Fanfic: Mentira Perfeita - Vondy (Adaptada) | Tema: Vondy
Dulce
Passaporte, documentação da L&L, bolsinha de remédios, óculos reserva, euros...
Terminei de conferir minha mala pela terceira vez e fechei o zíper.
Verifiquei a bolsa, checando se estava tudo ali, e acabei encontrando o CD que Christopher me dera na noite passada. Fiquei olhando para a caixinha por um bom tempo. Desde que deixei o hospital, eu evitava pensar nele ou no que Sandrinha tinha me dito.
E se eles estivessem dizendo a verdade? Eu não conhecia Sandrinha, mas ela pareceu bastante sincera. E quanto a Christopher...
Apertei o CD entre os dedos.
Meus dois maiores sonhos, dissera ele, pouco antes de se declarar. O que aquilo queria dizer?
Bom, só havia um jeito de saber. Dei uma olhada em volta, me certificando de que estava sozinha, levantei a tampa do laptop, abri a caixinha e inseri o CD no drive. Ah, tudo bem. Ele nunca saberia que eu dei uma espiada.
— Pegou um casaco? — minha mãe perguntou ao entrar no quarto.
Apertei uma tecla antes que o CD carregasse. A tela se apagou de imediato.
— Sim, mãe.
— E uns hidratantes? Sua pele sempre fica mais seca no frio, e Munique deve ser mais fresca que aqui.
Acabei rindo.
— A senhora sabe que lá deve ter um milhão de lojas, né? E que eu estou indo trabalhar em uma empresa de cosméticos?
— Sei, e duvido que você vá entrar em alguma loja ou pegar um potinho de qualquer hidratante na fábrica. — Ela se sentou na beirada da cama. — Liguei para a Melissa da Allure agora há pouco. Ela vai devolver uma parte do dinheiro, já que não vai ter casamento nenhum.
— A menos que a senhora e o dr. Victor resolvam juntar as escovas de dentes.
— Que ideia, Dulce! — Revirou os olhos. — Estamos nos conhecendo melhor. Só isso. Ninguém falou nada sobre compromisso. Ainda mais na nossa idade.
Eu me sentei a seu lado e peguei sua mão. Como eu ia conseguir dizer adeus a ela?
— Não precisa ficar tão tensa — minha mãe disse, suavemente. — É só uma viagem transcontinental.
— Não é com isso que eu estou preocupada, mãe. Tem certeza de que está bem? — Fazia só dois meses e meio que o transplante acontecera. Ela se recuperava espantosamente bem. Nenhuma complicação, sem rejeições, mas ainda assim...
— Quantas vezes vou ter que dizer que me sinto como se tivesse vinte anos? Além disso, eu tenho um médico particular agora. — Uma risadinha coquete lhe escapou. Então apertou meus dedos, me encarando. — Meu amor, eu vou sentir sua falta. Tanta que não sei o que vou fazer dos meus dias até te encontrar de novo. Mas você tem que fazer isso. Pela primeira vez na vida, quero que pense em você primeiro, que seja a sua prioridade.
— Tá...
— A minha filha vai ser uma mandachuva no Velho Mundo! — Ela deu risada.
— A Marlucy vai morder os cotovelos de inveja.
Acabei rindo também.
— Não que a senhora vá se gabar nem nada disso.
— Imagina. Vou mencionar o assunto uma ou duas vezes. Agora, se você arrumar um noivo por lá, aí sim eu vou ficar insuportável.
Soltei um suspiro.
— Mãe...
— Desculpe, meu amor. Saiu sem querer. É o hábito. Eu sei que você ainda... — Ela se interrompeu quando me retraí. — Enfim. Eu sinto muito por tudo que a fiz passar. Se eu não tivesse sido tão maluca, nada disso teria acontecido. Mas a questão, meu amor, é que eu estou feliz que você esteja de coração partido. Porque amar é assim, Dulce. Às vezes a gente consegue ser feliz para sempre. Outras vezes o final não é tão alegre assim. O que importa é a experiência, e a marca que o amor deixa. O Christopher foi o seu primeiro amor e, tenho certeza, vai ficar marcado em você para sempre.
Um dia você vai olhar para trás e um sorriso bobo vai surgir no seu rosto quando pensar nele.
— Espero que a senhora esteja certa. — Que aquela dor fosse mesmo embora, porque eu não conseguia respirar direito.
Ela me abraçou e me beijou a testa.
— Agora chega disso. É hora de mudar de ares e recomeçar em Munique. Mas, por favor, não vire um robô que só pensa em trabalho de novo. Trate de se divertir.
Acabei rindo enquanto fungava.
— Prometo que não vou me tornar um robô. — Mas era isso que eu precisava. Focar no trabalho e deixar a vida pessoal em suspenso por um tempo. Isso com certeza espantaria a dor. — E a senhora trate de se comportar.
— Jamais! Tenho um coração novo, pronto para fortes emoções, e não vou hesitar em usá-lo.
A campainha tocou.
— Ah! Deve ser o Victor — ela exclamou, horrorizada, automaticamente levando os dedos aos cachos acaju. — E eu nem passei batom hoje!
— Vou abrir a porta para ele enquanto a senhora se arruma.
— Obrigada, meu amor. — Disparou para o banheiro.
Desci as escadas de dois em dois degraus e abri a porta de uma vez, um sorriso no rosto. E então congelei. Não era o dr. Victor.
— Oi — Christopher disse, naquele tom de barítono.
Meu coração disparou, batendo tão forte que eu temi que ele pudesse ouvir. Poncho estava com ele, parecendo muito ansioso. Recompondo-me o melhor que pude, consegui perguntar:
— Você não devia estar na cama, se recuperando?
— Eu adoro essa menina — Poncho balbuciou.
— Eu preciso falar com você — Christopher foi dizendo. — É importante.
— Humm... Entra. — Eu me afastei para lhes dar passagem.
Poncho, porém, olhou para o portão.
— Eu vou esperar no carro. — Deu um soco de leve no braço do irmão.
Christopher fez um pequeno aceno de cabeça para ele antes de entrar em casa. Ele olhou para a sala, para o sofá... e para o tapete, onde havíamos feito amor pela primeira vez.
Meu rosto esquentou com a lembrança.
— Victor, querido, desço em um instantinho! — gritou minha mãe do andar de cima.
— Não é ele, mãe. É... o Christopher.
Após trinta segundos, ela apareceu no topo da escada, um olho maquiado de azul, o outro ainda limpo.
— Christopher... — sussurrou, apaixonadamente.
Não pude evitar sorrir. Ela realmente gostava dele, não importava que as coisas não tivessem dado certo entre a gente.
— Dona Berenice, a senhora está linda como sempre.
— Ah... — Ela ficou vermelha. — Bem, vou terminar de me arrumar, já que comecei. Vou deixar vocês sozinhos por um instante.
Ele acenou, parecendo grato. Assim que minha mãe desapareceu, ele mirou os olhos verdes em mim, e tive de reprimir um tremor.
Era uma coisa boa eu estar indo para longe dele. Realmente... muito boa.
— Já está com tudo em ordem para a viagem? — ele perguntou, com gentileza.
— Sim.
— É... Claro. — Sorriu, mas era um sorriso educado, meio nervoso ou...
assustado.
— O que está fazendo aqui, Christopher? Você devia estar em casa, descansando. Ou ajudando com o casamento. Não é amanhã?
— Foi cancelado. O meu irmão e a Anahí ainda não conseguiram digerir tudo o que aconteceu. Não tem clima. Vão remarcar para daqui a alguns meses. E o meu irmão me ajudou a fugir de casa. Eu tinha algo muito importante para te perguntar.
Já que ele não disse nada, só ficou me olhando daquele jeito intenso, como se me absorvesse, me obriguei a abrir a boca.
— E qual é a pergunta?
Ele inspirou fundo, mantendo o olhar profundo em mim.
— Você acredita em amor à primeira vista, Dulce?
— Que diferença faz agora?
— Só responde.
— Não sei.
Ele concordou com a cabeça, sério.
— Eu também não sabia, até que aconteceu comigo. Ela olhou para mim e aconteceu. Bastou isso, Dulce. Não sei explicar direito. Não foi nada daquela baboseira de luzes e música que a TV pinta. Foi algo dentro de mim. Um arrepio ou qualquer coisa assim. Se é verdade o que dizem sobre todo mundo ter um par predestinado, eu soube que ela era o meu. E, olha, não era só físico. Ela era muito bonita, tudo nela me atraía, mas foram os olhos que me deixaram de quatro. Enquanto eu olhava dentro deles, senti como se tivesse chegado ao... ao que quer que a vida tinha me reservado. Era ela, eu sabia que era.
— Não acredito que você veio até aqui para me dizer esse tipo de coisa. — Tateei atrás de mim, buscando apoio. Acabei encontrando o encosto do sofá e me deixei cair no assento.
— Ah, droga, comecei errado. Posso começar de novo?
Eu não disse nada. Christopher, sendo Christopher, entendeu aquilo como um sim.
— Quatro anos antes, eu estava indo para a casa de uma colega da faculdade para estudarmos juntos para uma prova e... algo mais interessante. A gente já tinha ficado algumas vezes e... Era um dia bonito, ensolarado e quente, e eu adorava estar em cima da minha moto. Juro que eu não passei dos limites. Pilotei como sempre, só curtindo. Dobrei uma esquina qualquer, e quando fiz a curva ouvi o estouro do pneu. Não tive tempo, Dulce. Perdi o controle da moto, e depois disso não lembro de mais nada. Acordei no hospital, com parafusos e ataduras pelo corpo todo, muita dor na parte superior e um nada absoluto e assustador na inferior. Quando me contaram que eu tinha perdido os movimentos das pernas, eu pensei que fosse passageiro. Tinha que ser. Eu não podia ficar aleijado.
— Não gosto que você... — balancei a cabeça.
— Eu sei que você não gosta dessa palavra. — Ele sorriu, carinhoso. — Eu também não gosto. Mas é assim que as pessoas veem gente como eu. Era assim que eu via. Nunca parei pra pensar que um dia eu estaria do outro lado. — Inspirou fundo. — Então, fiz o que todo mundo faz, eu acho. Me recusei a acreditar que nunca mais voltaria a andar. Por um tempo funcionou, mas, depois de sete cirurgias e nada mudar, as coisas começam a ficar diferentes. Por quase um ano eu não tive melhora alguma. Mas aí a sensibilidade dos pés e das panturrilhas voltou, e você pode imaginar como eu fiquei animado com isso. Ia acontecer. Eu ia voltar a andar, era só questão de tempo.
Meu coração se apertou.
— E foi então que aconteceu o lance com a garota — explicou. — Eu estava trabalhando, tentando solucionar um problema no sistema, quando a vi e senti todas aquelas coisas que eu falei antes. Eu tentei esquecer a menina, juro que tentei, Dulce, porque era o momento errado para mim. Eu tinha outras coisas em que me concentrar, tinha que retomar minha vida primeiro, antes de querer... antes de me meter nessa confusão chamada amor.
Meu coração começou a batucar no peito, o estômago em uma sucessão de loopings. Era realmente uma ótima ideia continuar sentada, ou eu iria direto para o chão. Era eu. A garota por quem ele se apaixonou à primeira vista não era Sandrinha. Era eu!
— Só que essa moça começou a atrapalhar tudo, sobretudo o trabalho. — Ele fez uma careta. — Eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse ela. Isso foi antes de eu saber que ela estava com problemas. Uma tia doente e uma história esquisita sobre um falso noivo. Então eu pensei: É isso. Posso ficar perto dela sem causar dano a nenhum de nós. Parecia o plano perfeito. Eu não pretendia me aproveitar da situação, mas em algum momento foi necessário, e eu percebi a maneira como seu corpo reagiu ao meu toque... Ah, Dulce, tudo o que eu havia planejado caiu feito um castelo de cartas. Eu só pensava em você, quando te veria de novo, quando falaria com você, quando teria a chance de tocá-la outra vez, como poderia irritá-la...
Acabei rindo, ainda que não quisesse.
— Ah, sim. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Eu tinha que fazer você pensar em mim. Mesmo que fosse porque eu te matava de irritação. Aporrinhála parecia o caminho mais fácil. É uma tática muito usada pelos homens de sete anos de idade.
Droga, acabei rindo outra vez.
— O problema, Dulce... — ele chegou mais perto, até ficar a meio metro de mim, seu rosto dominado por uma seriedade quase grave — ... é que eu fui arrogante demais. O plano perfeito não funcionou, e eu descobri que não sou tão bom mentiroso quanto imaginava. Eu estava completamente apaixonado e queria mais. Eu não estava atuando quando citei Jane Eyre naquele jantar. Acho que nunca um texto descreveu com tanta exatidão como eu me sentia. Como ainda me sinto. Uma paixão fervorosa e solene realmente surgiu no meu coração. Você se tornou o centro do meu mundo, e eu me sinto ligado a você como jamais me liguei a ninguém. É irreversível.
Eu arquejei. Não pude evitar.
— E então veio a consulta com a minha ortopedista — ele prosseguiu.
— Era para ser só mais uma, mas...
— Mas o que você queria não ia acontecer — murmurei delicadamente, quando o vi lutar contra a emoção.
Os olhos verdes dispararam para os meus.
— Como você sabe disso?
— Não por você, claro.
— Você precisa entender, Dulce. Depois de refazer os exames, a dra. Olenka chegou à conclusão de que o meu quadro estagnou. A minha lesão é permanente.
Eu não vou voltar a andar. — Ele desviou o olhar.
— Eu sinto muito, Christopher.
— Eu também. O Poncho estava comigo e... Ah, ele se sente responsável. Não importa quantas vezes eu diga que ele não tem nada a ver com isso, ele simplesmente não acredita. É o jeito dele. Sempre chamando a responsabilidade para si, como um maldito herói. — Coçou a sobrancelha.
— A Anahí e eu temos falado com ele. Acho que ele vai acabar superando.
— Então foi por isso que você estava se matando na piscina, naquela tarde.
Concordou com a cabeça.
— Pode parecer idiotice, mas a primeira vez que eu me dei conta do que a palavra “permanente” significava foi quando o Poncho guardou minha cadeira na mala do carro depois da consulta. Aquela era a minha vida. E eu não tinha como fugir dela sem parecer um covarde e devastar minha família. Então, fui para a academia e caí na piscina, porque ali eu não me sinto pela metade, Dulce. Sou eu, a água e nada mais. Ela me ajuda a pensar.
E eu fiquei ali, me perguntando como seria o resto da minha vida, e nem vi a hora passar. É estranho, mas o que eu mais lamentava não era perder a chance de andar de novo, mas pensar que por causa da minha condição eu teria que desistir dos meus sonhos. Isso me atingiu como um caminhão sem freio.
— Você não precisa desistir, Christopher. Só precisa...
— Me adaptar, eu sei. Você me mostrou isso, com o trike... e tantas outras coisas. Eu passei umas boas duas horas pensando que podia fazer o mesmo com todo o resto, e isso incluía você. Aí você apareceu, e você se afogou. — Ele esfregou a testa, fechando os olhos, como se tentasse afastar a recordação. — Se não fosse pelo Poncho, não estaríamos tendo esta conversa agora. Eu percebi que nem toda a adaptação do mundo seria suficiente para que eu pudesse estar com você como eu queria. Eu tinha que te deixar. Mas não consegui. Então, eu fiz você me deixar. Eu nunca mais toquei em mulher nenhuma desde que nós nos envolvemos.
Olhei para minhas mãos, unidas entre os joelhos.
— Então você me afastou por causa de uma coisa tão estúpida quanto eu ter caído na piscina?
— O cacete que foi uma estupidez. Você quase morreu!
Ergui os olhos para ele, com raiva.
— Passou pela sua cabeça que o problema é meu, por não saber nadar, e não seu, por não poder andar?
Ele aceitou o desafio, empinando o queixo, a fúria inflamando seu olhar.
— Mas o problema é meu, Dulce. É meu problema porque eu te amo, porque eu quero você só pra mim. É problema meu quando tudo o que eu mais quero é correr até você, te apertar em meus braços e depois fazer amor com você até a sua cabeça rodar e não restar nada dentro dela a não ser eu. É problema meu quando eu quero ser o seu maldito super-herói, o cara com quem você sempre vai poder contar pra tudo. Você precisou de mim e eu falhei! Isso acabou comigo, porque quando nós estávamos juntos a vida ficava... fácil de novo. — Sua voz se embargou. Ele clareou a garganta. — Com você eu me sinto eu mesmo de novo.
Balancei a cabeça, incapaz de compreender o que ele dizia. Não fazia sentido. Nada daquilo fazia sentido para mim.
— É isso que eu não entendo, Christopher. Porque, se você me dissesse que eu te fazia mal, que eu te lembrava da época em que você andava e tudo o mais, eu até compreenderia. Mas, se não é assim, como você pode me mandar embora? Lamento muito que você continue nessa cadeira, mas não por mim. É por você, pela tristeza que isso te causa. A maneira como você se locomove nunca importou para mim.
— Eu sei, Dulce. Acho que eu sempre soube disso, mas fiquei com medo de acreditar. — Ele fechou os olhos e balançou a cabeça, parecendo tão perdido, tão devastado. — Se você pudesse estar dentro de mim, entender o que eu sinto por você, Dulce, talvez compreendesse. — Ele abriu os olhos, que chispavam com intensidade. — Eu amo você. Amo tanto que não sei o que fazer com esse sentimento. Amo tanto que meti os pés pelas mãos. E foi por te amar demais que eu acabei te perdendo.
Soltei o ar com força, parte de mim tremendo na ânsia de me atirar em seu colo. O problema era aquela outra parte, a lógica, que gritava que apenas isso não bastava.
Tomei fôlego.
— Você mentiu pra mim mais de uma vez, Christopher. Se julgou no direito de decidir por mim. Mas sabe o que mais me dói? É ter a consciência de que você passou por tudo isso e decidiu me deixar de fora. Eu... não consigo mais confiar em você. Não quando você decide o que é o melhor para mim e age feito um idiota. Não se você diz que me ama em um momento, mas no outro me diz que foi só um lance sem importância. Você é como o deus grego Jano. Dois rostos idênticos, só que um sempre diz a verdade, e o outro mente. E eu nunca sei com qual deles estou lidando.
Ele trincou o Maxilar, uma sombra enevoando seu rosto.
— Isso acabou — falou, firme. — Isso tudo ficou pra trás. As coisas se encaixaram na minha cabeça. Eu nunca mais vou mentir para você.
— Até algum outro problema aparecer e você decidir que o melhor para mim é me afastar de novo. — Levei as mãos às têmporas, lutando para calar o zumbido confuso em minha cabeça. — Eu não posso fazer isso, Christopher. Não posso.
Ele ficou me encarando, uma emoção nova lhe dominando as feições.
Desespero? Dor? Derrota?
— Não existe nada que eu possa dizer para fazer você mudar de ideia, não é?
— Eu prefiro confiar no meu bom senso dessa vez. Mas fico feliz que você tenha me contado a verdade. — Eu estava a um passo de chorar, e não ia fazer isso na frente dele outra vez. — É melhor você ir agora. Tenho muita coisa para fazer ainda. Embarco amanhã bem cedo.
Seu olhar, mortificado, devastado, destruído, quase me fez mudar de ideia. Por muito pouco não mandei tudo às favas e corri até ele. Mas eu não podia. Se ele quase me destroçara antes, o que seria capaz de fazer agora, quando dizia que me amava e meu coração tolo queria acreditar nele?
Christopher me observou por um longo momento, como se estivesse me guardando na memória. Uma tristeza profunda, que parecia vir do fundo da alma, lhe atravessou o rosto. Um adeus, que ele não foi capaz de verbalizar.
Ele deixou a sala, fechando a porta com um clique suave, sem olhar para trás.
Subi as escadas de dois em dois degraus, o coração retumbando nos ouvidos. O rosto devastado de Christopher girava com suas palavras em minha cabeça.
Eu amo você. Amo tanto que não sei o que fazer com esse sentimento. Amo tanto que meti os pés pelas mãos. E foi por te amar demais que eu acabei te perdendo.
Entrei no quarto sem enxergar nada, quase atropelando minha mãe.
— Você está bem? — ela perguntou, me segurando pelos ombros.
Um soluço me escapou.
— Não, mãe. — Joguei os braços ao redor dela e comecei a chorar.
— Dulce, tem certeza de que está tomando a decisão certa, filha? — Ela acariciou minhas costas.
Sacudi a cabeça.
— Não. — Solucei.
— Ah, meu amorzinho... — Ela me levou até a beirada da cama e me fez sentar. — Não chore. Você está de cabeça quente agora para julgar tudo o que ouviu. Dê um tempo a si mesma.
Ela estendeu a mão para pegar a caixa de lenços na escrivaninha. No entanto, acabou derrubando o desodorante sobre o teclado do meu laptop, que imediatamente voltou à vida.
Tentei não olhar para a tela. Tentei mesmo, mas o som agudo de coisas se chocando me fez olhar. Letras se entrelaçaram antes de explodir e formar o nome “MC Games”.
— Ah, Dulce, desculpe. Como eu desligo isso?
— Espera, mãe. — Eu me levantei, me aproximando lentamente do notebook.
Na tela, um motoqueiro surgiu, serpenteando pela avenida em alta velocidade. Ele entrou em um prédio e a porta da garagem desceu, deixando tudo na penumbra. Uma luz se acendeu com um estalo e o motoqueiro entrou em foco.
— Nossa — minha mãe comentou ao meu lado. Eu nem tinha percebido que ela havia se aproximado. Minha atenção estava naquelas imagens e em seus gráficos perfeitos.
O motoqueiro tirou o capacete e revelou... uma longa cabeleira marrom, que combinava perfeitamente com o rosto feminino. Era uma garota. De grandes olhos castanhos e lábios fartos demais para o rosto ovalado.
— Dul, é você! Ela é você!
— Acho que não. — Mas a questão é que ela se parecia mesmo comigo.
Até a pinta na lateral do pescoço.
— Claro que é! Igualzinha! O que é isso?
— É um... jogo. É o projeto do Christopher, acho. — Caracteres se sobrepuseram ao rosto da garota, e ela os acompanhava, assimilando as coordenadas. As letras desapareceram.
“Boa sorte, Pin”, a voz masculina robotizada proferiu. Pin!
Assisti, boquiaberta, à motoqueira recolocar o capacete e dar partida na moto. Ela deixou a garagem. A fase um começou a carregar enquanto meu coração retumbava. Por que ele desenvolvera um game em que a protagonista se parecia comigo e tinha o meu apelido?
Fechei os olhos, tentando controlar a tormenta que acontecia em meu íntimo.
— Mas por quê? — murmurei para o nada.
— Não é óbvio, Dul? Você é a musa dele! — Mamãe apertou minha mão. — E ele está dizendo ao mundo, em alto e bom som, que ama você! Ah, meu Deus!
Isso é a coisa mais romântica de toda a história das declarações de amor!
Eu a encarei, boquiaberta. Era... era isso que aquele game queria dizer?
“O que tem aí?”, eu perguntara a ele. “Meus dois maiores sonhos”, fora sua resposta.
Ele havia concluído o game. Seu sonho estava pronto. E o outro... o outro era...
Minha mãe bufou, me olhando com as sobrancelhas abaixadas. — O que você ainda está fazendo aqui, menina?
Autor(a): dulcete.vondy
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+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Christopher Ao sair da casa de Dulce, tive de abrir os dois primeiros botões da camisa. Respirar estava difícil. Joguei a cabeça para trás, mirando o céu, tentando não pensar, apenas respirar. Não conseguia me obrigar a ir em frente, então fiquei ali, no portão da casa dela, vendo o sol de fim de tarde ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 88
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eliiv Postado em 05/08/2020 - 01:20:08
Adorei q vc continuou.... acabei de ler e estou apaixonada e um pouco triste pois nao tem mais capítulos ... adoraria q tivesse 2 temporada
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anne_mx Postado em 22/12/2019 - 23:50:39
Comecei a ler essa fanfic e me apaixonei logo de cara, obrigada por não ter permitido que a história ficasse inacabada, foi linda a sua continuidade e o final então, foi incrível, meu sonho que tivesse um epílogo ou segunda temporada, PARABÉNS!!!!
dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:39:21
Muito feliz de saber que alguém voltou para ler, GRATIDÃOOOO ps.: Também adoraria que tivesse a continuação :/
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Srta Vondy ♥ Postado em 18/12/2019 - 04:25:51
Se eu disser que tinha pensado nessa fic hoje você acredita ? Muita coincidência cara Essa fic é perfeita e graças a Deus, tu finalizou ! Não sei se eu comentei antes mas entendo tua "frustação", é muito chato tu fazer algo e não ter nada p te orientar, nem mesmo uma crítica construtiva. Amei o final, foi muito bom tu ter mantido o Chris paraplégico, mostra que para viver e ter um amor não é preciso ser "perfeito", ficou muito. Queria muito q tivesse um epílogo contado como seria a vida deles casados e quem sabe com filhos... <3 Muito obrigada por todo o esforço que você teve p essa história ser adaptada e entregue p a gente se apaixonar, chorar, rir e muitas vezes tudo de uma só vez kkkk, muito obrigada mesmo e até a próxima história <3
dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:40:12
owwwwwwwwww, fiquei MUITO feliz com seu comentário, eu também gostaria que tivesse continuação :(((
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eliiv Postado em 01/05/2019 - 17:58:45
Continua... está muito bom! Tô adorando.
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cliper_rafa Postado em 09/04/2019 - 20:16:06
Aaaa, cadê você ? Desistiu ??????
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cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:54:30
Desanimando**
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cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:53:57
To desanimado de ler, poxa, gosto tanto dessa fic :(
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carolcasti Postado em 23/03/2019 - 09:25:43
Cadê vc? Desistiu da fic..... Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Plissssssssssssssssssssssssssssssss
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capitania_12 Postado em 15/03/2019 - 20:20:27
Aaaaaaah,continua logo por favooooooor
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cliper_rafa Postado em 14/03/2019 - 19:09:41
Naaaao, foi tão rápido, continua <3<3