Fanfic: O Jogo Da Mentira- Trendy/Vondy | Tema: Dulce, gemeas

Depois da aula de tênis, Taylor entrou com seu Jetta da Volkswagen na rua dos Pardos em um condomínio na base das Catalinas, que tinha casas de estuque cor de areia e jardins cheios de flores e cactos. O único som no carro de Taylor era sua mandíbula mascando o chiclete que ela tinha enfiado na boca.

– Então... obrigada pela carona – disse Dulce, tentando quebrar o silêncio constrangedor.

Taylor lançou a Dulce um olhar gélido.

– Você vai tirar seu carro do depósito algum dia, ou vou ter que ser sua motorista para sempre? Não dá para continuar dizendo que o carro está na casa da Belinda, sabia? A mamãe e o papai não são tão idiotas.

Dulce se afundou no banco. O carro de Roberta fora apreendido antes de sua chegada a Tucson. Aparentemente, ela teria de resgatá-lo se Taylor não quisesse mais lhe dar carona.

Então, Taylor ficou em silêncio mais uma vez. Ela estava fria com Dulce desde a aula de cerâmica, virando as costas quando Dulce pediu para ser sua dupla nos voleios de tênis e dando de ombros quando ela sugeriu passarem na Jamba Juice a caminho de casa. Dulce gostaria de conhecer as palavras mágicas para fazer Taylor se abrir, mas não tinha muita experiência em navegar pelo mundo dos relacionamentos fraternos. Tivera irmãos temporários, claro, mas esses relacionamentos raramente acabavam bem.

Não que meu relacionamento com Taylor tivesse recebido um fim melhor. Não éramos próximas havia anos. Eu via relances de nós duas muito mais novas, de mão dadas em um brinquedo no parque de diversões e espionando o jantar de nossos pais com os amigos quando éramos pequenas, mas algo tinha acontecido entre aquela época e agora.

Depois de passar por três casas grandes – duas das quais tinham jardineiros regando as árvores – Taylor estacionou na entrada da garagem dos Pardos.

– Merda – disse ela entredentes.

Dulce seguiu o olhar de Taylor. Sentado no banco de ferro fundido da varanda dos Pardo estava Pablo. Ele ainda usava as chuteiras e a blusa de treino do futebol. Duas joelheiras enlameadas cobriam seus joelhos, e ele envolvia um capacete de ciclismo com os braços.

Dulce saiu do carro e bateu a porta.

– O-Oi – disse ela, hesitante, com os olhos fixos no rosto de Pablo. Os cantos de sua boca rosada estavam franzidos. Seus olhos castanho-claros ardiam. O cabelo preto estava suado do treino. Ele estava sentado bem na ponta do banco da varanda, como um gato pronto a atacar.

Taylor seguiu Dulce até a entrada da garagem, acenou para Pablo e entrou.

Lentamente, Dulce subiu os degraus da varanda, parando a uma distância segura de Pablo.

– Como você está? – perguntou ela com uma voz fraca.

Pablo fez um barulho horrível com a garganta.

– Como acha que eu estou?

Os irrigadores chiaram no jardim, jogando uma névoa de água sobre as plantas. A distância, um cortador de grama foi ligado. Dulce suspirou.

– Eu sinto muito.

– Mesmo? –  Pablo segurava o capacete com as grandes mãos. – Sente tanto que não retornou minhas ligações? Sente tanto que nem olha para mim agora?

Dulce olhou para seu peito forte, suas pernas tonificadas e a barba rala em seu queixo. Ela entendia o que Roberta via nele e se sentiu angustiada por ele não saber a verdade.

– Sinto muito. – As palavras ficaram presas na garganta de Dulce. – Este verão está sendo estranho – disse ela. Aquilo era amenizar as coisas.

– Estranho porque você conheceu outra pessoa? – Pablo fechou o punho, fazendo saltar os músculos de seu antebraço.

– Não! – Dulce deu um passo surpreso para trás, quase esbarrando nos mensageiros do vento que a sra. Pardo tinha pendurado no beiral.

Pablo limpou as mãos na camisa.

– Jesus! No mês passado, você estava a fim. A fim de mim. Por que começou a me odiar de repente? Foi isso o que todo mundo me avisou? Esse é um clássico de Roberta Pardo?

Um clássico de Roberta Pardo. As palavras ecoaram, dolorosas, em meus ouvidos, um refrão que eu ouvira muitas vezes nas últimas semanas. De meu novo ponto de vista, tinha começado a perceber como tratava mal os outros.

– Eu não odeio você – protestou Dulce. – Eu só...

– Quer saber? Eu não ligo. – Pablo bateu as mãos espalmadas contra as laterais das pernas e se levantou. – Acabou. Eu não quero suas desculpas. Não vou mais cair nos seus jogos. Isso foi exatamente o que você fez com o Alfonso. Eu deveria ter me tocado.

Emma recuou diante da aspereza da voz de Pablo – e da menção ao irmão de Belinda.

Alfonso. Ouvir aquele nome fez seus olhos escuros, maçãs do rosto altas e cabelo escuro desgrenhado passarem por minha mente. E então, vi outra coisa: uma imagem de nós dois parados no pátio da escola. Lágrimas corriam por meu rosto enquanto Alfonso falava comigo em um tom urgente, como se tentasse me fazer entender alguma coisa, mas a lembrança se desfez, embora eu tentasse segurá-la.

Dulce se esforçou para controlar a voz.

– Não sei o que você pensa que eu...

– Quero meu jogo Grand Theft Auto de volta – interrompeu Pablo, virando-se para o gramado impecável dos Pardo. Um labrador preto levantou a pata em um freixo. – Está no seu PS3.

– Vou procurar – murmurou Dulce.

– E acho que também não preciso disso. – Pablo tirou um ingresso longo e fino da sacola. Baile de Dia das Bruxas da Semana de Boas-Vindas, dizia em letras que pareciam derreter. Ele o empurrou para ela quase com violência, depois se aproximou até estarem praticamente se tocando. Seu corpo tremia com o que parecia ser energia reprimida e pronta para explodir. Dulce prendeu a respiração, totalmente consciente de que não sabia o que ele podia fazer em seguida. – Tenha uma boa vida, Roberta – sussurrou Pablo, com a voz gelada. Suas chuteiras estalaram alto quando ele saiu batendo os pés pela entrada da garagem, montou em sua bicicleta e foi embora.

– Tchau – sussurrei para suas costas que se afastavam.

Aquilo correra bem. Tecnicamente, fora o primeiro término da vida de Dulce – todos os seus relacionamentos anteriores tinham terminado em amizade mútua ou esfriado naturalmente. Era compreensível que todo mundo achasse aquilo horrível.

Abalada, Dulce se virou para entrar. Enquanto atravessava a varanda, um SUV esportivo branco na rua chamou sua atenção. Ela estreitou os olhos e viu um relance de cabelo louro através do para-brisa. Mas, antes de conseguir distinguir um rosto, o carro saiu em alta velocidade, sumindo em uma nuvem de fumaça do cano de descarga.

Dulce encontrou Taylor na cozinha, cortando uma maçã em fatias finas.

– Conhecemos alguém que tenha um SUV esportivo branco? – perguntou ela.

Taylor a encarou.

– Além das Gêmeas do Twitter?

Dulce franziu a testa. As gêmeas moravam do outro lado da cidade.

– Então? – perguntou Taylor. – O que aconteceu com Pablo? – Havia uma expressão presunçosa em seu rosto. Agora ela quer conversar, pensou Dulce amargamente.

Dulce andou até a ilha da cozinha e enfiou uma fatia suculenta de maçã na boca.

– Acabou.

A expressão de Taylor se suavizou um pouco.

– Você está bem?

Dulce enxugou as mãos no short de tênis.

– Vou ficar. – Ela olhou para Taylor. – Acha que ele vai?

Taylor mordeu uma fatia de maçã e olhou para o quintal pelas portas de vidro.

– Não sei. Pablo sempre foi um enigma para mim – disse ela por fim. – Sempre me perguntei se havia algo mais por trás da fachada.

Dulce estremeceu, pensando em como Pablo tinha se aproximado dela na varanda.

– Ah, não sei. – Taylor fez um gesto despreocupado com a mão, como se repentinamente tivesse se lembrado de que não estava falando com Dulce naquele dia. Ela empurrou uma pilha de cartas pela mesa. – São para você.

Depois, Taylor se virou e saiu pelo corredor. Enquanto Dulce olhava os catálogos distraidamente, pensando na visita de Pablo e nas palavras assustadoras de Taylor um envelope com a logo de um banco no canto superior chamou sua atenção. AMEX BLUE, dizia a etiqueta. Estava endereçado a Roberta Pardo.

A respiração de Dulce ficou presa na garganta enquanto ela o rasgava para abrir. Era a fatura do cartão de crédito de Rpnerta do mês do assassinato. Com os dedos trêmulos, ela desdobrou o papel e esquadrinhou a coluna de débitos de agosto. CBGB... Sephora... Walgreen’s... AJ’s Gourmet Market. Então seu olhar recaiu sobre um débito de 31 de agosto. Oitenta e oito dólares. Clique.

Seus nervos ficaram à flor da pele. Clique. A palavra repentinamente pareceu agourenta, como o som da trava de segurança de uma arma sendo solta.

Dulce pegou o telefone de Roberta na bolsa. Christopher atendeu no segundo toque.

– Não marque nada para hoje à noite – sussurrou Dulce. – Acho que conseguimos algo.