Fanfic: O Jogo Da Mentira- Trendy/Vondy | Tema: Dulce, gemeas

Algum tempo depois, Christopher deixou Dulce em frente à casa de Roberta. A maioria das luzes ainda estava acesa, embora todos os carros tivessem partido. Quando Dulce abriu a porta, Drake pulou sobre ela e lambeu seu braço. Seus músculos já não ficavam mais paralisados de medo como antes. Ela chegou à conclusão de que estava se acostumando com ele.

– Aí está você! – Taylor veio correndo da sala e jogou os braços ao redor do pescoço de Dulce. – A gente procurou você por todo canto! – Então ela afastou-se e olhou Dulce de cima a baixo. – Por que você fugiu daquele jeito? Você saiu correndo da gente como se o jardim estivesse pegando fogo!

– Eu só precisava ficar sozinha – admitiu Dulce, torcendo para que a mentira que tinha inventado no carro de Christopher parecesse crível. – Eu... aconteceu uma coisa esquisita com o Pablo.

Os olhos de Taylor se arregalaram.

– O quê?

Dulce afundou na namoradeira e abraçou uma almofada contra o peio.

– É uma longa história.

Ela olhou para o aparador do outro lado da sala. Alguém tinha trazido todos os presentes do quintal. Dulce se perguntou se o quarto de Roberta ainda parecia uma suíte de lua de mel.

– Fora isso, você se divertiu hoje? – perguntou Taylor. Uma expressão apreensiva cruzou seu rosto.

Dulce desviou os olhos.

– Ah, sim. Com certeza – mentiu ela. Uma noite agitada, sim. Aterrorizante, definitivamente. Mas divertida? Nem pensar.

– Você não ficou... chateada com alguma coisa? – Taylor dava petelecos nas borlas da almofada. – A Maite disse que você podia ter entrado no meu quarto. E que você podia ter... visto alguma coisa. E aí você correu da gente como louca lá na entrada...

Dulce recostou-se nas almofadas. Mesmo que quisesse admitir que tinha visto o vídeo, mesmo que quisesse acreditar que Taylor, a irmã de Roberta, era inocente de tudo aquilo, confiar nela era perigoso.

Seu cérebro turbilhonava com o que ela precisava fazer. De acordo com Christopher, o filme do estrangulamento tinha acontecido quase um mês antes – não no dia anterior à chegada de Dulce. Isso significava que Roberta continuara viva durante semanas depois que aquele vídeo fora filmado. Pelo que Dulce sabia, o vídeo do assassinato tinha sido filmado havia muito tempo. Mas o que tinha acontecido nesse meio-tempo?

Dulce ergueu os olhos e observou Taylor friamente, seu rosto isento de sentimentos. De repente ela soube o que devia fazer.

– Eu vi mesmo uma coisa no seu quarto – disse sem entonação.

A cor sumiu do rosto de Taylor.

– O quê?

Dulce levantou-se e avançou lentamente em direção a ela. Taylor ofegou quando Dulce segurou seu pescoço com as duas mãos. Seus olhos se esbugalharam.

– Roberta! – choramingou ela.

Dulce congelou por um longo momento com as mãos pousadas levemente em torno do pescoço de Taylor. Então se afastou, revirou os olhos e deu um tapinha brincalhão na bochecha da irmã de Roberta.

– Peguei você.

Demorou alguns segundos para o alívio inundar o rosto de Taylor. Ela se recostou na cadeira e passou as mãos pela garganta.

– Você é muito cruel.

– Eu sei. Mas agora estamos quites.

Dulce retornou alegremente para onde estava sentada. Mas suas mãos tremiam quando ela afastou as almofadas. Nada seria fácil. Ela voltara ao ponto de partida: todos eram suspeitos.

– Aí está nossa aniversariante! – veio a voz da sra. Pardo, do corredor.

Ela entrou na sala. O marido a seguia com quatro cupcakes em um prato cor-de-rosa. Uma vela em forma de estrela estava espetada no maior deles, que o sr. Pardo colocou na mesinha de centro bem em frente a Dulce. Veludo vermelho. O favorito dela.

A sra. Pardo aboletou-se no pufe, levantando as mãos como se estivesse regendo uma orquestra.

– Todos prontos?

Eles começaram uma animada versão de “Parabéns pra você”, com o sr. Pardo gorjeando as notas mais altas e Taylor cantando alto e forte fora do tom. Era a primeira vez que tantas pessoas ao mesmo tempo cantavam parabéns para Dulce.

Quando a música acabou, a sra. Pardo abraçou a suposta filha adotiva. Depois foi a vez do sr. Pardo. E então Taylor.

– Feliz aniversário, menininha – disse a sra. Pardo. – Nós amamos você.

– Agora faça um pedido – instruiu o sr. Pardo.

A vela crepitava e estalava no cupcake. Dulce se inclinou para a frente e fechou os olhos. Seu pedido de aniversário era o mesmo desde que Alma desaparecera: uma família. E agora, incrivelmente, reversamente, tecnicamente, isso afinal se tornara realidade. Mas havia algo maior que Dulce devia desejar naquele momento, algo que ofuscava tudo aquilo: descobrir quem tinha assassinado sua irmã gêmea, Roberta. De uma vez por todas.

Eu me aproximei. Aquilo também era o que eu queria. Mesmo garotas mortas merecem desejos de aniversário.

Dulce repetiu o desejo uma, duas, três vezes em sua cabeça e soprou com força, como se estivesse mandando embora todo o seu passado. A vela estrela tremeluziu e se apagou. Todos aplaudiram, e Dulce sorriu.

Eu também. Minha irmã soprou a vela num só fôlego. Isso significava que com certeza nossos desejos se realizariam.