Fanfic: Exílio | Tema: RBD
Às seis horas da manhã tudo começava novamente: um sino tocava e era o momento de começar mais um dia de vigilância extrema sobre todos os comportamentos, sobre todos os pensamentos. Começava toda a atenção, todo o cuidado. Dulce acordou sobressaltada devido ao barulho alto e ouviu os três garotos acordando assustados nos quartos vizinhos. Ela se levantou soltando um suspiro, pensando no longo dia que acabara de começar.
Todos os adultos da Casa 14 tinham uma suíte, o que facilitava o cumprimento de horários, principalmente pela manhã. Todas as suítes tinham um quadro de tarefas, o qual Dulce checou ao se levantar. Hoje era seu dia de preparar o café. Outro suspiro encheu o espaço enquanto ela se arrumava e se encaminhava até a cozinha.
A caixa da manhã já havia chegado, como de costume acontecia pontualmente às seis horas, com os suprimentos para a primeira refeição e ela deveria fornecer sua digital para abri-la e retirar os produtos. Ovos, laranjas, pão, leite e café para a terça-feira. Cada refeição tinha uma série de itens rigorosamente contados que pretendia suprir as necessidades dos moradores das casas, de forma que não lhes faltassem nutrientes. Dulce revirou os olhos ao pensar nessa rigidez.
Enquanto preparava o café, alguém passou por ela dando-lhe um beijo no topo da cabeça e sussurrando.
- Bom dia, Dul.
Era Christopher. Ele se sentou à mesa em silêncio, esperando que chegassem os outros moradores, porém com os olhos fixos em Dulce, que olhou pra ele com um pequeno sorriso nos lábios como forma de resposta. Algum momento depois, o cômodo começou a ficar pequeno: chegaram Anahí com seu pequeno e doce menino Manu, Christian, Poncho e seu pequeno e falante Dani. Os meninos tinham cinco anos e as regras de conversas baixas ainda não se aplicavam a eles, o que fez com que o ambiente se tornasse um pouco menos mórbido.
- E não é justo - Dizia Dani, exasperado, enquanto Poncho o ajudava a sentar na cadeira e terminava de calçar-lhe os sapatos - Eles sempre fazem isso com a gente e temos que ficar quietos!
- Você tem que ter paciência, Dani - Poncho sussurrava - Não pode ficar dando corda para esses garotos. Saia de perto, porque você não pode se meter em encrenca.
Dani parecia furioso e Dulce pensava quanta fúria cabia contida dentro de uma criança de cinco anos. Colocando o café-da-manhã na mesa, ela notou que Maite e Artur ainda não tinham aparecido. Maite estava ainda em sua suíte, lutando contra uma criança de quatro anos que não a deixava vesti-la. Artur foi diagnosticado pelos médicos do Controle há dois anos com Autismo Leve, o que fazia com que ele tivesse algumas regras próprias a seguir, e vestir-se quando não queria não estava nessas regras. Dulce abriu a porta devagar e entrou, sentando-se ao lado de Maite, que parecia desesperada com a situação.
- Artu, vamos, filho, você precisa ir ao colégio e eu preciso ir trabalhar. Temos horário, não podemos ficar assim todos os dias… - Maite sussurrava numa tentativa de acalmar e incentivar o menino, o qual continuava lutando.
Dulce olhou em volta, procurando o brinquedo favorito de Artur, um dinossauro de pelúcia. Conseguiu encontrá-lo debaixo da cama e o entregou ao menino. Ele se distraiu por um momento, dando a oportunidade à mãe de terminar de vesti-lo. Ela agradeceu silenciosamente a amiga.
A mesa de café estava completa exatamente às seis e meia. Dulce ouviu a porta batendo seguido da inconfundível voz do fiscal da casa, Andrés.
- Bom dia, Casa 14 - O fiscal entrou na cozinha começando a fazer anotações - Vejo que hoje todos cumpriram os horários. Muito bem, tenho recados.
Já era esperado. Todos os dias os recados matinais correspondiam às ordens do Controle sobre a casa, desde compromissos agendados, até relembrá-los de assistir ao noticiário obrigatório. Dulce não conseguia olhar para Andrés enquanto ele ditava as ordens, sentia uma certa aversão a essa ladainha e a todas essas privações, porém escutava atenta a fim de evitar qualquer tipo de punição sobre a casa.
- ...tem atividades pela tarde com a terapeuta ocupacional, correto? E Dulce, você hoje grava pela manhã e tem folga pela tarde, então vai acompanhar Artur. Ele deve estar às duas horas no consultório. E aqui - Ele estendeu um papel a ela - estão as permissões de acesso à via pública. A consulta termina às cinco horas, voltem imediatamente. Entendido?
Dulce assentiu em silêncio, com os olhos fixos em seu café.
- Sua gravação hoje será um comercial para o Controle. Aqui está seu roteiro.
Novamente, ele estendeu alguns papéis, ela os recebeu. Dulce permaneceu em silêncio até que todos os recados fossem passados e todas as ordens dadas. Ela ouviu o momento em que Andrés deixou a casa e quando Dani, desta vez acompanhado por Manu, voltou a reclamar da escola e então se sentiu confortável para levantar os olhos da caneca de café. Todos pareciam igualmente incomodados com as regras, mas ninguém ousava dizer. Um a um, os membros da casa foram se levantando liderados pelos que eram pais, pois ainda deixariam os filhos na escola, devidamente munidos das respectivas permissões de acesso à via pública.
***
Ir ao trabalho era outra missão complicada dentro da rotina rigorosa dos que faziam parte do grupo de exilados montado pelo Controle. Todo o grupo devia estar pontualmente às sete e meia em seus respectivos afazeres, o que queria dizer que todos estavam nas ruas a essa hora, o que significava que a fiscalização era bem mais intensa para que nenhum exilado “espertinho” tentasse alguma ação contra o Controle.
Nas ruas, as regras eram muito simples: cada um devia ir até seu trabalho seguindo o caminho proposto desde o primeiro dia. Mudanças de rotas podiam acarretar punições à Casa. Não era permitido que as crianças andassem sozinhas; não era permitido sair às ruas sem um documento que permitisse fazê-lo; não era permitido conversas entre membros de casas diferentes; e, por último, não era permitido conversas na língua nativa. O Controle era bem rígido em relação a essa última regra, tendo em conta que um dos objetivos da instituição era unificar culturas. Na unificação, ficou estipulado que a língua oficial do novo país era o Inglês, embora os exilados pudessem falar em suas línguas nativas, mas bem pouco, bem baixo e quase imperceptivelmente dentro de casa.
O estúdio onde Dulce costumava gravar não era longe e ela conseguiu cumprir com o horário sem grandes dificuldades, reportando-se ao diretor. O roteiro desse dia era bem diferente do que ela já tinha feito desde o dia em que chegou no exílio: antes, ela tinha feito parte de filmes com roteiros específicos que tratavam de valores culturais que seriam impostos à Sociedade Nova e esses filmes seriam apenas expostos aos habitantes da Maior Colônia. Não era tão ruim. O roteiro de hoje, por outro lado, era um comercial que exaltava o Controle. Segundo as palavras do diretor, esse comercial deveria ser impecável, porque toda a Sociedade Nova o veria, os antigos, os novos, a Colônia, e também seu país de origem. Dulce tremia ao sentir o escárnio e a humilhação queimarem ao imaginar sua família assistindo a ela num ato de apoio ao Controle, porém seguiu à risca as instruções e fez o seu melhor trabalho, evitando qualquer punição. Não via a hora de poder voltar à Casa, de poder fechar-se em seu mundo.
As horas se arrastaram com grande dificuldade até que Dulce foi liberada para a primeira folga da semana. Cada membro da casa tinha seus dois dias de folga: duas tardes na semana e um domingo completo. Na Casa 14, essas folgas eram esquematizadas de forma que sempre houvesse dois adultos acompanhando as três crianças pela tarde, e um domingo que todos podiam compartilhar. Essas folgas eram as únicas possíveis, a não ser que houvesse uma permissão assinada pelo médico do Controle. Para Dulce, as folgas aconteciam nas terças e sextas, sendo que nas terças ela acompanhava Artur em seus compromissos médicos, e nas sextas, ela se responsabilizava por Dani e Manu.
Dulce e Poncho, que também teria folga naquela tarde, chegaram à Casa juntos, depois de terem buscado as crianças na escola. A caixa do almoço já estava na cozinha, com o receptor de digitais aceso, esperando que Poncho retirasse os mantimentos de lá, uma vez que ele faria o almoço. Feijão, milho, carne de porco, brócolis, tomate e limões. Poncho começou a fazer sua tarefa após trocar algumas palavras com Dulce sobre as crianças, e ela acompanhou os meninos até a sala, onde fariam os deveres de casa, segundo o quadro de rotina.
- Como foi o dia de vocês? - Sussurrou Dulce, tentando espantar o humor triste.
Manu prontamente respondeu, com ar preocupado.
- Artur chorou muito na escola.
- Os meninos maiores roubaram os fones de ouvido dele - Completou Dani, novamente irritado com os acontecimentos escolares - Nós tentamos pegar de volta, mas não conseguimos.
Dulce notou algumas marcas roxas nos braços de Dani e Manu, assim como os olhos inchados e as mãos nervosas de Artur. O garoto foi presenteado pelo Controle com fones de ouvido com supressão de ruídos, medida orientada pelo médico para quando se sentisse incomodado com o barulho à sua volta. Na escola, era o que o mantinha tranquilo durante os intervalos das aulas, mas sem isso seria complicado tranquilizá-lo.
- E vocês foram recuperar esse fone de que jeito? - Ela continuou falando em voz baixa.
- Nós pedimos de volta, tia - Respondeu Manu - Mas eles nos bateram.
- E eles sempre provocam a gente - Completou Dani, de cara fechada.
Dulce suspirou. Odiava ver os meninos sofrendo nas mãos dos garotos mais velhos da Maior Colônia, que tratavam crianças exiladas como lixo. Infelizmente, exilados não tinham voz na Sociedade Nova, sendo assim, acabou aconselhando os meninos a não brigarem mais, por mais que achassem a situação injusta.
- A gente pelo menos tentou pegar o fone de volta. Como vamos fazer agora com o Artur, hein? Ele vai chorar a aula toda! - Disse Dani.
- Nós vamos pedir a Andrés que providencie fones novos. Ele tem o pedido e a autorização do médico, não se preocupem. - Ela tentou sorrir para acalmar os garotos, enquanto revirava a mochila de Artur, procurando a agenda com as instruções da professora - E vamos, vocês têm lições, não tem?
Os meninos reviraram os olhos, tirando uma risada leve de Dulce. Ela checou a agenda de Artur, colocou os materiais necessários na mesa e pediu gentilmente ao garoto que fizesse suas atividades. Ele atendeu ao pedido por um momento, se cansando rapidamente depois de todo o estresse passado com o episódio do fone. Dulce o acalmou, abraçando-o forte, até que Poncho anunciou o almoço.
***
O quadro de rotina de Dulce ainda tinha mais três atividades obrigatórias nesse dia, e uma delas envolvia andar pelas ruas com um garotinho de quatro anos irritado e incomodado, contando com a sorte de que nenhum fiscal os parasse durante a rota até o consultório. Nesse dia a sorte não estava ao seu lado.
Artur era uma criança que mantinha poucos vínculos afetivos. Um deles era Maite, sua mãe. Outros dois eram Dulce e Christopher. Ela, por sua vez adorava o garoto, ele era carinhoso a seu modo e até mesmo falante com quem tinha maiores vínculos, porém tudo era diferente quando ele estava de mau humor. Como hoje de fato não era seu dia de sorte, Dulce passou todo o caminho tentando acalmar uma crise nervosa de Artur, na qual ele chorava e gritava incomodado com o barulho das construções, dos carros, das caixas de sons que ditavam as regras nas ruas. Ela tentou pegar o menino no colo no momento em que um fiscal se aproximou.
- Senhorita, as permissões de acesso às vias públicas.
Dulce estendeu as duas permissões ao fiscal enquanto tentava segurar Artur no lugar.
- Correto. - Assentiu o fiscal, devolvendo os papéis. - Agora faça esse menino se calar, ou quer levar uma punição?
Dulce fechou os olhos, contendo a raiva, e revirou a bolsa novamente. Com a permissão especial de Artur, o fiscal teria a prova de que acalmar o garoto não era uma tarefa fácil. O oficial atirou-lhe de volta o documento, fazendo anotações nos papéis que levava com ele. Claramente Dulce tinha conseguido uma punição sem ter feito nada que não fosse permitido.
Ela foi liberada e seguiu caminho com Artur no colo, chegando ao consultório com atraso. A terapeuta do Controle a advertiu e levou o menino, deixando-a sozinha na sala de espera. Passaram-se oito horas desde que ela tinha se levantado da cama e pelo menos sete horas foram de puro estresse. Ela suspirou e seguiu com seus pensamentos, olhando a parede. O dia ainda seria longo.
***
A Casa 14 tinha algumas tradições dentro do que eles chamavam de “Cuidar da Saúde Mental”: eram algumas brincadeiras que eles faziam entre si desde quando trabalharam juntos no país de origem, quando a agenda era apertada e eles não tinham muito tempo livre para descansar e de fato cuidar da saúde mental. Uma das brincadeiras era nomear um momento do dia como seu, tornando assim o momento preferido e pontuando coisas boas que aconteceram com cada um. Eles tinham que descrever seu momento e finalizar com a frase “Esse momento é meu”. Dulce tinha uma resposta padrão quando a brincadeira acontecia na mesa de jantar:
- Cheguei em casa e logo é hora de dormir. Esse momento é meu.
O momento de não ter atividades obrigatórias era o favorito de Dulce, ganhando disparado de passar tempo com os outros membros da casa. Não porque eles não se dessem bem, pelo contrário, eram uma família. Mas estar com eles lembrava a Dulce que eles estavam longe de seu país, de sua casa, de sua família há pouco mais de quatro anos, o que a levava a não se sentir bem e querer se afastar dos membros da casa para lidar com sua tristeza sozinha. O momento de não ter atividades obrigatórias significava que ela podia se retirar a seu quarto e podia ficar com seus pensamentos, com seus sentimentos, com o que ela quisesse fazer sem se preocupar com as regras. E esse momento acabava quando ela dormia, uma vez que logo acordaria com o chamado do Controle novamente e a rotina recomeçaria.
O momento do jantar, porém, ainda era um atividade obrigatória, visto que no exílio as áreas comuns das Casas eram fiscalizadas, bem como o noticiário obrigatório a todo cidadão da Sociedade Nova. Todas as noites, os repórteres do Controle reforçavam as diretrizes do novo modo de organização da sociedade tanto para os próprios exilados, quanto para a Sociedade Nova toda, o que incluía a Maior Colônia e os países de origem dos exilados. O noticiário acontecia em momentos, sempre na mesma ordem: história da Sociedade Nova; regras e direitos da Sociedade Nova; regras e deveres do Exílio com suas respectivas punições; Casas que quebraram as regras e suas punições; dias de exílio recorrentes; notícias da Sociedade Nova.
À medida em que os membros da Casa iam terminando a refeição, Poncho e Dulce, que eram os encarregados da organização no horário do jantar por terem a tarde de folga, adiantavam o trabalho de arrumar a cozinha. O último compromisso começava marcado pela música de abertura do noticiário, que dava tempo para que todos fossem sentar em frente à televisão.
- Boa noite, Sociedade Nova! - Começou o repórter. - Começa hoje, vinte e nove de março, mais um noticiário do Controle. A Sociedade Nova teve início há cinco anos, com a assinatura do Tratado Novo, que permitiu a gloriosa unificação das antigas Américas Latina e do Norte em uma grande e pacífica pátria. O Tratado nos trouxe uma nova oportunidade de vida, com formas mais dignas de escrever nossa história, unificando não apenas o território, como também nossa cultura, mantendo os bons costumes e aniquilando os ruins.
Dulce revirou os olhos ao ouvir o discurso do apresentador. Aniquilar os costumes ruins significava acabar com qualquer vestígio de cultura latina.
- Esse momento é de adaptação para todos - prosseguiu o repórter - Nossa Maior Colônia tem o privilégio de ser responsável por disseminar entre os países de origem essa cultura e esses valores tão bem quistos na nossa sociedade. Em nossa Sociedade Nova, todo cidadão tem o direito de aprender tais valores e regras morais e sociais, tem o direito de ensinar a quem ainda tem costumes selvagens. Os novos cidadãos têm total direito de ter um tutor que ensine e oriente. Esse é o compromisso do Controle, nossa instituição de fiscalização: manter uma sociedade boa e moral entre os cidadãos de bem. É também compromisso do Controle tirar as más influências de perto dos nossos cidadãos e moldá-los para que influenciem de maneira positiva, e não negativa como vinham fazendo.
Na Casa 14, o único som que se ouvia além do noticiário eram leves suspiros. Todos eles eram as “más influências” da sociedade atual. Todos eles estavam em uma espécie de programa de reabilitação moral, no qual eles eram forçados a comportar-se da forma que o Controle ditava, ameaçados por punições.
- O Exílio abriga esses influenciadores, que passam por aulas mais intensas e urgentes. Nada lhes falta, cidadãos da Sociedade Nova. Eles trabalham, eles têm um teto, têm comida e conforto. O Controle apenas lhes pede que aprendam e que provem ser cidadãos da Sociedade Nova antes de que voltem às rotinas normais. E visando essa aprendizagem, nossos governantes, os quais prezam a transparência e a verdade, deixam disponíveis as regras do Exílio para que todos as conheçam e aprendam como se comportar na nossa sociedade. Aos moradores do Exílio, o acesso à via pública é restrito para quem tem a permissão com dia e horário. O acesso, embora possa acontecer ao mesmo tempo a vários de vocês, é solitário, não deve ser compartilhado, logo, fica vetada a comunicação entre exilados em via pública. Os horários de seus deveres são previamente estipulados e devem ser cumpridos.
Todos agora se entreolhavam desconfiados, estranhando o formato do noticiário. A informação diária sempre acontecia no mesmo formato, ou seja, as regras eram sucedidas das respectivas punições. Mas não hoje. Algo estava errado.
- É terminantemente proibido o uso das línguas de origem em domínio público. É proibido o bloqueio da fiscalização, seja com sons altos, com supressão das imagens ou com impedimento dos fiscais. É proibido sair do Exílio. A lista de regras complementares foi entregue a cada Casa, levando em conta particularidades. São 1549 dias de exílio. - O repórter respirou fundo antes de continuar. - E, sendo hoje um dia especial na nossa Sociedade Nova, hoje que completamos cinco anos de Sociedade, o Controle esteve reunido atualizando as punições.
Hoje. Não. É. Um. Dia. Bom.
- A partir de hoje, os exilados que forem vistos por um fiscal andando pela via pública sem a autorização, receberão a punição de pagamento de uma caixa de refeição diária por uma semana.
Dulce sentiu que o ar tinha ficado mais frio e difícil de tragar. Era difícil conviver com o risco de punições, mas nunca tinha faltado nada para os exilados, por maiores dificuldades que passassem. A ideia de perder itens essenciais era absurda, até mesmo para o Controle.
- Trocar informações em espaços públicos será punido também com uma caixa de refeição diária por uma semana. Os exilados terão uma cota de não cumprimentos de tarefas, sendo que ao completar três notificações, perderão as folgas semanais por três semanas. Os exilados notificados pelo uso de língua de origem em locais públicos serão punidos com o pagamento de sete caixas de refeição, a serem definidas pelo Controle. O bloqueio da fiscalização deverá ser pago com nove caixas de refeição a serem definidas pelo Controle. Por último, a tentativa de saída do Exílio é punida com morte. As punições de regras complementares serão enviadas às Casas juntos às caixas do café da manhã. Confiram agora as situações das Casas do Exílio.
Esse era o momento de maior tensão do dia. Os moradores do Exílio se atentavam em saber qual regra poderiam ter quebrado e qual punição receberiam. Dulce sentia o coração apertado, recordando o olhar severo do fiscal que a parara mais cedo na via pública, sabendo que os fiscais nem sempre (quase nunca!) eram honestos em suas marcações, visando punir os exilados apenas pelo prazer de punir exilados.
A lista de Casas era composta por cinquenta delas e o repórter chamava calmamente uma a uma, especificando número de moradores, o delito e a punição. Quanto mais moradores, maiores as chances de alguma confusão acontecer. O grupo da Casa 14 teve sorte de já terem compartilhado muitos momentos antes do Tratado, o que fez a convivência bem mais fácil, apesar de serem nove pessoas na mesma Casa; outros exilados não tiveram a mesma sorte, vindos de países de origem diferentes e nunca tendo convivido antes.
- ... cinco moradores. Faltas. Nenhuma falta. Situação regularizada. Casa 14, nove moradores. Faltas. Notificação por atraso de compromisso, uma advertência. Notificação por uso de língua de origem em via pública, pagamento de sete caixas de refeição, a serem definidas pelo Controle. Casa 15, sete moradores…
O silêncio era incômodo, embora nenhum deles conseguisse pronunciar nenhuma palavra. O pagamento de sete caixas de refeições significava que toda a casa não comeria em sete refeições. A serem definidas pelo Controle significava que o Controle decidiria quais seriam essas refeições, e podia ser uma refeição por dia, ou dois dias sem comer, mesmo tendo crianças em casa.
Encerrado o noticiário, Dulce sentia que explodiria a qualquer momento. Ela se levantou imediatamente dando por cumprido seu último compromisso do dia e foi para seu quarto sem nenhuma comunicação com os outros membros da Casa, embora eles comentassem baixo o que acabara de acontecer. Deitada na cama, não podia parar de pensar num filme que contava a história da sua vida, desde momentos ótimos antes do Exílio, até momentos ruins, depois do Exílio. Nada se comparava ao sentimento de culpa por prejudicar toda a casa, mesmo sabendo que estava em uma situação justificada e regularizada. Era injusto. Era cruel. Uma batida na porta desviou seus pensamentos:
- Dulce? - Sussurrou Christopher.
Ele entrou devagar, fechando a porta atrás de si. Deitou ao seu lado na cama, olhando para o teto, em silêncio. Dulce não queria que ele tivesse procurado por ela, estava a ponto de chorar e queria ficar sozinha, mas, ao mesmo tempo, não queria dizer a ele que saísse. As lágrimas aprisionadas queimavam seus olhos, mas antes que ela pudesse dizer alguma coisa, ele falou primeiro.
- Eu acho o seu quarto o mais aconchegante, por isso vim. - Ela continuou em silêncio - E sei que você não quer conversar agora, mas eu queria poder ficar aqui um pouco e compartilhar uma coisa. Posso?
Ela assentiu.
- Em minhas últimas folgas, estive com Mai e Poncho. Nós conversamos um pouco sobre estar aqui por tanto tempo, sem esperanças de voltar, com essas punições e as humilhações todos os dias. E acabamos de conversar novamente, agora que as regras mudaram. Precisamos sair daqui.
Autor(a): catarinapereira
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℘ Notas iniciais: Olá pessoal! Deixem eu me apresentar melhor. Eu sou Catarina Pereira. Faz algum tempo que eu comecei a escrever fanfics, mas eu nunca tinha me aventurado a postar por aqui. Minha maior inspiração é o RBD, sou fã há tanto tempo! haha Essa história eu venho pensando há muito tempo, mas por conta ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 16
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tahhvondy Postado em 17/02/2019 - 01:48:24
continua curiosa
catarinapereira Postado em 07/07/2019 - 18:36:36
Menina, agora foi!
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hittenyy Postado em 16/02/2019 - 23:57:44
Menina tô amando a história estou um pouco bugada em relação ah pq eles são Obrigados a ficar nessa casa ?Porque eles foram para ir ,e além do maia eu quero AyA tá pela amor eu quero Ponny juntos❤
catarinapereira Postado em 07/07/2019 - 18:36:15
Ah, sobre Ponny: na história, Ponny não tem como ficar juntos IAHUIHi sinto muito, ambos são casados com outras pessoas.
catarinapereira Postado em 07/07/2019 - 18:35:28
AHUIA calma, é assim: eles foram levados pra lá pelo novo governo. Eles não podem sair porque estão em 'treinamento', digamos assim. Obrigadíssima por ler <3
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karla08 Postado em 28/06/2018 - 15:34:20
OMG ja amo essa historia, não para S2
catarinapereira Postado em 07/07/2019 - 18:37:56
Demorei mas to aqui, amém. Continuando
catarinapereira Postado em 16/02/2019 - 23:20:25
Tempo tá dificil, mas eu sigo escrevendo devagar e sempre
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karla08 Postado em 26/06/2018 - 22:34:04
cadeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee?
catarinapereira Postado em 28/06/2018 - 12:10:31
chegandooooo
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karla08 Postado em 20/06/2018 - 02:11:08
continua plm
catarinapereira Postado em 28/06/2018 - 12:10:14
Continuandoooo!! Desculpe a demora :P
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astrogilda Postado em 13/06/2018 - 00:39:02
Continua please
catarinapereira Postado em 14/06/2018 - 12:31:36
Oláá!! Vou postar daqui a pouquinho o segundo capítulo. Obrigada por ler!!
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candyle Postado em 13/06/2018 - 00:11:57
Aaaaaaaaaa Continuaa*-*
catarinapereira Postado em 14/06/2018 - 12:32:16
Vou continuar! Daqui a pouquinho vou postar o segundo capítulo. Obrigada por ler!