Fanfics Brasil - Capítulo 61 Mentira Perfeita - Vondy (Adaptada)

Fanfic: Mentira Perfeita - Vondy (Adaptada) | Tema: Vondy


Capítulo: Capítulo 61

45 visualizações Denunciar


Dulce


 


Algumas vezes, tudo o que se precisa é de uma grande mudança, algo totalmente novo, que faça você tremer só de pensar no que o futuro lhe reserva. Porque eu sabia o que o presente havia me reservado, e não estava nada satisfeita.


O beijo no banheiro me disse duas coisas: a) eu não havia esquecido Christopher coisa nenhuma, e b) eu acabaria caindo na lábia dele, mesmo que relutasse.


Então, ir para Munique era a coisa certa a fazer. Eu repetia isso dezoito vezes por dia desde que aceitara a proposta, tentando me convencer de que não estava cometendo um grande erro.


Minha mãe ficou eufórica com a novidade, embora tenha chorado às escondidas em seu quarto, quando pensou que eu estivesse dormindo. O novo coração dela estava aguentando firme, e os medicamentos o deixaram estável. Depois de uma longa conversa com o dr. Victor — que agora nos visitava todas as noites; eu ainda não sabia o que pensar sobre isso —, em que ele me garantiu que as chances de uma complicação eram muito pequenas àquela altura, acreditei que ela poderia viver sem que eu estivesse por perto. Como eu iria viver sem ela era outra história, mas eu descobriria.


Christian não chorou, mas o sentimento agridoce da separação iminente pairava entre nós. Eu não sabia como viveria sem ele também. Maite ficara animada com a notícia, a ponto de planejar uma festa de despedida para meu último dia na L&L. Até Ivan estava contente.


Todo mundo estava feliz. Exceto eu, mas isso não significava nada.


Apenas dizia que eu precisava de um pouco mais de tempo para entender como aquilo era bom. Era ótimo! Era maravilhoso! Era...


Aterrorizante.


Sim, aquela era a chance da minha vida, mas, caramba, a Europa era longe demais do mundinho que eu amava e ao qual pertencia. É claro que eu estava assustada, mas tentava bravamente esconder isso. Sobretudo de minha mãe. Às vezes eu a enganava. Mas só de vez em quando.


O tempo então foi passando depressa. Entre acertar os documentos necessários para a mudança e me inteirar sobre os problemas da filial da Alemanha, eu me vi às portas de embarcar para a Europa.


Naquela noite de sexta-feira, Christian e eu seguíamos para a tal festa de despedida que May havia organizado. Minha mãe foi proibida pelo dr. Victor de participar, pois haveria muita gente e ela ainda precisava manter certa distância de vírus e bactérias, de modo que Magda e ela decidiram fazer uma sessão de carteado, com dona Inês e o próprio dr. Victor como parceiros.


O bar em formato de oca indígena estava cheio, mas, naturalmente, a maioria era de frequentadores do lugar. No entanto, eu conhecia umas vinte pessoas ali, e fiquei feliz que elas tivessem comparecido a minha despedida. Maite era a dona da festa, pedindo porções e bebidas e discutindo com o barman por não ter nenhum drinque que pegasse fogo.


— Eu queria tanto que você tomasse um desses! — Ela retorceu os lábios em um biquinho.


— Eu não ligo, May. Pode ser qualquer coisa.


— Mas você tinha que tomar um desses. É tão divertido.


Eu a abracei com força.


— Obrigada pela festa, May. Estou adorando.


— Vou sentir sua falta, Dul. Não demora para mandar notícias, tá?


— Vamos continuar nos falando todos os dias. Prometo.


Todos do setor de TI apareceram, até Américo e seu Hector, para minha surpresa. Anahí e Poncho também estavam presentes, mesmo que o casamento deles fosse ocorrer dali a três dias. Paulo, é claro, estava todo animado tomando umas e outras, e acompanhava May com olhos apaixonados.


Mas o que me surpreendeu foi ver Christopher ali. Ele se manteve meio à margem das conversas e passou o tempo todo me observando. Falei com todo mundo, recebi votos de sucesso e sorte de todos, colando meu sorriso mais corajoso no rosto, enquanto Christian se socializava com facilidade.


Mantive Christopher em meu radar, sempre conservando uma distância segura, pois a última coisa que eu queria era falar com ele. Não tive alternativa, no entanto, quando o vi se aproximar de minha mesa lá pelas tantas da noite.


Ivan judiava do karaokê, com a ajuda de Christian.


— E aí? — Christopher tomou um gole de sua bebida. — Preparada para a grande mudança?


— Estou.


— Dizem que Munique é bem gelada no inverno. Leve uns agasalhos.


— Vou levar. — Mantive o olhar na dupla ao microfone. Não queria ver o que ele vestia, como a roupa lhe caía bem, como seus olhos de turmalina reluziam à meia-luz do barzinho. Não queria mais lembranças. As que eu já tinha me perseguiriam para onde quer que eu fosse.


— Você está feliz, Dulce? — ele quis saber.


— Estou tendo a oportunidade dos sonhos de qualquer profissional de TI.


— Não foi isso o que eu perguntei.


— Claro que estou feliz. — Ou quase.


— E como é que ele fica?


— Ele quem? — Cometi o erro de olhar para Christopher.


Ele vestia a mesma camiseta preta do nosso primeiro encontro. Os cabelos estavam arrumados, mas um pouco compridos demais, de modo que se curvavam de leve nas pontas. Uma mecha lhe caía sobre o olho esquerdo. A barba curta escurecia seu queixo, fazendo as íris verdes parecerem duas estrelas.


Droga, por que ele tinha que ser tão bonito?


— O Christian — apontou para meu amigo com a cabeça.


— Bom, acho que as coisas ficam como estão agora. Só vai existir um oceano entre nós, e uma saudade de igual tamanho.


Ele assentiu, olhando em volta.


— Eu te trouxe uma coisa. — Ele puxou uma caixinha de CD sob a coxa direita e me entregou. — Espero que te ajude a passar o tempo quando se sentir sozinha. Ninguém viu ainda. Eu queria que você fosse a primeira, porque... Bom, você vai entender.


Era impressão minha ou ele ficou vermelho?


— O que tem aí? — perguntei, desconfiada.


— Meus dois maiores sonhos. — Seu olhar encontrou o meu, e havia tanta intensidade nele que minha respiração ficou presa na garganta.


Eu não fazia a menor ideia do que ele estava falando, mas aceitei, com os dedos trêmulos, o que me oferecia. Torci para que ele não tivesse notado a maneira como a caixinha sambava na minha mão.


— Bem, é isso. — Ele soltou o ar com força. — Boa viagem, Dulce.


— Obrigada. Boa... boa sorte com a sua vida, Christopher.


Ele me encarou por um instante antes de começar a se afastar. Meu coração batia ensandecido, sobrepondo-se ao ritmo da música que Ivan e Christian uivavam. Era isso. O derradeiro encerramento. A partir daquele instante eu estaria livre para seguir em frente. Então, por que eu não me sentia livre? Por que me doía fisicamente vê-lo ir embora?


Enquanto eu lutava para me manter na cadeira, Christopher se deteve. Eu o vi fazer a volta e em um piscar de olhos ele estava diante de mim outra vez.


— Só quero te dizer mais uma coisa — começou, a ansiedade e... algo que eu não consegui identificar o torturando. — Só existiu você, Dulce. Para mim, só existiu você.


— Uma pena que eu não tenha bastado, não é? — me ouvi dizer.


Ele sacudiu a cabeça, um sorriso de partir o coração curvando um dos cantos da boca.


— Você teria me satisfeito por uma vida inteira. Dez vidas. Cem delas, Dulce. Eu sei que você não acredita em mim e não posso culpá-la, mas eu precisava dizer. Nunca houve mais ninguém para mim. Apenas você. O que tem aqui dentro é seu. — Colocou a mão sobre o peito. — E vai continuar sendo, não importa para onde você vá.


Uma parte minha estava louca para pular no colo dele e enterrar a cabeça em seu pescoço, se embriagar com seu perfume. A outra, a sensata, não estava certa do que devia fazer.


Ele se afastou, falou brevemente com o irmão e deixou o bar. Meu coração estúpido queria acreditar nele. Queria tanto que ameaçava estourar. Minha cabeça, no entanto, gritava para que eu não lhe desse ouvidos. Christopher era um tremendo mentiroso, eu sempre soube disso.


— Dulce, nós não podemos ficar. Temos o ensaio do casamento em uma hora.


— Anahí surgiu do nada, recostando os cotovelos no balcão logo atrás. — O Christopher já foi? — Ela deu uma olhada em volta.


— Já.


— Ah. Pensei que ele fosse ficar um pouco mais. Sabe, ele quase não tem saído. Não que eu possa culpá-lo. Eu também perderia a cabeça se recebesse as notícias que ele recebeu. — Levou a garrafa de cerveja à boca.


— Que... que notícias?


Ela deu de ombros.


— Você sabe, sobre os exames. Foi muito duro para ele ouvir que não vai voltar a andar. Essa nunca foi uma possibilidade para ele. O Christopher sempre teve tanta confiança... Foi duro. Para todo mundo.


— Ele não vai voltar a andar? — Meu coração se apertou até ficar do tamanho de uma semente de uva. Ah, Christopher...


— É irreversível, Dulce. Irreversível.


Fechei os olhos, sentindo uma dor profunda. Ele devia ter ficado arrasado.


— Ele pirou, claro — Anahí disse, confirmando minhas suspeitas. — Estava tão certo de que conseguiria recuperar o movimento das pernas que não soube lidar com a situação.


— Eu sinto muito, Anahí. Por ele. Eu sei como ele queria isso.


— Ele está superando. Aos poucos vai perceber que a vida pode ser tão boa quanto antes, só precisa de ajustes. Ele tem melhorado muito nas últimas semanas.


Semanas?


— Quando... quando ele recebeu a notícia?


— Deixa eu ver... Tem uns... dois meses. É, faz dois meses. Não, espera... — Ela mirou seus olhos azuis em mim. — Quanto tempo faz que vocês quase se afogaram? Já tem uns três meses, não tem?


— O Christopher soube que não voltaria a andar naquele dia?


Ela fez que sim.


A consulta acontecera naquele dia horrendo em que quase nos afogamos? Foi por isso que Christopher havia perdido o juízo?


Meu Deus! Agora tudo fazia sentido. Por isso ele tinha ficado tão furioso. Não era com Poncho, mas com a vida. Por isso ele queria ficar sozinho, por isso me pareceu tão perdido. Não me admirava que estivesse tão transtornado.


Sendo franca, me magoou saber que ele passara por tudo aquilo sozinho, sem me dizer uma única palavra. Ele nem mesmo me considerara uma amiga. Tínhamos passado a noite toda juntos, ele podia ter me contado. Ou no dia seguinte, antes de... antes de eu flagrá-lo...


Espere um momento.


Eu não transei com a Sandrinha. Sua voz reverberou em minha cabeça. Eu quis que você pensasse isso, mas não fiquei com ela.


Tenho certeza de que Anahí foi capaz de ouvir as engrenagens do meu cérebro girando, uma coisa se encaixando na outra, e por fim o estalo de clareza.


— Meu Deus do céu!


— Eu sabia que você ia entender. — Ela sorriu de leve e se afastou.


Instantes depois, ela e Poncho deixavam o bar.


Eu não podia acreditar em como havia sido idiota. Claro que, sem todas as informações, ficava complicado deduzir tudo sozinha, mas mesmo assim.


Tudo estava lá: o comportamento de Christopher, a maneira distante, sua tristeza. Eu devia ter percebido. Em vez disso, deixei que meu orgulho e minha insegurança levassem a melhor e enevoassem o problema central.


Às vezes ele se abria e eu o via de verdade. Ele tinha uma imagem distorcida de si mesmo. Se achava menos importante por ter perdido o movimento das pernas. Até me disse, uma vez, que era meio homem.


E se ele não tivesse mentido? E se tivesse usado mesmo aquela garota para me afastar? E se ele tentou fazer a mesma coisa que minha mãe, quando soube da proposta de Munique? Talvez ele não tenha realmente me abandonado, só me deixou ir embora. E se ele... e se ele realmente... Só existiu você para mim.


Disparei porta afora, quase atropelando um homem barbado que entrava no bar. Observei a rua, vasculhando cada pedacinho dela em busca do vislumbre prateado de seu Honda. Nada. Não havia nada. Ele já tinha ido embora.


— Droga.


A porta se abriu, e Christian e Maite passaram por ela.


— O que foi, florzinha? — ele se apressou. — Por que você saiu correndo como se o bar estivesse pegando fogo?


— Não dá tempo de explicar. May, eu preciso saber onde vai ser o ensaio do casamento da Anahí.


— Eu estou indo pra lá daqui a pouco. Mas por quê?


Eu não podia ir para Munique sem saber a verdade. Eu tinha que falar com ele.


 



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): dulcete.vondy

Este autor(a) escreve mais 2 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
Prévia do próximo capítulo

Christopher   Por que as flores precisam ter cheiro de flor?, eu me perguntava, irritado. Inferno. Dava para sentir o perfume delas mesmo ali na sacristia. — Certo. Estão todos aqui? — Melissa perguntou, verificando sua prancheta. — Só faltam o Nicolas e a Maite. Eles devem chegar logo — Poncho respondeu. — Muito bem. En ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 88



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • eliiv Postado em 05/08/2020 - 01:20:08

    Adorei q vc continuou.... acabei de ler e estou apaixonada e um pouco triste pois nao tem mais capítulos ... adoraria q tivesse 2 temporada

  • anne_mx Postado em 22/12/2019 - 23:50:39

    Comecei a ler essa fanfic e me apaixonei logo de cara, obrigada por não ter permitido que a história ficasse inacabada, foi linda a sua continuidade e o final então, foi incrível, meu sonho que tivesse um epílogo ou segunda temporada, PARABÉNS!!!!

    • dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:39:21

      Muito feliz de saber que alguém voltou para ler, GRATIDÃOOOO ps.: Também adoraria que tivesse a continuação :/

  • Srta Vondy ♥ Postado em 18/12/2019 - 04:25:51

    Se eu disser que tinha pensado nessa fic hoje você acredita ? Muita coincidência cara Essa fic é perfeita e graças a Deus, tu finalizou ! Não sei se eu comentei antes mas entendo tua &quot;frustação&quot;, é muito chato tu fazer algo e não ter nada p te orientar, nem mesmo uma crítica construtiva. Amei o final, foi muito bom tu ter mantido o Chris paraplégico, mostra que para viver e ter um amor não é preciso ser &quot;perfeito&quot;, ficou muito. Queria muito q tivesse um epílogo contado como seria a vida deles casados e quem sabe com filhos... <3 Muito obrigada por todo o esforço que você teve p essa história ser adaptada e entregue p a gente se apaixonar, chorar, rir e muitas vezes tudo de uma só vez kkkk, muito obrigada mesmo e até a próxima história <3

    • dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:40:12

      owwwwwwwwww, fiquei MUITO feliz com seu comentário, eu também gostaria que tivesse continuação :(((

  • eliiv Postado em 01/05/2019 - 17:58:45

    Continua... está muito bom! Tô adorando.

  • cliper_rafa Postado em 09/04/2019 - 20:16:06

    Aaaa, cadê você ? Desistiu ??????

  • cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:54:30

    Desanimando**

  • cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:53:57

    To desanimado de ler, poxa, gosto tanto dessa fic :(

  • carolcasti Postado em 23/03/2019 - 09:25:43

    Cadê vc? Desistiu da fic..... Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Plissssssssssssssssssssssssssssssss

  • capitania_12 Postado em 15/03/2019 - 20:20:27

    Aaaaaaah,continua logo por favooooooor

  • cliper_rafa Postado em 14/03/2019 - 19:09:41

    Naaaao, foi tão rápido, continua <3<3


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais