Fanfic: Mentira Perfeita - Vondy (Adaptada) | Tema: Vondy
Dulce
Christian e Magda me encontraram no hospital e ficaram comigo a noite toda.
Nós nos revezávamos, ora no corredor, ora na capela. Eu rezava por minha tia, mas também pela pessoa que deixou este mundo antes da hora, deixando para trás um gesto de amor tão grande. Quantas vidas haviam sido salvas por aquela única alma?, eu perguntei. Quantas pessoas teriam a chance de continuar vivendo graças à bondade de um anônimo? Um herói sem rosto, que não pedia nada em troca; apenas se doava, literalmente. Eu o amaria, mesmo sem saber quem ele ou ela era, até o fim dos meus dias.
Levou quase dez horas para termos alguma notícia de tia Berê, e foi o próprio dr. Victor quem a trouxe.
— A cirurgia foi um sucesso. Há riscos, mas o tempo vai se encarregar de mandá-los para longe — ele disse, com uma convicção tão assustadora que fez meu coração baleado dançar.
Então Christian precisou ir trabalhar e Magda foi para casa, apenas para tomar um banho e pegar algumas mudas de roupa para mim e umas camisolas para tia Berê. Me deixaram entrar no CTI apenas no fim da tarde.
Vestida dos pés à cabeça com roupas hospitalares verdes e uma máscara no rosto, caminhei devagar até a figura pálida plugada a dezenas de cabos e tubos deitada na cama alta. Ela dormia. Senti os olhos ardendo.
— Mãe — deixei escapar baixinho, alisando seus cabelos para longe da testa.
Seus lábios se curvaram, os olhos tremularam e se abriram devagar.
— Então... eu preciso estar... — ela começou, com dificuldade — entre a vida e a morte... para que... você me chame de mãe?
Acabei rindo.
— A senhora está se sentindo bem?
— Sim. Muito bem. — Mas fez uma careta de dor quando tentou mover a cabeça.
— Fica quietinha ou vão me mandar sair.
Ela respirou fundo.
— É tão estranho, Dudu. As batidas... são diferentes das minhas. Tão rápidas... e decididas. Acho que vou ter que... me habituar a esse novo ritmo.
— A senhora vai ter tempo pra isso — sorri para ela. — Muito tempo agora.
— Graças a essa alma bondosa. Rezei tanto por ela. Enquanto estava aqui sozinha, perdida em pensamentos, eu pedi para o Nosso Senhor cuidar muito bem dela.
— Eu também.
Ela fixou os olhos em meu rosto, examinando cada detalhe visível. A mão plugada a um largo tubo de soro se moveu minimamente. Eu a peguei com todo o cuidado e me inclinei, colocando-a em minha bochecha.
— Eu estava com tanto medo — ela disse, com a voz trêmula.
— Eu sei. Eu também. Mas o dr. Victor disse que o pior já passou. A senhora foi muito corajosa.
Ela sacudiu a cabeça de leve e deixou a mão cair.
— Eu não estava com medo da cirurgia. Estava com medo de... perder o meu coração. Passamos por tanta coisa, ele e eu. Eu não sabia como seria... quando ele não estivesse mais aqui dentro. O que eu sentiria com esse, sabe? Porque esse coração... não viu você crescer. Nem ficou apertado toda vez... que você ficou doente. Nem se alegrou quando você... passou de ano no colégio em primeiro lugar. Nem se emocionou quando você acordou assustada por culpa de um pesadelo e me chamou de mãe, como fez ainda agora.
— Eu... eu não pretendia...
— Eu sei. — Ela me mostrou um sorriso triste. — E eu gostaria muito que tivesse pretendido.
— Gostaria? — perguntei, surpresa.
— Ora, meu amor, é claro que sim. Quando você era pequena e sua mãe ainda era viva, eu tinha esperança de que um dia ela... pudesse se emendar, ser a mãe que você merecia. Eu nunca quis tomar o lugar dela, Dul. Mas a vida se encarregou disso... e desde então eu espero que você me veja como... bem... — Uma lágrima rolou por sua face.
— Eu pensei que a senhora não gostasse. Sempre que eu a chamava assim, a senhora chorava!
— Ah, Dulce! É porque aquilo me emocionava muito... Era alegria. E dor também... pelo destino cruel da minha irmã... pelo seu. Eu estava com tanto medo de que tudo isso tivesse se perdido para sempre.
— Vai ficar tudo bem... mãe.
Minha mãe. Não seria tão difícil assim me acostumar com aquilo. Eu já pensava nela dessa maneira desde que tinha três anos. Só tinha medo de dizer em voz alta.
Os olhos dela marejaram, mas sorriram.
— Vai mesmo. Agora eu sei. Assim que eu abri os olhos e vi você eu soube. Porque esse coração... começou a bater muito forte e muito rápido. Ele se apaixonou por você também, meu amor. Exatamente como... aconteceu quando eu a vi pela primeira vez. Não importa quantos corações eu venha a ter nesta vida, eles sempre vão ser seus, minha Dulcezinha.
Eu me inclinei e, sem remover a máscara, beijei sua testa, agradecendo ao destino por ter me dado aquela mulher. Minha mãe.
— Por que nós estamos chorando? — ela indagou de repente. — Este é um momento feliz!
— Eu não estou chorando. — Esfreguei a mão no rosto para secar as bochechas úmidas. Os óculos pularam.
Com alguma dificuldade, ela deu risada.
— Você acha que agora o dr. Victor vai me deixar comer uma bela costelinha?
— Não hoje. — Acabei rindo e fungando ao mesmo tempo, enquanto acariciava seus cabelos. — Mas um dia desses. Se a senhora for boazinha e fizer tudo direitinho, claro.
— Então eu vou ser a melhor paciente do mundo!
— Ah, eu duvido muito — a voz grave do dr. Victor reverberou pelo CTI. Ele entrou sem fazer barulho e fechou a porta com cuidado. — Só um milagre faria você dar ouvidos ao seu cardiologista.
Minha mãe estalou a língua.
— Não tenho que ouvir quando você fica todo mandão. Não sou da sua equipe, doutor. Você não pode ficar me... dando ordens assim. Hunf!
Ele suspirou teatralmente.
— Realmente não posso. Não sou nada além de um pobre médico.
Ela riu com algum custo enquanto ele se aproximava e checava todos os aparelhos.
— Ora, também não precisa fazer drama. — Ela o encarou. — Se você prometer que não vai mais me obrigar a viver de brócolis e salada, eu posso ser uma boa paciente.
Ele me lançou um olhar que dizia “o que eu faço com ela?”. Boa sorte com isso, doutor.
— Como está se sentindo, Berenice?
— Como se o mundo inteiro estivesse dentro de mim.
— Isso é bom. — Ele desceu a mão e encontrou a dela, apertando-a suavemente. Os dedos de minha mãe se prenderam aos dele.
Espera aí.
— Obrigada, Victor. Você foi maravilhoso.
— Eu diria “sempre às ordens”, mas, nesse caso, prefiro não ter que vê-la tão cedo em uma mesa cirúrgica. — Sorriu, os olhos travados nos dela.
Olhei de um para o outro, minha boca escancarada como a de um peixe morto. Aquilo não tinha absolutamente nada de clínico. Nenhuma relação médico-paciente. Aquilo mais parecia uma cena dos filmes que...
Um sorriso bobo esticou meus lábios. O novo coração de mãe Berenice estava tendo um dia agitado. E parecia mais que disposto a se apaixonar.
O oposto do que acontecia com o meu, me dei conta. Eu jamais voltaria a permitir que alguém chegasse tão perto, tão fundo, quanto Christopher havia chegado. E agora só me restava esquecê-lo. Apesar do que eu havia dito a ele, ainda não tinha ideia de como começar a fazer isso. Nem a mais remota ideia.
Autor(a): dulcete.vondy
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Christopher Cheguei em casa perto das oito e fui para a cozinha preparar o jantar. Uma rápida olhada no armário e descobri que eu estava sem Doritos. E sem miojo. Saco. Havia algumas coisas na despensa, coisas que dona Berenice havia comprado. Envergonhado, como se as latas de tomate me observassem de maneira acusadora, fechei o armário e liguei ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 88
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eliiv Postado em 05/08/2020 - 01:20:08
Adorei q vc continuou.... acabei de ler e estou apaixonada e um pouco triste pois nao tem mais capítulos ... adoraria q tivesse 2 temporada
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anne_mx Postado em 22/12/2019 - 23:50:39
Comecei a ler essa fanfic e me apaixonei logo de cara, obrigada por não ter permitido que a história ficasse inacabada, foi linda a sua continuidade e o final então, foi incrível, meu sonho que tivesse um epílogo ou segunda temporada, PARABÉNS!!!!
dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:39:21
Muito feliz de saber que alguém voltou para ler, GRATIDÃOOOO ps.: Também adoraria que tivesse a continuação :/
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Srta Vondy ♥ Postado em 18/12/2019 - 04:25:51
Se eu disser que tinha pensado nessa fic hoje você acredita ? Muita coincidência cara Essa fic é perfeita e graças a Deus, tu finalizou ! Não sei se eu comentei antes mas entendo tua "frustação", é muito chato tu fazer algo e não ter nada p te orientar, nem mesmo uma crítica construtiva. Amei o final, foi muito bom tu ter mantido o Chris paraplégico, mostra que para viver e ter um amor não é preciso ser "perfeito", ficou muito. Queria muito q tivesse um epílogo contado como seria a vida deles casados e quem sabe com filhos... <3 Muito obrigada por todo o esforço que você teve p essa história ser adaptada e entregue p a gente se apaixonar, chorar, rir e muitas vezes tudo de uma só vez kkkk, muito obrigada mesmo e até a próxima história <3
dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:40:12
owwwwwwwwww, fiquei MUITO feliz com seu comentário, eu também gostaria que tivesse continuação :(((
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eliiv Postado em 01/05/2019 - 17:58:45
Continua... está muito bom! Tô adorando.
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cliper_rafa Postado em 09/04/2019 - 20:16:06
Aaaa, cadê você ? Desistiu ??????
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cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:54:30
Desanimando**
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cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:53:57
To desanimado de ler, poxa, gosto tanto dessa fic :(
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carolcasti Postado em 23/03/2019 - 09:25:43
Cadê vc? Desistiu da fic..... Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Plissssssssssssssssssssssssssssssss
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capitania_12 Postado em 15/03/2019 - 20:20:27
Aaaaaaah,continua logo por favooooooor
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cliper_rafa Postado em 14/03/2019 - 19:09:41
Naaaao, foi tão rápido, continua <3<3