Fanfic: Mentira Perfeita - Vondy (Adaptada) | Tema: Vondy

Dulce

Christopher olhava para mim como se buscasse uma luz. E eu não tinha nada para oferecer. Sair pela escada de emergência com uma mulher cardíaca e três senhoras com mais de sessenta anos não parecia uma boa ideia.

Balancei a cabeça para ele, me desculpando.

Ele aquiesceu discretamente.

— É claro, vamos subir — concordou, por fim.

Passamos pela portaria e eu cumprimentei seu Emerson com um tchauzinho rápido. Christopher apertou o botão do elevador.

— Xi, esqueci de avisar! — seu Emerson gritou de trás do balcão da portaria.

— O elevador parou, seu Christopher. Já chamei os técnicos.

— Vamos pelo elevador de serviço mesmo — seu Victor sugeriu.

— Não dá. — Christopher se esforçou para não sorrir. — Só tem um elevador neste prédio.

Eu quase caí de alívio. Nunca me senti tão contente por Christopher ter escolhido aquele prédio antigo.

— E agora, o que vamos fazer? — dona Alexandra arfou.

— Podemos ir comer alguma coisa — Christopher sugeriu. — Estou morto de fome. Devem resolver o problema até a gente voltar.

— Excelente ideia — comentei. — Enquanto isso eu fico aqui e arrumo tudo.

— Não, minha querida — interveio Victor. — Você precisa comer também.

— Mas...

— Ele tem razão. — Alexandra tocou meu braço. — Você precisa comer também. Olhei para Christopher em busca de ajuda, mas tudo o que ele fez foi sorrir.

— É, Dulce. Vamos comer. Mais tarde a gente vê como as coisas ficam.

— Mas... — Parei de falar quando ele fez um pequeno aceno com a cabeça. — Tá bem. Só preciso dar um telefonema antes.

— Nosso carro está estacionado logo ali. Vamos indo, filho? — Victor apoiou uma mão em seu ombro.

Christopher concordou e eles seguiram para a saída. Assim que os três passaram pela portaria, liguei para o celular de tia Berenice.

— Dulce, é a tia Berê.

— Eu sei, tia. Escuta, estamos com problemas. O elevador quebrou e os técnicos estão vindo. Não vai dar para o Christopher subir.

— Que coisa mais desagradável. E agora?

— Ainda não sei. Vamos sair para comer alguma coisa. Quem sabe até lá esteja tudo resolvido. Será que a Magda pode ficar até eu voltar?

— Ah, pode. O Christian saiu com uns amigos, e ela estava se queixando ainda agora de que não gosta de dormir naquele sobrado sozinha, agora que não estamos mais ali do lado, no caso de ela precisar de ajuda.

— Tá. Eu ligo mais tarde.

— Eu preferiria que não. Eu e as meninas estamos nos divertindo muito. Inês e eu já batemos duas vezes. Ficar parando para atender o telefone pode espantar a minha sorte. Beijinhos, Dulcezinha. — Desligou.

Quase ri. Tia Berê, com todos os seus problemas e limitações, se divertia em uma noite de segunda muito mais do que eu em um mês inteiro.

Eu nunca tinha ido àquele restaurante, mas aparentemente a família Uckermann era frequentadora assídua, percebi, quando um dos garçons cumprimentou Christopher com bastante euforia. O lugar tinha o clima familiar bem típico das cantinas italianas. Fomos levados para uma mesa comprida próxima às janelas.

Eu me sentei entre Christopher e uma cadeira vazia, porque ficar ao lado de sua mãe me pareceu errado. Os pais dele fizeram muitas perguntas a ele e eu me ocupei em olhar o cardápio, me sentindo muito deslocada. Sobretudo porque tinha uma vela erótica dentro da minha mochila.

— Já escolheu? — Christopher me perguntou.

— Não.

— O ravióli daqui é muito bom — opinou seu Victor.

— Então, Dulce. Como o Christopher anda se comportando? — Alexandra quis saber, tentando manter a ansiedade sob controle, e falhando.

— Hã... Muito bem. Ele tem ido à faculdade. Não faltou nenhuma vez. — Ou pelo menos eu esperava que não.

— Isso é bom — ela anuiu. — Ele se queixou de alguma dor ou...

— Mãe — Christopher grunhiu, frustrado.

— Como vou saber se você está mesmo bem como diz, se nunca me conta a verdade? — ela objetou.

— Mas eu sempre digo a verdade.

— Não toda ela — o pai replicou.

— Boa noite.

Todas as cabeças se viraram.

— Ah, merda — Christopher praguejou baixinho, fechando a cara.