Fanfic: Mentira Perfeita - Vondy (Adaptada) | Tema: Vondy
Dulce
Era fim de tarde quando entrei no apartamento de Christopher, sentindo a cabeça latejar. Tia Berenice e Magda estavam em frente à TV. Nenhuma das duas piscava. E mastigavam sem parar.
Meu Deus do céu.
— Tia Berenice! — Joguei a mochila sobre a mesa com estardalhaço. — Comendo bala de goma escondido!
Ela jogou o saco para Magda.
— Foi xó uma. Xuro! — falou, com as bochechas inchadas de doce.
Dei risada, mas peguei o pacote da mão de Magda e fui até a cozinha para jogá-lo no lixo. Voltei para junto delas e me sentei ao lado de minha tia.
— O que estão vendo? — eu quis saber.
— Gata em teto de zinco quente — ela contou. — O melhor do Paul Newman.
— Com certeza — Magda ecoou, os olhos fixos no homem na tela. — Sobretudo quando ele está furioso — suspirou.
— Acabou de começar. Vem aqui, Dul. — Tia Berê bateu a mão na coxa.
Eu me espreguicei no sofá, deitando a cabeça no colo dela enquanto Elizabeth Taylor gritava furiosa com Paul porque ele se recusava a fazer amor com ela e a ofendia, aconselhando-a a arranjar um amante. Tia Berenice arfou quando ele disse isso, como se aquela fosse a primeira vez que via o filme, e não a quinquagésima.
Fiquei ali, no colo dela, mas algo não parecia certo, por alguma razão.
Havia uma ansiedade dentro de mim, como se algo ruim estivesse prestes a acontecer. Tentei prestar atenção à tela e esquecer aquilo, mas conforme o relógio andava eu ficava mais e mais ansiosa. O filme acabou perto das oito, e Christopher não havia voltado para casa ainda.
Mandei uma mensagem perguntando se estava tudo bem, mas ele não retornou imediatamente, como era costume.
Consegui esperar quase uma hora antes de decidir ligar.
— Christopher, onde você...? — fui dizendo quando ele atendeu. Só que...
— É o Poncho.
Meu coração retumbou de medo.
— Ah. Oi, Poncho. É a Dulce. Está tudo bem com o Christopher?
— Não, não está. — Ele respirou fundo.
Fechei os olhos. Eu sabia. De alguma maneira, eu sabia.
— Ele está bem? Está ferido?
— Não, mas vai acabar se machucando se não parar de tentar se matar por exaustão. Olha, será que você poderia vir pra cá? Estamos na academia. Talvez ele ouça você, já que a mim ele não escuta.
Eu quis fazer muitas perguntas, mas estava assustada demais e queria ver Christopher o mais depressa possível. Avisei tia Berenice que ia me encontrar com ele (fazendo a melhor interpretação da minha vida ao sorrir como se aquilo fosse um encontro para uma possível reconciliação) e corri para a rua em busca de um táxi, pois era o jeito mais rápido.
Dessa vez não precisei de ajuda para encontrar a piscina, e fiquei surpresa ao encontrar Poncho de braços cruzados, recostado à parede, olhando com uma expressão furiosa para o irmão na água.
— O que aconteceu, Poncho? — perguntei, apressada.
— Ele vai preferir te contar. Só me ajude a fazê-lo sair da água. Ele vai acabar se matando desse jeito. Já está nisso há três horas.
Relanceei Christopher. Ele nadava num ritmo frenético. Estava fazendo isso havia três horas? Me espantava que ainda não tivesse apagado.
— Não sei se consigo convencê-lo de coisa alguma, Poncho.
— Se você não for capaz, vou ter que usar a força, e hoje eu não queria ter que fazer isso. Vai acabar com ele. — Uma sombra escura cruzou seu rosto. — Por favor, Dulce. Fala com ele.
— Eu... eu vou tentar.
Fui até a piscina com cautela e percebi que não estava usando o sapato certo quando escorreguei em uma poça. Recuperando o equilíbrio, me aproximei pé ante pé, tentando entender o que estava acontecendo, fazer as palavras de Poncho e as atitudes de Christopher terem algum sentido. Deduzi que eles haviam se desentendido ou algo assim.
— Christopher — chamei quando estava perto o bastante. Ele não me ouviu.
Continuou com as braçadas furiosas. — Christopher!
Ele diminuiu o ritmo, tirando a cabeça da água.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou, surpreso.
— Eu é que pergunto. O você tá fazendo?
— Nadando. Por quê? Também vai dizer que eu não posso?
Pisquei, alarmada com tanta rispidez.
— Não. Mas eu acho que toda essa água vai fazer mal para o seu cérebro. E nós dois sabemos que ele já não é dos melhores — tentei brincar.
Quase funcionou. Ele franziu a testa, meio sorriu, meio gemeu. Mas em segundos voltou à fachada irritadiça.
— Vai pra casa, Dulce. Hoje eu não vou ser uma boa companhia pra você. — Mergulhou, retomando as braçadas.
Observei Poncho por sobre o ombro. Com um gesto de cabeça, ele me incitou a continuar.
— Christopher, você já está ficando enrugado, sabia? Não é uma visão muito atraente.
Ele se deteve, me olhando com irritação.
— Qual parte do “vai pra casa” você não entendeu?
— Qual parte do “sai dessa porcaria de piscina agora” você não entendeu?
— Por que você está tão preocupada comigo?
Soltei um suspiro. Às vezes ele era tão idiota.
— Olha, não sei o que rolou entre você e o Poncho pra que você esteja assim tão chateado, mas se matar de exaustão não é a melhor maneira de revidar seja lá o que ele tenha dito ou feito. Já pensou em colocar uma bomba de tinta na pasta dele?
— Você não sabe de nada, Dulce. — Sua voz estava rouca, torturada.
— Pois é — murmurei, tentando ocultar a tristeza. — Porque você decidiu não me contar.
Ele bufou.
— Só quero ficar sozinho. É pedir muito? Deus, por que todo mundo acha que eu preciso de ajuda?
Eu me encolhi, magoada. Christopher, com sua estranha habilidade de adivinhar como eu me sentia, percebeu, pois socou a água e fechou os olhos.
— Desculpa. Eu não quis ser grosseiro com você, só... estou tendo um dia de merda. Por favor, vai pra casa. Eu só quero um pouco de espaço. Só me deixa quieto até as coisas se assentarem na minha cabeça, ok?
— Que coisas?
Ele balançou a cabeça, parecendo devastado.
— Só... vai pra casa, Pin. E leva o Poncho junto. — Ele se lançou na água com tanta fúria que parecia que ela o havia ofendido e que ele tentava exterminá-la com a força dos braços.
Seja lá o que estivesse acontecendo, era muito mais grave do que eu havia suposto. De maneira alguma eu o deixaria sozinho naquele estado. Eu precisava tirá-lo daquela piscina de qualquer jeito.
— Christopher! — Comecei a acompanhá-lo pela borda. Tive de acelerar o passo para alcançá-lo. — Tá legal. Sabia que, enquanto você ficou aí, nadando feito um maluco, perdeu uma das sessões de cinema antigo da tia Berenice? Você pode dizer o que quiser, mas eu sei que você se div... Ahhhh! — Meu pé esquerdo encontrou uma poça. Tentei recobrar o equilíbrio, mas não havia nenhum ponto onde eu pudesse me apoiar, e caí na piscina. Fui direto para o fundo, ou pelo menos achei que tivesse ido. Era profunda demais, e meus pés não encontraram o chão. Comecei a me debater. Os pulmões ardiam com o esforço antinatural de reter o ar dentro deles.
Estiquei os braços às cegas, buscando onde me agarrar. Deparei-me com um par de mãos grandes e as segurei como pude, lutando para subir à superfície. As mãos tentaram se desvencilhar das minhas, e, em meu desespero, só pude puxálas para mais perto, cravando as unhas para que elas não sumissem. Mas de que adiantava? Meus pulmões atingiram o limite, e eu abri os olhos e a boca. O grito mudo se transformou numa confusão de bolhas brilhantes, e mesmo assim pude ver o terror absoluto no rosto de Christopher. Foi nesse instante que a água penetrou meu nariz, minha garganta, meu esôfago e, por fim, meus pulmões. E então veio a escuridão. Um mundo negro onde nada existia. Nem mesmo eu.
Pressão. Muita pressão em meu peito. Tentei abrir os olhos para entender do que aquilo se tratava, mas não fui capaz, embora algo dentro mim tenha se agitado, querendo fazer o caminho contrário.
— Vamos! Respira, Dulce. Respira!
Mas eu estava respirando. Ou não?
Não, constatei. Então isso significava que eu havia morrido?
Tentei encontrar a pulsação que mantinha meus órgãos vivos. Tinha alguma coisa ali, mas era diferente, quase um eco.
— Não faz isso comigo. Respira.
Pressão, pressão, pressão. Sensação estranha na garganta. E de repente eu encontrei as batidas do meu coração, e com elas os meus pulmões, que começaram a queimar, como se milhares de agulhas os espetassem.
Subitamente o líquido subiu pelo esôfago e garganta. Um jorro de água saiu de minha boca entre espasmos involuntários que me fizeram me contorcer inteira.
— Graças a Deus — alguém disse.
Voltei a cabeça em direção a essa pessoa, finalmente conseguindo abrir os olhos. Christopher estava deitado a meu lado e mantinha os olhos fechados, respirando com dificuldade. Uma gota de água caiu em meus olhos. E mais outra. Olhei para cima e encontrei a razão das goteiras. Poncho estava com meio corpo sobre mim, completamente encharcado.
— Você está bem? — ele perguntou, afastando o cabelo do rosto para que parasse de pingar em mim.
— Meu peito está doendo. O que... aconteceu?
A mão calejada que eu já conhecia tão bem agarrou a minha e a apertou. Virei o rosto para Christopher. Seus olhos estavam mais brilhantes que o normal quando ele os abriu e fixou em meu rosto.
— Você se afogou — contou, em voz baixa. — Tentei te tirar da água, mas você começou a se debater. Pensei que nós dois fôssemos morrer. E teríamos morrido se não fosse o Poncho.
— Eu não sei nadar — confessei, estupidamente.
— Eu sei, Pin. De hoje em diante você está proibida de se aproximar de uma poça d’água que seja.
— Vou ver se conseguiram chamar a ambulância. — Poncho se levantou e correu para a porta de saída.
— Você está bem? — Christopher perguntou.
— Acho que estou, e você?
Ele assentiu, mas evitou contato visual mirando o teto metálico do ginásio.
— Desculpa, Christopher. Eu não queria que você se afogasse. Só, sabe, fiquei desesperada e... não sabia o que eu estava fazendo.
— Se debater é a reação natural de quem está se afogando. Por isso eu tentei te imobilizar. Mas não consegui nadar só com um dos braços. Eu precisava das... — “Pernas” era a palavra que ele não conseguiu dizer.
Christopher virou a cabeça para o outro lado, escondendo o rosto, mas seu peito subia e descia rápido demais. Um soluço que pareceu ter vindo do fundo de sua alma quebrou meu coração em milhares de pedaços.
Reunindo a pouca energia de que ainda dispunha, consegui me arrastar para perto dele. Beijei seu ombro, aquele com as cicatrizes, antes de deitar a cabeça ali, mantendo meus dedos entrelaçados aos seus. Lágrimas escorriam em meu rosto e se empossavam onde nossa pele se tocava. Eu queria ter dito tanta coisa a ele, mas nada parecia adequado. Então, fiquei ali, ouvindo os soluços que ele tentava esconder, segurando sua mão com tanta força que a minha começou a ficar dormente.
Desejei ficar com ele daquele jeito pelo resto da vida, mas os paramédicos chegaram e nos cercaram, empunhando lanternas tão perto dos meus olhos que me cegaram.
Foi com algum esforço que conseguiram soltar minha mão da de Christopher para que eu pudesse ser examinada. Entretanto, era Christopher quem segurava com força dessa vez, como se não suportasse me deixar partir.
Autor(a): dulcete.vondy
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Christopher — Tem certeza de que está bem? — Poncho perguntou pela milionésima vez enquanto eu me ajeitava na cama do hospital. Eu odiava aquelas camas. — Estou bem, Poncho. Meu irmão se sentou a meu lado e soltou o ar com força. — Não minta para mim. Você não está bem. Não depo ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 88
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eliiv Postado em 05/08/2020 - 01:20:08
Adorei q vc continuou.... acabei de ler e estou apaixonada e um pouco triste pois nao tem mais capítulos ... adoraria q tivesse 2 temporada
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anne_mx Postado em 22/12/2019 - 23:50:39
Comecei a ler essa fanfic e me apaixonei logo de cara, obrigada por não ter permitido que a história ficasse inacabada, foi linda a sua continuidade e o final então, foi incrível, meu sonho que tivesse um epílogo ou segunda temporada, PARABÉNS!!!!
dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:39:21
Muito feliz de saber que alguém voltou para ler, GRATIDÃOOOO ps.: Também adoraria que tivesse a continuação :/
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Srta Vondy ♥ Postado em 18/12/2019 - 04:25:51
Se eu disser que tinha pensado nessa fic hoje você acredita ? Muita coincidência cara Essa fic é perfeita e graças a Deus, tu finalizou ! Não sei se eu comentei antes mas entendo tua "frustação", é muito chato tu fazer algo e não ter nada p te orientar, nem mesmo uma crítica construtiva. Amei o final, foi muito bom tu ter mantido o Chris paraplégico, mostra que para viver e ter um amor não é preciso ser "perfeito", ficou muito. Queria muito q tivesse um epílogo contado como seria a vida deles casados e quem sabe com filhos... <3 Muito obrigada por todo o esforço que você teve p essa história ser adaptada e entregue p a gente se apaixonar, chorar, rir e muitas vezes tudo de uma só vez kkkk, muito obrigada mesmo e até a próxima história <3
dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:40:12
owwwwwwwwww, fiquei MUITO feliz com seu comentário, eu também gostaria que tivesse continuação :(((
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eliiv Postado em 01/05/2019 - 17:58:45
Continua... está muito bom! Tô adorando.
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cliper_rafa Postado em 09/04/2019 - 20:16:06
Aaaa, cadê você ? Desistiu ??????
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cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:54:30
Desanimando**
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cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:53:57
To desanimado de ler, poxa, gosto tanto dessa fic :(
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carolcasti Postado em 23/03/2019 - 09:25:43
Cadê vc? Desistiu da fic..... Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Plissssssssssssssssssssssssssssssss
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capitania_12 Postado em 15/03/2019 - 20:20:27
Aaaaaaah,continua logo por favooooooor
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cliper_rafa Postado em 14/03/2019 - 19:09:41
Naaaao, foi tão rápido, continua <3<3