Fanfic: Mentira Perfeita - Vondy (Adaptada) | Tema: Vondy
Dulce
Acordei enroscada em Christopher, ainda no tapete da sala. Uma nesga de luz amarelada e quente tocava minhas costas nuas. Eu me aconcheguei mais a ele e deslizei os dedos nos pelos macios de seu peito, inalando seu aroma.
Uma mistura inebriante de suor e óleo adocicado recobria sua pele escorregadia. Assim como a minha.
Senti minhas faces se afoguearem.
De uma coisa eu estava certa: jamais conseguiria olhar para qualquer vela que fosse sem ficar vermelha.
Apoiei o queixo em seu tórax e o admirei em seu sono. Das sobrancelhas grossas à barba curta que recobria o queixo quadrado, o nariz reto, a boca larga e rosada.
O que aquela noite teria significado para ele?, me perguntei.
Provavelmente nada. Assim como não deveria significar para mim.
Éramos dois adultos, solteiros, que tinham compartilhado uma noite de prazer. Acontecia o tempo todo.
Mas, por mais que eu tentasse me sentir moderna e adulta, um eco barulhento berrava em minha cabeça que aquela noite poderia ser o começo de algo especial.
Confusa e temendo a maneira como ele poderia olhar para mim quando acordasse, me desvencilhei dele com cuidado. Eu não era boa com aquele tipo de conversa. Não era nada boa em explicar o que sentia.
Christopher inspirou fundo, mas apenas moveu a cabeça para o lado. Na pontinha dos pés, recolhi minhas roupas e fui para o andar de cima. Tomei um banho rápido — ou razoavelmente rápido; havia muito óleo para remover — e vesti uma das roupas que tinham ficado em meu armário.
Quando desci, Christopher estava acordado, já vestido, o cabelo meio úmido.
— Bom dia — ele saudou com um sorriso de canto de boca, que tanto podia significar alguma coisa quanto nada. — Onde a gente pode comer alguma coisa por aqui, já que a despensa está zerada?
— Tem uma padaria a duas quadras.
— Beleza.
Eu estava abrindo a porta quando um puxão me fez perder o equilíbrio.
Caí sentada no colo de Christopher. Seus braços ágeis se enredaram em minha cintura e minhas coxas, e sua boca estava sobre a minha antes que eu pudesse entender o que havia acontecido. Não que eu fosse reclamar, é óbvio.
— Esqueci de te perguntar ontem — ele disse ao interromper o beijo, afastando uma mecha de cabelo que tinha caído sobre meu olho e se enroscara na armação dos óculos. — Como anda a sua alergia?
— Pior do que nunca — confessei.
— Que bom! — Ele abriu um meio-sorriso. — Porque eu acho que também desenvolvi uma. Qualquer lugar que você toca fica em chamas.
— Em c-chamas?
Ele assentiu, resvalando a boca em meu pescoço.
— Agora, por exemplo, é como se eu estivesse dentro de uma fogueira.
Mas não consigo me controlar. — Seus lábios subiram um pouco mais, acompanhando o desenho do meu queixo. — É muito difícil estar perto de você e não te beijar.
— Difícil? — Ah, meu Deus!
— Muito difícil — frisou. Então ele me beijou de novo, até eu ficar dormente e fora do ar.
Quando ele libertou minha boca, precisei de um minuto para conseguir me levantar, pois minhas pernas haviam se transformado em gelatina.
— Podemos ir? — perguntou.
— Ah, sim. Claro. — Eu fui na frente, mas Christopher me fez parar quando chegamos ao portão e o abriu para mim. — Obrigada.
— Disponha. Pra que lado fica?
— Ah, não! — Praguejei ao ver Marlucy, com sua inseparável vassoura, vindo em nossa direção.
— Que foi? — Christopher acompanhou a mulher com os olhos.
— Você já vai entender.
— Dulce! Nossa, há quanto tempo não te vejo. Pensei que ia te ver ontem, mas você não voltou pra casa nova. Esse é o seu noivo? — Os olhos dela estudaram Christopher de cima a baixo. — Ah. Não sabia que ele era aleijado. O que ele tem? Foi alguma coisa na infância ou já nasceu assim?
— Por que a senhora não pergunta para ele? — resmunguei, irritada demais para tentar ser educada.
Ela franziu a testa, como se a ideia fosse absurda. Então se inclinou para Christopher, um sorriso benevolente na cara enrugada.
— Oi, meu bem. Como você está? — Bateu de leve no braço dele.
Christopher apenas a encarou, parecendo não saber como responder.
— Você consegue me entender? — falou alto e pausadamente.
Esperei que Christopher dissesse poucas e boas para ela — eu mesma já tinha um repertório bem grande querendo sair —, mas, em vez de gritar com aquela mulherzinha desprovida de cérebro, Christopher começou a latir.
E a rosnar.
Marlucy pulou um metro longe.
— Mas que diabos...! — ela cuspiu, de olhos arregalados.
Christopher continuou latindo.
— Calminha. Comporte-se. — Dei leves batidinhas no ombro dele. Isso o incitou mais ainda. Encarei Marlucy. — Ele fica assim sem os remédios.
Mas é um amor de pessoa, depois que toma um ou... três antipsicóticos.
Juro.
Christopher tentou morder meu braço. Dei um peteleco nele.
— Então é melhor eu ir andando. Tchau, dona Marlucy. — Segurei o apoio da cadeira e comecei a empurrar. Christopher, como a praga que era, se esticou na cadeira, tentando fincar os dentes na mulher. Ela saiu correndo e entrou em casa em tempo recorde.
Christopher e eu nos entreolhamos, e foi o que bastou para começarmos a rir descontroladamente.
— Você não devia ter feito isso, Christopher.
— Por quê? Aposto que ela vai te deixar em paz agora. Pelo menos quando eu estiver por perto. O que deve acontecer mais ou menos umas dezesseis horas por dia.
— Dezesseis? Eu trabalho, sabia? — Mas não pude deixar de sorrir. Ele me queria por perto.
— Eu também. Por isso disse dezesseis em vez de vinte e quatro. — Revirou os olhos. — Francamente, Pin. Você já foi bem mais inteligente.
Estou meio decepcionado.
— O que eu posso fazer? É como dizem por aí: diga-me com quem andas e ficará igualzinho a eles. — Dei dois tapinhas em seu ombro.
Seus olhos se arregalaram numa surpresa fingida.
— Você acabou de tentar fazer uma piada?
— Eu não tentei! Eu fiz uma piada.
— Uma muito, mas muito ruim.
— Ainda assim é uma piada. E a culpa é do meu professor. Eu sou apenas um subproduto da sua ironia distorcida e do seu sarcasmo desaforado. — Olhei significativamente para ele.
— Meu Deus! Eu criei um monstro! — Sua gargalhada gostosa ecoou pela rua e por meu peito, aquecendo-o. — Acho melhor a gente ir comer agora, antes que você tente fazer mais alguma piada que me faça querer explodir os miolos. Não quero ter que fazer isso de barriga vazia. — Empinou a cadeira de leve, se colocando na direção correta.
— Você nunca quer fazer nada de barriga vazia. — Comecei a acompanhá-lo.
— Mas é claro que não. — Ele ergueu aqueles incríveis olhos verdes para mim. E eles sorriam. — Nunca se sabe quando o mundo como o conhecemos pode acabar e podemos ser lançados em um apocalipse zumbi.
É melhor estar de barriga cheia.
Acabei rindo alto.
— Você anda assistindo a seriados demais.
Ele riu também, mas algo mudou em sua postura.
— Dulce, andei pensando...
Fiquei rígida. Aquele começo de frase podia ter milhares de continuações, e algumas delas me fizeram engolir em seco.
Autor(a): dulcete.vondy
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— ... será que você consegue tirar a sua tia de casa pelo menos na parte da manhã? — perguntou. — Meus pais vão querer conhecer o apê. Ah. Isso era algo com que eu conseguia lidar. — Acho que sim. Ela pode ficar na casa da dona Inês ou da Magda por um período. — Ótimo. Venho pegá-la ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 88
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eliiv Postado em 05/08/2020 - 01:20:08
Adorei q vc continuou.... acabei de ler e estou apaixonada e um pouco triste pois nao tem mais capítulos ... adoraria q tivesse 2 temporada
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anne_mx Postado em 22/12/2019 - 23:50:39
Comecei a ler essa fanfic e me apaixonei logo de cara, obrigada por não ter permitido que a história ficasse inacabada, foi linda a sua continuidade e o final então, foi incrível, meu sonho que tivesse um epílogo ou segunda temporada, PARABÉNS!!!!
dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:39:21
Muito feliz de saber que alguém voltou para ler, GRATIDÃOOOO ps.: Também adoraria que tivesse a continuação :/
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Srta Vondy ♥ Postado em 18/12/2019 - 04:25:51
Se eu disser que tinha pensado nessa fic hoje você acredita ? Muita coincidência cara Essa fic é perfeita e graças a Deus, tu finalizou ! Não sei se eu comentei antes mas entendo tua "frustação", é muito chato tu fazer algo e não ter nada p te orientar, nem mesmo uma crítica construtiva. Amei o final, foi muito bom tu ter mantido o Chris paraplégico, mostra que para viver e ter um amor não é preciso ser "perfeito", ficou muito. Queria muito q tivesse um epílogo contado como seria a vida deles casados e quem sabe com filhos... <3 Muito obrigada por todo o esforço que você teve p essa história ser adaptada e entregue p a gente se apaixonar, chorar, rir e muitas vezes tudo de uma só vez kkkk, muito obrigada mesmo e até a próxima história <3
dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:40:12
owwwwwwwwww, fiquei MUITO feliz com seu comentário, eu também gostaria que tivesse continuação :(((
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eliiv Postado em 01/05/2019 - 17:58:45
Continua... está muito bom! Tô adorando.
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cliper_rafa Postado em 09/04/2019 - 20:16:06
Aaaa, cadê você ? Desistiu ??????
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cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:54:30
Desanimando**
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cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:53:57
To desanimado de ler, poxa, gosto tanto dessa fic :(
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carolcasti Postado em 23/03/2019 - 09:25:43
Cadê vc? Desistiu da fic..... Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Plissssssssssssssssssssssssssssssss
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capitania_12 Postado em 15/03/2019 - 20:20:27
Aaaaaaah,continua logo por favooooooor
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cliper_rafa Postado em 14/03/2019 - 19:09:41
Naaaao, foi tão rápido, continua <3<3