo isso, não foi na noite em que o vídeo foi filmado. Aquilo aconteceu duas semanas antes de você chegar aqui. E todo mundo foi embora depois que eu interrompi a “brincadeira”. Incluindo Roberta. Ela estava bem.

– Roberta foi embora com elas? – perguntou Dulce, chocada.

Uma expressão conflituosa cruzou o rosto de Christopher.

– Ela e as amigas faziam asneiras desse tipo o tempo todo.

– Eu sei. – Dulce esfregou as têmporas. – Mas eu não sabia que tinham chegado a um ponto tão perigoso.

De repente, começou a chover. O barulho das gotas do lado de fora do para-brisa era como o de minúsculas bombas explodindo. Dulce olhou para Christopher.

– Preciso dar o fora daqui.

Christopher franziu a testa.

– Para onde você vai?

– Qualquer lugar. – Mais lágrimas rolaram pelas faces de Dulce, lágrimas de pavor. – Vou entrar no primeiro ônibus que aparecer. Não posso ficar aqui. Isso é loucura.

Christopher se recostou no banco, o couro emitindo um ruído ao ser amassado.

– Tem certeza de que é uma boa ideia?

– Como assim?

Ele virou-se para ela, mordendo o polegar com força.

– É só que... você já tentou ir embora uma vez, e não deu certo. Quem garante que dessa vez vai ser melhor?

– Mas... – Dulce olhou pela janela, para todas as silhuetas de cactos. – É a minha única chance.

Ambos ficaram em silêncio por um momento. Um carro de polícia passou veloz por uma estrada distante. Suas luzes azuis e vermelhas pontuaram a noite negra como carvão.

– Mas... – começou Christopher, incerto. – E se o assassino quiser justamente que você vá embora?

– Não. – Dulce cruzou os braços sobre o peito. – O assassino quer que eu fique aqui e seja ela.

– Preste atenção. Se Roberta está mesmo... morta, talvez quem quer que tenha feito isso esteja tentando colocar você como a assassina. Eles sabem que você não tem família. Sabem que a sua vida provavelmente foi bem difícil. Não vai ser complicado provar. Se você for embora, todos vão saber que Roberta está desaparecida. Não acha que a pessoa que fez isso vai dar a dica aos policiais de que você a estava representando havia duas semanas? E não acha que você será a pessoa de quem a polícia vai suspeitar imediatamente pela morte dela?

Dulce deixou as mãos caírem frouxas no colo. Será?

– É que Roberta tinha uma vida realmente boa – disse Christopher calmamente, olhando pela janela para a lua crescente. – Ela era popular, rica, tinha tudo o que queria. E por tudo o que disse... você, não. Enquanto a Roberta foi mandada para uma bela casa em Scottsdale, você acabou sob cuidados adotivos temporários. Realmente não é justo, Dulce. Muita gente na sua posição faria qualquer coisa para trocar de lugar com a sua irmã gêmea.

Dulce ficou de boca aberta.

– Eu nunca a mataria!

Christopher acenou com as mãos em rendição.

– Eu sei que não. Mas... algumas pessoas são terríveis. Algumas pessoas presumem automaticamente o pior. Podem julgá-la sem procurar saber quem você realmente é.

Dulce piscou. As paredes do carro começaram a se fechar sobre ela. Ela com certeza conhecia pessoas terríveis nesse mundo que faziam julgamentos. Clarice, por exemplo – ela deduzira que Dulce roubara seu dinheiro, em vez do ladrãozinho que era seu próprio filho, simplesmente porque pensava que era isso o que crianças e adolescentes abandonados sempre faziam.

– Ah, meu Deus – sussurrou Dulce, cobrindo a cabeça com os braços.

Christopher tinha razão. Ele se inclinou para perto dela e, após um instante, puxou-a para um abraço. Apertou-a com força e enterrou a cabeça na curva de seu pescoço. Soluços balançavam o corpo de Dulce.

Eu assistia a tudo; eles ficaram assim por alguns minutos, segurando-se um ao outro. Eu queria tanto, mas tanto, ser Dulce. Também queria abraçar alguém – talvez Christopher – naquele momento.

Então Christopher se recostou e olhou para Dulce. Seus olhos estavam enrugados de preocupação. Os cantos de seus belos lábios rosados se elevaram em um sorriso compassivo. Ele estava com uma mancha escura na bochecha, que ela queria limpar.

– Nossa – sussurrou ele. – Você é exatamente igual a ela.

– Gêmeos idênticos são assim – disse Dulce suavemente. Sua boca começou a formar um sorriso vacilante, mas um novo soluço chegou de repente.

Christopher tocou seu queixo.

– Fique. Se Roberta foi mesmo assassinada, vamos descobrir o culpado.

– Não sei – murmurou Dulce.

– Você não pode deixar a pessoa que fez isso se safar – insistiu Christopher. – Eu vou ajudá-la. Prometo. E quando tivermos provas, podemos voltar à polícia, e eles vão ter que acreditar em você.

A chuva parou abruptamente. A distância, um coiote uivou. Dulce sentia que estava prendendo a respiração havia horas.

Ela encarou os olhos de Christopher.

– Está bem – sussurrou ela. – Eu fico.

– Que bom.

Christopher se inclinou para a frente e apertou seu ombro. Dulce fechou os olhos; o toque das mãos dele em sua pele enviava faíscas por suas costas. Ela esperava que essa fosse a decisão certa. Esperava que não tivesse acabado de cometer um erro.

Eu também esperava.